O líder político mais poderoso do Brasil do século XXI, capaz de ganhar quatro eleições presidenciais em seguida e de se dar muitíssimo bem em praticamente tudo o que quis nos últimos anos, entrou de uma vez por todas num mato fechado. Vai sair, como sempre conseguiu até hoje? Há muito tempo o ex-presidente Lula acostumou-se a saborear o que já foi definido como uma das melhores sensações que um ser humano pode ter: a de atirarem nele e errarem o alvo. Com base no retrospecto, ele espera que sua vida continue assim — mas vivemos um momento em que estão acontecendo coisas que nunca aconteceram antes, e em que se confirma a velha máxima segundo a qual algo só é impossível até tornar-se possível.
O último exemplo a respeito é o terremoto causado pela prisão do empresário Marcelo Odebrecht, presidente da maior empreiteira de obras públicas do Brasil e empresa-símbolo das relações íntimas de Lula com os colossos do capitalismo nacional que recebem bilhões de reais em encomendas do governo. Era rigorosamente inacreditável que um homem desses pudesse ser encarcerado; nunca tinha acontecido antes, e talvez nunca mais volte a acontecer. Quem seria capaz de imaginar uma coisa dessas em nosso Brasil brasileiro? É como se tivessem prendido o papa Francisco. Mas aí está: aconteceu. Lula, de repente, percebe que não pode contar mais com o impossível.» Clique para continuar lendo
Para Almir Pazzianotto, ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e ex-ministro do Trabalho, os sindicatos e as centrais sindicais devem viver do dinheiro de seus associados e não dos repasses compulsórios do Estado
JOSÉ FUCS
10/06/2015 - 11h28 - Atualizado 12/06/2015 17h27
O ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e ex-ministro do Trabalho, Almir Pazzianotto, conhece como poucos o movimento sindical. Ex-advogado do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema nos anos 1970 e 1980, quando Lula estava à frente da entidade, Pazzianotto diz que o “sindicalismo chapa-branca” contaminou o movimento sindical nos governos do PT. Segundo ele, Lula e o PT abandonaram bandeiras históricas, como o pluralismo sindical e o fim do imposto sindical, depois que partido chegou ao poder, em 2003. Nesta entrevista, que reúne os trechos não publicados na edição desta semana de ÉPOCA, ele defende a terceirização das atividades-fim das empresas, a regulamentação do direito de greve no setor público e o corte do ponto de grevistas como os professores de São Paulo e do Paraná, envolvidos em longas paralisações de atividades.
ÉPOCA – Hoje, uma das principais bandeiras dos sindicatos e das centrais sindicais, como a CUT, que é ligada ao PT, é a luta contra a terceirização, em especial a terceirização das atividades-fim das empresas, aprovada pela Câmara dos Deputados em abril. Como o senhor vê essa questão? Almir Pazzianotto – Eu entendo que alguma legislação é necessária. Não que essa necessidade seja extrema, porque todos empregados de uma prestadora de serviços devem ser registrados, têm direito a férias, fundo de garantia, 13º, participação nos lucros. A lei trabalhista não discrimina entre quem trabalha para uma prestadora de serviço e para uma tomadora de serviços. Em 1992, o TST aprovou uma súmula dizendo que a terceirização era ilegal, mas permitida nas áreas de vigilância, no trabalho temporário, na limpeza e conservação e em qualquer outro serviço especializado ligado à atividade meio, desde que não haja pessoalidade e subordinação direta. Eu participei desse julgamento, dessa decisão. Nós colocamos a atividade meio como barreira, porque o TST se divida em duas correntes. Uma, muito conservadora, que não aceitava a terceirização. Outra, mais liberal, que reconhecia a terceirização como um fato da economia moderna. Poderíamos discipliná-la, mas não expurgá-la. Para compor as duas correntes, o TST ficou no meio do caminho, mas não definiu o que era atividade meio, nem atividade fim. Milhares de casos foram julgados em torno dessa questão e até hoje continuamos sem saber o que é atividade-meio e atividade-fim. Na administração privada, cabe ao empresário decidir o que é melhor, ciente de que ele nunca vai terceirizar uma atividade essencial, o coração do negócio. Nós temos de respeitar a capacidade que o empresário tem de administrar o seu negócio e saber até onde pode e não pode terceirizar. Cabe a ele decidir o que é melhor. É dele o risco do negócio. Agora, em relação ao serviço público, acredito que não há essa limitação entre atividade-meio e atividade-fim. Toda a atividade desenvolvida pela administração pública direta é uma atividade-fim, porque, se não fosse, não haveria porque botar o dinheiro do contribuinte naquilo.
