"O Brasil vive um momento de 'desotimismo' e desesperança que atrapalha o consumo", diz Washington Olivetto
02/04/2015 09h01
O publicitário brasileiro Washington Olivetto (Foto: Divulgação) |
Por que nunca fez campanha política?
É uma opção individual. Tenho amigos que fazem, alguns até bem famosos, como o francês Jacques Séguéla, que ajudou a eleger François Mitterrand na França, aconselhando o político a cerrar um pouco seus dentes caninos que eram muito pontiagudos e lhe davam uma aparência demoníaca. Séguéla disse a ele que ninguém queria votar no diabo. Prefiro anunciar produtos que o consumidor possa devolver se não gostar, ao invés de ter que aguentar 4 anos.
Como a publicidade sobrevive à censura do 'politicamente correto'?
Sou contra qualquer radicalismo e é triste viver momentos como esse. A propaganda não combina com isso, pois tem que ser simpática e amiga. Acho o politicamente incorreto mal-educado, e o politicamente correto, chato. Acredito que o caminho é o senso de humor e a irreverência, e não se pode nunca tratar o consumidor como um ser sem inteligência. Ele pode ser simples, sem nível intelectual, sem poder aquisitivo, mas é sempre inteligente.
O brasileiro vai consumir menos na crise?
O ato de consumir é, basicamente, um gesto otimista. Uma moça só compra uma maquiagem na intenção de ficar bonita; uma pessoa compra um tênis para ficar saudável; até remédio, que é algo menos agradável de consumir, você compra para ficar bom. Consumo é um ato de esperança. E o Brasil, hoje, vive um momento de 'desotimismo' e desesperança. Isso atrapalha nosso trabalho, porque fica mais difícil vender. Acho bonito quando dizem que a crise é ótima porque apresenta oportunidades. Eu preferia viver sem crise. Mas é minha obrigação apresentar soluções novas aos meus clientes.
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