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quinta-feira, 18 de junho de 2015

A comitiva de senadores brasileiros que viajou à Caracas para visitar Leopoldo López, preso político do governo venezuelano, foi atacado por simpatizantes - o mesmo que militantes - de Maduro / Site de Veja


Manifestantes atacam comitiva de senadores brasileiros em Caracas
Chavistas cercaram o ônibus que transporta os senadores e, aos gritos, deram tapas na lataria do veículo. Segundo o senador Ronaldo Caiado, manifestantes jogaram pedras
 - Atualizado em 



(Atualizado às 16h45)
A comitiva de senadores de oposição do Brasil foi cercada por manifestantes em Caracas e, segundo o senador Ronaldo Caiado (DEM), o ônibus foi apedrejado. A comitiva estava a caminho do presídio onde tentariam visitar Leopoldo López, preso político do governo venezuelano comandado por Nicolás Maduro. Os manifestantes aproveitaram o trânsito engarrafado para cercar o ônibus em que estava os senadores com os gritos de guerra "Chávez não morreu, se multiplicou" e "Fora, fora". Em seu Twitter oficial, o senador Aécio Neves (PSDB) escreveu: "Estamos em Caracas, sitiados em uma via pública. Nossa van foi atacada por manifestantes". A comitiva estava acompanhada de batedores da Polícia Militar da Venezuela.
Com o trânsito travado devido "a obras de manutenção", o ônibus com os senadores brasileiros teve de retornar ao aeroporto, mas o terminal onde está o avião da FAB que os aguarda foi fechado. Enquanto o terminal não abre eles aguardam dentro do ônibus. Além de Aécio e Caiado, a comitiva é composta pelos senadores Aloizio Nunes (PSDB), Cássio Cunha Lima (PSDB), Ronaldo Caiado (DEM), Agripino Maia (DEM), Ricardo Ferraço (PMDB) e Sérgio Petecão (PSD). A ex-deputada venezuelana oposicionista Maria Corina Machado, cassada pelo Parlamento chavista, também acompanha os senadores brasileiros. Os manifestantes deram tapas na lataria do ônibus, que também transporta esposas dos políticos opositores venezuelanos presos.
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Segundo o senador Cássio Cunha Lima, logo após desembarcarem em Caracas, ao ingressarem no ônibus, batedores tentaram conduzir o grupo diretamente para o presídio, impedindo desta forma que os parlamentares fossem recebidos pelas esposas dos políticos presos e pela imprensa que aguardava o grupo no saguão do aeroporto. Ainda segundo Cássio Cunha Lima, ao deixarem a aeronave, eles foram filmados pelos militares. "Tivemos que furar o cerco dos batedores venezuelanos para podermos nos encontrar com as esposas", disse.
Na chegada, Aécio Neves ressaltou que as manifestações não só da região, mas de representantes de entidades de outras partes do mundo, podem "sensibilizar" as autoridades venezuelanas para marcar eleições livres e libertar os presos políticos. Há expectativa de que representantes do Parlamento europeu desembarquem nas próximas semanas em Caracas em defesa da libertação dos presos políticos. A visita dos parlamentares brasileiros à Venezuela foi considerada pela deputada Maria Corina Machado, "um gesto histórico". "O governo da Venezuela não quer que o mundo conheça a nossa realidade de perseguição da imprensa e separação dos poderes", disse.
'Manutenção' - O clima na chegada dos parlamentares brasileiros a Caracas foi de muita tensão. Neste momento, o comboio de carros que acompanha os senadores está parado no trânsito por causa de uma manutenção em um túnel da rodovia que liga Caracas à região onde fica o presídio militar de Ramo Verde. De acordo com Maria Corina, a manutenção não estava programada e foi armada para impedir a comitiva de visitar os presos políticos.
Chavista no Brasil - Há menos de dez dias atrás, o presidente do Parlamento venezuelano, o chavista Diosdado Cabello, veio ao Brasil e se encontrou com Lula, com deputados governistas e outros simpatizantes do governo venezuelano. É importante salientar que, com as amizades certas dentro e fora do governo petista, Cabello teve trânsito livre no Brasil.
(Da redação)

Infelicidade nas escolhas...ou foi o destino que induziu nascer em certa parte do Planeta ?

http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/06/deslocados-e-refugiados-crescem-40-em-3-anos-no-mundo-diz-onu.html
18/06/2015 02h05 - Atualizado em 18/06/2015 06h53

Deslocados e refugiados crescem 40% em 3 anos no mundo, diz ONU

Em 2014 número de deslocados foi de 59,5 milhões, a maioria de crianças.
Síria se torna o principal país de origem e Turquia o que mais abriga.


