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"O MAL sempre esteve a serviço do BEM "

Rasgando o Verbo. Todos de uma certa forma foram avisados sobre o Apocalipse e que ele não representaria o fim do mundo, mas o fim de uma Er...

quarta-feira, 25 de maio de 2016

“O caminho reto estava perdido”. Dante, Divina Comédia / Olhar da escritora Cristina Marcano sobre a situação da Venezuela

Um extravio chamado Venezuela

Escritora narra, em primeira pessoa, a rotina dos que vivem entre o caos e o desafio de seguir adiante

Confronto entre a Guarda Nacional e manifestantes em um bairro rico de Caracas, em 2014.


“O caminho reto estava perdido”. Dante, Divina Comédia

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O momento em que seu olhar se depara pela primeira vez com um fuzil na entrada de um supermercado é inesquecível. Você está desprevenida pensando no almoço e, de repente, é surpreendia por esse longo cano preto tão fora de lugar. A minha primeira vez foi em uma manhã ensolarada de 2012. Talvez o soldado que exibia a arma também se lembre. Ele parecia estar desconfortável, como se estivesse estreando nessa missão. Franzia a testa em uma vã tentativa de endurecer o seu rosto de menino.


Tinha sido enviado para lá para evitar tumultos. Os clientes se alinhavam em uma fila, como formigas, para comprar o produto mais comum de nossa dieta: farinha de milho para fazer arepas. Outro soldado, tão jovem como ele, cuidava da retaguarda naquele enorme mercado localizado em frente uma das estações de metrô mais movimentadas de Caracas(Venezuela).
Atravessei o parque do Leste, um oásis de 82 hectares de onde a vista do Ávila –uma montanha muito verde ao norte da capital venezuelana– é tão esplêndida que recarrega a energia e o otimismo.
Uma hora depois, ao retornar, a fila permanecia tão longa quanto, como se o tempo tivesse parado. Os soldados no mesmo lugar, na mesma posição. A fila estava do mesmo tamanho, enquanto alguns clientes saiam com sua carga de quatro quilos de farinha dentro de um saco plástico branco. À época, aquilo não era tão comum. Começava a acontecer esporadicamente.
Apesar da tensão política que nos agoniava há muito tempo, ainda levávamos uma vida bastante normal, dentro do padrão latino-americano. Nossa principal preocupação era a violência, essa epidemia implacável que nos encurrala. O maná venezuelano era vendido a quase 100 dólares por barril e 98% dos venezuelanos comiam três vezes ao dia, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Aquele encontro inesperado com o fuzil no mercado foi, no entanto, um mau presságio, o prólogo antecipado de um livro que estava por ser escrito. O presidenteHugo Chávez tinha vencido sua última reeleição há poucas semanas, mas perdia a batalha contra o câncer. Todos nós sabíamos que ele estava morrendo. Assim como morreria em breve a fantasia do petróleo. Assistíamos ao final de uma utopia.

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Meninos fantasiados no Carnaval de 2014, um ano depois da morte de Chávez. NATALIE KEYSSAR


É provável que tenha feito calor demais durante o Carnaval de 2014. Ou que os uniformes camuflados fossem daquele poliéster que raspa a pele. Ou, simplesmente, que os meninos de boina vermelha tenham ficado tempo demais na mesma posição, sobre a caminhonete cheia de balões vermelhos e fotos de quando Chávez era candidato presidencial. O fato é que esses pequenos, fantasiados como o herói de seus pais, estão entediados até a morte, alheios a seu papel na construção do mito.
O desfile transcorre ao ritmo do samba no Paseo de Los Próceres, em frente ao maior forte militar da Venezuela, e o ministro do Turismo celebra a operação do feriado –“a festa mais legal”–. A atmosfera é de tensão, desafio e medo.
O país está há duas semanas em ebulição. O barulho dos fogos de artifício se confunde com o dos tiros. O sol mais radiante, com a névoa mais escura. Os protestos contra a insegurança, a inflação e a escassez, iniciados pelos estudantes e liderados por um setor da oposição, estão no auge. Há uma batalha feroz em várias cidades. E se multiplicam –espontânea ou artificialmente– as queixas que nos dividem.
Enquanto se comemora em Los Próceres, não param de cair bombas de gás lacrimogêneo, balas e golpes contra os manifestantes. Nem pedras e coquetéis molotov contra a polícia e os soldados que chegam às zonas de combate com tanques e motocicletas, às vezes acompanhados de civis. Há ruas bloqueadas por lixo, paus e pneus. A lista de feridos ultrapassa 250. A de detidos supera mil.



