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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

"O criminoso sempre volta ao local do crime"... / José Nêumanne


24/02/2016
 às 15:44 \ Opinião

José Nêumanne: O talento número 1 de João Patinhas

Publicado no Estadão Resultado de imagem para avião cheio de dinheiro
Na semana passada, a literatura universal perdeu um dos mais eruditos entre seus exegetas e também um dos mais bem-sucedidos de seus criadores com a morte de Umberto Eco. Este, contudo, não levou para o túmulo um célebre axioma universal do romance policial, seja o mais popular, seja o mais sofisticado: o criminoso sempre volta ao local do crime.  O grande mestre, porém, desapareceu sem ter tido a oportunidade de conhecer uma contribuição, dada pelo grupo de criminosos que promoveu no Brasil o maior assalto ao patrimônio público de todos os tempos e que, de certa forma, parodia esse truísmo: o novo tesoureiro sempre volta a cometer o crime do antigo.
Foi assim que o ex-tesoureiro do partido que manda na Repúblicoca há 13 anos (por coincidência, o número com que está inscrito na Justiça Eleitoral) Delúbio Soares, condenado na Ação Penal (AP) n.º 470, vulgo mensalão, por corrupção, entre outros delitos, foi imitado por seu sucessor. Como é notório, João Vaccari Neto já foi condenado por similar sequência de crimes após investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, e com penas impostas pelo juiz da chamada e muito aclamada Operação Lava Jato, Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná.
Com sua habitual dose de ironia, a deusa grega Clio, que rege a História, acaba de nos conceder exemplo da mesma natureza, que parece ter sido feito para confirmar a máxima anterior e exatamente na atividade em que o citado professor Eco foi pontífice máximo desde os anos 60: a comunicação de massas. Em depoimento na Câmara, em 2005, o publicitário baiano Duda Mendonça abalou os alicerces da política profissional no Brasil ao revelar que havia recebido em moeda estrangeira e em contas no exterior o pagamento por seus serviços à campanha vitoriosa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Mostrando que, em política e polícia, o raio pode cair no mesmo lugar, isso acaba de acontecer com quem o substituiu na função.
A prisão temporária do sucessor de Duda na campanha de reeleição de Lula, em 2006, e nas vitórias de Dilma Rousseff, apoiada pelo antecessor, em 2010 e 2014, outro baiano, João Santana, confirma, de forma peremptória, a aplicação do aforismo sobre o tesoureiro quando se trata de marqueteiro. E não é mera coincidência. Afinal, nos tempos modernos da comunicação de massas, genialmente explicados por Eco, o guardador de dinheiro e o fabricante de sonhos para enganar eleitor têm importância capital na disputa pelo voto do povo. E distorcem a paródia de Hegel por Marx, segundo a qual a História acontece como tragédia e se repete como farsa. Na versão do PT brasileiro, só se conhecem tragédias.
Surpreendido pela notícia fatídica quando tentava asfaltar o caminho de volta de Danilo Medina, do Partido de la Liberación Dominicana, à presidência da República Dominicana, o marqueteiro defendeu-se como pôde. Ocorreu-lhe, por exemplo, dizer que o dinheiro que entesoura em bancos estrangeiros foi licitamente ganho em campanhas que assessorou no exterior. Convenhamos que imaginar que nos convence de que faturou milhões de dólares de candidatos de Venezuela, El Salvador, República Dominicana, nas Américas do Sul e Central, e Angola, na África, com economias a anos-luz da brasileira, por mais críticas que sejam nossas condições econômicas no momento (o que está longe de ser o caso nas primeiras campanhas de Lula e Dilma), é uma aposta muito arriscada em nossa estupidez coletiva. Por mais razões que algum observador cruel tenha para justificar esse motivo, é contar excessivamente com a credulidade popular. Muito embora sua imaginação publicitária tenha sido capaz de ludibriar mais de 54 milhões de eleitores brasileiros que sufragaram sua candidata em 2014 imaginando que com as asas de suas mentiras voariam sobre o abismo à vista.
Se Aristóteles pudesse ressuscitar e opinar, talvez o tutor de Alexandre, o Grande, arriscasse a hipótese mais lógica de que pode ter ocorrido exatamente o contrário: o propinoduto da Petrobras e a generosidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) podem ter financiado as campanhas dos companheiros venezuelano, salvadorenho, dominicano e angolano. Seria, no mínimo, curioso imaginar mais essa dívida da originalidade histórica a nosso PT: com o fracasso da exportação da revolução cubana de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara para o Terceiro Mundo, a esquerda tupiniquim inaugurou a exportação da corrupção do Robin Hood às avessas, em que os pobres empobrecem para enriquecer os companheiros socialistas.
A hipótese, contudo, é absurda: para Hegel e Marx, os fatos históricos podem voltar a ocorrer, mas não seus protagonistas. Sem Aristóteles para nos tutelar, podemos concluir que enfrentamos uma tentativa de negar a História e, ao mesmo tempo, dotá-la de um espelho às avessas. A Operação Lava Jato mandou prendê-lo após reunir provas testemunhais e documentais acachapantes de seus crimes contábeis. Só que ele, contando apenas com seu extraordinário dom de iludir nosso eleitorado, se diz vítima de “perseguição” sem considerar nenhuma das evidências apresentadas por policiais e promotores federais, com aval de um juiz respeitável.
O desgoverno falido, assombrado pela hipótese de o Tribunal Superior Eleitoral interrompê-lo com a cassação de Dilma e Temer, diante de novas provas óbvias, argumenta que pagou R$ 70 milhões (!) pelo talento número um de João Patinhas. E, ainda assim, nada tem que ver com suas diabruras contábeis. Isso é tão convincente como persuadir policiais, promotores, juiz e todos nós de que o “chefe” citado nos e-mails de Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, publicados na capa da revista VEJA, seja Touro Sentado, Tibiriçá ou Winnetou. E que “madame” seja Pompadour, Bovary ou Ming.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Fronteiras entre a realidade e a ficção...