"Hoje, a USP fica mais tempo parada do que funcionando"
ÉPOCA – Como o senhor analisa a greves dos professores no Paraná, encerrada nesta terça-feira, e em São Paulo, onde eles pedem 75% de aumento e estão parados há quase 90 dias? Pazzianotto – Tenho o maior respeito pelo servidor público. Trabalhei muito com servidores públicos da mais alta qualidade. Mas há uma questão gravíssima, que o governo se recusa a enfrentar, que é a regulamentação do direito de greve no setor público. A Constituição de 1988 garantiu ao servidor público o direito de greve e a associação sindical, que não existiam antes. Mas a Constituição diz que isso é válido “nos termos e nos limites de lei específica”. Quer dizer que algumas atividades talvez não possam fazer greve. Por exemplo: a Polícia Federal, o atendimento médico em hospital público, determinados setores da Previdência Social, o transporte público, o ensino fundamental. Alias, não sei se poderia haver greve também nas universidades públicas. Você já viu alguma greve em universidade privada? A USP fica mais tempo parada do que funcionando. Só que, desde que esse dispositivo foi aprovado, ele não foi regulamentado. Para o setor privado, menos de um ano depois de promulgada a Constituição, já se tinha uma lei, a 7.783. Para o setor público, não temos a lei até hoje. A iniciativa neste caso é exclusiva do presidente da República, por se tratar de regime jurídico de servidor público. O Fernando Henrique mandou esse projeto, mas não se empenhou em aprová-lo, por entender, provavelmente, que ele traria desgaste político. E o PT faz de conta que o problema não existe.
ÉPOCA – Em sua opinião, faz sentido os grevistas receberem pelos dias parados? Pazzianotto - Por causa da inexistência de uma lei de greve para o setor público, há um vazio que não acontece no setor privado. Cria-se uma discussão como ocorreu recentemente em São Paulo. O governador mandou descontar os dias parados, um desembargador do Tribunal de Justiça mandou pagá-los e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) mandou descontar. O grevista deve entrar em greve sabendo que os dias não serão pagos. O grevista da iniciativa privada sabe que o risco da perda dos dias é quase total. Há até jurisprudência sobre isso. O único caso de pagamento dos dias parados é por falta de pagamento de salários. Aí, é uma punição para a empresa. Mas, quando a greve é em torno de uma reivindicação, ela significa um investimento de risco. Se não estou trabalhando, porque resolvi fazer greve, eu corro o risco de perder os dias. Se tiver uma vitória total na greve, posso até obrigar o patrão a me pagar os dias parados. Se não, fica fácil. Agora, no setor público perdura essa dúvida. Ah, não vai descontar, porque o professor vai repor os dias. Reposição das aulas é conversa fiada. A que atribuo a inexistência dessa lei? À fraqueza do Executivo. Ele teme a perda de popularidade, mas não está pensando no povo, que quem sofre as consequências na greve.
