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O compromisso com o atraso da família.Garotnho é contrato antigo...

domingo, 5 de abril de 2015

O fatalismo político predominante na América Latina nos coloca na traseira do desenvolvimento do processo econômico mundial

















MUNDO
ORIENTE MÉDIO


A verdade e a busca da verdade

Por: Por Eurípedes Alcântara05/04/2015 às 13:38 - Atualizado em 05/04/2015 às 16:42
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Mahmoud Ahmadinejad, Hugo Chávez e Cristina Kirchner(Morteza Nikoubazl/Reuters;Jorge Silva/Reuters; Alberto Pizzolia/AFP)


Apesar das diferenças culturais e das vertentes históricas nem sempre coincidentes, os países da nossa América do Sul tendem a mover-se coordenadamente em política. O caudilhismo, a mímica do fascismo europeu, as turbulentas experiências democráticas do pós-guerra, os regimes militares durante a Guerra Fria e, agora, o populismo "dependendista"-- em que, idealmente, o nascimento, vida e morte de empresas, e quem sabe, de pessoas -- depende unicamente da vontade do Estado. Movemo-nos em nossos países acompanhando o eixo pendular de forças tectônicas que, abaixo das nossas percepções conscientes, direcionam nosso pensamento e ação políticas. O processo, é evidente, dá-se em ritmos e graus diferentes. No entanto, individualmente nossos países são como passageiros caminhando para a traseira no corredor do avião imaginando que vão para onde seus narizes apontam, quando o vetor de seu deslocamento real é aquele pelo qual vai a aeronave. Com o risco de render-me ao fatalismo e de minimizar o protagonismo individual como agente da história, esse é o processo que, a meu ver, predomina em nossa caminhada conjunta na América do Sul. Como bom materialista, francês Fernand Braudel, em "A Dinâmica do Capitalismo", sua obra quase póstuma, de 1985, tenta explicar,em parte, esse comportamento de manada no continente sul-americano e, de certa forma, de toda a América Latina, pela nossa matriz econômica comum: monoculturas locais com preços das nossas mercadorias definidos nos centros consumidores da Europa, Estados Unidos e, mais recentemente,China. Em uma palavra, dependência, da qual, aponta Braudel, só nos livraremos com educação de qualidade para a maioria e capacidade técnica para agregar valor a nossos produtos de modo que eles imponham seus preços em qualquer mercado. Antes de prosseguir para a questão central que motivou esse artigo, quero crer que, interpretando os rumores do mundo à minha volta, o pêndulo do continente já está se movendo do populismo dependentista para uma posição de equilíbrio. A imprensa livre e comercialmente viável de nossos países teve e está tendo um papel importante em apressar o movimento reparador da dolorosa distorção populista.

Saiba mais: Chavistas confirmam conspiração denunciada por Nisman

Ocupo esse espaço no diário Perfil como uma oportunidade muito bem recebida de comentar, no limite dos respeito às fontes jornalísticas, as circunstâncias que levaram VEJA a obter as informações que embasaram a reportagem "A Conexão Teerã-Caracas-Buenos Aires", de 18 de março deste ano, em que se revelou a intermediação por Hugo Chávez, em Caracas, de acordo firmado entre o governo do Irã e da Argentina, que tinha dois objetivos:

1) a retirada de ordens de captura contra funcionários iranianos acusados de envolvimento no atentado à Amia; e

2) dar acesso a Teerã a certas tecnologias nucleares relacionadas à produção, estocagem e transporte de plu†ônio, resíduo do urânio não-enriquecido, um dos combustíveis dos reatores de água pesada da usina argentina de Atucha I.

Em troca, o Irã se comprometia a financiar o dramático aumento no volume de compra por Chávez de bônus soberanos argentinos.

A pista para se chegar às pessoas que passaram a VEJA essas informações foi aberta em 2010 pelo Wikileaks que, então, mencionou, de passagem, que os serviços de segurança dos Estados Unidos trabalhavam em colaboração com suas contrapartes no Brasil na investigação de simpatizantes e financiadores de grupos terroristas, em especial,o libanês Hezbolá e outros de menor capacidade operacional, mas que tinham em comum o recebimento de apoio material e logístico do Irã. VEJA designou o jornalista Leonardo Coutinho para, a partir das informações do Wikileaks, encorpar a história. Depois de quatro meses de trabalho, Leonardo Coutinho produziu e assinou a reportagem "A rede - O terror finca bases no Brasil". A reportagem revelou a existência de uma rede de financiadores do terror em operação no Brasil, cujos integrantes podiam ser encontrados em diversas cidades do país, algumas bem distantes da região do Iguaçú, a Tríplice Fronteira, epicentro da investigação dos agentes brasileiros e americanos. VEJA e Leonardo Coutinho foram processados judicialmente por algumas das pessoas identificadas pela reportagem. As acusações contra VEJA e seu repórter não prosperaram na Justiça, onde já foram ou continuam sendo recusadas por juízes de diversas instâncias.

Como ocorre com frequência com jornalistas que trabalham com seriedade, transparência e clareza de propósitos, Leonardo Coutinho tornou-se interlocutor de muitos de seus entrevistados, alguns deles tendo sido identificados como suspeitos pela reportagem, mas que descobriram estar sendo instrumentalizados por extremistas em quem, por desconhecimento, confiaram. Paralelamente, diplomatas de diversos países, analistas políticos, investigadores, policiais e membros moderados da comunidade muçulmana no Brasil e no exterior passaram a procurar Coutinho com o objetivo de compartilhar o que sabiam sobre aquelas atividades. As relações de Hugo Chávez com o Irã e os Kirchner na Argentina surgiram no radar de Coutinho de uma dessas conversas.