Refugiados curdos da Síria passam atravessam a fronteira com a Turquia, perto da cidade de Kobani (Foto: UNHCR / I. Prickett)Refugiados curdos da Síria passam atravessam a fronteira com a Turquia, perto da cidade de Kobani (Foto: UNHCR / I. Prickett)
No mundo, 59,5 milhões de pessoas estavam fora de seus locais de moradia até o final de 2014 por motivos como conflitos, violação de direitos humanos e perseguições. O índice abriga os números de refugiados (19,5 milhões), deslocados internos (38,2 milhões) e requerentes de asilo (1,8 milhão), segundo balanço divulgado nesta quinta-feira (18) pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur).
O número total de refugiados no mundo cresce de maneira acelerada desde 2011, quando era de 42,5 milhões – em três anos o aumento foi de 40%. Entre 2013 e 2014, o crescimento foi de 8,3 milhões de pessoas e representou o maior aumento já registrado em um ano.
A maioria dos 59,5 milhões de deslocados, refugiados e requerentes de asilo são de crianças. Em 2014 o percentual foi de 51%, ante os 41% registrados em 2009.
Síria acomoda seus filhos depois de serem resgatados de um barco de pesca que levava 219 pessoas que tentavam entrar na Europa (Foto: UNHCR / A. D'Amato)Síria acomoda seus filhos depois de serem resgatados de um barco de pesca que levava 219 pessoas que tentavam entrar na Europa (Foto: UNHCR / A. D'Amato)
Segundo o relatório, a Turquia se tornou, pela primeira vez, o país que mais abriga refugiados em todo o mundo – seguido do Paquistão e do Líbano. O principal país de origem desses refugiados é a Síria, na frente do Afeganistão – que estava na primeira posição há mais de 30 anos - e da Somália. Juntos, os três países correspondem a 7,6 milhões dos refugiados de 2014.
Assim como a liderança da Síria entre os maiores países de origem de refugiados, a tendência de crescimento no índice total de deslocados é atribuído pelo Acnur ao início da guerra civil na Síria, onde o presidente Bashar al-Assad, da minoria étnico-religiosa alauíta, enfrenta há quase quatro anos uma rebelião armada que tenta derrubá-lo do poder. Para piorar a situação no país, o grupo jihadista Estado Islâmico avança de forma violenta aumentando seu território controlado, que abriga importantes regiões tanto da Síria como do Iraque.
Refugiados angolanos - alguns deles vivam há mais de 40 anos na República Democrática do Congo - viajam de trem volta à sua terra natal  (Foto: UNHCR / B. Sokol  )Refugiados angolanos - alguns deles vivam há mais de 40 anos na República Democrática do Congo - viajam de trem volta à sua terra natal (Foto: UNHCR / B. Sokol )
O número de novos deslocamentos em 2014 foi de 13,9 milhões de pessoas, sendo que 11 milhões tiveram que fugir para outro lugar do próprio país, enquanto 2,9 milhões se refugiaram em outras nações. Por outro lado, 126,8 mil refugiados conseguiram voltar a seus países de origem no ano passado.
Refugiados no Brasil
As regiões em desenvolvimento são importantes locais de abrigo dos refugiados, indica o documento da ONU. Do total de refugiados mundiais, 86% estão em países que ainda se desenvolvem. Isso representa 12,4 milhões de pessoas. Já os países desenvolvidos abrigam 3,6 milhões de refugiados, ou 25% do total em todo o mundo.
Refugiados sírios na aula de português na Mesquita do Pari (Foto: Gabriel Chaim/G1)Refugiados sírios na aula de português na Mesquita do Pari (Foto: Gabriel Chaim/G1)
O relatório indica que o Brasil abrigava 7.490 refugiados em 2014. Dados mais atuais do Comitê Nacional de Refugiados (Conare), do Ministério da Justiça, indicam que o país abrigava 7.946 refugiados em abril de 2015. A maioria deles vem da Síria, seguidos de refugiados da Colômbia, Angola e da República Democrática do Congo.

