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sexta-feira, 4 de novembro de 2016

"Não sobra um meu irmão" !

Brasil
 Atualizado em 04/11/2016 23:05

Ministros de Temer estão envolvidos na 'farra das passagens aéreas'

Padilha, Barros, Mendonça Filho e Jungmann aparecem na lista
Nome de Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil do governo Temer, aparece na lista / Beto Barata/PRNome de Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil do governo Temer, aparece na listaBeto Barata/PR
Nove ministros do governo Michel Temer e mais dois ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) foram alvo de acusações criminais em denúncias por irregularidades no uso da cota parlamentar.

Eliseu Padilha (Casa Civil), Bruno Araújo (Cidades) Leonardo Picciani (Esportes), Mendonça Filho (Educação), Maurício Quintella (Transportes, Portos e Viação Civil), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia), Ricardo Barros (Saúde), Raul Jungmann (Defesa), Sarney Filho (Meio Ambiente), Ana Arraes (TCU) e Vital do Rêgo (TCU) estão na lista apresentada pela Procuradoria Regional da República da 1ª Região (PRR1) ao Supremo Tribunal Federal (STF) esta semana.

Todas as acusações são referentes ao período em que os ministros exerceram mandato de deputado federal, entre 2007 e 2009. No total, cerca de 45 denúncias envolvendo 213 políticos com foro privilegiado foram oferecidas ao STF pelo procurador regional da República da primeira região Elton Ghersel.

Entre os denunciados, foram citados cerca de 174 deputados federais e 25 senadores. Outros seis políticos tiveram denúncias encaminhadas ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), entre eles quatro governadores: Rodrigo Rollemberg (DF), Flávio Dino (MA), Jackson Barreto de Lima (SE) e Suely Campos (RR).

Também parecem na lista de denunciados atuais lideranças do Senado, como o líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), do DEM, Ronaldo Caiado (GO), do PSDB, Paulo Bauer (SC), do PR, Wellington Fagundes (MT), e do PTdoB, Vanessa Grazziotin (AM). 

Na Câmara, os ex-presidentes da Casa Marco Maia (RS) e Arlindo Chinaglia (SP), ambos do PT, também são suspeitos de utilizar a cota para atividade parlamentar indevidamente. Além disso, há ainda membros do TCU, como os ministros Vital do Rêgo Filho e Ana Arraes.

O parecer do procurador que cita os casos envolvendo políticos com foro privilegiado ainda não chegou aos tribunais superiores. No caso do Supremo, será designado um relator para analisar o caso, que só terá sequência após aval do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Já no STJ é o vice-procurador-geral, José Bonifácio Borges de Andrada, quem decidirá sobre a sequência do inquérito.

Viagens pessoais 

As investigações foram feitas pela Procuradoria e pela Polícia Federal a partir de denúncias feitas entre 2007 e 2009. O Ministério Público identificou que as passagens aéreas não eram utilizadas pelos ex-parlamentares denunciados apenas para o exercício do mandato, e sim para patrocinar viagens pessoais e uso de terceiros.

Em março deste ano, o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, determinou o arquivamento de alguns processos do caso conhecido como "farra das passagens aéreas", que envolveu denúncias de que gabinetes de deputados negociavam com agências de viagens passagens da cota de alguns parlamentares.  

Na decisão, o ministro cita que, conforme apontou a Procuradoria a utilização de passagens aéreas na Câmara não tem regras claras e não há como confirmar se houve intenção de fraudar por parte dos parlamentares.


ÚLTIMAS DE NOTÍCIAS

MRS vende 23 locomotivas para Vale por R$115 mi

SÃO PAULO (Reuters) - A operadora ferroviária MRS anunciou nesta sexta-feira que acertou acordo para vender à Vale 23 locomotivas e conjunto de peças por valor total de 115 milhões de reais.
As locomotivas são modelo GE Dash-9 e têm valor unitário de 4,9 milhões de reais. O contrato envolve ainda conjunto consumíveis para os equipamentos.
Segundo a MRS, que tem entre os sócios Companhia Siderúrgica Nacional, Usiminas, Gerdau e a própria Vale, a transação "foi negociada em condições vantajosas" para a empresa.

Drama recorrente do cotidiano da Venezuela... "Minha família corre risco", diz mãe de três filhos e marido preso !


