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sábado, 16 de julho de 2016

"Nice, a narrativa e a Lava Jato" / Mario Sabino

15 de Julho de 2016

Nice, a narrativa e a Lava Jato

Por Mario Sabino
O ataque em Nice é mais uma prova de que o governo francês é uma porcaria, assim como a polícia e os serviços de informação. Como jornalista, no entanto, eu não posso deixar de admirar o ritual narrativo que segue cada atentado.
Depois de descoberta a identidade do terrorista, ou terroristas, e esclarecidos o número de vítimas e as circunstâncias gerais do ataque, o procurador de Paris chama a imprensa para descrever tudo aquilo que as autoridades sabem a respeito do assunto até aquele momento, bem como o que não sabem.
O texto é cristalino e lido no tom certo — nem emotivo, nem monocórdio. A gramática também escapa completamente ilesa, como sói acontecer nestas latitudes. Tradição literária ajuda nessas horas.
A descrição do procurador de Paris confere sentido ao que parece não ter o menor sentido. Organiza a investigação policial que ganhará mais detalhes nas semanas seguintes, serve de ponto de partida para as interpretações políticas que tomarão o noticiário e esboça outro capítulo da história do país. Não menos relevante, dá início ao luto nacional e aos lutos individuais de quem perdeu familiares e amigos. De certa forma, é como o epílogo de uma tragédia grega.
Tudo é o exato contrário do que costuma ocorrer no Brasil. Quase não temos narrativas e, quando tecidas, elas pecam pela obscuridade ou mentira deslavada.
É na falta de tradição narrativa que Lula e os seus aliados apostam para deturpar o que a Lava Jato vem contando de maneira ainda demasiado técnica. Talvez seja o caso de a República de Curitiba contratar o procurador de Paris para lhe dar mais clareza. O nome dele é François Molins.