Crise no Mediterrâneo
O fluxo de refugiados e migrantes que atravessam o Mar Mediterrâneo em barcos com péssimas condições em busca de acolhimento em países europeus também apresenta aumento nos últimos anos. Em 2014 foram mais de 219 mil refugiados e migrantes, quase metade vindo da Síria e da Eritreia, segundo o relatório.

O número é quase três vezes mais do que os 70 mil registrados em 2011 durante a Primavera Árabe, período de manifestações realizadas em diversos países do Oriente Médio para questionar regimes autoritários.
O Acnur aponta que mais de 3.500 homens, mulheres e crianças foram reportadas mortas ou desaparecias no Mediterrâneo durante 2014. Os países europeus, principalmente França e Itália, que ficam mais próximos da chegada desses migrantes, debatem sobre como devem lidar com a onda migratória na região.
Migrantes resgatados no Mar Mediterrâneo são levados a terra firme na barcaça de desembarque militar HSM Bulmark (Foto: Jamie Weller/Crown Copyright/Reuters)Migrantes resgatados no Mar Mediterrâneo são levados a terra firme na barcaça de desembarque militar HSM Bulmark (Foto: Jamie Weller/Crown Copyright/Reuters)
Centenas de deslocados internos esperam no aeroporto Bangui’s M'poko, na República Central Africana (Foto: UNHCR / A. Greco )Centenas de deslocados internos esperam no aeroporto Bangui’s M'poko, na República Central Africana (Foto: UNHCR / A. Greco )
Mulher dá remédio para filho em campo para deslocados internos em Juba, no Sudão do Sul; conflito que eclodiu em dezembro de 2013 no país forçou o deslocamento de mais de 1.5 milhões de pessoas (Foto: UNHCR / A. McConnell)Mulher dá remédio para filho em campo para deslocados internos em Juba, no Sudão do Sul; conflito que eclodiu em dezembro de 2013 no país forçou o deslocamento de mais de 1.5 milhões de pessoas (Foto: UNHCR / A. McConnell)
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Brasil está mais violento ... Ranking Mundial da Paz

Brasil cai 13 posições no ranking mundial da paz http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/brasil-cai-13-posicoes-no-ranking-mundial-da-paz

MUNDO

Brasil cai 13 posições no ranking mundial da paz
Em entrevista exclusiva, o australiano Steve Killelea, idealizador da pesquisa, diz que o elevado número de homicídios e a violência dos protestos gerados pela crise política explicam a queda


Por: Fernanda Allegretti17/06/2015 às 20:45 - Atualizado em 17/06/2015 às 21:23


'Há uma relação muito intensa entre paz e renda per capita', diz Steve Killelea. 'Mas há também o conceito de paz positiva, que é mais do que simplesmente a abstinência de violência. A paz positiva é a distribuição igualitária de recursos e poder'(visionofhumanity.org/Reprodução)

O Brasil está mais violento. É o que aponta o Índice Global da Paz 2015, divulgado hoje pelo Instituto para Economia e Paz, com sede em Sydney, na Austrália. Em apenas um ano, o país despencou da 90ª para a 103ª posição no ranking que elenca 162 nações de acordo com seu grau de pacificidade - quanto mais próxima do final, menos pacífica. O topo da lista é ocupado pela Islândia desde a primeira edição do Índice, em 2007.O documento, que analisa 23 indicadores quantitativos (gastos com o exército, taxa de homicídios e população carcerária) e qualificativos (a relação com os vizinhos, por exemplo), estima que o impacto da violência na economia mundial seja da ordem de 14,3 trilhões de dólares (44,2 trilhões de reais). O Brasil, sozinho, tem um gasto de cerca de 255 bilhões de dólares (788 bilhões de reais) para tentar conter os índices de violência -- é o quinto maior entre todos os países analisados.

