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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Entrevista em frente ao espelho com conteúdo de vaidade e medo de ficar com bolsos vazios e mãos abanando... mãos nas costas


POLÍTICA

Kakay e o Manifesto: Vaidade e insulto contra a Lava Jato

Luis Buñuel, o cineasta dos absurdos mais impensáveis, faz um registro emblemático que me parece sob medida para ilustrar esta semana da entrevista surreal, à BBC Brasil, do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, na terça-feira. Seguida, ontem (15), do Manifesto, assinado pelo criminalista e mais de 100 colegas, publicado nos espaços mais nobres e mais caros dos principais jornais do País, sob o título "Carta Aberta" em repúdio aos "abusos na Operação Lava Jato".

Na linha de tiro, nos dois casos, as cabeças do juiz Sérgio Moro e do procurador geral da República, Rodrigo Janot. Os dois referências nacional e internacional (ao lado da Polícia Federal) na condução, apuração, prisão e ágil condenação de poderosos implicados no Petrolão - maior escândalo de corrupção e ladroagem, no país, envolvendo agentes públicos e privados: Políticos de alto coturno, gestores governamentais e executivos das maiores empreiteiras, metidos no saqueio que abala, quase de morte, a Petrobras, empresa nacional de maior orgulho dos brasileiros.

O trecho referido está no livro de memórias “Meu Último Suspiro”. No capítulo em que Buñuel fala das coisas de que mais gosta e das que mais detesta. Cito-o, a seguir, depois da espantosa (para quem ainda se espanta com alguma coisa no Brasil) entrevista de Kakay e da leitura do arrazoado que ele assina com mais de 100 advogados criminalistas.

O cabeça do “movimento” é defensor de 11 políticos e grandes empresários investigados pela Operação Lava Jato. Na conversa com a BBC Brasil, digna de obra do realismo fantástico, o advogado fala via celular, pachorrentamente sentado em um banco às margens do Rio Sena, em Paris.

Com a palavra o realizador de “O Cão Andaluz”: “Gosto das cobras e sobretudo dos ratos. Durante toda a minha vida vivi com ratos, exceto nos últimos anos. Eu os domesticava inteiramente e a maioria das vezes cortava-lhes um pedaço do rabo (é muito feio um rabo de rato). O resto é um animal apaixonante e muito simpático. No México, quando chegava a ter uns 40, ia soltá-los na montanha”.
Amaldiçoado seja quem pensar mal dessas coisas, diriam ironicamente os franceses. No entanto, em se tratando de absurdos, jamais diga que já viu ou ouviu tudo. Mesmo sendo um adepto fanático dos filmes do diretor de “A Bela da Tarde", ou um habitante da Bahia dos “maiores absurdos”, no dizer do lendário ex-governador Otávio Mangabeira, atualmente lembrado na placa que dá nome ao estádio da Fonte Nova, em Salvador.

Honraria dividida com a Cervejaria Itaipava, que, estranhamente, virou sócia do espaço sagrado do futebol baiano, depois da reconstrução da “arena” para a Copa do Mundo. Obra multimilionária  entregue às empreiteiras Odebrecht e OAS, no governo petista de Jaques Wagner, atual ministro chefe da Casa Civil do enrolado Governo Dilma. Uma história de inúmeros detalhes ainda submersos, cuja panela fervente começou a ser destampada, com a revelação de parte do conteúdo das conversas gravadas no celular de Léo Pinheiro (então diretor presidente da OAS), atualmente preso e condenado no bojo da Lava Jato atacada duramente por Kakay e seus seguidores.

Quer mais? Então sigamos para uma parada em Paris, da surrealista entrevista de Kakay. Conversa estranha, às vezes desconexa nas arengas despropositadas e frases mal alinhavadas (como é próprio dos anos de mando petista e de seus parceiros). Aparentemente surgida do nada, ou mais provavelmente fruto de alguma situação conjuntural, objetiva e factual, ainda a ser revelada em seus escuros bastidores e desvãos. Talvez caso de desespero profissional, político ou de imensos e insondáveis interesses financeiros ameaçados.