"Um dos gestos mais emblemáticos do Lula foi quando ele vetou na lei da criação das centrais sindicais o dispositivo de que elas tinham de prestar contas do dinheiro público que recebem"
ÉPOCA – Hoje, o PT controla a CUT, que funciona como braço sindical do partido, e boa parte dos sindicatos. De que forma isso afeta o movimento e a legitimidade dessas entidades? Pazzianotto –Afeta plenamente. Dentro do modelo de organização sindical vigente no Brasil, cujas raízes estão na Carta Constitucional de 1937, que implantou o Estado Novo, qualquer pessoa comprometida com essa máquina torna-se alvo de suspeita. Não pode alegar que é um dirigente sindical na plenitude do exercício de seus direitos. Não é. Houve um momento em que o ministério do Trabalho tinha uma comissão de auditagem. Era o que mais os sindicalistas tinham receio. Eles temiam que os auditores fossem nas entidades e examinassem suas contas. É claro que, no regime militar, a comissão de auditagem só fiscalizava sindicatos da oposição. Mas impunha certo respeito. A Constituição de 1988 sacramentou o princípio de que não pode haver interferência ou intervenção do Estado na organização sindical – e não pode haver. Agora, há essa zona cinzenta. Se eles usam o dinheiro do imposto sindical, e esse dinheiro não é pago voluntariamente, mas compulsoriamente, por associados e principalmente por não associados, deve haver prestação de contas. Há um rateio entre os sindicatos, que recebem a maior parte do dinheiro, as federações, as confederações e as centrais. O que não pode é viver esse duplo papel: para algumas coisas eles são uma entidade privada e, portanto, não podem sofrer interferência do governo, e para outras são públicos, porque recebem o imposto sindical e o dinheiro do FAT. Tem de deixar isso nítido. Um dos gestos mais emblemáticos do Lula foi quando ele vetou na lei da criação das centrais sindicais o dispositivo de que elas tinham de prestar contas do dinheiro público que recebem. Ora, como podem receber dinheiro público e estar desobrigadas de prestar contas? Ele se justificou na época dizendo que a vida toda ele lutou pela liberdade sindical. Eu também. Mas liberdade não significa assegurar a não necessidade de prestar contas do dinheiro público. Ele como presidente da República tinha de prestar contas do dinheiro. Eu, como presidente do TST, tinha de prestar contas. Todo homem público tem de prestar contas. Agora, a central sindical, não precisa prestar contas do que recebe?
"Há mais sindicatos na minha cidade, em Capivari (interior de São Paulo), que tem 50 mil habitantes, do que em toda a Alemanha – e lá não tem indústria."
ÉPOCA – Qual é a saída para resolver esse problema? Pazzianotto - Só tem uma solução: as entidades sindicais se desligarem totalmente do Estado. Não há outra. Acabar com essa história de registro no Ministério do Trabalho. Seguir as regras da Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho. O Brasil precisa se encaixar dentro da OIT. Não apenas frequentar as assembleias. Tem de adotar esse documento básico, ter autonomia de organização e liquidar o imposto sindical, acabar com essas contribuições compulsórias e com o repasse de dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para as entidades sindicais. Elas têm de viver dos recursos proporcionados pelos seus associados. Eu tenho uma proposta para o imposto sindical que talvez a presidente Dilma goste. É pegar o dinheiro do imposto sindical e usar para o seguro desemprego. Eu não acredito que algum dirigente vá dizer que essa proposta não é boa. O desempregado precisa mais de dinheiro que os dirigentes sindicais. Os dirigentes têm outra fonte de receita que é o associado. Hoje, há até um conflito entre os sindicatos para saber quem recebe o imposto sindical de determinado grupo de trabalhadores. Isso acaba desaguando na Justiça, que tem de resolver de quem é aquele dinheiro. Surgem sindicatos de carimbo, de fachada, tem várias denominações. O Brasil precisa dar um salto. A Alemanha adota a pluralidade sindical, ou a Convenção 87 e tem 11 sindicatos. Nós, com a unicidade sindical, temos 20 mil sindicatos. Há mais sindicatos na minha cidade, em Capivari (interior de São Paulo), que tem 50 mil habitantes, do que em toda a Alemanha – e não tem indústria. Não dá para entender.
ÉPOCA – Isso valeria também para os sindicatos patronais? Pazzianotto– Eu não faço nenhuma distinção. Toda organização sindical, inclusive as centrais, vivendo da contribuição de seus associados.
ÉPOCA – No passado, o PT, o Lula e o movimento sindical defendiam essas bandeiras. Depois, eles as abandonaram. Como o senhor analisa isso? Pazzianotto – O poder é uma desgraça. No governo Montoro (1982-1986), em São Paulo, criou-se a expressão “chapa-branca”. A “chapa-branca” acabou com o PMDB. O PMDB era um partido sério. Com o PT, aconteceu a mesma coisa. O contato com o poder é extremamente perigoso. A pessoa tanto pode evoluir muito, realizar ações extraordinárias em benefício da sociedade, como pode se contaminar – e a contaminação ocorre com muita frequência. Como é possível que alguns dos principais dirigentes do PT tenham sido condenados e estejam cumprindo pena ou respondendo a processos por crime? É difícil. Não vejo como o próprio partido explica isso.
ÉPOCA – O PT nem reconhece isso. Eles dizem que o julgamento foi político, um “tribunal de exceção”. Pazzianotto – A Justiça não cometeu um erro tão grande. Nunca vi ninguém ter tanto direito de defesa. Contrataram advogados tão caros e tão famosos e agora dizem que foram condenados por razões políticas? Isso não existe no Brasil. A prova de que não existe são as manifestações populares que ocorrem livremente no país.
ÉPOCA – O senhor foi ministro e presidente do TST e muita gente faz críticas à Justiça do Trabalho e aos posicionamentos quase integralmente favoráveis aos trabalhadores e à “judicialização” do trabalho. Faz sentido ter uma Justiça específica para o mundo do trabalho. Pazzianotto - Não há como deixar de ser assim, porque isso já está enraizado em nossa cultura. Não há como pensar em extinção da Justiça do Trabalho. Ela também é vítima do sistema, porque vive sobrecarregada de processos. A Justiça se vê necessitada de estabelecer metas para os juízes, para os funcionários. Todos trabalham muito. Eu penso em aliviar a Justiça do Trabalho, eliminando, reduzindo, os setores de maior atrito e imprimindo mais segurança. Se alguém deixou o emprego, recebeu, devido, assinou a quitação, não pode mais reabrir essa questão. Há um problema muito sério na Justiça Trabalhista. O prazo de prescrição é de dois anos após a extinção do contrato. É muito longo. Cinco anos de vigência e dois anos depois. Ás vezes a pessoa saiu satisfeita, mas passado um ano, ela está em dificuldade econômica e ela resolve tentar um processo, já que não tem nenhum ônus, não paga advogado a não ser se tiver êxito. As estatísticas da Justiça do Trabalho são assustadoras. É interessante que, das ações ajuizadas, em média, 50% terminam por acordo na primeira audiência. É uma taxa elevada. Só 3% das ações são totalmente procedentes. Há pedidos abusivos. Se pegar, pegou. Isso numa Justiça que dizem que é favorável ao trabalhador. Às vezes o valor das condenações, até por deficiência da lei, falta de clareza da lei. Uma coisa muito interesante para o Congresso Nacional, é se houvesse uma CPI para investigar o que ocorre no mundo das relações de trabalho que gera tanto conflito. Temos de ir às causas, entender melhor esse mundo, porque o sistema é extremamente oneroso para o contribuinte e além disso é ineficiente. O ponto de partido é examinar a lei.
Brenda Myers-Powell era apenas uma criança quando se tornou uma prostituta, no começo dos anos 70. Aqui, ela descreve como foi atraída para as ruas e como, três décadas depois, ela dedica sua vida a garantir que outras meninas não caiam na mesma armadilha. (O depoimento de Brenda pode chocar algumas pessoas.)
"Desde o começo, a vida foi me dando limões e eu fui tentando fazer a melhor limonada que eu podia.
Eu cresci nos anos 60 em Chicago. Minha mãe morreu quando eu tinha seis meses. Ela tinha apenas 16 anos e eu nunca soube de que ela morreu – minha avó, que bebia mais que todos, não me disse. A explicação oficial era a de que tinha sido por 'causas naturais'.
Mas eu não acredito. Quem morre aos 16 anos de causas naturais? Gosto de acreditar que Deus estava pronto para ela. Já me disseram que ela era linda e tinha um ótimo senso de humor. Sei que isso é verdade porque eu também tenho.
Foi a minha avó que me criou. E ela não era uma pessoa má. Na verdade, ela tinha um lado incrível. Ela lia para mim, me fazia bolos e preparava as melhores batatas doces. Ela apenas tinha um problema com a bebida.
E ela trazia seus parceiros de bebedeira do bar para casa e, depois que estava bêbada e desmaiada, esses homens faziam coisas comigo.
Isso começou quando eu tinha uns 4 ou 5 anos e depois se tornou algo corrente. Eu tenho certeza de que minha avó nunca soube de nada disso.
Ela trabalhava como empregada doméstica nos subúrbios. Ela levava duas horas para ir ao trabalho e duas para voltar. Eu usava uma chave no pescoço e, no fim da tarde, ia sozinha do jardim de infância para casa. E os molestadores sabiam disso – e se aproveitavam.
Eu via mulheres com o cabelo glamouroso e com vestidos brilhantes nas ruas. Não tinha ideia do que elas estava fazendo. Eu só achava que elas brilhavam. E, como uma garotinha, tudo o que eu queria era usar roupas brilhantes também.
Um dia, eu perguntei para minha avó o que aquelas mulheres estava fazendo. 'Elas tiram a calcinha e os homens lhe dão dinheiro'. E lembro de dizer para mim mesma: 'Eu provavelmente vou fazer isso, porque os homens já estão tirando minha calcinha'.
Elvis imaginário
Olhando para trás, posso ver que lidei com a situação surpreendentemente bem. Sozinha naquela casa, eu tinha amigos imaginários para me fazer companhia. Eu cantava e dançava com um Elvis Presley imaginário, com uma Diana Ross imaginária e com os Supremes imaginários.
Eles me ajudaram a lidar com as coisas. Eu era uma menina extrovertida – e dava muita risada.
Mas ao mesmo tempo, eu estava sempre com medo. Não sabia se o que estava acontecendo era culpa minha ou não. Eu achava que talvez houvesse algo errado comigo.
Apesar de ter sido uma criança esperta, eu deixei a escola. E, no começo dos anos 70, me tornei o tipo de garota que não diz 'não'.
Se os garotos do bairro dissessem que gostavam de mim ou me tratassem bem, eles conseguiam o que queriam comigo.
Quando completei 14 anos, eu já tinha duas filhas, duas bebês. Minha avó então começou a dizer que eu precisava trazer algum dinheiro para casa para sustentar as crianças, porque não havia comida – não tínhamos nada.
Então uma noite, na verdade era Sexta-Feira Santa, eu fui para as ruas. Coloquei um conjunto de saia e blusa de US$ 3,99, um sapato de plástico barato e um batom laranja que eu achava que me fazia parecer mais velha.
Eu tinha 14 anos e chorei o tempo todo. Mas eu aguentei. Eu não gostei. Mas os cinco homens com quem eu saí aquela noite me mostraram o que fazer. Eles sabiam que eu era nova e pareciam ficar excitados com isso.
Eu consegui US$ 400 e dei a maior parte para minha avó – ela não perguntou onde eu tinha conseguido aquele dinheiro.
No fim de semana seguinte, fiz a mesma coisa, e minha avó parecia contente por eu estar trazendo dinheiro para casa.
Cafetão
Mas na terceira vez, dois caras armados me colocaram no porta-malas de um carro. Eles me pegaram porque eu não tinha um 'representante' nas ruas.
Primeiro eles me levaram para o meio do nada e me estupraram. Depois eles me levaram para um quarto de hotel e me trancaram em um armário.
Esse é o tipo de coisa que um cafetão faz para quebrar o espírito de uma menina. Eles me mantiveram lá por um bom tempo. Estava com fome, então implorei para eles me deixarem sair. Eles toparam, desde que eu trabalhasse para eles.
Então eles foram meus cafetões por uns seis meses, eu não podia voltar para casa. Tentava fugir, mas quando me pegavam, apanhava muito. Depois, fui traficada para outro homem. O abuso físico era terrível, mas o abuso mental era pior – as coisas que eles diziam não dá para esquecer.