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A paz no mundo(Arte/VEJA/VEJA)



Uma semana antes de divulgar o relatório deste ano do Índice Global da Paz, o empresário e filantropo australiano Steve Killelea, idealizador do ranking e também do Instituto para Economia e Paz, esteve no Brasil para a Convenção Internacional do Rotary. Killelea, de 65 anos, começou a carreira no ramo da tecnologia e, hoje, é um dos maiores filantropos de seu país. A seguir, a entrevista que ele concedeu com exclusividade a VEJA:

Em um ano, o Brasil caiu 13 posições no Índice Global da Paz - despencou do 90º para o 103º lugar. O que aconteceu? O Brasil, assim como muitos países da América Latina, tem sua nota bastante impactada por crimes violentos e homicídios. Recentemente, li um artigo que chamou muito a minha atenção. Dizia que, no ano passado, a polícia brasileira havia matado 1,6 mil pessoas, aproximadamente. É muita coisa. Na Islândia, por exemplo, os policiais não andam nem armados. Neste ano, além do número de homicídios (25,2 casos para cada 100 mil habitantes), o desempenho do Brasil foi impactado pelos casos de corrupção no governo, pela estagnação econômica e pela inflação. Esses fatores geraram descontentamento na população e motivaram protestos violentos pelo país.

Atualmente, há uma grande discussão no Brasil sobre a redução da maioridade penal. Um jovem menor de 18 anos deve ser preso e punido por seus atos? Há muitos estudos em criminologia que afirmam que a punição não é tão importante quanto a percepção do criminoso de que será pego. Portanto, pessoas que cometem crimes devem ser encontradas e punidas. Quão dura deve ser essa pena é uma outra questão.

O Índice estima o custo global da violência em 14,3 trilhões de dólares. Só o Brasil gasta 255 bilhões e é a quinta nação que mais investe recursos para tentar conter a violência. Como o Institute for Economics and Peace (IEP), responsável pelo levantamento, chega a esses números?Nós analisamos o custo de lidar com as consequências da violência. Analisamos gastos com forças armadas, homicídios e outros crimes violentos, polícia, população encarcerada, seguros. É uma análise holística, que dividimos em três partes: custos diretos (no caso de um homicídio, seria o gasto médico associado ao caso e o gasto com a investigação policial), custos indiretos (no caso de um homicídio, seria a perda de uma pessoa que ainda poderia produzir e injetar seus ganhos na economia) e, por fim, há o que chamamos de efeito multiplicador, ou seja, se um país realocar o que gasta com a violência em coisas mais produtivas, usar o dinheiro que seria investido em uma prisão para construir uma escola, por exemplo, haverá um impacto positivo em cadeia.

Por qual razão os Estados Unidos, mais desenvolvidos que o Brasil, ocupam a 94ª posição e, portanto, não têm um desempenho muito melhor no ranking? O que puxa a nota dos Estados Unidos para baixo é uma combinação de fatores: alta taxa de encarceramento - proporcionalmente, é a nação com mais pessoas presas do mundo -; disponibilidade muito grande de armas; taxa de homicídios elevada, se comparada a outros países desenvolvidos; e, também, o fato de o país se envolver em muitos conflitos no Oriente Médio. Os Estados Unidos são o país com o maior gasto militar: 1,3 trilhão de dólares anuais. A China, que está logo atrás; gasta 370 bilhões de dólares.

O que podemos aprender com a Islândia, que há anos ocupa o topo do Índice Global da Paz? A sociedade islandesa convive com um ambiente natural muito hostil. Há até uma piada local: "O que você faz se ficar perdido em uma floresta na Islândia? Fica em pé, porque não há vegetação que ultrapasse meio metro". Há milhares de anos, os habitantes dessa região precisavam contar com a ajuda uns dos outros para sobreviver. E essa mentalidade de cooperação ainda é muito forte na Islândia. Além disso, o país é rico e tem dinheiro para investir no que for preciso. Por fim, como outras nações que têm bom desempenho no ranking, os islandeses são resilientes e lidam bem com situações extremas, em vez de ficarem estressados. Na crise econômica global, a Islândia foi o país mais afetado. Eles quebraram muito mais que a Grécia. Um novo partido político foi formado e, em nove meses, ele ganhou poder e começou a mudar a direção do país.

É possível vencer o terrorismo de maneira pacífica? Produzimos um relatório, em 2014, com dados de um estudo que acompanhou 260 movimentos terroristas diferentes entre os anos 60 até mais ou menos os anos 2000. Desse total, sete por cento foram derrotados militarmente, 10% atingiram o objetivo que almejavam e os outros 83% foram contidos com uma combinação de intervenção militar e negociação. Em 2013, 84% das mortes por terrorismo ocorreram em cinco países: Nigéria, Paquistão, Afeganistão, Iraque e Síria. Hoje, 64% das mortes são causadas por quatro organizações: Al Qaeda, Isis, Boko Haram e Talibã. Esses grupos surgiram do extremismo islâmico e, portanto, têm algo em comum. Quando uma organização terrorista ultrapassa mil membros, a única maneira de vencê-la é com intervenção militar.