Policial da tropa de choque nas manifestações de 2014, no bairro abastado de Altamira, em Caracas.NATALIE KEYSSAR


Ainda não se acabou de assentar a terra nas sepulturas de 18 vítimas. Jovens que estavam na linha de frente ou que fugiam da polícia, universitários de rostos apagados por espingardas, policiais e soldados baleados, algum passante com péssima sorte, uma grávida desprevenida, motoristas surpreendidos por barricadas. Pessoas que estavam a favor ou contra o governo, mas que nunca pensaram que isso lhes custaria a vida.
Em um dia passamos do Carnaval mais longo e delirante que já tínhamos vivido à comemoração do primeiro aniversário da morte do Comandante Supremo e Eterno, com um programa de 10 dias para lembrar o Cristo dos pobres. Assim é descrito por seu herdeiro, o presidente Nicolás Maduro.
A luta nas ruas não acaba e se prolonga por várias semanas. Até  somar 43 mortos, mais de 800 feridos, 3.351 presos e dezenas de denúncias de tortura. A Procuradoria admite 183 violações de direitos humanos e 166 de tratamento cruel. Por esses dias, tudo parece preto e branco. Mas nada é tão uniforme como alguns querem fazer parecer. Enquanto um soldado bate ou atira para matar, outro aponta a arma e pisca um olho para que você fuja rapidamente.
Que tão perigosa é essa belíssima jovem que leva uma etiqueta de "estudante venezuelana" no coração? Que tão feroz é a agente de polícia que humaniza sua vestimenta de choque pintando os lábios de cereja? Quais são os seus antagonismos reais, suas diferenças irreconciliáveis? Será que as duas não compartilham esse estado perene de frustração e medo em que todos nós vivemos por causa dos grandes recordes registrados na Venezuela? Nada menos do que a maior inflação do mundo e a criminalidade mais mortal da América do Sul.

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Amarelis López desperta na escuridão, acende a luz e se veste rapidamente. Hoje é o seu dia. Às 4h da manhã, quando chega ao supermercado, outros caçadores esperam no estacionamento. A visão de um fuzil não surpreende ninguém. Faz parte da paisagem. A enfermeira, com paciência evangélica, se dispõe a esperar de pé enquanto for necessário.



Uma estudante em uma manifestação na cidade de San Cristóbal, durante os protestos de 2014. NATALIE KEYSSAR


O Governo estabeleceu turnos, de acordo com o último número da carteira de identidade, para a compra de 50 produtos básicos que são subsidiados e cuja distribuição é controlada pelos militares. Na sexta-feira, por exemplo, é o dia daqueles que têm documentos terminados em 8 e 9. Além disso, antes de pagar, é preciso colocar o dedo sobre uma máquina de leitura de impressões digitais, como na imigração dos Estados Unidos, para confirmar que você realmente é você.
Fazer uma compra de produtos básicos se tornou um pesadelo, mas se pode facilmente comprar 453 variedades de vinho, 28 de uísque escocês e 20 de champanhe se você tem muito dinheiro. Ou uma mostarda Dijon com geleia de laranja da La Grande Épicerie de Paris.
Passaram-se três anos da morte de Chávez. Algumas pessoas carregam seu rosto ou sua assinatura tatuados no corpo. O conflito não acaba. Seus fiéis sentem a falta dele mais do que nunca.
Quem diria que debaixo dessa superfície maltratada, onde as pessoas esperam horas para comprar farinha, onde se rouba a comida das crianças de uma escola primária, há um verdadeiro oceano de petróleo? As maiores reservas do planeta Terra: 296,5 bilhões de barris. E a quarta maior de gás. Minas de ouro suficientes para que até mesmo as Forças Armadas explorem uma parte. E diamantes e coltan.
Somos um paradoxo amargo: o país rico mais pobre do mundo. Cegado por essa sorte que caiu do céu, sempre acreditando que as vacas gordas são eternas. O boom desinflou. A chuva de petrodólares cessou. Outra vez. Como nos anos 1980, quando um presidente assumiu o cargo alertando que recebia "um país hipotecado". Estamos tão arruinados que dá raiva. Na pior falência que já experimentamos.



Menino brinca em um parque no dia das últimas eleições. NATALIE KEYSSAR


As receitas – 96 de cada 100 dólares provêm da exportação de petróleo – já não são suficientes para continuar importando 70% do que comemos, a grande maioria dos medicamentos e milhares de outras coisas. Passamos da abundância à tragédia de ter que vagar de comércio em comércio farejando alguma presa, às vezes deixando a farmácia com um nó na garganta e de mãos vazias.
Cinco horas depois de chegar, Amarelis sai chateada, com dois quilos de leite em pó. Nada mais. Na sexta-feira passada não conseguiu nada regulado. "Não tenho arroz, nem farinha, nem pão, nem café. Estamos tomando café da manhã com cazabe[biscoito de farinha de mandioca]. Você acha que isso é justo?", exclama explosivamente, ignorando as lições de seu Senhor. Ele entenderá que sua ovelha está há muitos meses nesse suplício.

4

O Governo atribui a escassez e a inflação, que em 2015 atingiu o recorde histórico de 180,9%, a uma guerra econômica do imperialismo. E a oposição culpa o governo. Mas mesmo as explicações mais intelectualizadas dos economistas não servem de alívio para a maioria dos 30 milhões de venezuelanos que empobrecem vertiginosamente.
Belkys Márquez tem quatro filhos, com idades entre 6 e 14 anos. Trabalha como caixa de banco. É esse tipo de pessoa que sempre sorri quando fala. Exceto quando conta, com algum constrangimento, que não pode jantar porque a comida não é suficiente. Três em cada 10 venezuelanos estão na mesma dieta forçada. São 13,4% os que comem uma vez por dia e apenas 53% podem fazer as três refeições. Isso é o que revela uma pesquisa realizada pelo Instituto Venezuelano de Análise de Dados (IVAD) em abril e divulgada na imprensa local.