Minha família corre risco

Patricia Ceballos, 32 anos, San Cristóbal, Venezuela
3 nov 2016, 21h00


MEU MARIDO Daniel Ceballos foi levado para a prisão na madrugada do último dia 27 de agosto.
 A Justiça o acusou de ser um dos mentores de um suposto golpe de Estado que estaria sendo planejado para o dia 1º de setembro, quando mais de 1 milhão de venezuelanos foram às ruas para pedir o respeito aos prazos do referendo revogatório, que pode encurtar o mandato do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Onde ele está agora, a prisão 26 de Julho, a cela ferve a 40 graus, a cama é de cimento e não há banheiro, apenas uma latrina. Nossos filhos não podem nem visitá-lo. Maria Victoria, de 8 anos, Maria Veronica, de 6, e Juan Daniel, de 3, estão sofrendo muito. A minha filha do meio teve até uma crise de ansiedade.
Foi a segunda vez em que ele foi preso. Na primeira, em 2014, Daniel foi detido setenta e sete dias depois de assumir o cargo de prefeito de San Cristóbal, que fica perto da fronteria com a Colômbia. Daquela vez, ele foi acusado de não respeitar uma medida cautelar que ordenava o fim dos protestos populares contra o governo. Em dois anos e meio, ele foi transferido de prisão cinco vezes. O objetivo dessa estratégia é nos levar ao desespero. Na prisão de Ramo Verde, onde meu marido ficou por um ano e oito meses, eu e minhas filhas tínhamos que nos despir na revista para poder visitá-lo. Até a fralda do meu filho mais novo, que tinha 1 ano e meio, era inspecionada. Uma vez, uma carcereira quis acordá-lo para tirar sua fralda. Eu fiquei muito revoltada. De nada adiantou. Sempre que ia visitar meu marido, tinha que repetir o ritual.
Um dia, jogaram água suja com urina e excrementos na cela dele, pela janela, atingindo o seu corpo. Deixaram-no os três dias seguintes sem água, sem poder se limpar. Com isso, Daniel desenvolveu uma espécie de alergia na pele, uma descamação. Ele não recebeu sequer tratamento médico. Como esposa e mãe, fico indignada em ver a maneira como tratam Daniel e os outros presos políticos. Temo pela vida deles.
Daniel só foi liberado em agosto de 2015, para ficar em prisão domiciliar. Em poucos meses, as crianças se acostumaram novamente a que ele cozinhasse, desse banho, brincasse, ensinasse violão. Foi uma fase maravilhosa.
Atualmente, continuo com a rotina e faço o que posso para suprir a carência do pai. Acordo muito cedo, coloco uniforme nas crianças, dou café da manhã e levo para a escola. Às 8h da manhã já estou no trabalho. Atualmente, sou a prefeita de San Cristóbal. Em maio de 2014, com meu marido ainda na cadeia, me candidatei ao cargo e venci com 73% dos votos. Agora existe uma medida cautelar contra mim, muito parecida com a que foi levantada contra Daniel em 2014. Eles querem que eu suspenda uma greve do Sindicato de Transportes, mas não posso parar uma greve pacífica que está garantida na Constituição. É um assunto político, não é legal ou administrativo. Posso ser presa a qualquer momento.
Rezo todos os dias para ter força e sabedoria. Preciso ter uma resistência enorme que às vezes nem sei de onde tiro. Deve ser alguma coisa divina. É muito difícil viver com medo de que ataquem a minha família, sabendo que a minha própria vida está em risco. As crianças veem o pai como um herói que enfrenta os malvados e sabem que, no final, ele vai ganhar. Os inimigos dele não conseguem nos vencer politicamente e veem que eu sou forte, que o Daniel é forte, que somos uma família forte. Não queremos ir embora daqui. Queremos, isso sim, mudar a política da Venezuela de maneira pacífica. As manifestações recentes são a prova de que o povo está do nosso lado e de que somos gente de bem. Vamos construir um país melhor para os nossos filhos e para todos os filhos da Venezuela.
Depoimento colhido por Nathalia Watkins
Foto por Carlos Hernandez/Archivolatino

Um juiz sem decoro, sem pudor.... / Reinaldo Azevedo


Aí não dá, Lewandowski! Falta decoro!

 Falta pudor!

Ministro do Supremo resolve se comportar como líder da CUT em 

encontro de magistrados. É o fim da picada!