Então, o senhor não é contra o uso da força militar? Não, de maneira nenhuma. Essas situações se tornam muito complexas, mas, se não houvesse uma resposta militar ao Isis, por exemplo, o grupo teria assumido o controle de 11 regiões no Oriente Médio. Partes da Síria, Turquia, Iraque, Jordânia e Palestina teriam sido tomadas. Seria um completo desastre.

Os países pobres são mais vulneráveis à violência? De modo geral, sim. Há uma relação muito intensa entre paz e renda per capita. Mas há também o conceito de paz positiva, que é mais do que simplesmente a abstinência de violência. A paz positiva é a distribuição igualitária de recursos e poder; é a presença de justiça social por meio de oportunidades iguais. Os fatores que formam uma sociedade pacífica são importantes também para o desenvolvimento, pois impactam num ambiente de negócios competitivo, na igualdade de gênero, no ambiente saudável para se fazer negócio, na transparência, na corrupção e em muitas outras coisas.

Como a comunidade internacional pode trabalhar para reduzir a violência? A primeira coisa é controlar a disponibilidade de armas. Raramente as pessoas fazem a ligação entre número de crimes violentos e a oferta de armas. Os países têm que se esforçar mais para tirar as armas das ruas. A segunda é preparar-se para a urbanização dos países em desenvolvimento. Hoje, metade da população mundial vive em cidades. Até 2050 essa porcentagem subirá para 70%. Noventa e um por cento dos novos integrantes virão de países em desenvolvimento e as cidades tendem a ser mais violentas do que as áreas rurais. Logo, se vamos ficar mais urbanizados, é preciso construir as estruturas certas para que a violência não aumente.

De que maneira surgiu a ideia de criar o Índice Global da Paz? Eu e minha mulher montamos uma fundação familiar há mais ou menos 25 anos. Por causa dessa fundação, fomos a muitos países em desenvolvimento e, há cerca de dez anos, enquanto viajámos pelo Congo, visitando alguns projetos por lá, pensei: quais serão os países mais pacíficos do mundo e o que podemos aprender com eles? Procurei na internet e não encontrei uma lista ou ranking que elencasse as nações pelo grau de pacificidade. O índice nasceu dessa curiosidade. Quando me decidi por esse tema, fiquei surpreso ao constatar quão pouco sabíamos sobre ele. Nós estudamos muito mais a violência do que as sociedades resilientes ou o que torna uma sociedade pacífica. Ninguém começa um negócio novo sem reunir uma série de métricas. Os governos produzem uma quantidade enorme de métricas. Medimos tudo, mas não tínhamos uma forma de medir a paz. E, sem isso, era impossível compreendê-la.



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quarta-feira, 17 de junho de 2015

"...o futuro dos jornais parece estar no passado antes da modernidade..." / Observatório da Imprensa / Jota Alcides

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IMPRENSA EM QUESTÃO > IMPRENSA & INTERNET

A estratégia do ‘New York Times’