VEJA parte do princípio de que em uma investigação jornalística, más pessoas podem ser portadoras de boas informações. Assumimos também que uma fonte com intenções escusas tem interesse em ver revelado aquilo que nos conta. Seu motivo mais frequente é vingança, por exemplo, por ter se sentido injustiçada na repartição do produto de algum ato de corrupção. Pouco importa. Temos que falar com esse tipo de fonte, ouvir que têm a dizer, entender seus motivos, checar a e rechecar o que contam com outras fontes, obter provas documentais -- ou, na impossibilidade de obter os originais ou cópias fotográficas, pelo menos, vê-las e manuseá-las. Como dissemos internamente em VEJA, "falar com o Papa não nos torna santos, da mesma forma que falar com corruptos não nos corrompe". Leonardo Coutinho obteve diversas provas de que sua fonte sobre Chávez era alguém que privara da confiança e do convívio com o líder venezuelano e sua corte. Através dessa fonte, Leonardo soube de detalhes do câncer que acabou por matar Hugo Chávez e, assim, pudemos relatar a evolução real da doença e não, ingenuamente, dar publicidade às versões edulcoradas da propaganda oficial. O mesmo alto funcionário do governo de Caracas deu-lhe a estrutura do que viria a ser uma excelente reportagem sobre as relações entre o chavismo com o narcotráfico.

Com a subida de Nicolás Maduro ao poder, alguns dos informantes do repórter de VEJA na Venezuela romperam com a nova ordem e abandonaram o país, a maioria indo se estabelecer nos Estados Unidos. Eles se juntaram a quase uma dezena de outros expoentes do núcleo de poder chavista cujos acordos e alianças não puderam ser transferidos para Maduro. Exilados nessas condições sabem que, dependendo de com quem se relacionam, são valiosos ora pela fortuna material que legitimamente possuem -- ou subtraíram de suas pátrias -- ora pelas informações de que são portadores. A tendência é que gastem esse patrimônio com parcimônia, pois para eles a ruína seria que suas vidas biológicas durem mais do que suas fortunas. Mais ruinoso ainda para o interesse pessoal deles seria a revelação de que seus tesouros materiais são feitos de ouro de tolo e moedas falsas ou que as informações que passam à frente não tenham qualquer substância.

É natural, portanto, que esses personagens sejam fontes de informações sobre o que se passava no coração da estrutura de poder de Chávez. É natural que despertem a curiosidade de bons jornalistas e o interesse de diplomatas e serviços de inteligência de diversos países. Mas é natural também que as histórias que cada um conta não devam ser tomadas na integralidade por seu valor de face. É preciso, como fez Leonardo Coutinho, cruzar as histórias entre eles e checa-las com outras fontes até que , por serem do interesse público, pudessem ser publicadas.
A publicação de reportagens -- como as que revelam o acordo Caracas-Teerã-Buenos Aires e a existência de contas conjuntas no exterior da família Kirchner e uma alta funcionária do governo argentino -- não devem ser vistas como o julgamento definitivo sobre esses fatos. Uma boa reportagem é apenas uma porta aberta para outras reportagens. Não quero e não posso aqui afirmar que as reportagens de VEJA sobre esses episódios, sendo fidedignas e corretas no essencial, sejam absolutamente verdadeiras em todos os menores detalhes. O que quero e posso afirmar é que na história de 46 anos de VEJA, chegar e se manter na posição de maior, mais lida e respeitada revista de informação do Brasil é um feito conseguido não pela publicação apenas de verdades absolutas, mas por meio da absoluta clareza de propósitos na busca da verdade. É exatamente isso o que incomoda e nos distingue de arranjos políticos com pendor totalitário. Eles acreditam ter encontrado e se assenhorado da verdade. Nós estamos sempre em busca dela.
Este artigo de Euripedes Alcântara, diretor de redação de VEJA, foi publicado em 5 de abril pelo diárioPerfil, da Argentina, com o título "Trastienda secreta de la investigación de 'Veja'".
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No PT, qual a proporção entre defeitos e virtudes...? Época / Guilherme Fiuza



domingo, abril 05, 2015

O manifesto da virtude não contabilizada 

GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA


O Brasil estava à deriva, até que veio o encontro nacional do PT em São Paulo. Os presidentes dos 27 diretórios reuniram-se em torno do oráculo, e aí tudo ficou claro como a pele da elite branca. É sempre assim: por mais tenebrosa que seja a tempestade lá fora, quando o PT se junta em torno de Lula da Silva, tudo fica belo e luminoso. Ficamos sabendo que a crise é pura inveja que os ricos têm do povo. E saiu um novo manifesto -atenção, Brasil! - no qual o partido do mensalão e do petrolão ensina aos brasileiros o que é virtude.

É claro que o manifesto do PT não trata da estagnação econômica, nem da previsão de recessão apontada pelo Boletim Focus do Banco Central. Eles estão no Palácio há 12 anos, mas não têm nada com isso. O documento também não trata da mais recente façanha do partido - a inscrição de seu tesoureiro como réu no processo da Lava Jato. Isso é o tipo de coisa que só interessa à imprensa burguesa. E é justamente a imprensa o que preocupa os companheiros em seu mundo dourado. O manifesto propõe um projeto de lei para controlar a mídia (novidade!) - no exato momento em que a presidente dá posse ao novo ministro da Secretaria de Comunicação exaltando a... liberdade de expressão.

Dilma falou que sabe quanto a imprensa livre é importante, porque ela é uma pessoa que viveu sob uma ditadura. Atualmente, no Brasil, praticamente só Dilma viveu sob uma ditadura. Todos aprendemos a acompanhar, contritos, o sofrimento diuturno de Dilma Rousseff em sua resistência implacável aos militares. Quando começamos a achar que a batalha está concluída, o Palácio do Planalto solta mais um release sobre "Os anos de chumbo", e lá vamos nós sofrer mais um pouco ao lado de nossa heroína. Não há nada mais urgente hoje no Brasil do que apoiar Dilma contra o regime militar. Ela há de nos libertar desse inimigo morto e enterrado há 30 anos.