Cafetões são ótimos torturadores, são ótimos manipuladores. Alguns te acordam no meio da noite com uma arma na cabeça. Outros fingem que você tem algum valor para eles e então você pensa: 'Eu sou a Cinderela e ele, meu príncipe encantado'. Eles te dizem que você precisa fazer apenas mais uma coisa e depois será recompensada.
E você pensa: 'Minha vida já está tão difícil, por que não fazer um pouquinho mais'. Mas é claro que a parte boa nunca chega.
Quando as pessoas descrevem prostituição como algo cheio de glamour, meio como no filme Uma Linda Mulher, bem, não tem nada a ver com isso. Uma prostituta às vezes dorme com cinco estranhos por dia. No fim do ano, são 1.800 homens com quem ela teve relações sexuais. Não são relacionamentos, ninguém te traz flores, acredite em mim. Eles usavam meu corpo como um banheiro.
Baleada
E os clientes são violentos. Tomei cinco tiros, foi esfaqueada 13 vezes. Não sei por que esses homens me atacavam. Tudo que eu sei que é a sociedade fazia com que eles se sentissem confortáveis fazendo isso. Eles sabiam que podiam fazer o que quisessem com uma prostituta, já que a polícia nunca a levaria a sério.
Mas, na verdade, me considero muito sortuda. Conheci lindas garotas que foram assassinadas.
Depois de uns 15 anos me prostituindo, comecei a usar drogas. Depois de um tempo, você já usou todos os truques que tem para aguentar alguém colocando uma arma na sua garganta. Você precisa de algo para te dar coragem.
Eu fui prostituta por 25 anos e, durante todo esse tempo, nunca consegui ver uma alternativa. Mas em 1º de abril de 1997, quando eu estava com quase 40 anos, um cliente me jogou para fora do carro.
Meu vestido prendeu na porta e eu fui arrastada por seis quarteirões, arrancando toda a pele do meu rosto e da lateral do meu corpo.
Fui para o hospital e, na emergência, chamaram um policial. Ouvi ele dizendo: 'Ah, eu conheço ela. É só uma prostituta. Ela provavelmente pegou o dinheiro de alguém, então ela mereceu'. Eu ouvi as enfermeiras rindo e me deixaram na sala de espera, como se eu não valesse nada.
'Deus foi rápido'
E foi naquele momento que comecei a pensar em tudo que havia acontecida na minha vida. Eu lembro de olhar para cima e dizer para Deus: 'Essas pessoas não se importam comigo. Você pode por favor me ajudar?'
E Deus foi bem rápido. Um médico apareceu, cuidou de mim e me encaminhou para o serviço social. Lá, me deram o endereço de um lugar chamado Genesis House, que era dirigido por uma inglesa chamada Edwina Gateley, que se tornou minha heroína e uma mentora para mim. Ela me ajuda a transformar minha vida.
Ela me disse para eu ficar tranquila e que eu podia morar lá pelo tempo que quisesse. Fiquei dois anos. Meu rosto sarou, minha alma se curou.
Edwina me me ensinou o valor da conexão profunda que pode ocorrer entre duas mulheres, o círculo de confiança e amor e apoio que um grupo de mulheres pode dar uma para outra.
Quando eu saí da Genesis House, acabei trabalhando como voluntária em uma pesquisa universitária com prostitutas em campo. E percebi que ninguém estava realmente ajudando essas mulheres. Ninguém estava indo lá e dizendo 'Eu era assim, e olha quem eu sou agora. Você também pode mudar'.
Então, em 2008 fundei, juntamente com Stephanie Daniels-Wilson, a Fundação Dreamcatcher. Recentemente, fizeram um documentário sobre o nosso trabalho. Vamos ao encontro dessas mulheres e dizemos: 'Há um caminho, estamos aqui para ajudar. E tentamos tirar da cabeça delas a ideia de que não há alternativas para elas'.
Também tenho um clube para meninas, com atividades para depois que elas saem da escola – para meninas exatamente como eu na década de 70.
Meninas em perigo
Agora, eu consigo ver se uma menina está em perigo, mas não há um padrão. Ela pode ser quieta, introvertida. Ou pode ser extrovertida e estar sempre arrumando confusão. Ambas sofrem abusos em casa e lidando com isso de maneira diferente. O que têm em comum é que elas não têm com quem conversar.