Por Reinaldo Azevedo  
Se alguém me perguntar o que mais me irrita na vida pública brasileira além da roubalheira, da incompetência, da desídia — essas coisas que irritam toda gente —, a minha resposta será esta: a falta de decoro. As autoridades brasileiras, com raras exceções, estão perdendo qualquer senso de solenidade — muito especialmente a solenidade do cargo que ocupam. É um dos aspectos que admiro no presidente  Michel Temer: encarna o que me parece ser a correta neutralidade do estado. “Ah, ninguém é neutro etc. e tal…” Eu sei. Mas deixemos isso para ser decodificado por analistas, cientistas sociais, críticos profissionais, jornalistas… Que a autoridade se esforce!
Infelizmente, não é o que temos visto. O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo, comportou-se muito mal nesta quinta na abertura, em Porto Seguro, do 6º Encontro Nacional de Juízes Estaduais, que é realizado a cada três anos pela AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros). Ah, sim: com direito a show de Ivete Sangalo e Diogo Nogueira. Tá certo… Não faria muito sentido um encontro de magistrados, sei lá, na periferia de Salvador, de São Paulo ou do Rio, onde estão os que têm fome de Justiça, certo? Pareceu demagógico? Só estou evidenciando como é fácil fazer demagogia, outra das práticas corriqueiras no Brasil que me causam asco.
Pois bem! Lá estava o ministro do Supremo, certo? Um dos 11 varões e varoas de Plutarco da República. O único discurso que lhe cabe é o institucional. A única coisa aceitável é falar dos consensos que nos unem. Até os dissensos devem ser guardados para a Corte. A única tarefa de quem presidiu o Supremo até outro dia era falar em favor do povo brasileiro.
Mas não foi isso o que fez Lewandowski. A voz que se ouviu era a de um militante sindical, e do tipo que carrega no sotaque cutista. Disse ele, diante da categoria que compõe a elite salarial do Brasil, sobre a reivindicação dos magistrados por aumento de vencimentos: “Não há vergonha nenhuma nisso, porque os juízes, no fundo, são trabalhadores como outros quaisquer e têm seus vencimentos corroídos pela inflação (…). Condomínio aumenta, IPTU aumenta, a escola aumenta, a gasolina aumenta, o supermercado aumenta, e o salário do juiz não aumenta? E reivindicar é feio? É antissocial isso? Absolutamente, não”.
Foi aplaudido com entusiasmo. Ele tinha mais a declarar:
“Para que possamos prestar um serviço digno, é preciso que tenhamos condições de trabalho dignas e vencimentos condizentes com o valor do serviço que prestamos para a sociedade brasileira”.
Não quero parecer amargo, mas, se o brasileiro pobre fosse convidado a dizer quanto vale, na média, o serviço da Justiça, as palavras poderiam não ser as mais doces.
Notem: é claro que acho que juízes têm o direito de reivindicar reajuste de salário e que defendo que tenham vencimentos dignos. E eles têm! Mas disso devem cuidar as múltiplas associações de magistrados. As há mais no Brasil que queijos na França. É de um ridículo ímpar que um ministro do Supremo vá falar como líder de corporação.
Mais: é claro que ele sabe o peso dessas palavras num momento em que se discute a MP 241. Parece que Lewandowski está expressando uma opinião política, não? Ele sabe que também o Judiciário vai ter de lidar com algo que lhe era estranho: teto de gastos. Um ministro do Supremo tem a obrigação moral de falar para pacificar a nação e as contendas, não para exacerbá-las. Um ministro do Supremo não pode ter grupo.  Nem lado.
Que os senhores da AMB e os presentes se manifestassem nesses termos, vá lá. Que o homem que compõe a cúpula de um Poder, que ele próprio presidiu até outro dia, resolva discursar como sindicalista, bem, aí não dá.
Falta decoro.
Falta pudor.