Mulher carrega pacotes de farinha para arepas, um dos produtos básicos em falta. NATALIE KEYSSAR


O salário mínimo –que aumentou, por decreto, em 50% até agora este ano— é realmente mínimo em comparação com a inflação dos alimentos: 254,43% em um ano (setembro de 2014 a setembro de 2015), segundo o Banco Central. Belkys ganha 501,6 bolívares por dia, mais 664 de bônus de alimentação: 1.165 bolívares por dia. Isso é o que custa uma arepa com queijo na rua. No total, 33.636 bolívares mensais, cerca de 110 reais no mercado negro.
Também é minúsculo em relação ao custo da cesta básica, que inclui 58 produtos para uma família de cinco membros, e em março passado custava 142.853 bolívares (mais de quatro vezes sua renda atual).
Esse preço também é inacessível para muitos profissionais de classe média, médicos, advogados, engenheiros. O salário diário de um professor universitário, com doutorado em Columbia, equivale a três cervejas.
Algumas vezes Belkys teve que recorrer aos bachaqueros, como eles chamam os revendedores em referência a bachaco, uma formiga grande e voraz. Subornando a quem for preciso –militares, distribuidores, empregados—, eles compram e vendem produtos regulamentados até 40 vezes mais caros. Um quilo de arroz, de 25 bolívares por 1.040; um de farinha, de 19 por 800; uma caixa de ovos (30 unidades), de 420 bolívares por 2.200. Em qualquer fila são reconhecidos de imediato. Vão em grupos, com ar ameaçador, e estão dispostos a te mostrar uma faca se você reclamar. Eles se adiantam, entrem na frente e acabam comprando mais do que todo mundo. Os bachaqueros vendem seus produtos abertamente nas calçadas de áreas populares. Alguns têm, até mesmo, serviço de entrega em domicílio para a minoria que pode pagar.
As pessoas chegaram ao limite. Nervosas –encolerizadas– é a palavra mais ouvida. E explodem a intervalos cada vez menores. Sem importar que haja fuzis à vista, saem da fila, amontoam-se na porta, arremetem e entram, passando por cima dos vidros quebrados e de quem ficar no caminho. Na Semana Santa aconteceu 21 vezes. Em média, foram três saques por dia. O relato é do vice-presidente, Aristóbulo Istúriz. Os protestos de rua se multiplicam. Contra a escassez, por melhores salários, contra os apagões e a falta de água. A exaustão é sentida em cada esquina. A exaltação faz centenas de militares ficarem nas ruas.
A situação é tão extrema que o chefe do Ministério da Alimentação, um general do Exército, percorre áreas populares com sacolas de comida (arroz, farinha, macarrão, frango, óleo), à frente de uma operação de venda de casa em casa. O Estado tem uma rede de 22.000 pontos de armazenagem, distribuição e expedição de produtos.Quando voltaremos a ir normalmente ao mercado?

5

Na Venezuela há as pessoas mais afetuosas. E também os criminosos mais frios e impiedosos. E seres que sofrem mutação nesse caldo de punição e impunidade, tão fora do usual, tão inédito, num Governo com uma presença militar tão forte e tão extensa. Seres como os que sobem nas redes sociais, vídeos de ladrões em chamas, vítimas das mais macabras representações de Fuenteovejuna [localidade espanhola palco de um linchamento no século 15]. Nos quatro primeiros meses deste ano houve 74 linchamentos, em que metade dos delinquentes morreram, segundo o Ministério Público. Média de mais de 18 por mês. Fartos de pedir segurança e justiça, sem conseguir, entre e 60% 65% da população aprova a barbárie, segundo pesquisa do Observatório Venezuelano da Violência (OVV).



O comissário Rafael Graterol, em seu escritório no perigoso bairro de Petare. NATALIE KEYSSAR


Sobrevivemos há tanto tempo com tanto medo. Num estado de alerta permanente, com um olhar estroboscópico. Enclausurados atrás de muros e cercas sem fim. Preocupados com um enxame de motociclistas anárquicos, sem conseguir distinguir quais estão armados e dispostos a estourar os miolos de quem não lhes entrega o celular, a carteira ou o carro.
Somos jogadores involuntários de uma tétrica loteria que a cada meia hora despacha alguém desta para a melhor. Por dia, 52. Por mês, 1.565.
Um morro de 4.696 no primeiro trimestre deste ano. Uma montanha de 17.778 pessoas em 2015 (índice de 58,1 por 100.000 habitantes, segundo o Ministério Público). Ou uma cordilheira de 27.875 venezuelanos (90 por 100.000), segundo o OVV. Enterros e cremações demais, milhares de órfãos, viúvos, pais desolados.
Os sequestros expressos estão em alta – e se dolarizaram, com a queda do Bolívar. Os sequestradores podem tratar bem a vítima ou bater nela. Conformar-se com o que a pessoa leva, se acreditarem que a família está em dificuldades, só tendo o bastante para as despesas do dia. Ou largá-la na estrada, como um cachorro, atirando em suas nádegas. Alguns fazem a gentileza de dar dinheiro para o táxi, depois de pago o resgate. Outros matam.