Por Jota Alcides em 16/06/2015 na edição 855
Como publisher do The New York Times, um dos maiores e mais influentes jornais do mundo, Arthur Sulzberger merece todo o respeito. Afinal, o jornalão que dirige, com 1,8 milhão de exemplares e quase 1 milhão de assinantes digitais, é o de maior prestígio no planeta. Mas, isso não significa que seus conceitos e propostas sobre o jornalismo pós-internet emitidos no recente Congresso da Anpa-Associação dos Editores de Jornais Americanos, em Washington, sejam irrefutáveis ou inquestionáveis.
Como modesto jornalista brasileiro, ex-editor-chefe de dois importantes jornais de referência nacional, o Jornal do Commércio, do Recife, e o Correio Braziliense, de Brasília, conheço a importância da Anpa pois já participei de seus encontros em Las Vegas, New Orleans e San Francisco. Daí, sou motivado ao questionamento do modelo estratégico de Arthur Sulzberger para o presente e o futuro do grande jornal norte-americano publicado desde 1851.
De acordo com seu plano estratégico para o NYTimes, nestes tempos de turbilhão digital e de crise aguda dos jornais, devidamente destacado por este Observatório da Imprensa, as prioridades agora estão direcionadas para maior presença nas redes sociais, reportagens para celulares e tablets e crescimento internacional do jornal.
Com a experiência e a segurança de publisher do mais famoso jornal do mundo, certamente ele acredita que o aumento da leitura digital vai acabar gerando expansão da leitura impressa. Ora, isso, além de improvável, não resolverá o problema básico da atualidade, que é a falta de atratividade do conteúdo dos jornais impressos. O resultado desse plano está à vista: o NYTimesganhará mais leitores eletrônicos e perderá mais leitores impressos.
Reflexões e provocações
Será mais um equívoco somado a tantos outros acumulados ao longo de mais de um século. Essa crise dos jornais no mundo, sobretudo nos Estados Unidos, agravada agora com a avassaladora e poderosa internet, vem de longe. Desde a chegada da modernidade, no século 20, quando os jornais optaram pelo factual e deixaram de ser produtos de primeira necessidade intelectual da sociedade. Depois, já na pós-modernidade, quando se transformaram em jornais televisivos, tendo como modelo-padrão o USAToday, numa tentativa de concorrer com a televisão valorizando a imagem e as notícias curtas. Cada passo desses afugentou milhões de leitores.
Agora, na era da perplexidade pós-internet, os jornais precisam de uma nova configuração, de uma nova reinvenção, de uma revolução pelo conteúdo. Os jornais não podem mais continuar apresentando suas primeiras páginas e suas notícias com o mesmo padrão de 50, 60 anos atrás. Elas aparecem totalmente superadas e desinteressantes porque já são do conhecimento público desde o dia anterior pela televisão e pela internet. É urgente uma mudança radical que aproveite a maior arma dos jornais diante da internet, a credibilidade, investindo em opinião de qualidade e investigação em profundidade.
Pode ser que Arthur Sulzberger esteja tão convertido e tão convencido da irreversibilidade e da insuperabilidade da tecnologia digital que tenha jogado a toalha na luta do NYTimes diante da internet. Mas, o que parece faltar aos jornais ante o novo e monumental desafio, o maior de sua história, é coragem e ousadia para realizar as mudanças radicais necessárias em formato e conteúdo.
Paradoxalmente, talvez o futuro dos jornais, neste século 21, esteja nos jornais do passado, do século 19; antes da modernidade, os jornais, tanto nos Estados Unidos como no Brasil e outros países, tinham em suas redações escritores, intelectuais, romancistas, cronistas, contistas, ensaístas e jornalistas. Eram jornais de grandes narrativas, de atraentes folhetins, de opiniões qualificadas, de interpretações abalizadas, de abordagens contextulalizadas, de crônicas bem elaboradas, de reflexões e provocações. Davam prazer de leitura.
A valorização cultural e intelectual da notícia
Depois, por imposição da própria modernidade, abandonaram esse compromisso com o fervor intelectual e viraram apenas produto de mercado para consumo imediato da sociedade do espetáculo, sem preocupação com a história e com a cultura, sem densidade. Perderam-se na efemeridade e com a explosão da internet estão sucumbindo. É tão vertiginosa a queda de leitura de jornais que fica cada vez mais acentuada a previsão sobre o fim da mídia impressa.
Diante disso, o futuro dos jornais parece estar no passado antes da modernidade, com a volta de sua capacidade de surpreender, instigar e fazer a sociedade pensar, refletir, criticar, debater e participar sobre os problemas do seu cotidiano. Quando desenvolvem essa capacidade de reflexão, os jornais ativam a mais nobre e sofisticada função da inteligência humana, garante o filósofo Augusto Cury.
Conclusivamente, a única forma possível de os jornais fazerem isso é por meio da valorização cultural e intelectual de produção noticiosa, abolindo a superficialidade do factual e investindo na profundidade textual, pelos mais diversos recursos literários que tornem as notícias impressas mais convidativas, agradáveis e irresistíveis aos leitores. Este é o caminho, aliás, apontado pelo escritor, romancista, novelista e contista americano John Cheever, um dos mais respeitados analistas da mídia nos Estados Unidos: “Uma página de boa prosa sempre será invencível”.
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Jota Alcides é escritor e jornalista