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domingo, 27 de março de 2016

Passo a passo para o sucesso

A estratégia usada por atletas de elite para obter desempenho de alto nível 
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A estratégia usada por atletas de elite para obter desempenho de alto nível

A arte de confiar no processo e dar um passo de cada vez

Seguir + Ryan Holiday
iStock
(Esta matéria é uma adaptação de The Obstacle Is The Way)
Quando o treinador Shaka Smart foi entrevistado após seu time inesperadamente vencer a Carolina do Norte, o que ele disse? Ele não focou no resultado final. Ou na estratégia. Ele disse que o seu time ganhou porque "seguiu o processo".
Tony Wroten, armador pelo Philadelphia 76ers, recebeu o mesmo conselho de seus treinadores. "Eles nos dizem todo jogo, todo dia, 'acredite no processo.'" John Fox, o treinador que tenta mudar a situação do Chicago Bears, pediu a mesma coisa ao seu time.
Mas, afinal, o que é isso? O que é o processo?
Ele pode ser rastreado até Nick Saban, o famoso treinador do LSU e Alabama - talvez a dinastia mais dominante na história do futebol americano universitário. Mas ele aprendeu isso com um professor de psiquiatria chamado Lionel Rosen durante seu período na universidade Michigan State.
A grande visão de Rosen era essa: esportes - especialmente o futebol americano - são complexos. Ninguém tem habilidade mental ou motivação suficiente para administrar constantemente todas as variáveis que ocorrem durante a trajetória de uma temporada, imagine durante um jogo. Todo mundo acha tem - mas, realisticamente, não tem.
Há muitas jogadas, muitos jogadores, muitas estatísticas, contra-ataque, imprevisões, distrações. Durante a trajetória de uma longa fase eliminatória, isso se torna uma carga cognitiva impossível de ser levada. Entretanto, Rosen descobriu que uma jogada regular no futebol americano dura apenas sete segundos, como conta Monte Burke em seu livro Saban. Sete segundos - isso é muito administrável.
Então ele perguntou: E se um time concentrasse apenas no que ele pode administrar? E se eles fizessem as coisas passo a passo - não focando em nada além do que estivesse bem na frente deles e em fazer isso bem?
Como resultado, Nick Saban não focou no que todos os outros treinadores focam, ou pelo menos da maneira que eles focam. Ele fala:
"Não pense em vencer o Campeonado SEC. Não pense sobre o campeonato nacional. Pense sobre o que você precisa fazer nesse treino, nessa jogada, nesse momento. Esse é o processo: Vamos pensar no que podemos fazer hoje, a tarefa desse momento."
É essa mensagem que tem sido internalizada por seus jogadores e times - que juntos foram campeões de quatro campeonatos nacionais em um período de oito anos, um campeonato Mid-American Conference, foram coroados campeões SEC 15 vezes e Saban recebeu múltiplos prêmios de treinador.
No caos do esporte, como na vida, o processo proporciona um caminho. Uma forma de transformar algo muito complexo em algo simples. Não que "simples" seja "fácil".
Mas é mais fácil. Vamos dizer que você tem que fazer algo difícil. Não foque nisso. Em vez disso, separe em partes. Simplesmente faça o que você tem que fazer nesse momento. E faça bem. E depois vá para a próxima coisa. Siga o processo e não o prêmio. Como Bill Belichick celebremente falou, apenas faça seu trabalho.
A estrada para campeonatos seguidos, ou para ser um escritor ou um empresário de sucesso é apenas isso, uma estrada. E você viaja pela estrada dando passos. Excelência é uma questão de passos. Obter excelência nisso, então naquilo e no depois disso. O processo de Saban é exclusivamente isso - existir no presente, seguir cada passo em seu tempo, não se distraindo com nada além disso. Nem com o outro time, nem com o placar, nem com a plateia.
O processo é finalizar as coisas. Finalizar os jogos. Finalizar os treinos. Finalizar as sessões de filme. Finalizar os trajetos. Finalizar as repetições. Finalizar as jogadas. Finalizar os blocos. Finalizar as tarefas menores que você tem na sua frente e finalizá-las bem.
Seja buscando o auge do sucesso em sua área, ou simplesmente sobrevivendo a uma provação horríve, a mesma abordagem funciona. Não pense sobre o fim - pense em sobreviver. Fazendo o certo de refeição a refeição, reunião a reunião, projeto a projeto, salário a salário, um dia de cada vez.
E quando você estiver bom nisso, até as coisas mais difíceis se tornam administráveis. Como Heráclito observou "o caminho que desce e o caminho que sobe são os mesmos". É isso que o processo é. Sob sua influência, nós não precisamos entrar em pânico. Até tarefas colossais se tornam apenas uma sériee de componentes.
Foi isso que o grande pioneiro da meteorologia do século 19, James Pollard Espy, aprendeu em um encontro ocasional como um jovem. Sem saber ler ou escrever até os 18 anos, Espy escutou um discurso incentivador feito pelo famoso orador Henry Clay. Após a fala, fascinado, Espy tentou chegar até Clay, mas ele não conseguia formar palavras para falar com seu ídolo. Um de seus amigos gritou para ele: "Ele quer ser como você, mesmo sem saber ler."
Clay pegou um de seus cartazes, que tinha a palavra CLAY escrita em letras grandes. Ele olhou para Espy e disse "Você vê isso, garoto?" apontando para uma letra. "Isso é um A. Agora só faltam 25 letras".