O fato é que a entrevista e a “Carta Aberta” são peças de virulenta hostilidade contra representantes da lei, da justiça e do poder público, considerados ética, técnica e profissional exemplares pela sociedade brasileira. Fala e escrito recheados de tiradas maliciosas, suposições condenáveis, afirmativas inverídicas ou com as marcas venenosas das meias verdades. Sem falar no escandaloso e quase infantil exibicionismo de tola vaidade pessoal.


Kakay se jacta de episódio do qual foi protagonista recentemente, no Rio de Janeiro, enquanto bebia com amigos no restaurante carioca Jobi, no bairro do Leblon. Diz que se surpreendeu na hora da conta: “Estava paga por um grupo de 10 dez amigos que me disseram “olha só você faz um enfrentamento contra esse povo aí da Lava jato”. O enfoque central da entrevista e do “manifesto” falseia fatos, ao afirmar que o Brasil vive, “sem a menor dúvida,” um momento de “criminalização da riqueza”, em que "a Justiça tenta, a qualquer custo, jogar a sociedade contra quem tem algum tipo de poder”. Nada, ou quase, sobre a corrupção e os poderosos - apanhados em fraudes, arranjos criminosos e roubal heira da grossa - já investigados, presos e condenados com a agilidade e severidade que os crimes praticados exigem. Afinal, a lei existe para todos e não só para ladrões de galinha.

A BBC pergunta ao criminalista se todos os seus clientes são inocentes, e ele não se acanha na resposta: “Não tenho a menor dúvida. Estão todos soltos e por isso estou aqui em Paris”. Chega! Quem quiser mais consulte a BBC Brasil e os jornais e meios onde saíram entrevista e manifesto. Chega! Fico por aqui, porque o resto é ainda mais insultuoso e impróprio para menores. Além disso, tenho a incômoda sensação de que os ratos de rabo cortado, de que fala Buñuel, começam a ficar impacientes nas montanhas do México, a caminho do Brasil.

sábado, 5 de setembro de 2015

A aula de José 'Pepe' aos insensatos petistas... / blog de Ricardo Noblat

http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2015/09/mujica-e-nau-dos-insensatos-no-brasil.html#comments
POLÍTICA