Quadrilha de sequestradores do violento bairro de Antimano, em Caracas, em um dos locais onde escondem suas vítimas. NATALIE KEYSSAR


Que tipo de sequestrador é o destes três jovens mascarados que posam com altivez, e talvez com docilidade, para a câmera? Um deles confidencia à fotógrafa que não encontrou outra forma de sair da pobreza. Que, na verdade, não querem fazer mal a ninguém. Mas esclarece: “Se eu te sequestrasse e você me tratasse com respeito, pegaríamos seu dinheiro e você viveria. Mas se não, teria que te matar. Não pensaria duas vezes”.
Pergunto-me se a pistola que ele empunha como se fosse um prolongamento de sua mão terá pertencido a algum policial assassinado para sua arma ser tomada. Como Osmary Tavare, de 27 anos, morta com um tiro na cabeça enquanto fazia de bicicleta uma patrulha pelo Leste de Caracas numa bela manhã de abril.
No ano passado, 344 funcionários do setor de segurança, 65 deles militares, foram assassinados para o roubo de suas armas de foto, segundo dados da ONG Fundepro. A
caçada é brutal. Os agentes são alvos ambulantes. Os bandidos, que se juntam em quadrilhas cada vez maiores, ficaram tão ousados que se atrevem a atacar com granadas quartéis da polícia.
Yohangel Márquez, de 33 anos, acabou nesse túmulo em que uma cruz se eleva sobre um grosso tapete de flores, rodeado por mulheres com sombrinhas. Estava sem uniforme, numa festa ao ar livre, quando um bandido a reconheceu e esvaziou o revólver em seu rosto. Márquez trabalhava na polícia do Estado de Miranda. Não é o primeiro agente que o comissário Rafael Graterol viu cair. Em suas pupilas apagadas parece haver funerais em excesso. Em seus ombros curvados, mais de uma batalha perdida.



Enterro de Yohangel Márquez, policial de 33 anos assassinado por um criminoso em Miranda. NATALIE KEYSSAR


6.

Já ouvi algumas pessoas perguntarem como é possível que, num lugar tão decomposto, nada aconteça. Mas por acaso não acontece muita coisa? Esperam uma explosão popular com muitos mortos, como o Caracazo de 1989? Uma guerra civil? Ou talvez outro golpe militar como o de 1992, ou como o de 2002, ou como tantos de nosso avultadíssimo repertório histórico de aventuras e ditaduras militares?
Nesta contradição de 912.000 quilômetros quadrados, que agora parece um túnel sem final, quantos estão realmente dispostos a se matar? Nesta ferida da qual fugiram mais de um milhão de venezuelanos nos últimos anos, a enorme maioria trava uma luta comovedora e contínua para viver e criar seus filhos em paz. Uma luta ao rés do chão, menos estridente, mas muito mais admirável do que qualquer épica.
Eis aí essa multidão de rostos sorridentes ao sol. Com uma esperança à prova de fracassos. Como este verso de Wislawa Szymborska que diz: “Minha fé é cega, forte e sem nenhum fundamento”. Eis aí essa roupa branca, impondo-se ao muro carcomido. Essa roleta eleitoral, que a cada vez que gira emudece as trombetas do Apocalipse. Essa mão que aponta o caminho mais desejado neste extravio chamado Venezuela.



Roupa estendida no bairro chavista 23 de Janeiro. NATALIE KEYSSAR


Cristina Marcano é jornalista e escritora. Autora, com Alberto Barrera, do livro Hugo Chávez sem uniforme: uma história pessoal (2005, editora Gryphus).



terça-feira, 24 de maio de 2016

" Frase do dia, ontem, em Brasília: “Muito Nero para pouco Roma”."


POLÍTICA

Quem sabe Shakespeare ajuda?

