O Rei Momo do Brasil
Ele não pesa 100 quilos, mas foi coroado Rei Momo ao receber de mascarados as chaves do Senado, a Câmara alta do país. O peemedebista Renan Calheiros, eleito com votos secretos dos camaradas, presidirá sua primeira farra: 14 dias de folia. A festa prolongada foi decretada depois de um mês e meio de recesso e apenas dois dias de “trabalho”. Isso não existe em nenhum país com um Congresso que se preze. Mas quem exatamente se orgulha do atual Congresso brasileiro?
É prudente rasgar a fantasia de representantes do povo se saírem em algum bloco. O blocão dos envergonhados e sem-vergonhas só escapa de ovos e tomates porque está encastelado em Brasília e goza férias em ilhas da fantasia. Segundo uma enquete do jornal Folha de S. Paulo, 56 senadores votaram em Renan, mas só 35 admitiram que sim. Ausente e alheio, o senador tucano Aécio Neves foi visto em cima de um muro, com cara de paisagem. Os tucanos fazem parte de uma espécie em extinção no Brasil: a oposição.
Enquanto os passistas assalariados precisam voltar ao batente na Quarta-feira de Cinzas à tarde ou na quinta-feira de manhã, a corte momesca de Renan e de sua rainha – o deputado Henrique Alves, presidente da Câmara – poderá prorrogar o Carnaval sem culpa ou temor. Renan determinou que não haja votação quinta e sexta. Uma pequena manobra para pagar na íntegra os contracheques de R$ 26.700 aos travestidos de senadores. Está na hora de gastar o 14o e 15o salários a que têm direito, pelo regimento interno.
“Quando voltarmos do Carnaval (dia 19, terça-feira), vamos ter quórum para votar”, disse Renan, o ético. Nada foi votado na semana passada. Compreensível. A prioridade é coisa pouca – o Orçamento de 2013, que deveria ter sido aprovado no ano passado. Você lembra por que não foi. O Congresso, em greve branca, produziu uma pantomima antes do Natal para resistir às cassações de parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal.
É prudente rasgar a fantasia de representantes do povo se saírem em algum bloco. O blocão dos envergonhados e sem-vergonhas só escapa de ovos e tomates porque está encastelado em Brasília e goza férias em ilhas da fantasia. Segundo uma enquete do jornal Folha de S. Paulo, 56 senadores votaram em Renan, mas só 35 admitiram que sim. Ausente e alheio, o senador tucano Aécio Neves foi visto em cima de um muro, com cara de paisagem. Os tucanos fazem parte de uma espécie em extinção no Brasil: a oposição.
Enquanto os passistas assalariados precisam voltar ao batente na Quarta-feira de Cinzas à tarde ou na quinta-feira de manhã, a corte momesca de Renan e de sua rainha – o deputado Henrique Alves, presidente da Câmara – poderá prorrogar o Carnaval sem culpa ou temor. Renan determinou que não haja votação quinta e sexta. Uma pequena manobra para pagar na íntegra os contracheques de R$ 26.700 aos travestidos de senadores. Está na hora de gastar o 14o e 15o salários a que têm direito, pelo regimento interno.
“Quando voltarmos do Carnaval (dia 19, terça-feira), vamos ter quórum para votar”, disse Renan, o ético. Nada foi votado na semana passada. Compreensível. A prioridade é coisa pouca – o Orçamento de 2013, que deveria ter sido aprovado no ano passado. Você lembra por que não foi. O Congresso, em greve branca, produziu uma pantomima antes do Natal para resistir às cassações de parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal.
Agora, o Orçamento não foi votado por um motivo, segundo Renan: “O óbice foi que a oposição não queria votar”. Óbice? Nosso idioma é muito rico, mas “óbice”? Olhei no dicionário. Sinônimos: atravanco, embaraço, empecilho, estorvo, impedimento, obstáculo. Não aguento Renan falando “óbice”. Soava mais convincente quando cantava para a amante Mônica Veloso “o que faço da minha vida sem você”.
Mônica o descreve, em seu livro O poder que seduz, de 2007, como “o docinho meigo e meio gordinho” que queria pular Carnaval de rua com ela na Bahia. O óbice era o casamento. Renan foi gravado em fitas por Mônica, já grávida, e tachado de “bobo” pela mulher, Verônica. Em epoca.com.br, há uma resenha minha, chamada “Um livro escrito nas coxas. Mas que coxas”. Num trecho do relato, Mônica escreve que “a vida caminha mesmo em círculos”. Hoje, o clichê parece profecia.