Mujica e a nau dos insensatos no Brasil

A Nau dos Insensatos  (Foto: Angeli)(Arte: Angeli)
O ex-presidente do Uruguai esteve no Brasil semana passada. São comoventes e exemplares algumas imagens que José "Pepe" Mujica deixou no rastro da sua passagem. Somadas com atitudes e palavras em atos e encontros durante a visita para não esquecer.
Principalmente o ex-presidente Lula e a atual ocupante do Palácio do Planalto, mas também políticos do principal partido de "sustentação" aos atuais donos do poder e outras legendas, grupos de interesses e figuras que o cercam na hora em que o governo e seus principais personagens cada vez mais se assemelham ao painel humano e político retratado em "A Nau dos Insensatos" (Ship of Fools), célebre romance de Katherine Anne Porter, depois levado às telas por Stanley Kramer, em filme cultuado há mais de 50 anos.
Os dois flagrantes fotográficos são do diário espanhol El País (edição do Brasil). Ilustram o texto da excelente reportagem assinada por Felipe Betim sobre o fim de semana, brasileiro, de Mujica. A mais impressionante (e alentadora), mostra o ex-dirigente uruguaio brilhando como um astro pop no Rio de Janeiro. Em época de tanta desilusão política, quase 10 mil jovens lotaram a concha acústica da UFRJ, para ver, ouvir e aplaudir o visitante.
Na outra fotografia, colhido em São Paulo, durante um seminário internacional, aparece Lula agarrado na cintura do ex-colega, enquanto Mujica o encara com ar que mistura surpresa e desalento. A cena passa a inevitável mensagem de "abraço de afogado", que constrange. Nas duas cenas, no entanto, Pepe Mujica é o foco estelar. Um incrível senhor de 80 anos, tipo pacato, normal, que dá um show de sensatez, decência e grandeza modelar de figura humana e homem público. No Brasil, faz quase um sermão de avô, e a  explicação para tamanho sucesso é tão simples quanto sua figura e suas palavras (à parte, é claro, registra o jornal espanhol, que ele regulamentou o uso da maconha em seu país): “Existem determinados elementos do nosso cotidiano político que deixaram de ser naturais e se tornaram insultantes".
Pelos padrões atuais da política brasileira, em especial os do petismo no poder, o líder uruguaio e global tinha tudo para não dar certo. Descreve o repórter Felipe Betim: "José "Pepe" Mujica anda encurvado, devagar. Dirige um Fusca, veste um terno meio surrado, não corta a unha do pé, possui uma pança imensa e evita a todo o momento o contato visual. Sua fala é mansa, doce. Diz coisas óbvias, sensatas, que qualquer outro velho camponês poderia dizer. A última no sábado passado, ao lado do ex-presidente Lula: "Os políticos devem aprender a viver como a maioria do país, não como a minoria". Na mosca!
Pego então um assento no avião da memória, e vou parar na beira do Rio da Prata. Tantas foram, que perdi a conta das vezes  em que estive no Uruguai. Houve um tempo, quando trabalhava na sucursal do Jornal do Brasil, em Salvador, que marcava férias sempre para 1º de abril (reinavam ditaduras praticamente na América Latina inteira e aimplacável Operação Condor rondava solta). Sabia dos perigos  e sobressaltos políticos e pessoais a que estava sujeito então. Mas valia a pena, pelo aprendizado do exemplo.
Na véspera do meu período de descanso começar a correr oficialmente, eu pegava um avião para Porto Alegre. À noite, na capital gaúcha, tomava o ônibus leito da "Puma" ou da "TTL" e, bem cedinho, na manhã seguinte, com a alma aos pulos, descia em Montevidéu: no histórico terminal bem no centro da capital sul americana, com lugar cativo para sempre no coração do jornalista desde a primeira chegada, nos anos 70, sob um frio de rachar, na companhia do saudoso amigo e brilhante advogado, Pedro Milton de Brito, depois compadre e presidente da OAB-BA, além de corajoso e destacado conselheiro federal da Ordem mais de uma vez, quando a OAB  era símbolo e razão de orgulho entre as entidades de resistência democrática, sempre altiva e independente dos poderosos da vez .
A passagem me fez recordar das idas e vindas ao Uruguai. Das ruas de Montevidéu, seu povo, seus líderes, seus cafés povoados de exilados brasileiros (Brizola, Dagoberto Rodrigues, Paulo Cavalcante Valente, entre tantos outros e a gente do lugar nas mesas em volta - atenta, solidária, educada e generosa . Recordei também do amigo Pedro, um tipo de quem o líder uruguaio seguramente iria gostar e admirar, se é que não se bateram alguma vez em algum café, restaurante, bar ou calle na querida e acolhedora cidade à beira do Prata.
Alguém de palavras que incomodam, como um cisco no olho, acompanhadas de conduta pessoal que condiz com o que prega. Virtudes que fizeram com que esse ex-guerrilheiro Tupamaro (Tupas como a gente chamava então), tão normal e tão humano, alcançasse a presidência do Uruguai em 2009 e o status de guru e filósofo internacional de toda uma geração”. Que bom!
E quanta diferença do Brasil deste setembro dos insensatos discursos e ininteligíveis entrevistas da presidente Dilma. Ou do boneco inflado do ex-presidente Lula vestido de presidiário que percorre o pais e que faz tremer petistas só em pensar que o espantalho pode ser a maior atração civil do 7 de Setembro em Brasília e no resto do País, nos desfiles desta segunda-feira. A conferir.