"O terror interno e o externo" / Ruy Fabiano



Ruy FabianoPOLÍTICA

O terror interno e o externo

O tema do terror, que hoje assombra o mundo, é um velho conhecido nosso. Não se reveste de teor religioso-fundamentalista ou ideológico – como o que hoje abala o Ocidente.
Terror (Foto: Arquivo Google)
É impulsionado pela indústria bilionária do narcotráfico, estimulado pela impunidade e pela insânia do politicamente correto. Banditismo mesmo. Os direitos humanos têm aqui mão invertida: direcionam-se aos que os violam – os bandidos -, não às vítimas.
A construção desse ambiente não se deu do dia para a noite. Foi uma lenta e paciente elaboração, que começou no discurso esquerdista, de associar violência à pobreza, serviu-se da crônica morosidade do Judiciário e encontrou ampla receptividade no âmbito legislativo, com a elaboração de leis que atenuam as penas e oferecem aos condenados meios de reduzi-las ainda mais, por meio do sistema progressivo de regime, sempre “aprimorado”.
Dificilmente alguém cumpre a totalidade de sua pena. Há ainda a resistência à redução da maioridade penal para 16 anos, o que leva a que o crime organizado (e o desorganizado) se sirva dessa abundante mão de obra.
Por fim, há a crescente hostilidade dos setores pensantes da sociedade à ação policial, em que seus profissionais, além de mal remunerados e desequipados, deparam-se com restrições operacionais que, por óbvio, não se aplicam à ação dos bandidos.
No topo da pirâmide social, o quadro é ainda mais grave, como o demonstram as operações da Lava Jato. A legislação processual admite um sem-número de recursos, que levam os crimes a prescrever antes que o processo transite em julgado.
E há o absurdo foro privilegiado, que transforma o STF em tribunal penal e enseja intermediações políticas que impulsionam a impunidade e o descrédito do Poder Judiciário.
Não bastasse, o Senado está prestes a votar, por iniciativa de seu presidente, Renan Calheiros, projeto de lei que, a pretexto de conter abusos de autoridade, dificulta as investigações, sobretudo no que diz respeito às delações premiadas.
O projeto, apresentado em caráter terminativo, foi encaminhado a uma comissão especial, criada pelo próprio Renan e presidida por Romero Jucá, ambos citados em delações premiadas da Lava Jato. O recurso ao “caráter terminativo” permite, caso não haja recurso, que o projeto seja aprovado na própria comissão especial, sem passar pelo plenário do Senado. Depois vai para a Câmara.
Não é casual que o projeto venha à tona quando a Lava Jato chega à cúpula da elite política e econômica do país. A Associação dos Juízes Federais (Ajufe) declarou, em nota, que o texto “parece uma tentativa de intimidação de juízes”. Não parece: é.
O que ocorre em cima, na cúpula do poder, estimula quem está embaixo. Há, no mínimo, uma sinalização moral nefasta. No frigir dos ovos, o país oficial construiu um ambiente de falência política e econômica – e, em decorrência, social -, enquanto o país real vive a tragédia de contabilizar o pornográfico número de 70 mil assassinatos por ano – índice de guerra civil, superior ao de países como a Síria ou o Iraque, que a vivem de maneira declarada.
Não bastasse, a proximidade das Olimpíadas, com sede na cidade-síntese do país, o Rio de Janeiro – e, por isso mesmo, o seu mais eloquente retrato -, agrega ao terror interno, ao qual já nos habituamos, o terror externo, que hoje apavora o mundo.
Já há registros, nas redes sociais – e a própria Abin o confirma - da presença de agentes do Estado Islâmico no país, agindo nas periferias, onde há farta mão de obra recrutável. Que diferença faz para quem nasceu em meio às ações do narcotráfico – e se acostumou ao crime como banalidade – revesti-lo de aura fundamentalista e semeá-lo junto a seus companheiros de infortúnio?
O Brasil oferece ao terror vasto manancial a ser explorado. E é espantoso que somente agora as autoridades estabelecidas tenham despertado para o problema. Nessa Olimpíada, já temos, há muito, medalha de ouro.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Humor de Chico Caruso


HUMOR

A charge de Chico Caruso

Charge (Foto: Chico Caruso)

O Brasil surreal foi convidado a protagonizar 'a atual barafunda' que os políticos brasileiros submeteram o país...

É cada um por si e Deus só por alguns - 

JOSÉ NÊUMANNE

ESTADÃO - 13/07

Fiasco albanês, um prócer irrelevante e um suspeito na polícia comandam a Câmara



Ao renunciar à presidência da Câmara dos Deputados na semana passada, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi de uma precisão cirúrgica quando desqualificou a atual administração da Casa ao empregar a expressão “interinidade bizarra”. Com o morteiro disparado na direção do primeiro sucessor do presidente (também interino) da República, Michel Temer, o ex-ocupante do poderoso e honorável posto, “sem querer querendo”, como rezava o mote do protagonista de um dos maiores sucessos da televisão brasileira, o mexicano Chaves, definiu a esdrúxula situação sob a qual vivemos todos nesta atual barafunda.

Esta nossa República é tudo menos honrada, serena e lógica. Os três Poderes atuam como se vivessem em mixórdia e intromissão permanentes, um nos outros e vice-versa, chamando o nefasto resultado geral, cínica e equivocadamente, de “autonomia”. Esta se impôs sobre a “harmonia” na base do braço de ferro e do berro mais alto. Nas atuais circunstâncias e há bastante tempo, o lema “ordem e progresso” da Bandeira Nacional não descreve a desordem vigente, a ponto de dever ser substituído por “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Em relação a esse recado generalizado à cidadania, o povo, impotente, fica na condição do “salve-se quem puder” e o resto que se dane.

