Rio de Janeiro
Presos policiais que roubavam carga e guardavam na delegacia
Quadrilha integrada por agentes da Polícia Civil, PM e bombeiro cobrava propina de transportadores e comerciantes para liberar mercadorias irregulares
Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
Policiais presos no Rio por roubo de carga e extorsão (Severino Silva/Ag. O Dia)
Uma ação da Polícia Civil, do Ministério Público do Estado do Rio e da Secretaria de Segurança na manhã desta terça-feira resultou na prisão de uma quadrilha de policiais especializada em extorquir dinheiro de comerciantes e transportadores de carga. Nove pessoas foram presas, entre elas quatro policiais civis, um policial militar, um bombeiro e um policial civil aposentado. O grupo tinha integrantes da unidade da polícia especializada em combater exatamente este tipo de crime, a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC). Com a ajuda de informantes, os chamados X9, eram identificados os alvos, a maioria deles comerciantes que compravam carga sem nota fiscal ou a documentação necessária.
“Em um dos casos, esses policiais apreenderam uma carga que havia sido roubada. A carga, no entanto, não foi devolvida ao proprietário que havia registrado o roubo na DRFC. O material ficou guardado em um caminhão apreendido no pátio da delegacia enquanto os policiais tentavam vendê-lo”, relatou Marcelo Fernandes, superintendente Operacional da Corregedoria Geral Unificada (CGU), órgão ligado à secretaria encarregado de investigar desvios cometidos por policiais.
A ousadia dos criminosos de farda era tanta que o caminhão-baú, estacionado no pátio da DRFC, funcionava como depósito das mercadorias apreendidas e não registradas na delegacia. A quadrilha utilizava ainda o cartório da DRFC para dar legalidade ao procedimento.
O bando, segundo denúncia do Ministério Público, não se limitava a atacar comerciantes e revender carga roubada, mas atuava também no roubo de carga. Os acusados também faziam diligências clandestinas, ameaçavam e invadiam domicílios para cobrar propina. O grupo responderá por estelionato, receptação, extorsão, peculato e concussão (extorsão praticada por agente público).
Segundo a denúncia do MP, o esquema criminoso foi descoberto no ano passado após denúncia de comerciantes. Eles foram à Corregedoria contar que sofriam extorsões semanalmente desde 2008 e que eram obrigados a pagar uma “taxa de segurança” ao cabo da Polícia Militar Alex Sander Santos de Souza. As vítimas relataram que a falta de alvará de funcionamento dos estabelecimentos era o argumento para que pagassem a propina, com valores entre 50 e 100 reais semanais.
De acordo com investigações da CGU, o policial civil Roberto Carlos Gomes Cavalcanti era o responsável por arrecadar o dinheiro. Os policiais civis Alessandro Alves Trindade e Wellington de Oliveira foram os primeiros a se associar ao esquema criminoso. Também faziam parte o oficial de cartório da delegacia Paulo João Reche Monteiro de Barros; o policial civil aposentado Sergio dos Santos Machado; o ex-soldado da PM Maurício Xaday do Nascimento Costa; o sargento do Corpo de Bombeiros Gilmar Antônio Rodrigues de Oliveira, além de Sandro Gomes de Oliveira, o “Chupeta”.
De acordo com investigações, estes três últimos eram os informantes do grupo e repassavam informações sobre possíveis vítimas. O policial Sergio Machado, mesmo aposentado, continuava a exercer a atividade policial na delegacia, segundo a denúncia.
Uma das investidas da quadrilha descoberta pela Corregedoria foi a invasão a um apartamento, no Maracanã, em junho deste ano, onde morava um casal que era proprietário de um box de produtos eletrônicos no camelódromo da Rua Uruguaiana. A denúncia relata que os policiais civis Roberto Carlos e Alessandro, além de Sandro, sem autorização judicial, revistaram a casa, ameaçaram a mulher e os dois filhos menores do casal. Na ação, segundo investigações, eles apreenderam videogames e caixas de jogos (supostamente sem origem legal) que haviam sido entregues pouco antes por uma transportadora.
O marido chegou à residência logo depois e seguiu com os policias para a DRFC. De acordo com o GAECO, os policiais exigiram 10 mil reais para liberar as mercadorias. Como a vítima não aceitou o pagamento da propina, eles apreenderam os produtos e registraram a ocorrência.
LEIA TAMBÉM: