Sderot, a cidade blindada que vive à espera de um ataque
Como os moradores se adaptam para enfrentar as situações diárias de perigo
Cecília Araújo, de Sderot
Não é preciso muito tempo para sobrevoar Israel, um país de área menor do que o estado brasileiro de Sergipe. Da cidade de Herziya, 10 quilômetros ao norte de Tel Aviv, até Sderot, localizada na fronteira de Israel com Gaza, não se perde nem trinta minutos no ar. De cima, é possível ver mais claramente as limitações geográficas do país e a extensa barreira de 515 quilômetros completos, feita de arame e concreto, que separa Israel da Cisjordânia palestina. Em um helicóptero privado, a reportagem do site de VEJA, juntamente com dois jornalistas espanhóis, participou de um voo instrutivo promovido pela organização não governamental Israel Project. O objetivo era entender por que a barreira é tão necessária e ver de perto a ameaça sofrida pelos israelenses que vivem próximos à fronteira com Gaza.
"As cercas de arame não são elétricas, mas eletrônicas. Ou seja, elas não dão choque, mas avisam a uma central de segurança israelense que houve tentativa de furar a fronteira", explica David Harris, diretor de pesquisa e conteúdo da Israel Project. Ele admite que, muitas vezes, a barreira corta o território de um proprietário palestino em dois, o que o obriga a pedir uma autorização formal ao governo israelense para atravessá-la. Porém, Harris garante que Israel tem tentado facilitar a vida desses palestinos. "Até recentemente, os deslocamentos só eram permitidos uma vez por turno, em horários específicos. Agora, eles podem ser feitos a qualquer momento, desde que o palestino tenha permissão para isso."
Entenda, no infográfico abaixo, como se configura a barreira israelense:
Terrorismo - Se nos últimos três anos houve uma sensível baixa de ataques terroristas em Israel, muito desse crédito é conferido às diversas formas de obstrução física instaladas por Israel, somadas às estratégias de inteligência, que impediram a continuação dos atos de violência. "Entendo que os palestinos se sintam desconfortáveis com as divisórias, já que seus acessos foram dificultados. Porém, não vemos outra saída por hora se não mantê-las enquanto continuamos a receber ataques", diz o pesquisador sênior do Instituto Internacional de Contra-Terrorismo em Israel Ely Karmon, especialista em violência política, extremismo, racismo e anti-semitismo.
Além de Sderot, Karmon cita pelos menos três outras cidades bastante afetadas por atos terroristas: Ashqelon, Ashdod e Netivot. São locais que sofreram e ainda estão sujeitos a novos ataques (confira os principais pontos no mapa ao lado). Mesmo assim, mais de 1 milhão de pessoas continuam vivendo nessa região, pois não querem deixar seus lares. E o Hamas não é a única ameaça terrorista - há também a Jihad Islâmica, um braço da Al Qaeda, e o Hezbollah, que controla parte do Líbano e forneceria armas biológicas e químicas à Síria, país próximo a Israel. "Durante a Guerra do Líbano de 2006, os terroristas atingiram a terceira mais importante cidade de Israel, Haifa, no norte do país. Com fronteiras tão frágeis, todo o nosso território está constantemente ameaçado por mísseis de vários lados", destaca Karmon.
Sderot - Prestes a pousar em um heliporto da cidade, a aeronave sobrevoou a fazenda da família do ex-premiê israelense, Ariel Sharon. Em coma desde 2006, ele foi transferido para essa casa em 2010, sob os cuidados dos familiares. Perto dali, está um ponto relativamente alto do lado israelense, que fornece uma visão privilegiada da Faixa de Gaza, onde até o mar pode ser avistado. Além disso, o local se tornou o preferido de fotógrafos e cinegrafistas por prover imagens dos momentos em que Sderot é atacada pelos palestinos de Gaza. Para que possam permanecer em suas casas, os habitantes da cidade precisaram tomar alguns cuidados peculiares. As casas possuem abrigo antibombas, além de paredes, portas e janelas resistentes. Elas garantem 15 segundos extras para os moradores se protegerem no caso de um ataque no local. Em muitas delas, marcas de rojões podem ser vistas nos telhados. Nenhuma mulher anda de salto alto nas ruas - todos precisam estar prontos para correr a qualquer momento....>http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/sderot-a-cidade-blindada-que-vive-a-espera-de-um-ataque