De acordo com chamada na primeira página deste jornal, domingo, o segundo maior fornecedor da campanha vitoriosa da reeleição da presidente afastada, Dilma Rousseff, Carlos Augusto Cortegoso – conhecido como “garçom do Lula”, por tê-lo servido nos anos de liderança sindical no Demarchi, famoso restaurante no circuito do frango com polenta em São Bernardo do Campo –, movimentou quase R$ 50 milhões naquele pleito. Ou seja, cinco vezes o valor que declarou. Assim, a chapa Dilma-Temer teria cometido, conforme relatório da Receita Federal, duplo crime: foi financiada por caixa 2 e, ao declarar que as doações eram legais, lavou o dinheiro sujo na máquina da Justiça Eleitoral. Um desplante!

Caso o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) constate o duplo delito na investigação que promove sobre a validade dos votos sufragados em 2014, terá de mandar presidente e vice entregarem o poder ao presidente da Câmara dos Deputados, seja ele quem for. Este terá 90 dias para convocar eleição direta para um mandato-tampão até dezembro de 2018, quando, então, já terá sido eleito seu substituto constitucional. Em sufrágio direto e universal, se a disputa for este ano, antes de ser completada a primeira metade do mandato dado como usurpado por abuso de poder econômico (e com uso de dinheiro público, o que é mais grave). Ou em eleição indireta, pelo Congresso, se a decisão for posterior.

Ocorrendo isso, em qualquer das hipóteses, falirá a lorota do “impeachment sem crime é golpe”, que mantém o fio inconsútil do que ainda resta do mandato de Dilma e do PT. Seu substituto constitucional, Michel Temer, eleito vice também de forma supostamente ilícita, sucumbirá junto. E levará no féretro a equipe econômica mais equipada para tirar o Brasil da crise e reconstruir a credibilidade do Estado. A Nação ficará, na hipótese, a reboque de algum aventureiro que emergir das urnas ou do painel do plenário parlamentar, ambos eletrônicos. Não será algo a se chamar de “o melhor dos mundos”. Muito ao contrário!

A eleição direta, única capaz de refletir a vontade popular, é volátil a ponto de ter inflado, de um lado, Jânio, Collor e Dilma, produtos da paixão popular por aventureiros que se fingem de faxineiros contra a corrupção e terminam enredados nos crimes que denunciavam. E, de outro, Fernando Henrique e Lula, representantes de grupos políticos consolidados que terminaram se dissolvendo numa cultura de ácido implacável que derrete idolatrias e reputações. O tucano foi abatido pela vaidade do segundo mandato. O petista, pela ilusão do fogo-fátuo da fortuna fácil.

O esfarelamento dos partidos, flagrado na disputa da presidência da Câmara por meio ano e meio mês, desmoraliza utopias como o parlamentarismo e suas variações “semi”. E revela o pragmatismo de chiqueiro na disputa pela proximidade da gamela em que é servida a lavagem. O baixo clero que elevou Cunha ao cargo que lhe permitiu abrir o impeachment da desafeta de última hora, Dilma, logo se desfez diante da evidente ausência de um mínimo de espírito público nele.


Waldir Maranhão, eleito vice na chapa vencedora por 80% dos pares, muitos dos quais certamente agora fingem tapar o nariz, entregou-se à farra do poder inesperado, participando de farsas tão absurdas como a tentativa de interromper o impeachment no Senado apenas pela vontade de seu líder, Flávio Dino (PC do B), governador do Maranhão. Ou seja, pelo projeto político de entregar o destino de uma das dez maiores economias do mundo à ditadura grotesca que produziu a excrescência albanesa, retrato de miséria política e econômica num continente abastado e plenamente democrático.

Para completar, o bizarro intendente interino tem mais dois diabos a servir. De um lado, Rodrigo Maia (DEM), herdeiro de César Maia, hoje sem relevância na política do próprio Estado, o Rio. E, de outro, pai Lulinha, cujo impávido colosso desmoronou sob sua imagem corroída por várias investigações policiais e jurídicas. Representante de um Estado sem peso político e econômico e incapaz de conduzir sessões da Câmara até o fim, Maranhão balança entre um prócer irrelevante e outro investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e Estadual de São Paulo, sob a égide da Justiça Federal no Paraná e da Estadual em São Paulo. A bizarria do interino desfila entre o baile da saudade e a medalha olímpica dos saltos orçamentais.