Enquanto a presidente luta heroicamente pela liberdade de expressão, que só ela sabe quanto é valiosa, seu partido costura docemente a mordaça. O PT já tentou colocar rédeas na mídia até através de um pacote de direitos humanos. Agora, o tal manifesto propõe uma nova regulamentação do direito de resposta. Os companheiros só vão sossegar quando a comunicação de massa no país alcançar o padrão de uma assembleia do partido. Chega de perseguição a guerreiros do povo brasileiro como João Vaccari. A cada denúncia publicada sobre as peripécias do tesoureiro na arrecadação de fundos para a revolução progressista, a mídia há de ter que abrir espaço para a resposta do guerreiro. E ele terá o sagrado direito de declarar, como seu antecessor Delúbio no mensalão, que há uma conspiração da direita contra o governo popular.

O manifesto divulgado pelo PT no dia 30 de março explica que o partido está sendo "atacado por suas virtudes". Não esclarece se entre essas virtudes está a formidável capacidade de captação de recursos junto às empresas investigadas na Lava Jato. Ou a invejável capacidade de escolher e cultivar os diretores certos para a Petrobras, sem os quais uma legião de parasitas e picaretas morreria de fome. Talvez por humildade exacerbada, o manifesto do PT não cita entre suas virtudes a façanha de ter jogado a maior empresa brasileira na lona, rebaixando-a ao grau de investimento especulativo. Tamanho virtuosismo realmente só poderia gerar inveja e perseguição.

"A campanha de agora é uma ofensiva de cerco e aniquilamento", diagnostica o manifesto. "Para isso, vale tudo. Inclusive criminalizar o PT." Eis o escândalo: estão criminalizando o PT. Será que não percebem que todos os crimes pelos quais os petistas têm sido indiciados, julgados e condenados são crimes decorrentes das suas virtudes? Será possível que essa elite golpista não aprendeu a distinguir o crime mau do crime bom?

Na reunião de cúpula, o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia, esclareceu: "Ganhamos a eleição com uma narrativa que a presidente assumiu de forma corajosa". No dia seguinte, no Senado, o ministro da Fazenda tentava salvar a pele do governo com uma narrativa oposta a essa que a presidente assumiu corajosamente. Talvez seja por isso que as multidões voltaram às ruas: 
entenderam enfim que estão sendo governadas há 12 anos por uma narrativa.





Postado por MURILO às 10:41

sábado, 4 de abril de 2015

Notícias absurdas de Brasília // coluna de Cláudio Humberto




04 DE ABRIL DE 2015
BRASIL USA ‘MAIS MÉDICOS’ PARA FINANCIAR DITADURA
Desde o lançamento do programa Mais Médicos, em 2013, o governo brasileiro entregou mais de R$ 3,7 bilhões a Cuba, com intermediação da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Só em janeiro deste ano, quase meio bilhão de reais (exatos R$ 476 milhões) foram transferidos à ditadura cubana. Dos recursos entregues ao regime dos irmãos Castro, só uma pequena parte é para os médicos.






CAIU A MÁSCARA
A Band revelou vídeo de reunião da Opas com o Ministério da Saúde em que fica claro o objetivo do governo: mandar dinheiro para Cuba.






TRABALHO ESCRAVO
Cuba pagava a seus médicos 10% dos R$ 11 mil que recebe por cada um deles. Após o abuso ser denunciado, passaram a receber R$ 3 mil.






FAMÍLIAS REFÉNS
A tirania cubana dificulta a vinda das famílias de médicos para o Brasil. Ficam em Cuba como reféns, para obrigar o retorno deles àquele país.






QUE VERGONHA...
Quase cinquenta cubanos já desertaram, mas raros ficam no Brasil, país que atua como instrumento de exploração da tirania Castro.






PREFEITOS QUEREM SAÍDA DE VACCARI; LULA SEGURA
Prefeitos petistas engrossam coro e pedem a cabeça de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. O grupo teme que a permanência de Vaccari desgaste o partido e sirva como munição para opositores nas eleições mais próximas, de 2016. No PT, uma corrente defende o afastamento do tesoureiro antes da oitiva na CPI da Petrobras, que, prevista para 23 de abril, graças a manobra tucana, pode ser realizada no próximo dia 9.






COSTAS QUENTES
Lula é o avalista da permanência de Vaccari: não quer ver o repeteco do penoso afastamento temporário do mensaleiro Delúbio Soares.






FORA DILMA
Petistas acusam tucanos de antecipar o depoimento de Vaccari para ajudar a mobilizar mais pessoas para as manifestações de 12 de abril.






DEIXANDO SANGRAR
Peemedebistas garantem que não há o menor empenho do partido para estancar a sangria do PT pela CPI da Petrobras.






PINTOS NO LIXO
A Câmara dos Deputados aprovou esta semana o ato que regulamenta a apresentação de projetos para os novos anexos da Casa, que vai nos custar mais de R$ 1 bilhão. Serão 4,4 mil novas vagas de garagem e 520 gabinetes com 60m² cada um. São 513 deputados.






AUSTERIDADE FORÇADA
A empreiteira OAS abandonou o amplo escritório de três pavimentos no Complexo Brasil 21, em Brasília. Agora sob recuperação judicial, a OAS “não confirma” a mudança. Nem precisa: as salas estão vazias.






MINISTRO NOBRE
Ganha força o ex-conselheiro do CNJ Marcelo Nobre para a vaga de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal. Advogado, ele é querido desde o DEM de Ronaldo Caiado, passando pelo PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ao PSOL de Chico Alencar.






PAULINHO SEM FORÇA
A petição pelo impeachment de Dilma, liderada pelo “dono” do Solidariedade, Paulo Pereira, o Paulinho da Força, só conseguiu 4,7 mil assinaturas, muito distantes das 1,5 milhão prometidas dias atrás.