"Ser ou não ser, eis a questão", diálogo da obra de Shaskeaspeare em que Hamlet reflete sobre o sentido da vida e o efeito perverso da morte (Foto: Divulgação)"Ser ou não ser, eis a questão", diálogo da obra de Shaskeaspeare em que Hamlet reflete sobre o sentido da vida e o efeito perverso da morte (Foto: Divulgação)
Dia desses, ouvi de um professor: deveríamos ler mais Shakespeare. Qualquer dia, qualquer hora, em  tempos quentes, dias frios... Ontem, segunda-feira, 23 de maio, fez temperaturas baixas no Brasil. 20 graus no Rio, 12 em São Paulo e Porto Alegre, 19 em Brasília.
Quem sabe, neste outono quase inverno, leremos mais William Shakespeare - hoje ao alcance de todos, no Google? Quem sabe leremos mais Shakespeare, assim em traduções  livres, portuguesas e brasileiras,  como lemos – e apreciamos – citações e frases pretensiosas e despretensiosas, postadas nas telas da internet?  Sempre há – e haverá - proveito e aplicação para Shakespeare.
- Dois guardarão segredo, quando um nada souber de todo o enredo. (Romeu e Julieta)
- Um cetro arrebatado com violência precisa ser mantido com processos iguais aos da conquista. (Vida e Morte do Rei João)
- Sangue chama sangue.
- Aconteça o que acontecer, o tempo e as horas sempre chegam ao fim, mesmo do dia mais duro dentre todos os dias. (MacBeth)
- ...O nobre Brutus disse a vocês que César era ambicioso. E se
é verdade que era, a falta era muito grave, e César pagou por ela com a
vida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homem
honrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. Venho para falar no
funeral de César. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que
ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. ...
.
- ... Ontem, a palavra de César seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aqui
morta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para o
motim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, como
sabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles. Prefiro falar mal do
morto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados.”
é verdade que era, a falta era muito grave, e César pagou por ela com avida, aqui, pelas mãos de Brutus e dos outros. Pois Brutus é um homemhonrado, e assim são todos eles, todos homens honrados. Venho para falar nofuneral de César. Ele era meu amigo, fiel e justo comigo. Mas Brutus diz que
ele era ambicioso. E Brutus é um homem honrado. ....- ... Ontem, a palavra de César seria capaz de enfrentar o mundo, agora, jaz aquimorta. Ah! Se eu estivesse disposto a levar os seus corações e mentes para omotim e a violência, eu falaria mal de Brutus e de Cassius, os quais, comosabem, são homens honrados. Não vou falar mal deles. Prefiro falar mal domorto. Prefiro falar mal de mim e de vocês do que destes homens honrados.”
- Quem ia saber que os céus podem ser tão ameaçadores? Os que sempre souberam que a terra é povoada de erros.
- É nos dias ensolarados que a cobra sai do ninho e nos obriga a andar com passos cautelosos.
- Os que nos sorriem, este o meu receio, trazem no coração milhões de maldades.
- Homens insinceros, eles são como cavalos, cheios de energia ao se deixarem domar, exibindo e prometendo seus brios. Mas, quando eles têm de aguentar a espora sanguinária, abaixam a crina e, como enganadores rocins, não passam no teste. (Júlio César)
- O mundo inteiro é um palco, e todos os homens e mulheres, apenas atores. Eles saem de cena e entram em cena, e cada homem, no seu tempo, representa muitos papéis".  (Como Gostais)
- Triste a sorte de quem depende da vontade dos príncipes! (Henrique VIII)
- A sabedoria grita pelas ruas, mas ninguém lhe dá ouvidos. (Henrique IV)
- A virtude nunca é expulsa da corte a chibatadas. Por lá tratam-na muito bem, com o intuito de retê-la o máximo possível. No entanto, está sempre de passagem. (Conto de Inverno)

- O ser grande não é empenhar-se em grandes causas: grande é quem luta até por uma palha ... (Hamlet)
- Não poucas vezes vemos a indigente sabedoria depender em tudo da tolice suntuosa e exuberante. (Bem Está o que Bem Acaba)
- O rosto dos homens é sempre honesto, façam as mãos o que fizerem. (Antônio e Cleópatra)
-  O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui.
- Mais nobre é o perdão que a vingança. (A Tempestade)
- Só escuta de bom grado uma sentença quem em proveito próprio nela pensa. (Otelo)
- Quem sai de um banquete com o apetite que, ao sentar-se, tinha? Qual é o cavalo que a tediosa pista de volta mede com o ardor tão vivo que ao partir revelava? Sempre pomos mais entusiasmo no alcançar as coisas, do que mesmo em gozá-las.”
- Se os estados, ofícios, posições não fossem dados por maneira corrupta, e as honrarias só fossem conquistadas pelo mérito, quantas pessoas que andam descobertas, a cabeça cobririam! Quanta gente que hoje é mandada, assumiria o mando!
O diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém. (Mercador de Veneza)
William Shakespeare, maior e mais influente dramaturgo e poeta inglês, viveu no Renascimento - 26 de Abril de 1564 a 23 de Abril de 1616. Viveu 51 anos e produziu uma barbaridade  - 38 peças, 154 sonetos, dois longos poemas narrativos e outros tantos conhecidos, repetidos e encenados em seguidos 400 anos de história.
PS.: Frase do dia, ontem, em Brasília: “Muito Nero para pouco Roma”. 

Charge de Miguel no blog de Josias


Método! 

Josias de Souza
– Charge do Miguel, via Jornal do Commercio.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Crônica impertinente do 'coletivo' e o indivíduo... / Luiz Felipe Pondé


segunda-feira, maio 23, 2016

Sapiens x Abelhas - LUIZ FELIPE PONDÉ

Folha de SP - 23/05

Quando estava na minha primeira faculdade, passamos por uma longa greve de estudantes. No início, ia às assembleias discutir a razão de achar aquela greve inútil. Entre elas, a mais evidente era: estudantes de uma universidade pública (ou não) em greve nada importam para o dia a dia da cidade, por isso podem ficar 30 anos em greve. O único dano é aos colegas que querem avançar na vida.

Mas o que mais chamava minha atenção era como alguns colegas em bloco esvaziavam a assembleia até que só eles estivessem nela e votassem pela continuidade da greve. Golpe? Isso sim é golpe.