Até agora, temos 13 meninas que estão na faculdade. Chegaram aqui com 11, 12, 13 anos, totalmente vulneráveis.
Eu também colaboro com trabalhos acadêmicos. Sempre me dizem: 'Brenda, venha aqui encontrar o professor tal e tal da universidade não sei o que. Ele é especialista em prostituição'. Olho para ele e digo: 'Sério? Onde você pegou suas credenciais?'
Acho ridículo que muitas organizações que fazem campanha contra o tráfico humano não empregam ninguém que já tenha passado por isso.
Algumas pessoas acham que ajudaria que prostituição não fosse algo ilegal. Eu acho que cada mulher tem sua história. Pode ser OK para essa menina, que está conseguindo pagar a faculdade, mas não para essa outra, que foi molestada quando criança e agora não tem alternativas.
Mas deixa eu te perguntar uma coisa. Quantas pessoas você já encorajou a deixar seus empregos para virar prostituta?
Casamento
Bom, da minha parte posso dizer que depois de três anos de abstinência sexual, conheci um homem extraordinário. Eu fui muito seletiva, fiz muitas perguntas. Mas que homem aceita uma mulher que era prostituta, não?
Mas ele via em mim algo que eu mesma não via. Uma garota com um sorriso bonito. No ano passado, comemoramos dez anos de casamento.
Minhas filhas foram criadas por uma tia e estão ótimas. Uma é médica e a outra trabalha com justiça criminal.
Eu e meu marido adotamos meu sobrinho e hoje, com 58 anos, sou uma mãe dedicada.
Então, estou aqui para te dizer – há vida depois de tanto sofrimento, de tanto trauma. Há vida mesmo após as pessoas te dizerem que você não vale nada. Há vida, e não apenas uma vidinha qualquer. Há uma vida maravilhosa."
Brenda Myers-Powell foi entrevistada pelo programa da BBC Outlook. O documentário Dreamcatcher, dirigido por Kim Longinottowill, será transmitido no Reino Unido em outubro.
Situação de Lula, Dilma e Odebrecht deve piorar com depoimento de empresário à CPI da Petrobras
Artilharia pesada – Cada vez mais preocupado com os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que certamente trará muitas novidades ao longo do tempo, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva pode encerrar esta quinta-feira em situação ainda pior. Conhecido nos bastidores do poder como o mais influente lobista da empreiteira Odebrecht, cujo presidente, Marcelo Odebrecht, foi preso pela Polícia Federal e permanece na carceragem do órgão em Curitiba, Lula será alvo do depoimento do empresário e advogado Auro Gorentzvaig, que nesta quinta-feira (2) participa de audiência na CPI da Petrobras.
Filho do também empresário Boris Gorentzvaig, já falecido, e herdeiro da Petroquímica Triunfo, Auro revelará aos deputados da CPI como aconteceu a expropriação da empresa, operação que só foi possível com a ajuda bandoleira de Lula e da diretoria da Petrobras, com o objetivo de beneficiar a Odebrecht.
Na edição de 2 de outubro de 2014, o UCHO.INFO afirmou, sem medo de errar, que a grande questão na Operação Lava-Jato estava na necessidade de o grupo Odebrecht ter de explicar, em algum momento, o processo de expropriação da Petroquímica Triunfo.
Para que os leitores compreendam a estranha manobra, que desrespeitou os direitos do empresário Boris Gorentzvaig, então sócio da Triunfo, o setor petroquímico nacional é quase um monopólio do grupo Odebrecht. Isso porque o então presidente Lula quis assim, Dilma pressionou para que isso acontecesse dessa forma e Paulo Roberto Costa deu tratos às ordens palacianas.
Na esteira das matérias deste site sobe o estranho domínio da Odebrecht no setor petroquímico e a criminosa expropriação da Petroquímica Triunfo, o Ministério Público Federal decidiu abrir inquérito, no escopo da Lava-Jato, para investigar o caso. Sempre lembrando que as autoridades aproveitaram os muitos depoimentos de Costa para esclarecer dúvidas sobre o assunto.