FORA, CUNHA
O movimento “Eu exijo a renúncia do Eduardo Cunha” faz manifestação em Fortaleza, terra do ex-ministro Cid Gomes (Pros), no dia 19 de abril. O lema do protesto é: “Fora Cunha e leve junto os achacadores”.






SAUDOSISMO
Durante sessão nesta semana, o Senado apresentava em seu site um discurso de Ney Suassuna. O Senado publica, em tempo real, o discurso de suas excelências. Suassuna não é senador desde 2006.






ARLINDO QUEM?
O ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) virou mero coadjuvante no cenário político, sem participar das grandes decisões. Após a derrota humilhante para Eduardo Cunha, virou “baixo clero”.






SEDE AO POTE
A água das torneiras em Brasília é de boa qualidade, mas a Presidência da República vai pagar R$ 92,2 mil, daqueles retirados do nosso bolso, para pagar contratos de fornecimento de água mineral.






PENSANDO BEM…
…com as pesquisas mostrando Dilma cada vez mais rejeitada, não admira que ela tenha escolhido passar a Semana Santa trancada em casa.


Vander Lee - Esperando Aviões

Calmaria em tempos obscuros... / Eliane Cantanhêde / Estadão

http://m.estadao.com.br/noticias/politica,os-militares-e-a-crise-,1663159,0.htm

Eliane Cantanhêde - O Estado de S.Paulo
Órgãos de inteligência do governo, principalmente das Forças Armadas, passaram o 31 de março em estado de alerta para detectar tanto provocações de "oficiais de pijama" quanto manobras do "exército do Stédile" e, assim, tentar evitar confrontos. E o que aconteceu? Nada. Poucas vezes antes neste país o 31 de março passou tão em branco. Desta vez, a crise corre ao largo dos militares.
O temor em Brasília era de que, neste clima político, com crises variadas, a popularidade de Dilma Rousseff no chinelo e depois de milhões de pessoas protestando no 15 de março, o aniversário do golpe militar de 1964 servisse de pretexto para novas demonstrações de força e embates de rua, com resultados imprevisíveis. O temor não se confirmou e, no final do dia, a sensação na capital da República era de alívio.
Foi como se tivesse havido um acordão entre os militares da reserva e os militantes de Lula/Stédile para ninguém botar mais lenha na fogueira, para os dois lados não saírem às ruas. Não houve acordo, obviamente, só uma avaliação fria de que não estão fortes o suficiente para mobilizar massas e provocar comparações.
Apesar de toda a insinuação prévia de que haveria novos atos públicos, o PT preferiu se trancar em "plenárias", lambendo as feridas, preparando o congresso de junho e tentando traçar o futuro numa frente com MST, CUT, UNE e acessórios que, em nome de uma guerra extemporânea entre "direita" e "esquerda", engolem qualquer coisa, até o indigesto desmanche da Petrobrás.
Essas plenárias do partido são como uma pausa para pensar, num momento em que a popularidade da presidente bate no fundo do poço (12% de aprovação?!) e ela reza para São Levy fazer chover e conseguir aprovar no Congresso as correções dos imensos erros que ela própria cometeu no primeiro mandato.
Do outro lado, o militar, o que houve foi mais do mesmo: almoço de oficiais da reserva no Clube Militar, uma meia dúzia gritando palavras de ordem do lado de fora e outra meia dúzia fazendo confusão em local fechado de São Paulo. Nada que mereça o título de "manifestação". Isso só reforça que, desta vez, as Forças Armadas não têm nenhum protagonismo. Mesmo nos bastidores, os militares debatem a crise como qualquer cidadão: com espanto. Sem intenções, sem objetivos.
São os agentes políticos que estão em retiro espiritual, não exatamente por causa da Semana Santa, mas para tentar entender a dramaticidade do momento, projetar os cenários possíveis e já se contorcendo para poder mais adiante se encaixar em diferentes hipóteses.
Dilma está em suspenso, à espera de Levy. Levy depende desesperadamente do Congresso. O Congresso é todo olhos e ouvidos para as ruas. Lula e o PT, atarantados, pedem socorro para as centrais e movimentos engajados. Os movimentos engajados descobrem que não é hora de medir forças com as classes médias irritadas. E a oposição, um tanto deslocada do centro da cena, fica atenta à panela de pressão para decidir a hora de aumentar ou de diminuir o fogo. Além de avaliar se poderá, ou não, assumir algum tipo de liderança nas manifestações de rua e se chegará, ou não, o momento de jogar algo, ou alguém, na fervura.
A próxima grande manifestação popular está prevista para 12 de abril, primeiro domingo após a Páscoa, e deve responder a uma pergunta que não quer calar, no governo, na oposição, muito particularmente no PMDB: se a explosão de 15 de março vai aumentar mais e mais, ou se aquele grito bastou e agora a maioria vai preferir ouvir pela janela, panelas à mão. Ou seja, se aqueles milhões foram às ruas e se recolheram, ou se foram para ficar.
Os militares estão quietos no canto deles, mas, além dos advogados, dos policiais federais, dos procuradores e dos jornalistas, outra categoria que vem trabalhando demais ultimamente são os agentes de inteligência do governo. Nem eles, porém, têm resposta para a grande pergunta da crise: no que tudo isso vai dar?

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Você acredita no Futebol brasileiro ? Uma ideia para melhorar a qualidade de administração dos clubes / Época

http://epoca.globo.com/ideias/noticia/2015/04/da-para-o-futebol-brasileiro-sair-do-buraco-financeiro.html

Dá para o futebol brasileiro sair do buraco financeiro?