Espy tinha acabado de receber o dom d'O Processo. Dentro de um ano, ele entrou na universidade.
O que Rosen, Espy, o que estes treinadores estão praticando é o princípio central da filosofia estóica - a que eu tentei pregar em meu livro The Obstacle Is The Way. É apenas uma interpretação moderna do que Marco Aurélio dizia:
"Não deixe sua imaginação ser destruída pela vida como um todo. Não tente imaginar tudo de ruim que poderia acontecer. Se prenda à situação do momento e pergunte “Por que isso é tão insuportável? Por que eu não consigo encarar isso?”
Sete segundos. Se prendendo à situação do momento. Focando no que está imediatamente à sua frente. Sem pressão, sem resistência. Bem relaxado. Sem esforço ou preocupação. Apenas um simples passo após o outro. Este é o poder do processo.
Nós podemos canalizar isso também. Não precisamos lutar como frequentemente fazemos quando temos alguma tarefa difícil na nossa frente. Em vez disso, nós podemos respirar, fazer a parte que está imediatamente na nossa frente - e seguir o fluxo até a próxima ação. Tudo em ordem, tudo conectado.
Quando se trata de nossas ações, a desordem e a distração são letais. A mente desordenada perde o foco do que está na sua frente - o que importa - e se distrai com pensamentos sobre o futuro. O processo é a ordem, ele mantém nossas percepções sob controle e nossas ações em sincronia.
Parece óbvio, mas esquecemos disso nos momentos mais importantes.
Agora, se eu lhe nocauteasse e lhe derrubasse, como você responderia? Você provavelmente entraria em pânico. E então iria me empurrar com toda sua força para que eu saísse de cima de você. Não iria funcionar: apenas usando todo o peso do meu corpo, eu seria capaz de manter seus ombros no chão com pouco esforço - você ficaria exausto lutando contra isso.
Isso é o oposto do processo.
O processo é muito mais fácil. Primeiro, não entre em pânico, conserve sua energia. Não faça nada estúpido tipo se asfixiar por agir sem pensar. Foque em não deixar isso piorar. Então levante seus braços, para se apoiar e criar um espaço para respirar. Agora se esforce para ficar de lado. Daí você consegue começar a me tirar de cima de você: pegue um braço, prenda uma perna, sacuda os quadris, deslize um joelho.
Vai demorar um tempo, mas você vai conseguir sair. A cada passo, a pessoa no topo será forçada a se levantar um pouco, até que não esteja mais em cima de você. Depois você estará livre.
Estar preso é apenas uma posição, não um destino. Você se livra disso ao encaminhar e eliminar cada parte dessa posição através da ação pequena e deliberada - não pela tentativa (e fracasso) de empurrar com força super-humana.
Com nossos rivais nos negócios, nós torturamos nossos cérebros para pensar em um novo produto arrebatador que tornará a concorrência irrelevante e, no processo, tiramos o foco do objetivo. Nós desistimos de escrever um livro ou fazer um filme mesmo sendo nosso sonho porque é muito trabalhoso - nós não conseguimos imaginar como ir daqui até lá.
Com que frequência fazemos concessões ou nos acomodamos porque sentimos que a solução real é muito ambiciosa ou fora do nosso alcance? Com que frequência assumimos que a mudança é impossível porque ela é muito grande? Porque ela envolve muitos grupos diferentes? Ou pior, quantas pessoas estão paralizadas por todas suas ideias e inspirações? Elas vão atrás de todas elas e chegam a lugar nenhum, se distraindo e nunca trazendo progresso. Elas são brilhantes, mas raramente conseguem executar algo. Elas raramente vão para onde querem e precisam ir.
Todos esses problemas são solucionáveis. Cada um seria superado pelo processo. Nós apenas presumimos, erroneamente, que tudo tem que acontecer na mesma hora, e desistimos quando pensamos a respeito. Somos pensadores de A-Z, nos preocupamos com A, ficamos obcecados por Z, mas esquecemos tudo de B a Y.
Queremos ter metas, claro, para que tudo que fizermos tenha alguma finalidade. Quando sabemos o que nós realmente estamos nos propondo para fazer, os obstáculos que surgem tendem a parecer menores, mais administráveis. Quando não fazemos isso, cada um parece maior e impossível. Metas ajudam a colocar os altos e baixos na proporção correta.
Quando nos distraímos, quando começamos a nos preocupar com algo além do nosso próprio progresso e esforço, o processo é uma voz útil, às vezes autoritária, em nossa cabeça. É o protesto do sábio líder mais velho que sabe exatamente quem ele é e o que ele tem que fazer. Cale a boca. Volte ao seu posto e tente pensar no que nós mesmos faremos, em vez de se preocupar com o que está acontecendo lá fora. Você sabe qual é o seu trabalho, pare de se queixar e vá trabalhar.
O processo é aquela voz que requer que tomemos responsabilidade e posse. Que nos motiva a agir mesmo que seja de uma maneira pequena.
Como uma máquina incansável, subjugando a resistência de toda maneira que ela existir, pouco a pouco. Seguindo em frente, um passo de cada vez. Coloque o processo acima da força. Substitua o medo pelo processo. Dependa dele. Se apoie nele. Confie nele.
Leve o tempo que precisar, não se apresse. Alguns problemas são mais difíceis que outros. Lide com os que estão bem na sua frente primeiro. Volte para os outros depois. Você chegará lá.
O processo é uma questão de fazer as coisas certas agora. Sem se preocupar com o que irá acontecer depois, ou com os resultados, ou com a visão geral.


