Enviado por Elton Simões -
7.5.2012
| 18h03m
GERAL
O tempo ensina muita coisa. Uma das mais importantes parece ser apreciar e dar valor às coisas simples da vida. Eu, por exemplo, gosto de palavras. Para mim, poucos prazeres se comparam a ler um bom livro, diante de uma xícara de café.
Ler um bom livro é a possibilidade de sonhar e imaginar significados para palavras. É viajar e conhecer sem sair do lugar. É aproveitar tudo aquilo que as palavras têm a oferecer.
Palavras têm vida própria. Uma vez ditas, as palavras pertencem aos ouvintes (ou leitores). Estes, por sua vez, interpretam as palavras baseados em suas próprias percepções e experiências. Como camaleões, palavras têm diferentes significados dependendo do tempo e contexto em que são usadas.
Por isso, aquilo que é entendido por quem as lê ou ouve, dificilmente corresponde exatamente ao que pretendia aquele que as disse ou escreveu.
Neste sentido, palavras são, na melhor das hipóteses, mensageiros imperfeitos de pensamentos e sentimentos. A diferença entre a intenção de quem disse (ou escreveu) e interpretação de quem ouviu (ou leu) está na raiz de boa parte dos conflitos.
Nas ultimas décadas, tem crescido a percepção de que os indivíduos, ao se comunicarem mais eficientemente, são capazes de resolver suas diferenças pacifica e rapidamente. Nesses casos, a mediação tem sido vista como uma das formas mais eficientes de resolução de disputas.
Mediação é a tentativa de melhorar a eficiência do uso da palavra como mensageira das ideias e sentimentos de cada parte envolvida na disputa.
Na mediação, as partes envolvidas na disputa devem, ao mesmo tempo, assumir a responsabilidade da busca por uma solução; e estar dispostas a compreender as motivações das outras partes.
O papel do mediador é ajudar a esclarecer, através de perguntas, as verdadeiras origens do desentendimento: os interesses de cada parte.
O mediador separa o problema das pessoas de sorte que as partes possam construir uma interpretação comum dos fatos e utilizar as palavras como solução, e não como causa, do conflito.
Mediação implica em reduzir a distância entre o que é dito e o que é entendido. Se isso acontecer, a disputa pode ser resolvida.
Na maior parte das vezes, diferenças não são incompatibilidades. O simples conhecimento das diferenças expõe soluções possíveis e compatíveis. São as palavras, sempre elas, que apontam o caminho.
Mediação é ajudar as partes a ouvir com mais atenção. Afinal, não ouvimos aquilo que é dito. Ouvimos aquilo que estamos preparados para ouvir.
Elton Simões mora no Canadá há 2 anos. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria). Email: esimoes@uvic.ca. Escreve aqui às segundas-feiras.