Frases




Tarso Genro deixa Lula um pouco pior no retrato

Por: Augusto Nunes  

“Sobre as pessoas que cometeram ilegalidades em proveito do partido, o partido vai ter que dizer: essas pessoas cometeram caixa 2 para o PT, o PT é responsável por este erro. Agora, quanto às pessoas que cometeram ilegalidades em proveito próprio, o partido não é responsável. Estas têm que ser evidentemente apontadas”.
(Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul e um dos fundadores do PT, sem explicar se compra de triplex no Guarujá ou sítios em Atibaia são ilegalidades cometidas em nome do partido ou em proveito próprio)

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

" Observo com preocupação, desalento e pesar o rumo das invasões em curso no país..." / Percival Puggina

PRIMEIRAMENTE, FORA PT

por Percival Puggina. Artigo publicado em 
 O "Fora Seja Lá Quem For" é uma expressão de desejo que acompanha a vida do petismo quando não é ele que manda. O partido, que sempre quis derrubar os governos que o antecederam no poder, retoma, agora, suas velhas exortações golpistas. Por isso, até mesmo professores iniciam suas aulas com o ensaiado bordão "Primeiramente, Fora Temer". Não se aborreçam, portanto, com o título deste artigo. Não fui eu quem começou. A gente poderia atribuir a essas manifestações esquerdistas um sentido anedótico, supor que sejam mera expressão de sintonia com o diapasão do governo cassado. Sim, sim, a gente poderia. Não fosse o que vem junto.
  Observo com preocupação, desalento e pesar o rumo das invasões em curso no país. Poderia dizer - Danem-se! - a esses rapazes e moças. Danem-se com seus sofismas, sua retórica de enganar bobo, suas incongruências e inconsequências! Mas prefiro questioná-los. Onde estava essa indignação postiça quando o Brasil era roubado em centenas de bilhões? Onde se ocultava essa insofreável defesa da Educação enquanto o desempenho escolar os precipitava para os últimos degraus nos comparativos com seus colegas, mundo afora? Quem fez "Não!" com um dedinho sequer quando Dilma Rousseff, logo após reeleger-se presidente desta desacreditada República, cortou R$ 10 bilhões do orçamento da Educação? Quantos dentre vocês, alguma vez na vida, meteram o pé no barro ou na poeira das vielas pobres para estender a mão a algum dos miseráveis em nome de cujos interesses se atrevem a falar? Quem aí já participou de ações contra o uso de drogas ou tentou demover algum colega da dependência em que se arruína?
Vocês se agrupam e acantonam para defender uma organização criminosa que operava no coração do Estado em que são cidadãos! A elite política que vibra com essas invasões é a mesma que serve aos interesses de réus confessos, de ladrões que estão devolvendo, em espécie, o que roubaram do país. É a mesma elite acusada por megaempresários que desenham ante os olhos da justiça os escabrosos meandros da corrupção. É a mesma elite que se derrete em louvações e aplausos ouvindo uma aluna invasora em sessão de comissão do Senado Federal. E é a mesma que os ensinou a chamar fascistas a quem apontar o fascismo presente nessas agressões aos direitos alheios.
Nada lhes diz a voz das ruas? Não chega aos sentidos de vocês o grito das urnas? O povo brasileiro, o povo simples deste país, em incontrastável demonstração de vontade política destituiu o PT de sua ambicionada hegemonia. A exoneração do PT integra o mundo dos fatos. Não bastante isso, o mesmo povo concedeu uma enxurrada de votos aos partidos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff. Não há o que negar: a sociedade brasileira decidiu depositar nesse novo governo, suas esperanças em meio à terrível crise deste circo que vocês querem incendiar. Ele nem longe se assemelha ao que mais gostaríamos, mas é o governo constitucional possível.
________________________________
* Percival Puggina (71), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