Um grupo de especialistas acredita ter descoberto como medir, de uma vez só, o potencial de sucesso de um clube e sua saúde financeira

RODRIGO TURRER
02/04/2015 08h00

PROMESSA O Palmeiras comemora um gol,  na inauguração  de seu estádio,  em janeiro.  O clube é exemplo de recuperação financeira  (Foto: Mauro Horita/AGIF)
Na virada dos anos 1980 para os anos 1990, o futebol deixou de ser um esporte para se tornar um negócio bilionário. Com a expansão e difusão dos serviços de TV por assinatura, os grandes clubes de futebol dos principais países europeus se tornaram marcas valorizadas e assinaram contratos de transmissão de jogos com valores estratosféricos. Até 1991, o futebol movimentava menos de US$ 1 bilhão. Hoje, são mais de US$ 450 bilhões. Mas o Brasil não seguiu o roteiro e parou no tempo.

Os clubes de futebol brasileiro só se recuperaram da década perdida na metade dos anos 2000. Surfando na onda da expansão dos negócios do futebol, atraíram altos valores de patrocínio, negociaram somas importantes em compra e venda de direitos econômicos de atletas e receberam volumes expressivos pelos direitos de transmissão dos campeonatos. A receita dos clubes brasileiros saltou de R$ 600 milhões em 2001 para R$ 3,18 bilhões em 2013. O modelo de gestão dos clubes, no entanto, ficou congelado.

O resultado é um endividamento crescente, que compromete o planejamento das equipes. “Há um profundo problema de gestão no Brasil, onde os clubes são entidades sociais e não têm quadros profissionais na administração, com presidentes e diretores voluntários”, afirma Fernando Trevisan, especialista em gestão esportiva. “O passivo fiscal, as contingências trabalhistas e as dívidas bancárias são os maiores gastos, e os clubes dependem das receitas de TV.”

No ano passado, Fernando Trevisan e a consultoria portuguesa Maksen desenvolveram o Índice de Desenvolvimento Esportivo (IDE), que engloba mais de 100 indicadores de infraestrutura, recursos humanos, administração do clube, desenvolvimento da marca, formação de atletas, desenvolvimento do elenco, resultados esportivos e financeiros. O objetivo do IDE é comparar o desempenho dos clubes, diagnosticar se estão na trajetória para ter bons resultados e viabilidade financeira, sinalizar seus pontos fracos e ajudá-los a melhorar. Dos 30 principais clubes do Brasil selecionados para fazer parte do estudo, 15 enviaram as informações dentro do prazo. Gigantes endividados, comoCorinthians, Atlético Mineiro, Grêmio, Fluminense, Vasco e Botafogo, não quiseram responder. O time mais bem colocado no ranking foi o Atlético Paranaense, que conseguiu 68,3 pontos no índice. O clube do Paraná alcançou a primeira posição graças a sua saúde financeira – é o único do país a apresentar balanços sociais auditados desde 2003 – e a sua infraestrutura, com um estádio próprio e um centro de treinamento moderno.
>> Paulo André: "O sistema político que sustenta a CBF e as federações está nos matando"

Entre os cinco primeiros no ranking estão algumas das gestões mais elogiadas do Brasil:Internacional de Porto Alegre, São Paulo e Cruzeiro. Mesmo os clubes com bom desempenho de gestão apresentam dificuldades. A nota média do IDE entre todos os participantes foi de 54,5 pontos. “A maioria dos clubes ainda gasta mais do que arrecada, o que resulta em deficits em seus demonstrativos, aumenta o endividamento e gera dúvidas quanto a sua capacidade de se autossustentar ao longo do tempo”, afirma Fernando Ruiz, da consultoria Maksen. “Poucos clubes fazem planejamento estratégico, com objetivos de médio e longo prazo, ou possuem remuneração por resultados, políticas salariais e planos de carreira para a área administrativa.”

Sem planejamento e estratégia, o futuro é sombrio para a maioria dos clubes brasileiros. Ao mesmo tempo que viram suas receitas turbinadas, os clubes passaram a gastar mais: com contratações e salários de jogadores e de treinadores. Em consequência do aumento dos gastos, os times não conseguiram pagar suas contas. Dirigentes apelaram a adiantamentos de receitas futuras (inclusive de direitos de transmissão) e os clubes sofrem com dívidas impagáveis. As obrigações fiscais, que há anos os clubes não conseguem quitar, são o maior problema. Os 12 maiores clubes somam R$ 1,7 bilhão de dívidas com o Fisco – fora dívidas com empresários e entidades privadas.
>> Refinanciamento de dívidas: o embate entre CBF e Bom Senso

O resultado da gastança será um sufoco incontornável em 2015. Segundo um levantamento feito pelo Banco Itaú BBA, apenas Flamengo e Fluminese vão ter lucro de 15% de suas receitas, considerado um nível saudável. Cruzeiro, São Paulo, Grêmio e Internacional vão ter lucro em 2015, mas precisariam reduzir custos de operação para ter lucro adequado. Já o Fluminense, apesar das perspectivas auspiciosas, vive uma crise financeira por causa do fim da parceria com a Unimed, patrocinadora que bancava o salário do elenco. A Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, em discussão noCongresso, pode deixar os clubes ainda mais sufocados. Para fechar no azul, os 12 maiores clubes de futebol do país teriam de apertar os cintos e cortar cerca de R$ 283 milhões de despesas projetadas para este ano.

Mudar o modelo de negócio é a alternativa para os clubes brasileiros saírem do aperto. O Brasil tem uma tradição histórica no esporte, mas encontra dificuldades para administrar as finanças de um negócio que poderia ser muito mais lucrativo. A chave para um salto na arrecadação são os milhões de torcedores dispostos a gastar. “Chega uma hora que o torcedor se cansa da paixão não correspondida”, afirma Erich Beting, jornalista especializado em marketing esportivo. “O clube tem de fazer com que ele queira alimentar essa paixão.” Atrair público para o estádio e fazer o torcedor virar um sócio do time é a saída. A consolidação dos planos de sócios-torcedores vem rendendo fortunas a algumas das equipes do país que descobriram essa mina de ouro. O Internacional de Porto Alegre é líder no ranking de sócios-torcedores, com 129 mil. Os sócios do Cruzeiro ajudaram o clube a ser bicampeão brasileiro, injetando R$ 54 milhões nos cofres celestes ao longo de 2014 – R$ 34 milhões em pagamentos de mensalidades e R$ 20 milhões na compra de ingressos com descontos. Inter e Grêmio arrecadaram mais de R$ 40 milhões cada.