La realidad como la conocemos

Sin duda que ya lo dije antes, pero lo volveré a decir: uno de mis deseos es ponerle fin a esta columna, al menos en su actual encarnación. Cada tantas semanas tengo que conjurar un tema que aparente ser de actualidad, aun si lo que realmente quisiera hacer es volver a leer la obra de Píndaro y escribir (con bastante retraso) una reseña de sus poemas. En otras palabras, me gustaría hablar de libros que quizá se hayan olvidado, pero que pienso que sería “de actualidad” volver a leerlos. Podrían ser libros de hace siglos, aunque también me gustaría tratar obras contemporáneas que me he tardado en leer. Después de todo, no siempre se puede estar al día.
Hace poco leí L’Imaginaire, por Jean Jacques Wunenburger, que se publicó en Francia en 2003, y explora la idea de la imaginación individual y colectiva. Es difícil decir lo que la imaginación colectiva es, pero, con base en este libro, podemos al menos tratar de bosquejar una posible teoría. La imaginación colectiva no pertenece a construcciones de la razón, como la lógica, las matemáticas o las ciencias naturales, sino, más bien, a una serie de representaciones “imaginarias” que pueden oscilar entre los mitos antiguos y las ideas contemporáneas que circulan en cada cultura, y a las cuales todos nos ajustamos, aun si son fantásticas, erróneas o indemostrables científicamente.
Si hemos de hablar de una imaginación colectiva para los mitos, sin duda que elUlises de James Joyce es un ejemplo que domina nuestra forma de pensar. Luego, están esa visiones sagradas, los discursos que se filtran a nuestra experiencia individual: es bajo esta lógica que Pinocho se nos vuelve más real que, por decir, el príncipe Klemens von Metternich de Austria u otros titanes de la historia. Y en nuestra experiencia cotidiana, es posible que, preferiblemente, sigamos las lecciones de la vida ficticia de Pinocho que de la vida real de Charles Darwin.
En alguna parte de nuestra imaginación colectiva están los personajes de Lemuel Gulliver y Ema Bovary. Está el joven Werther, cuyo suicidio ficticio supuestamente inspiró a muchos jóvenes lectores a quitarse la propia vida. Sin embargo, según Wunenburger también existe una imaginación gnóstica, alquímica u oculta. Hay “discursos” que moldean y dirigen nuestra forma de vivir, aun cuando no se los puede sustentar racionalmente.
La parte más interesante de este libro es el intento por explicar la construcción fundamental de la imaginación colectiva televisual. La televisión nos fascina con sus imágenes del mundo, algunas de las cuales son, presumiblemente, reales, como, por ejemplo, las coberturas informativas; podremos reconocer otras imágenes como ficticias, pero de todas formas las recibimos en nuestros mundos individuales. Hay cierta religiosidad en ello: Wunenburger escribe sobre un tipo de representación que experimentamos como una manifestación desacralizada de lo sagrado, en la cual “ya no es necesario creer en la presencia de lo que está más allá de la representación, debido a que la representación en sí misma es ya un simulacro de la presencia”.
En otras palabras (y esta es mi interpretación), hasta donde saben los telespectadores, ¿el pietaje del colapso de las torres gemelas es más real que la vista de un tsunami cósmico en una película sobre desastres?
“Mientras que la función de la imagen religiosa consiste en establecer contacto con un dios ausente, la imagen televisual se establece como una manifestación primordial”, escribe Wunenburger. Los héroes de la televisión y sus hazañas se transforman en una especie de mundo común dentro de la imaginación colectiva. Hay que recordar que hace cuatro años, un estudio reveló que un quinto de los adolescentes británicos creía que Winston Churchill era un personaje ficticio y más de la mitad pensaba que Sherlock Holmes era una figura histórica real.
O, para analizar el problema desde un ángulo totalmente secundario, se puede considerar esto: hubo una época en la que los sacerdotes italianos se negaban a bautizar a cualquiera al que no le pusieran el nombre de un santo del calendario. Si a una hija se le ponía Liberta o Lenino a un hijo, como sucedía en la región de Romaña, había que prescindir del bautizo.
Ya van décadas en las que hemos visto niñas a las que les ponen nombres como Jessica o Gessica, Samantha o Samanta, Rebecca o, incluso, Sue Ellen – al que he visto destrozado como “Sciuellen”. Esto no tiene nada que ver con ponerle a los hijos nombres refinados –Selvaggia, Azzurra, Oceano–, algo típico de los aristócratas, esnobs y acomodados. La clase media nunca se atrevería a adoptar nombres tan excepcionales. Jessica, Sue Ellen y Samantha, por otra parte, son nombres “reales”, sugeridos por la imaginación colectiva televisual. Son más reales que los nombres de los santos, que hoy parecen tan distantes de nosotros; son los nombres de los mitos que componen a la imaginación colectiva.