A hipotenusa do triângulo é o Judiciário do “cada um por si e Deus só por alguns”, regime no qual a paridade de todos é submetida a privilégios que a promiscuidade assegura.

* JOSÉ NÊUMANNE É JORNALISTA, POETA E ESCRITOR

Vamos sentir saudades dela. Onde encontraremos outra tão deliciosamente inepta, magnificamente irresponsável e esplendidamente à vontade no seu sesquipedal despreparo?

quarta-feira, julho 13, 2016


Dilma na nuvem - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 13/07
Vamos sentir saudades dela. Onde encontraremos outra tão deliciosamente inepta, magnificamente irresponsável e esplendidamente à vontade no seu sesquipedal despreparo? Ninguém se lhe compara na firmeza com que exerce seu desconhecimento sobre a lógica ou a aritmética mais simples. Ninguém a supera na arte de dizer sandices e, ao corrigir-se, dobrar a meta e dizer mais sandices. E ninguém faz isto num português tão tosco, singelo e de quinta. Refiro-me, claro, à ex-presidente Dilma Rousseff.

Depois de nos brindar com enunciados inesquecíveis sobre a mandioca, o vento estocado, a mulher sapiens, as pastas de dente que insistem em escapar do dentifrício e o meio ambiente como uma ameaça ao desenvolvimento sustentável, temia-se que seu afastamento nos privasse de novas contribuições ao nonsense. Mas Dilma não falha — é só colocar-se ao alcance de um microfone.

Sua última façanha está na internet e é facilmente acessível basta digitar "Dilma" e "nuvem". Ao saber outro dia que as acusações contra ela estão na "nuvem" — uma nova forma de armazenamento incorpóreo e universal de arquivos –, soltou os cachorros em entrevista a um canal de televisão.

"Pois bem", rugiu. "Inventam uma história fantástica. Que tá na nuvem. É. Tá na nuvem. Sei lá que nuvem. Sabe, eu não entendi muito bem essa história de nuvem. Tô aqui tentando apurar direitinho. Como é que uma coisa pode estar na nuvem? É muito simples estar na nuvem, não tem de provar. Que nuvem? Onde está a prova?"

A Dilma tá certa. Essa história de nuvem é mais uma tentativa de golpe contra uma mulher honesta, que fez o diabo para se eleger, digo, sofreu o diabo na ditadura. Quero ver provar. Mas o José Eduardo Cardozo [seu ministro de estimação, advogado e porta-voz] já está vendo isso. Ele vai desmoralizar essa nuvem.


terça-feira, 12 de julho de 2016

A felicidade é relativa // Marcia Dessen

A felicidade é relativa - 

MARCIA DESSEN

FOLHA DE SP - 11/07

Somos irracionais. E somos previsivelmente irracionais, segundo Dan Ariely, pesquisador da economia comportamental, que trata de aspectos tanto de psicologia quanto de economia.

Nossa irracionalidade ocorre da mesma maneira, repetidamente, seja quando agimos como consumidores, empresários ou estrategistas. Entender como somos previsivelmente irracionais é o ponto de partida para aperfeiçoar nossas decisões e melhorar nosso modo de vida.

A maioria de nós não sabe o que quer. Então, programamos o cérebro para olhar à nossa volta, em relação aos outros. Na hora de contratar um serviço, comparamos com outro já contratado ou disponível. O próximo destino das férias é decidido por mecanismo semelhante, assim como o vinho que vamos beber no jantar.

Somos tão previsivelmente irracionais que os profissionais de marketing, cientes de que não sabemos o que queremos, colocam um chamariz na oferta que fazem para que nossa escolha recaia sobre o que eles querem vender. O livro "Previsivelmente Irracional", de Dan Ariely (Elsevier), apresenta diversos exemplos que comprovam essa técnica.