Flamengo e Palmeiras estão no caminho para lucrar alto em um futuro próximo. O rubro-negro carioca deve ter lucro de R$ 79 milhões em 2015, sem precisar cortar custos por causa dos ajustes que vem fazendo desde 2013. Ainda pode ganhar mais se impulsionar seu incipiente programa de sócio-torcedor, hoje com 55 mil sócios. Já o Palmeiras é um dos grandes exemplos recentes de como convocar torcedores para fazer o clube despertar. Depois de anos de dificuldades e endividamento que transformaram a equipe em motivo de piada entre rivais, o programa sócio-torcedor fez a equipe renascer. “O Palmeiras é um exemplo, porque equalizou suas dívidas, tem um estádio novo e sem dívidas e conseguiu convocar os palmeirenses a patrocinar a reconstrução do time”, afirma Fernando Trevisan. Quase rebaixado no Brasileirão do ano passado, o clube vive uma escalada impressionante em seu quadro associativo. Só em 2015, foram 18 mil novos sócios, que catapultaram o Alviverde ao segundo posto no ranking nacional, com 82 mil participantes.

Atrair os torcedores de volta ao estádio é o primeiro passo para tirar o futebol brasileiro do buraco financeiro. O Brasil foi apenas o 18º colocado em média de público em um ranking dos 20 maiores campeonatos nacionais do mundo divulgado no início do ano pela Pluri Consultoria. Com 16.555 torcedores por partida no Brasileirão de 2014, o Brasil ficou atrás da liga americana, a Major League Soccer, do Campeonato Chinês e da Segunda Divisão da Inglaterra. Perdeu de goleada para a Alemanha, que ocupa o primeiro lugar, com média de 42.646 torcedores por jogo. Os programas de sócio-torcedor podem ajudar os clubes a se reerguer e lotar os estádios. O passo seguinte é organizar e planejar para que o Brasil se torne o país do futebol também na gestão esportiva.
A situação financeira de grandes clubes do Brasil (Foto: Marco Vergotti)

Você curte seu trabalho... ? Você aprecia seu casamento ? / Curta a entrevista com Mario Sergio Cortella


08/09/2014 08h23 - ATUALIZADA EM: 08/09/2014 14h53 - POR MARCELA BOURROUL

'SÓ UM IMBECIL GOSTARIA DE FAZER O QUE NÃO CURTE'

MARIO SERGIO CORTELLA DIZ QUE AS NOVAS GERAÇÕES PRECISAM ENTENDER QUE ENTRE A VONTADE E O SUCESSO EXISTE UM CAMINHO CHEIO DE COISAS POUCO PRAZEROSAS


Mario Sergio Cortella (Foto: Gigi Kassis)