Entretanto, outra coisa também me chamava atenção: como gritavam frases feitas como se fossem um coral furioso. Hoje sabemos o que aquilo era: o nascimento dessa nova moda e praga chamada "coletivo". Não me refiro a transporte coletivo, como quando se diz "aí vem o coletivo". Refiro-me a um conjunto de estudantes (mas pode também ser de artistas ou similares) que se autodenominam "coletivo".

A ideia é que formam um coletivo no qual todos são iguais. Pensam em coletivo, falam em coletivo, agem em coletivo, assinam em coletivo. Recentemente, um professor de uma importante universidade brasileira teve dificuldade de se comunicar com um "aluno" (vai saber o que ele ou ela era de fato) porque ele ou ela se recusava a se identificar na comunicação escrita, já que ele –ou ela– não era uma "pessoa", mas um coletivo.
Imagino que, em cem anos, essa modinha será incluída no conjunto de psicopatologias da virada do século 20 para o 21, época que será vista pela sociologia do futuro como uma era de ressentidos e mimados: a mania por coletivos será classificada como ódio patológico à individualidade, suas responsabilidades e contradições.

Freud classificaria como um estágio da pulsão de morte, seguramente. Para o criador da psicanálise, a pulsão busca sempre uma posição regressiva. No caso da pulsão de morte, ela busca o "repouso na pedra". Na matéria inorgânica.
No caso dos coletivos, ela busca o repouso na destruição do "eu". Na dissolução do "eu" na manada.

Elias Canetti, intelectual judeu búlgaro que estudou as multidões (além do próprio Freud, claro), já apontava a dissolução do "eu" na manada, na "mancha" disforme da multidão. Há um prazer mórbido em se sentir parte de um coletivo: a morte do sujeito moderno, esse atormentado.

O fenômeno dos coletivos é um traço regressivo no embate com a solidão do homem moderno. É uma tentativa, canhestra e primitiva, de "voltar ao útero materno" para ver se o ruído insuportável da realidade disforme do mundo se dissolve porque grito palavras de ordem ou faço coisas pelas quais eu mesmo não sou responsabilizado, mas o "coletivo", essa "pessoa" indiferenciada que não existe.

A indiferenciação num todo sempre foi uma forma de gozo regressivo, de algum modo. As políticas utópicas socialistas históricas carregaram essa marca nelas. Além do mesmo ódio pelo indivíduo, que tentaram matar a todo custo. No fenômeno místico, visto pelos olhos do "sentimento oceânico", como cita Freud, há também um gozo, que pode desaguar em terroristas islâmicos ou dervixes sufis maravilhosos.

O filósofo inglês do século 20 Michael Oakeshott escreveu sobre como ser indivíduo ("projeto" burguês que deu errado) é quase impossível para a maioria das pessoas, justamente pela sua solidão intrínseca e pelas suas contradições.
Oakeshott descreveu inclusive o surgimento de movimentos "anti-indivíduos", que seriam marcados por totens. Esses totens poderiam ser pessoas carismáticas ou ideias que reuniriam massas de pessoas indiferenciadas e furiosas contra os indivíduos vistos por elas como egoístas, sujos, metidos e arrogantes, por serem "contra o coletivo". Acertou em cheio.
Fosse eu escrever um argumento ou roteiro para um curta, escreveria sobre como abelhas evoluíram no seu amor à colmeia, chegando aos coletivos de hoje em dia. E na fúria que caracteriza as abelhas quando você se aproxima da colmeia e da sua rainha, essas abelhas evoluídas odiariam o sapiens, e suas contradições sem fim.

Os protestos contra o governo Temer não são gratuitos e sim de gratidão pelos milhões de reais que as entidades agregadas ao governo federal recebem em contribuições como dinheiro e cargos para seus dirigentes

segunda-feira, maio 23, 2016


R$ 1 BILHÃO PARA O MST E OUTROS MOVIMENTOS DO PT. MTST E OUTRAS ENTIDADES PETISTAS RECEBERAM BILHÕES SEM CONSTRUIR CASAS.

O texto que segue é do site Diário do Poder, do jornalista Claúdio Humberto. Traz um levantamento de uma pequena parte da farra com o dinheiro público promovida pelos governos do PT. São jornalistas, como o medalhão esquerdista Alberto Dines e a filha do ex-assessor de Lula, muito festejado pela escumalha do PT, o velho comunista Ricardo Kotcho.

Acrescento a estas informações do Dário do Poder que vou transcrever na íntegra, que neste domingo pela manhã sintonizei a Globo News e constatei que o programa do Mário Sérgio Conti é patrocinado pela Caixa Econômica Federal, já que por diversas vezes apareceu a vinheta da Caixa e, logo abaixo, aquela logomarca do governo da Dilma.

Mas isto é apenas a ponta do iceberg. Não sei quantos programas das redes de televisão vão ao ar ainda com as logomarcas do governo da Dilma. É uma gastança de dinheiro público que não tem paralelo na história do Brasil e, quiçá, do mundo. 