O primeiro capítulo do livro é sobre a relatividade que tanto nos ajuda a tomar decisões na vida. Mas também pode nos fazer muito infelizes. O ciúme e a inveja nascem da comparação do que temos com o que outras pessoas têm. Miguel, por exemplo, decidiu procurar seu supervisor para reclamar do salário.

"Há quanto tempo você trabalha na empresa?", perguntou o supervisor. "Três anos. Vim direto da faculdade", respondeu Miguel. "Quando veio trabalhar conosco, qual era sua expectativa de renda anual depois de três anos?" "Cerca de $ 100 mil", respondeu Miguel. "Você ganha quase $ 300 mil, por que está reclamando?" "Bem... meus colegas, que não são melhores do que eu, ganham $ 310 mil". A medida de felicidade de Miguel não é o seu próprio salário, mas seu salário relativo ao dos colegas na mesma função.

Já que é assim que o cérebro funciona, o que podemos fazer para aumentar nossa felicidade? Podemos controlar os círculos à nossa volta, fazer parte de um grupo que possa elevar nossa felicidade relativa.

Numa festa, por exemplo, evite se aproximar de quem conta vantagem do salário que recebe e vá conversar com outro grupo. Se estiver comprando uma casa ou um carro, evite visitar ou testar os que estão acima de suas possibilidades. Concentre-se em conhecer e selecionar aqueles pelos quais você pode pagar.
Outra estratégia é alterar o foco, de estreito para amplo. Ariely comenta sobre interessante pesquisa de Amos Tversky e Daniel Kahneman. Suponha que você saiu de casa para comprar duas coisas, uma caneta simples e um terno para o trabalho. Você encontra uma caneta bonita por R$ 25, mas antes de comprar se lembra de que viu a mesma caneta por R$ 18 em outra loja, a 15 minutos de distância. Vale a pena caminhar 15 minutos para poupar R$ 7? A maioria dos que participaram da experiência decidiu que sim.

Você acha um terno bacana por R$ 455 e está quase pagando por ele quando um cliente cochicha no seu ouvido que o mesmo terno custa R$ 448 em outra loja, a 15 minutos dali. A maioria respondeu que não caminharia para poupar R$ 7. Mas o que acontece? Quinze minutos do seu tempo valem R$ 7 ou não?
Esse é o problema da relatividade. Comparamos a vantagem relativa da caneta barata com a cara e decidimos que vale a pena gastar o tempo extra para poupar R$ 7. Por outro lado, a vantagem relativa do terno mais barato é pequena demais, então decidimos gastar mais R$ 7.

Fácil gastar R$ 3.000 para colocar um banco de couro em um carro que custa R$ 30.000, mas é difícil gastar R$ 3.000 em um sofá para nossa sala de estar, mesmo sabendo que vamos passar muito mais tempo no sofá do que no carro.

Se pensarmos com perspectiva mais ampla, podemos avaliar melhor o que fazer com os R$ 3.000 que talvez sejam gastos na troca do estofamento do carro. Podemos fazer uma viagem de férias, comprar roupas, uma TV.
Um amigo comprou uma BMW e já está pensando que seu próxi- mo carro será um Porsche. Sabe o que os donos de Porsche querem ter? Uma Ferrari. Quanto mais temos, mais queremos. Segundo Ariely, a única cura é romper o ciclo da relatividade.


Humor de Duke no blog de Josias de Souza


Feitiço! 

Josias de Souza
Duke/O Tempo
– Charge do Duke, via O Tempo.

Lula e Stalin, os governantes próximos pela ideologia...