O filósofo Mario Sergio Cortella é conhecido por sua experiência na área de educação, mas parece capaz de filosofar sobre tudo. Nesta entrevista de menos de uma hora, ele foi da sala de aula à Copa, passando por tecnologia, democracia e mundo corporativo. 
Cortella é professor há 40 anos e, na juventude, tentou por três a vida no Monastério. Foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo, trabalhou ao lado de Paulo Freire, uma das figuras mais importantes da educação brasileira, e escreveu mais de 15 livros. Uma de suas aulas colocadas no YouTube - "Você sabe com quem está falando?" - tem quase 800 mil visualizações.
Na conversa a seguir, ele chama a atenção para um "desvio de formação" dos jovens, que não foram ensinados a batalhar pelo que desejam. Ao mesmo tempo, afirma que essa geração tem várias características que precisam ser valorizadas. Cortella também dá um alerta sobre a nossa falta de tempo para pensar sobre nós mesmos: "algumas coisas na vida é melhor começar cedo antes que seja tarde". A dica, que ele repetiu algumas vezes durante a entrevista, é "parar, olhar e escutar". Já fez o seu minuto de silêncio hoje?
Debate-se muito no mercado de trabalho sobre essa geração que está encarando agora seus primeiros empregos, que suas expectativas não condizem com o que o mundo corporativo tem a oferecer hoje, e que eles não se encontram.
Há duas coisas aí. Primeiro: de qual jovem estamos falando? Porque aquele que não se encontra é aquele que tem escolha. Quem não tem escolha tem que se encontrar, senão não sobrevive. A mesma coisa vale para o dilema de mulheres que não sabem se trabalham ou cuidam dos filhos. Essa é uma opção que só parte da população tem. Boa parte das mulheres ou trabalha ou morre, só isso. De maneira geral, aquela que tem o dilema é aquela que contrata outra mulher para cuidar de seus filhos, para que possa trabalhar enquanto pensa se trabalha ou cuida dos filhos.
Mas para quem tem escolha, nas grandes organizações hoje há uma dificuldade de lidar com essa geração. Porque esse jovem com menos de 30 anos tem grandes belezas e capacidades, como senso de urgência, mobilidade, instantaneidade, simultaneidade, velocidade. Mas ele não tem algumas coisas que é necessário trabalhar: paciência, noção de hierarquia e compromisso com resultado e meta. Por uma razão: essa classe média jovem tem um desvio de formação que é confundir desejos com direitos. Isto é, eu quero, portanto você tem que me dar.
É um problema de criação?
Claro, é um problema de formação dentro da família. Desse ponto de vista, uma parcela deles acha que, dentro de uma empresa, se eu sou o chefe é como se eu fosse pai ou mãe, ou seja, eu tenho que prover as condições, e isso não acontece. Portanto, retirou-se da formação de uma parcela dessa geração a ideia de esforço. Ao fazê-lo, criou-se uma condição muito malévola, que é supor que as coisas tem que ser marcadas pela ideia de prazer. E por isso há um hedonismo hoje muito forte.
Um jovem diz: eu quero fazer o que eu gosto. Eu também. Só um imbecil gostaria de fazer o que não gosta. Todo mundo gosta de fazer o que gosta. No entanto, para fazer o que gosta é preciso que dê passos não tão agradáveis no cotidiano. Eu gosto demais de dar aula, faço isso há 40 anos, mas não gosto de corrigir prova, não conheço ninguém que goste. Mas eu não posso não corrigir, porque se eu não corrijo não tenho visão do como os alunos estão aprendendo e de como eu estou ensinando. Pois bem, qualquer um sabe que para obter prazer em algo é preciso algumas coisas que não são, no caminho, satisfatórias e prazerosas. Só que essa geração atual foi criada sem esse tipo de transição entre o desejo e o fato, entre a vontade e o sucesso, o anseio e a satisfação. Tem menino de 20 anos de idade que nunca arrumou cama, lavou louça.
O que a empresa pode fazer?
Elas precisam lidar com esse percurso de modo a formar as pessoas dessa geração com compromisso, metas e prazos, mas sem perder o que ela tem de mais inovador. Isto é, não só a familiaridade com o digital, mas o senso de urgência, mobilidade, inovação. Isso é uma força vital, altamente contributiva no mundo das empresas. Não posso em um negócio não ter gente que queira viver algo que é novo. Mas também não posso aceitar que ele ache que a vida só funcione com o novo. Você pode desprezar essa geração em nome daquilo que nela é um desvio, o que seria uma tolice imensa, ou pode aproveitar o que ela tem e procurar formá-la na direção daquilo que a fará crescer.
Há outra questão latente nas empresas: elas têm abusado da tecnologia e, muitas aproveitam as novas ferramentas, para exigir que seus funcionários fiquem disponíveis 24 horas por dia, sete dias por semana. Como lidar com isso?
A tecnologia não pode ser nossa senhora, tem que ser nossa serva. Sempre que algo que é do nosso uso nos possui, isto é, domina o nosso cotidiano, esgota nosso tempo, devora nossa condição de convivência, existe algum tipo de malefício. A recusa da tecnologia é tola, a adoração da tecnologia também é. Quando a empresa exagera nesse polo obtém vantagem por tempo limitado. Ela esgota de tal maneira seus empregados que depois de um tempo eles não conseguem mais lidar com isso. As pessoas começam a não render mais, se desinteressam, vão embora.
E na vida pessoal, as pessoas percebem o quanto a tecnologia as consome?
Elas começam a perceber aos poucos porque começam a argumentar que estão sem tempo. Esse estar sem tempo é muito sério. Significa “não consigo mais ficar comigo, tenho que viver em voz alta”. Uma das coisas que colaboram para isso é a ausência de energia. De vez em quando acaba a eletricidade e as pessoas tem que olhar-se. Ou quando a pessoa está fazendo uma viagem de avião, ela tem que ficar quieta. São coisas que vão induzindo um pouco do silêncio.
Até na área de educação escolar estamos tendo que reordenar o modo como a gente acolhe as crianças de manhã. Vêm com transporte até a escola ouvindo musica alta no fone, chegam em estado de tensão. É preciso acalmá-las, não basta colocar numa sala, mandar sentar e abrir o livro na página 36. É preciso antes diminuir a luminosidade da sala, colocar uma música mais relaxante e sossegar um pouco. Porque se não acalmar há um desespero contínuo.
Como a gente coloca um pouquinho mais desse silêncio, desse tempo, em nosso dia?
Se for em relação às empresas, algumas estão criando esse tempo. Colocam na jornada de trabalho momentos de reflexão, meditação ou espaço de repouso após almoço. O que leva o funcionário a ter um rendimento e um bem-estar maior.
Quanto ao indivíduo, ou ele cria esses tempos – pare, olhe e escute - ou vai viver de maneira automática, robótica, e conseguirá em breve um estresse. O que pode gerar a adesão ao consumo exagerado de medicamentos e drogas, legais ou ilegais. Uma obsessão por tentar ficar em estado de não sobriedade. Tem uma musica antiga que diz: “não posso parar, se eu paro eu penso, se eu penso eu choro”. Portanto, é necessário que as pessoas criem seus tempos de recolhimento. Não de meditação e sofrimento. Mas para pensar: por que faço o que faço? Por que deixo de fazer? Por que faço do jeito que faço? Por que não faço como deveria?  Isso é meditação. É reflexão. Senão uma hora a pressão é insuportável. Algumas coisas na vida é melhor começar cedo antes que seja tarde.