Inclusive aquele movimento que na noite deste domingo fez aquela passeata e acampou perto da residência em São Paulo, do Presidente Michel Temer, liderado pelo colunista da Folha de S. Paulo, o Guilherme Boulos, também é aquinhoado com dinheiro público. Uma vergonha, um acinte que dá uma ideia inicial do que está por vir à medida que o Governo de Michel Temer avance na apuração desse desvio vergonhoso de bilhões dos cofres públicos.

Leiam a reportagem do site Diário do Poder, onde parte dessa farra escandalosa com dinheiro público, a ponto de falir do Brasil, começa a vir à luz. Conclui-se daí que o impeachment da Dilma é pouco. Tem de proscrever o PT e todos os seus satélites comunistas como a Rede, PCdoB, PSOL e assemelhados. Leiam:

Este aí abraçando Lula é Guilherme Boulos, o chefete dos mortadelas que estão acampados próximo à residência do Presidente Michel Temer em São Paulo. Acumula as funções de articulista da Folha de S. Paulo e agitador de mortadelas.
Sócia da FBL, produtora do “ABZ do Ziraldo” levava R$ 717 mil/ano, Rozane Braga assinou manifesto “anti-golpe”. Inútil: foi cancelado. O programa “Papo de Mãe”, de Mariana Kotscho, filha de ex-assessor de Lula, custava ao contribuinte R$ 2,4 milhões/ano. Foi cancelado. 
O programa “Observatório da Imprensa”, comandado por Alberto Dines, faturava R$ 233 mil por mês e R$ 2,8 milhões ao ano na estatal EBC. O programa “Expedições”, produzido pela empresa Roberto Werneck Produções, teve o contrato de R$ 1,6 milhão cortado pela metade.
A estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela TV Brasil, foi transformada em cabide de boquinhas para amigos de Dilma, do antecessor Lula e do PT. Milhões de reais dos contribuintes foram desperdiçados em programas de amigos petistas. Um deles, o diretor de teatro Aderbal Freire Jr, casado com a atriz Marieta Severo, recebia R$ 91 mil por mês, cinco vezes mais que o presidente da própria EBC. A informação é da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.
Totais
O governo Dilma havia destinado um total de R$ 1,012 bilhão. Planilha do Ministério das Cidades, a qual o Diário do Poder teve acesso com exclusividade, mostra que das 60 mil unidades previstas para serem levantadas pelas entidades que receberam o dinheiro, foram entregues apenas cerca de 7 mil, menos de 10% do total. 
Entre os 388 movimentos, a Associação dos Trabalhadores Sem Teto da Zona Noroeste Leste I, de São Paulo, recebeu R$ 2,7 milhões para construir 400 casas. Para a Associação por Habitação com Dignidade, também de São Paulo, foram repassados R$ 2 milhões para erguer 350 casas.
A Associação Habitacional de Rondônia recebeu, segundo o relatório, R$ 6 milhões para construir o Residencial Esperança com 200 habitações. A obra, orçada inicialmente em R$ 12 milhões, tinha prazo para conclusão em outubro de 2015, mas virou um grade canteiro de obras e está paralisada há dois anos.
Farra de milhões
Chamou a atenção do Ministério das Cidades a diferença no valor repassado a movimentos que deveriam, em tese, levantar a mesma quantidade de casas. A União por Moradia Popular do Estado do Paraná (UMP-PR), por exemplo, recebeu R$ 15 milhões para construir 162 casas. Já a Associação Comunitária Ananias Alves Azevedo recebeu "apenas" R$ 3 milhões para 167 casas.
O Movimento Habitacional e Ação Social (Mohas), de São Paulo, recebeu R$ 3,7 milhões para 190 casas, enquanto que a Cooperativa Habitacional Giusepe Garibaldi, no Rio Grande do Sul, recebeu em janeiro de 2014 quase a mesma quantia - R$ 3,4 milhões - para mais que dobro de casas, 400 unidades. Apesar do volume repassado, o Mohas divulga em seu site que é uma "organização sem fins lucrativos".
O Movimento Pelo Direito a Moradia (MDM) recebeu R$ 1,9 milhão para 228 casas. E o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra Leste I (SP) pediu quase R$ 4 milhões para construir 198 casas, mas este não teve a mesma sorte das outras entidades e não foi contemplado.
Recordistas
Na Planilha do Ministério das Cidades os movimentos que mais receberam dinheiro do governo Dilma foram Associação Esperança de Um Novo Milênio, União por Moradia Popular do Estado do Paraná, Associação das Donas de Casa do Bairro Caranã, Associações Solidárias Unidas (ASSUNI), Associação Habitacional de Ipatinga, Associação Pró Moradia Liberdade, Movimento Nacional de Interesse Social (MNIS) e Associação dos Moradores do Acampamento Esperança de Um Novo Milênio. Juntos, receberam mais de R$ 150 milhões.
Pente fino
O ministro das Cidades, Bruno Araújo, disse nesta sexta-feira (20), em Recife, que vai pedir ao Tribunal de Contas da União (TCU), na próxima semana, uma auditoria no programa Minha Casa, Minha Vida. “Essa auditoria é para eu, enquanto gestor público, me proteger do que foi feito no passado. E para que o próprio tribunal, que já tem indicativos, possa continuar contribuindo com elementos técnicos que vem encontrando no aperfeiçoamento do programa”, explicou. 
Bruno Araújo afirmou que vai buscar ministros do TCU para tratar do assunto. Segundo o ministro, o eventual trabalho do TCU não vai atrasar ou suspender o andamento do programa social. Do site Diário do Poder(Contribuiu: Elijonas Maia/Diário do Poder)