Lula e Stalin, os deuses que falharam

Leonardo Padura recriou o Brasil clivado por ideologias de apostilas ao contar a história de Trostski e seu algoz, Ramón Mercader
Lula e Stalin (Foto: Arquivo Google)
Miguel de Almeida, O Globo
Em “O homem que amava os cachorros”, o escritor cubano Leonardo Padura reconstrói a atmosfera de perseguição montada por Stalin, nas décadas de 1930-50, a Trostski e seus outros inimigos. A perseguição se dava no nível físico (espiões, policiais, caça-recompensas) e no moral, por meio de mentiras, intrigas, aleivosias e canalhices diversas.
Stalin fazia ainda uso de cães intelectuais — em geral gente em busca de glórias efê- meras, como um prêmio ou um elogio — na desconstrução de seus adversários. Não vem à toa a admiração de Hitler pelo regime soviético: o nazismo fará uso de seus vira-latas provocadores (exemplo: a turma que avançou sobre Janaina Paschoal) e Stalin forjará o oportuno Inimigos do Povo (exemplo: a campanha contra ex-petistas como Fernando Gabeira e Luiza Erundina).
O nazismo muito deve ao stalinismo (exemplo: Marilena Chauí difundir que Sérgio Moro é filhote do FBI e os SS digitais repercutirem a difamação). Padura fornece ao leitor um retrato do clima policialesco criado por Stalin. São creditados nas costas de Trotski, mesmo exilado e banido, o poder de uma hipotética conspiração, a autoria de documentos apócrifos... Tudo balela.
Cena construída para distrair os militantes dos reais motivos do desastre econômico perpetrado por Stalin e sua megalomania estatista. Depois, Stalin jamais foi marxista e só foi de esquerda (oportunista) até chegar ao poder (exemplo: nunca antes neste país...). Lá, usurpou o sonho de vários gerações.
Muitos deram suas vidas por acreditar estarem defendendo a revolução e ainda lutaram contra o que julgavam ser o jogo da direita (exemplo: fazer vaquinha para pagar a multa do companheiro José Dirceu e depois carregar seu cadáver político, de boca fechada). Os paralelos com a história política brasileira atual são assustadores.
Padura recriou o Brasil clivado por ideologias de apostilas ao contar a história de Trostski e seu algoz, Ramón Mercader: as falsas informações plantadas na imprensa mundial (os amigos dos cães), os supostos complôs (olha o pré-sal aí, gente), com o objetivo de atiçar na militância ralé (a turminha do Facebook) um ódio contra o ex-dirigente da Revolução Russa, que passa a apupar sua biografia sem entender nada do riscado (exemplo: Trotski caiu ao propor uma plataforma econômica em interação com as forças do mercado. Stalin o satanizou. No poder, depois de ver seu barco estatal afundar, Stalin praticou... a política defendida por Trotski, de braço dado com o capital internacional. Você pode pensar em Dilma/Joaquim Levy e Lula/Henrique Meirelles e não estará errado).
Vale lembrar também que a visão econômica de Stalin era identificada como sendo nazinacionalista. Stalin era o sonho de Hitler. As mentiras urdidas por Stalin repercutiam facilmente. Os intelectuais se calavam. E quando ousavam... Foi o caso de André Gide, escritor francês e militante de esquerda. Após visitar a convite a União Soviética em 1936, percebeu a arapuca e denunciou o engodo.
Afinal, acreditava, era seu dever alertar as forças de esquerda que Stalin era tão-somente um ditador, e nada tinha de progressista (o Brasil não conhece o Brasil...). Pobre Gide. Até então, seu homossexualismo não fora um estorvo nas fileiras da Causa. Segundo os stalinistas, como se poderia acreditar num escritor que tinha o hábito de gostar de homens? Era traidor... e gay.
Trinta anos depois e milhões de mortes, Kruschev repetiria o mesmo diagnóstico de Gide. Sabe, o que aconteceu? A ficha só caiu em 1989, quase 40 anos depois e outras milhares de mortes.
Lula e Stalin (Foto: Arquivo Google)

Humor de Alpino