E essa questão da família, da criação? Estamos no caminho certo?
Não, de maneira alguma. Vou lembrar algo óbvio: trabalho de parto não termina na maternidade. Chama trabalho porque ter alguém exige responsabilidade. Algumas pessoas escapam hoje dessa responsabilidade e querem terceirizar isso. Assim como existe personal trainer, personal stylist, agora tem personal father, personal mother. Por exemplo, você vai com uma criança ao resort e, ao invés de ficar com seu filho, entrega para a recreação. Ou vai a um buffet infantil, que é um sinal nosso de demência, e lá tem um recreador. Desde quando criança precisa de adulto para fazê-la brincar? Estamos criando gerações que nem brincar mais por si conseguem. Precisa um adulto vestido de Bozo andando pra lá e pra cá animando as crianças. Como?! Criança se anima sem adulto. A família tem que repensar isso também.
Isso não quer dizer que não seja possível equilibrar família e trabalho...
Lógico que consegue. É uma questão de escolha. Tempo é uma questão de prioridade. Quando você diz que não tem tempo pra algo é porque aquilo não é prioridade pra você. Meu dia tem 24 horas eu vou preenchê-lo do modo que eu quiser. Em relação ao filho é tranquilo. Se você não tem tempo para os filhos, espere ele cair no mundo das drogas. Ai não é uma hora por dia. Um ano, dois anos, se der tempo. Portanto, pare, olhe e escute.
Como é que você vê, com a morte do Eduardo Campos, essa mudança radical nas eleições? Qual é o efeito disso na cabeça do eleitor?
Dependerá muito de como o grupo que sucede essa candidatura vai se organizar. Eles não são um grupo homogêneo, seja do ponto de vista de intenção, seja do ponto de vista de organização. Já tiveram mudança do comando de campanha. Me alegra que foi escolhida para a coordenação da campanha a Luiza Erundina, que é uma pessoa que eu admiro, fui secretário de educação no governo dela. Mas a morte de Eduardo Campos coloca um componente emocional na eleição, que é muito forte no Brasil. Temos três grandes fontes que nos impulsionam durante as eleições:  a credibilidade, o ridículo e a comoção. E há uma comoção em relação à perda do candidato. Isso pode impulsionar, mas no quadro geral dependerá de como esse partido, no caso o PSB, com suas alianças, consegue ganhar maior unidade. Inclusive porque nos próximos 15 dias muda tudo, assim como nos últimos 15 mudou. [A entrevista foi feita no dia 22 de agosto]
Estamos vindo de um ano que foi marcado por uma Copa em que o país não pareceu muito animado...
Veja, nós somos um país que viveu uma situação esquizofrênica muito interessante antropologicamente. Fomos para esta Copa com uma certeza dupla: nosso time vai muito bem a organização vai muito mal. Aconteceu exatamente o inverso: nós conseguimos uma estrutura de organização absolutamente funcional, no padrão do que foi feito em países muito mais estruturados que o nosso, e uma seleção pior do que boa parte das seleções que disputaram a Copa.
Em 40 dias nosso sentimento mudou. Ele era um sentimento que seria de protesto a um governo que não conseguiria organizar uma Copa, ao lado de uma animação imensa com uma seleção rumo ao hexa. Mas depois do 7x1, nós não falamos mais de futebol. Não é uma questão pra nós. A nossa questão agora é a nação. A eleição, o que se faz no país. Isso foi um grande ganho. Ter sido humilhado no Mineirão produziu em nós um efeito que esquecemos o futebol e fingimos que aquilo não existiu. Estamos preocupados agora com aquilo que era a motivação original dos movimentos em junho de 2013.
Portanto, 2014 é um ano que traz grandes expectativas em relação ao debate no campo da política, de gestão nacional, discussão que foi adensada pela morte de Eduardo Campos.
E essa onda de movimentos?
Infelizmente, eles foram assassinados por uma parte dos democracidas que esquecem que democracia não é ausência de ordem, democracia é ausência de opressão. Quando os democracidas entraram com a brutalidade, a estupidez, afastaram as pessoas e produziram um dano muito forte a nossa democracia.
Eles criaram em parte das pessoas rejeição ao movimento de rua. Ficou uma imagem que, depois de um tempo, muita gente estava achando que era melhor que o aparelho policial, que tem a tarefa em uma democracia de garantir a expressão, fosse repressor. Em vez de ser uma estrutura policial garantidora - não podemos esquecer que palavra polícia e política são a mesma em termos de estrutura, polis é a comunidade e polícia é o que faz com que a comunidade viva em paz – ela passou a ser demandada por uma boa parte da sociedade para ser um órgão repressor.
Acho que gerou pânico em relação à manifestação de rua, o que é muito ruim. O país viveu em 2013 dois momentos inesquecíveis, algo que historicamente era novo. As pessoas indo para as ruas com os filhos, caminhando nas avenidas, pedindo melhorias. Isso tem uma beleza cívica. A praça, a rua, de novo como uma coisa do povo.
E o segundo momento?
A outra coisa bela foi a visita do Papa Francisco. É inacreditável que um homem que representa uma das religiões seja capaz de durante uma semana pautar o país. Não se falou de outra coisa. Um homem de mais de 70 anos de idade, representante de uma religião, sendo que religião pra uma parte dos jovens representa aquilo que é anacrônico, colocou em Copacabana mais gente do que os Rolling Stones.  E ele trouxe algo incrível que é um debate sobre humildade, sobre simplicidade, isso afetou as pessoas. Levou a repensar nossa convivência com a política, nossa convivência com gestores, nossa atração palacial, de achar que o palácio é a representação do poder. Portanto essa foi uma contribuição muito mais forte até do que outro debate que nós tivemos.
O que esperar para o Brasil dos próximos quatro anos?
Bom, a primeira coisa é que a gente não deve esperar, a gente deve fazer. Tem que ter esperança ativa. Aquela que é do verbo esperançar, não do verbo esperar. O verbo esperar é aquele que aguarda enquanto o verbo esperançar é aquele que busca, que procura, que vai atrás. Bem, o que podemos esperançar? O que a gente puder construir dentro desse tempo agora. Nós precisamos fazer com que, até o momento da eleição, haja uma discussão sobre a necessidade de se pensar a educação, que é minha área, como um projeto de nação e não de governo. É preciso que haja um compromisso, continuidade de um projeto que é nacional. O governo passa, a nação persiste.
Por outro lado, dos três principais candidatos que estão dentro do cenário hoje, os três tem algum compromisso sério com a área de educação. O governo de Fernando Henrique junto com o governo Lula e Dilma conseguiram tirar nossa educação escolar da indigência. Claro que estamos só, como diria o Churchill, no fim do começo e não no começo do fim. Mas o partido do Aécio tem uma formação nesse campo, o próprio PT tem tradição nessa área e, claro, o próprio PSB. Temos boas expectativas nesse campo. Ademais, novo Plano Nacional de Educação prevê aporte maior de recursos do PIB nessa área. Portanto seja quem for eleito vai ter que fazê-lo. Por isso, minhas expectativas são positivas. É preciso que se construa essa estrutura, mas é animador face ao que nós tivemos nos nossos 514 anos mais recentes de história.

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