Lula desdenha a Justiça
Em reunião com o empresário Auro Gorentzvaig, o então presidente Lula, na presença de Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento e Petroquímica da Petrobras, reduziu a pó o Poder Judiciário. Em denúncia encaminhada ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao juiz Sérgio Fernando Moro, responsável pela condução dos processos decorrentes da Lava-Jato, o empresário transcreve as acintosas palavras de Lula: “O Poder Judiciário não vale nada, o que vale é a relação entre as pessoas…”.
Auro também relata no documento que a intimidade entre Lula e Costa, marcada pela submissão do ex-diretor da Petrobras, era nauseante. Em dado trecho do encontro, que ocorreu no Centro Cultural do Banco do Brasil, em Brasília, onde à época funcionava provisoriamente a Presidência da República, Paulo Roberto acatou uma determinação de Lula com a seguinte frase: “Presidente, sua ordem é uma determinação…”.
Em determinado trecho da denúncia, que tem efeito devastador caso as autoridades dispensem a devida atenção ao escândalo, o empresário confirma o que já é voz corrente. “Todos os empresários do setor, incluindo eu, sabiam que Paulo Roberto Costa funcionava como operador de Lula dentro da Petrobras”, escreveu Auro Gorentzvaig no documento.
Covardia e cartas marcadas
Mais adiante, em outro trecho do documento enviado a Janot e Moro, o empresário dá detalhes de como foi decidido o futuro da Petroquímica Triunfo. “Na ocasião, Paulo Roberto Costa, diretor da área de petroquímica nos informou: “…No setor Petroquímico já estava definido que só empresas atuariam no setor: uma era a Odebrecht, a outra será definida”. Ao que perguntei : “E a Petroquímica Triunfo?”. Ele [Costa] respondeu: “…A Triunfo será eliminada, conforme as diretrizes estabelecidas pelo presidente da República”.
O escândalo não para aí e pode ser muito maior do que o Petrolão, pois envolve um setor empresarial que responde, direta ou indiretamente, por muitos da economia do país. Na denúncia, que reafirmamos ser explosiva, Gorentzvaig vai além e relata o recuo da Petrobras em relação à venda das ações da Petroquímica Triunfo.
“Em audiência de conciliação na Justiça Estadual do Rio Grande do Sul, a Petrobras pediu R$ 355 milhões pela sua parte na Petroquímica Triunfo. Em juízo, a Petroplastic concordou em pagar (oferta vinculante) o valor pleiteado pela petroleira nacional”, detalhou o empresário.
“A Petrobras recuou em sua decisão e, oito meses após a audiência de conciliação, repassou de maneira ilegal 100% das ações da Petroquímica Triunfo, transação avaliada em R$ 117 milhões. Ou seja, recusou R$ 355 milhões em dinheiro à vista, por 85% do capital social da empresa, operação que causou prejuízo de R$ 305 milhões à Petrobras, aos cofres públicos e ao Tesouro Nacional, um claro crime de lesa pátria em benefício da Braskem, do Grupo Odebrecht”, completou.
Protagonismo criminoso e corrupção
Auro Gorentzvaig, que ao lado do irmão há muito luta na Justiça para reaver aquilo que lhe é devido, não poupa os artífices da trama e mostra sua invejável dose de coragem. “Os participantes da transação são: Paulo Roberto Costa, Dilma Vana Rousseff, José Sérgio Gabrielli de Azevedo e Luiz Inácio Lula da Silva”, afirma no documento.
“No mesmo período, como demonstrou a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, coincidentemente Paulo Roberto Costa recebeu US$ 23 milhões de propina em bancos na Suíça. O pagamento foi feito pela Odebrecht, sendo o diretor de plantas industriais da empresa o senhor Rogério Santos de Araújo”, destacou o empresário e um dos sucessores de Boris Gorentzvaig.
A denúncia é grave e é revelada com absoluta exclusividade pelo UCHO.INFO, que há meses abriu espaço para um escândalo que pode superar, em valores, todos os outros ocorridos até então no Brasil, que há mais de uma década vive à sombra da impunidade.