Frase do dia de "Zorra Total"

'Achamos uma saída para a transformação do Ministério da Cultura': ele se chamará 

"Psicultura"

Mais uma aula de política - rasteira - do PT

PT quer obstruir votação


O PT vai tentar obstruir a votação da nova meta fiscal na comissão de orçamento.
A missão do PT é atrapalhar o Brasil.

domingo, 22 de maio de 2016

Protestos dos artistas contra a transformação do Ministério da Cultura em Secretaria é um gesto de gratidão ao ao PT

Eliane Cantanhêde: O mundo pop do golpe

Como a turma do vermelho é a minoria da minoria, a estratégia petista é usar a transformação do Ministério da Cultura em Secretaria como pretexto para mobilizar os aliados do ambiente artístico, que acham chiquérrimo ser “de esquerda”

Por: Augusto Nunes  
Publicado no Estadão
O “exército do Stédile” estava perdendo a guerra da opinião pública e os que ainda insistem em falar em “golpe” trocaram os carimbados MST, CUT, UNE e MTST por uma tropa de elite: os artistas, que se misturam às mocinhas bonitas da classe média alta de Rio e São Paulo que ilustram as manifestações da Avenida Paulista e as capas dos jornais.
Como a turma do vermelho é a minoria da minoria, a estratégia petista é usar a transformação do Ministério da Cultura em Secretaria como pretexto para mobilizar os aliados do ambiente artístico, que acham chiquérrimo ser “de esquerda” e, a partir disso, defendem qualquer coisa. Os “movimentos sociais” dividem, mas o PT acha que esse “mundo pop” soma. É assim que artistas e assemelhados invadem prédios da área de Cultura, para ganhar espaço nas TVs e atrair simpatias entre os que não entenderam nada das pedaladas fiscais e caem na história do “golpe”.
Se ainda há dúvidas sobre por que Dilma Rousseff foi afastada, basta olhar o rombo das contas públicas: o governo dela admitia que era mais de R$ 90 bilhões e Henrique Meirelles e equipe – aliás, excelente equipe – já trabalham com quase R$ 200 bilhões. R$ 200 bi!
As pedaladas foram exatamente isso: Dilma gastou o que tinha e o que não tinha e, mesmo depois de estourar o Orçamento, continuou contraindo mais dívida, inclusive sem permissão do Congresso. Ou seja: ela “pedalou” para esconder o rombo, para continuar gastando mais e mais em políticas populistas e para se reeleger. É ou não crime de responsabilidade?
Aliás, há quem diga, principalmente nas Forças Armadas e na diplomacia, que um outro crime de responsabilidade de Dilma foi, e é, insistir na história do “golpe” no exterior. Para parlamentares, isso configura calúnia e difamações contra as instituições brasileiras: o Supremo, a Câmara e o Senado. Sem falar nos ataques do PT ao MP, à PF e à mídia, pilares da democracia.
Se faltava cutucar os militares, não falta mais, depois da Resolução do Diretório Nacional sobre Conjuntura em que os petistas lamentam terem aproveitado os tempos de poder para modificar os currículos das academias militares e promover oficiais “com compromisso democrático e nacionalista”. Por em dúvida o compromisso democrático e até o nacionalismo de generais, almirantes e brigadeiros é um insulto às Forças Armadas.
Apesar de as três Forças terem mantido silêncio e distância da crise política, econômica e ética, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, não resistiu. Ontem, ele me disse que, com coisas assim, o PT está agindo como nas décadas de 1960 e 1970, aproximando-se do “bolivarianismo” de Cuba e Venezuela e “plantando o antipetismo no Exército”. Essa declaração de um comandante militar, convenhamos, não é trivial.
No próprio plano externo, a tese do golpe está ficando restrita aos próprios “bolivarianos”. Os Estados Unidos já se manifestaram em sentido contrário na Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Argentina e o Paraguai, entre outros, abortaram ameaças conjuntas contra o Brasil. Venezuela e seus seguidores podem ficar falando sozinhos.
Nicolás Maduro diz que há um golpe no Brasil, mas ele é que está na mira da OEA. O diretor-geral da organização, Luis Almagro, o chamou de “ditadorzinho”. Maduro reagiu dizendo que ele é “agente da Cia”. E, como Almagro foi chanceler do Uruguai, o ex-presidente Mujica tomou as dores: “Maduro está louco como uma cabra”.
Temos, pois, que Dilma anda mal de defensores. Os artistas farão manifestações inconsequentes internamente e Maduro tem de se preocupar mais com ele e com a OEA do que com o Brasil, enquanto Michel Temer toureia um Congresso rebelde e Henrique Meirelles tenta descobrir o tamanho do rombo e o fundo de um poço que parece não ter fim.