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A voz do povo nos estádios e nas ruas quer Dilma fora do Planalto


27/03/2016
 às 10:20 \ Opinião

J. R. Guzzo: Insano, errado e inútil

Publicado na revista EXAME whttps://youtu.be/33iegELFr-w
Dilma Rousseff tanto fez, mas tanto fez que acabou sendo obrigada a aceitar o “fora Dilma” gritado nas ruas pela multidão — e também, como ficou oficialmente comprovado agora, por seu próprio partido. A opinião pública já não quer saber dela há muito tempo. O PT também não quer. E, mais que todos, o ex-presidente Lula não quer — e, quando ele não quer, ela não fica. Não ficou. Enquanto o Congresso Nacional não resolve a questão do impeachment e a Justiça não chega a uma decisão sobre a legalidade do mandato presidencial, Lula é o único que poderia tentar alguma pirueta extrema na esperança de resolver o prodigioso embrulho político, penal, econômico e gerencial montado no governo pela criatura que, um dia, ele teve a infeliz ideia de colocar no Palácio do Planalto como sua sucessora. Resolveu, como se viu, assumir ele mesmo o cargo de presidente da República, disfarçado de “ministro da Casa Civil”; a Dilma restam hoje o crachá de presidente, a incumbência eventual de aparecer na televisão falando um disparate qualquer e a possibilidade de andar de bicicleta em volta do palácio com seu capacete, seu traje de ciclista no último estilo e seu pelotão de seguranças. Pode dar certo uma extravagância dessas, até agora jamais tentada em nossa “história republicana”? Do ponto de vista do interesse pessoal de Lula, não está claro se pode ou não. Ele assumiu, sem eleição, esse terceiro mandato porque achou que era sua melhor, ou única, chance de salvar o próprio couro diante da Justiça penal brasileira; mas tem contra si tantas variáveis potencialmente desastrosas, política e juridicamente, que nada está garantido. Do ponto de vista do interesse dos cidadãos, a coisa já é bem simples: não há nenhuma possibilidade de dar certo.
É um caso claríssimo de pau que nasce torto; não pode endireitar mais tarde. Não se sabe de nenhuma democracia no mundo em que um político de primeira grandeza tenha sido nomeado subitamente para um cargo de ministro com a única finalidade de fugir de uma possível prisão preventiva, legalmente ordenada pela Justiça, sob a acusação de praticar crime comum. No presente caso de Lula, não houve sequer uma tentativa de dizer que sua nomeação atende a algum interesse público — que interesse público poderia ser esse, santo Deus? E por que a urgência desesperada? É óbvio que numa situação dessas, em qualquer época ou lugar, o certo é justamente não colocar no ministério, de jeito nenhum, uma pessoa com tal tipo de problema. Mas não: fizeram o exato contrário. A isso se soma uma declaração de hostilidades à opinião pública. Bem na hora em que 1,3 milhão de pessoas, em São Paulo, e outros 2 milhões ou mais, em outras 500 cidades e nos 27 estados brasileiros, repudiam o governo na maior manifestação popular da história nacional, Lula, o PT e Dilma decidem ir na direção oposta e provocam abertamente a voz da rua; em vez de tentar algum gesto para apaziguar um pouco os espíritos, mandam a população calar a boca. Também não prometem endireitar uma situação que começa com a divulgação, em plena luz do dia, das malfadadas conversas gravadas em que Lula dispara uma barragem sem precedentes de insultos ao Judiciário, ao Congresso e a todos os que não concordam com ele.
Mais complicado que tudo, enfim, é a impossibilidade material, para Lula, de “salvar a economia” ou torná-la um pouco menos ruim — o que, em sua imaginação, acabaria resolvendo tudo. Mas o repertório de ações aparentemente cogitadas por suas forças se divide entre o insano, o errado e o inútil. Falam em usar as “reservas internacionais” para fazer “obras”, como se fossem um cofrinho em que o governo vem guardando suas economias para um dia de chuva. Sonham em gastar mais — e aumentar a maior dívida pública da história econômica do Brasil. Acreditam no milagre da ressurreição do imposto do cheque. Acham que dá para comprar por atacado o Congresso e os partidos. Nenhum deles notou, pelo jeito, que em fevereiro o governo teve a pior arrecadação dos últimos seis anos — como tirar dinheiro de onde não há nada? Fora essas ideias, não há outras. O terceiro mandato de Lula começa mal.