Nem a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Renan nem a petição pública com mais de 400 mil assinaturas comoveram políticos. No país da Ficha Limpa e do julgamento do mensalão, soa retrocesso. Sua foto rindo com Collor não me incomodou nem surpreendeu. O mesmo estofo, o mesmo cinismo, conterrâneos da safadeza... por que não dariam gargalhadas? Algum talento cara de pau Renan deve ter herdado, como marimbondo-mor de José Sarney. O padrinho agora pretende escrever sua autobiografia, escondendo, claro, a miséria a que ele e sua filha condenaram o Maranhão.
Surpreendente e positiva foi a reação organizada de centenas de milhares de brasileiros, que se insurgiram contra a dança viciada das cadeiras no Congresso. E em pleno verão, estação das consciências derretidas pelo calor. Não desanimem. Renan preside o Senado por culpa do corporativismo, do rabo preso dos senadores e da falta de cultura política. Não será assim para sempre. Renovar o Congresso exige tempo, investimento em educação, reforma partidária, voto consciente – e, a meu ver, não compulsório.
Quem lê, sabe que não foi concluído o processo contra Renan. Ele é acusado de usar notas falsas e bois-fantasmas para justificar o pagamento de uma pensão para a filha Catarina, da ex-amante. Há documentos provando que mentiu. Os R$ 16.500 eram entregues mensalmente em dinheiro a Mônica pelo lobista da empreiteira Mendes Júnior, beneficiada com uma obra no porto de Maceió. Segundo a denúncia do procurador Roberto Gurgel, Renan também desviou dinheiro do Senado. Em sua posse, Renan falou em nome da ética. Muitos pensaram ser ironia. Leitores se sentiram ridicularizados.
Segundo a mitologia grega, o deus Momo acabou expulso do Olimpo porque se divertia ridicularizando as outras divindades. Na Roma antiga, o Rei Momo era coroado anfitrião de três dias de orgia. Desfrutava todas as regalias durante a festa, como comidas, bebidas e mulheres. A lenda é trágica: no fim, o Rei Momo era sacrificado no altar de Saturno. Por onde anda esse Saturno?
Mônica o descreve, em seu livro O poder que seduz, de 2007, como “o docinho meigo e meio gordinho” que queria pular Carnaval de rua com ela na Bahia. O óbice era o casamento. Renan foi gravado em fitas por Mônica, já grávida, e tachado de “bobo” pela mulher, Verônica. Em epoca.com.br, há uma resenha minha, chamada “Um livro escrito nas coxas. Mas que coxas”. Num trecho do relato, Mônica escreve que “a vida caminha mesmo em círculos”. Hoje, o clichê parece profecia.
Nem a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Renan nem a petição pública com mais de 400 mil assinaturas comoveram políticos. No país da Ficha Limpa e do julgamento do mensalão, soa retrocesso. Sua foto rindo com Collor não me incomodou nem surpreendeu. O mesmo estofo, o mesmo cinismo, conterrâneos da safadeza... por que não dariam gargalhadas? Algum talento cara de pau Renan deve ter herdado, como marimbondo-mor de José Sarney. O padrinho agora pretende escrever sua autobiografia, escondendo, claro, a miséria a que ele e sua filha condenaram o Maranhão.
Surpreendente e positiva foi a reação organizada de centenas de milhares de brasileiros, que se insurgiram contra a dança viciada das cadeiras no Congresso. E em pleno verão, estação das consciências derretidas pelo calor. Não desanimem. Renan preside o Senado por culpa do corporativismo, do rabo preso dos senadores e da falta de cultura política. Não será assim para sempre. Renovar o Congresso exige tempo, investimento em educação, reforma partidária, voto consciente – e, a meu ver, não compulsório.
Quem lê, sabe que não foi concluído o processo contra Renan. Ele é acusado de usar notas falsas e bois-fantasmas para justificar o pagamento de uma pensão para a filha Catarina, da ex-amante. Há documentos provando que mentiu. Os R$ 16.500 eram entregues mensalmente em dinheiro a Mônica pelo lobista da empreiteira Mendes Júnior, beneficiada com uma obra no porto de Maceió. Segundo a denúncia do procurador Roberto Gurgel, Renan também desviou dinheiro do Senado. Em sua posse, Renan falou em nome da ética. Muitos pensaram ser ironia. Leitores se sentiram ridicularizados.
Segundo a mitologia grega, o deus Momo acabou expulso do Olimpo porque se divertia ridicularizando as outras divindades. Na Roma antiga, o Rei Momo era coroado anfitrião de três dias de orgia. Desfrutava todas as regalias durante a festa, como comidas, bebidas e mulheres. A lenda é trágica: no fim, o Rei Momo era sacrificado no altar de Saturno. Por onde anda esse Saturno?