Sobre o estado das arenas de futebol .../ Vlady Oliver


Vlady Oliver: I’m being a live

As pessoas pensam que uma guerra é um videogame, com um pouco

 mais de ação. A guerra é estúpida, meus caros

Por: Augusto Nunes  
Nunca tenho o costume de requentar textos velhos meus e quase nunca volto pra lê-los, mas este despertou minha atenção, depois que li que o Itaquerão pode deslizar como aquele monte de lama da barragem de Mariana. É de 2013, ainda antes da Copa. Eu já sabia. 
– O que mais me incomodava era o cheiro. O cheiro da morte. A morte tem um cheiro muito característico, sabia? – dizia o Mariner, relembrando a cena. ─ Cheguei a acordar várias vezes, com a respiração ofegante, sempre com aquele cheiro me envolvendo as narinas.
As pessoas pensam que uma guerra é um videogame, com um pouco mais de ação. Se acostumam a ver corpos dilacerados e sangue jorrando, mas não fazem ideia do asco e da perdição que tudo aquilo representa, quando está acontecendo bem ao seu lado. A guerra é estúpida, meus caros. Você recebe uma informação, pega uma arma, caminha numa direção mais ou menos definida, procura um alvo e tenta acertar, antes que ele te acerte. É matar ou morrer. É sonhar cada minuto com a volta pra casa e sair daquele horror, sem se dar conta de que muitos ali já não tem nem para quem voltar, quanto mais uma casa para viver.
E os sons? Os sons da batalha são aterradores. Começam com uma miríade de vozes confusas, gritos lancinantes, correrias e sirenes ao longe, antes dos fortes estampidos. Os ouvidos vão ficando anestesiados com o barulho ensurdecedor. É como se saíssemos do corpo para fugir e nos víssemos num espelho. É a alma que fala com você. Que pede clemência. Que não se importa mais com o traçar dos tiros.
Entramos no estádio bem no meio da tarde. As estruturas não suportaram o peso da vigarice, da empulhação, da corrupção, da falta de decência no trato com a vida humana. Superfaturadas e subdimensionadas, ruíram com todo mundo dentro. Tiros eram ouvidos por todo lado. Dizem que começaram de uma milícia cubana ali infiltrada, mas nos disseram que só tinham mandado médicos para cá. Assim mesmo as balas eram de verdade e matavam de verdade também. A modelo contratada para abrilhantar o evento foi a primeira a levar um balaço na nuca. Eles adoram um lindo crânio esfacelado para contar vantagem para o seu séquito de adoradores de uma besta. E por falar na besta, ninguém viu os cicerones da festa. Parece que conseguiram sair de fininho, em meio aos escombros.
A tevê local bem que tentou fazer algumas imagens da tragédia, mas foi impedida por milicianos armados e homens de burca que gritavam alguma coisa como “podres poderes”, como se cacarejassem. Os corpos jaziam amontoados, na entrada do Soccer Hall. Sei lá se é assim que se chama, pois só entendo de football, com dois oos. Tentavam reanimar um jogador famoso, pelo que eu entendi. Era brasileiro. Falei no passado porque no passado ele ficou. Já era. Seu corpo inerte não vai encantar mais ninguém nesta terra desolada. Quando tudo começou, na longínqua Venezuela, ninguém acreditava que aquilo chegaria à maior cidade do hemisfério sul.
Ninguém acreditava que o golpe era pra valer. Diziam que “o bicho ia pegar” – ” the animal will pick up” – mas eu não entendia o significado da frase até chegar aqui e constatar que a guerrilha já se disseminava por toda a cidade. Eles adoram queimar ônibus por aqui. Usam sua carcaçona para tudo; barricadas, abrigo para passar a noite, elementos de contenção e até para transportar gente, de vez em quando. Que nem gado. Nunca tinha visto um caminhão vestido de ônibus em meu país. Talvez por isso tenham começado os protestos pelo preço das passagens, queimando o impostor do transporte urbano. Isso não é um ônibus, é um escárnio com a população deste pobre rincão saqueado. Agora eu entendo tanto ódio acumulado para com os seus governantes. Todos são tratados como lixo por aqui. Aliás pior que lixo, que ao menos às vezes é reciclado.
Do estádio não sobrou quase nada; nem o hino nacional, que eles cortaram no meio. Quando todos gritavam o restante do canto em que irromperam os tiroteios e o ranger da estrutura ruindo. E foi assim que fomos chamados para iniciar uma guerra no próprio quintal americano. É uma pena que uma geografia tão pródiga tenha sido tão brutalmente atacada pela sanha de uma horda. Nem calor, nem frio. Só a morte. Vai ser bom para vocês pensarem o que vão querer da vida, daqui pra frente. Assim como no Iraque, fizemos nossa parte.
Cabe a vocês, que nunca se meteram em guerras, entender o que significa ser sempre subjugado por um bando de boçais, manejando o pão e o circo que um dia acaba em tragédias como esta. Encontrei um mindinho presidencial. Vou procurar um vidro de maionese e tentar liberar o amuleto como espólio de guerra. Se colar, fico rico. Em Las Vegas eles compram até os cílios que dizem terem pertencido a Marilyn Monroe, porque não? Valeu cara. Uma dia a gente se tromba por aí. Desculpe qualquer coisa; é assim que vocês falam por aqui? “Sorry; I’m being a live”. Só vocês mesmo.

Um alerta de Contardo Calligaris sobre segundo casamento / Folha de São Paulo

quinta-feira, novembro 03, 2016

Que tal cada um entrevistar os ex-parceiros do outro?  

CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 03/11
O filme de Tate Taylor, "A Garota no Trem", é adaptado de um bom romance de Paula Hawkins (Record). É difícil comentar a história sem estragar o prazer dos futuros espectadores. Então apenas apresentarei meus pensamentos na saída do cinema.

1) Poucas coisas são tão chatas quanto o casamento com um parceiro ou uma parceira alcoolistas.

É chato subjetivamente, por razões narcisistas. Quem não bebe é levado a acreditar em uma das duas: a) o outro bebe porque a convivência comigo deve ser insuportável; b) não sei por que o outro bebe, mas, para ele/ela, conviver comigo não é uma razão suficiente para ele/ela ficar sóbrio/a.

É chato objetivamente. Imagine o sexo com alguém que pode adormecer no meio de uma transa. E imagine as catástrofes sociais que a bebedeira do outro pode produzir quando você se aventura a compartilhar a vida social com ele/a.

A própria relação é chata, porque o alcoolista é facilmente ciumento e paranoico. O homem, em particular, está convencido de que ele está lutando contra a adversidade do mundo, enquanto sua companheira (que não bebe) estaria aproveitando a vida (eventualmente com amantes). Com isso, o alcoolista pode se tornar estupidamente violento.

Alguns se imaginam resolver o problema bebendo junto com seu parceiro ou com sua parceira, mas as relações de casais alcoolistas são tempestuosas: a bebedeira do casal nunca consegue ser "coordenada".

Em suma, alcoolismo não condiz com casamento: se beber, não case.

2) Na adolescência, voltando para casa nos fins de tarde de inverno, eu olhava para as janelas acesas, onde aconteciam vidas parecidas com a minha, mas que eu imaginava melhores, cheias de afetos ternos e alegres. Eu permanecia no frio da rua de propósito, para idealizar melhor o aconchego das outras famílias, as vidas supostamente mais plenas que a minha –e, claro, os amores que, atrás daquelas janelas, deviam ser perfeitos, absolutos.

Tive sorte: comecei a imaginar que toda paz aparente escondia um mistério. À luz de lustres e abajures, os outros pareciam felizes, mas, de fato, quais horrores se escondiam na obscuridade dos closets? Conselho: pratique essa pergunta sem moderação.

Idealizar o amor de outros casais não alimenta a esperança, mas o desespero.

3) Geralmente, separações acontecem por boas razões, mas, na hora, a gente se esquece disso.

Ou seja, sabemos que o que tinha a perder já foi perdido –ou talvez nunca tenha existido. Mas lamentamos as separações como se, nelas, sempre estivéssemos perdendo "algo". Qualquer separação produz o fantasma de uma perda.

Talvez a gente se sinta humilhado por ter fracassado na realização de um conto de fadas ou de um sonho de nossos pais: o fato é que, frequentemente, a separação é vivida como um dano irreparável, embora ela seja para ambos uma libertação.

4) Hoje é frequente que as pessoas se casem ou se juntem numerosas vezes ao longo da vida. Um novo casamento é quase sempre visto como a solução dos problemas amorosos anteriores, ou como a compensação dos defeitos do casal anterior. Isso lisonjeia os novos amores: ele ou ela nos "salvam", segundo o caso, da "bruxa" ou do "ogro".

De fato, os casamentos que se sucedem são menos diferentes do que parece –a gente muda pouco, e nossos casais também mudam pouco. Em vez de negar essa realidade (decretando a absoluta novidade de nossa escolha mais recente), seria mais sábio fazer um bom uso da série de nossas uniões e desuniões.

Afinal, quem conhece melhor nosso novo amor é seu parceiro ou sua parceira anterior. E ex-parceiros/as nos conhecem melhor do que nosso novo amor. Portanto, que tal cada um entrevistar os "ex" do outro? Seria um bom jeito de antecipar (quem sabe resolver) problemas antigos que se repetirão, mais cedo ou mais tarde, no novo casamento.

Essa prática tornaria as separações mais civilizadas, porque seria perigoso deixar uma lembrança sinistra em companheiras ou companheiros anteriores.

Sem esperar esse costume ser instituído, note-se que o fato de ter mantido boas relações com seus ou suas "ex" deveria ser considerado um ponto a favor de qualquer "candidato" prospectado.

Na hora de empregar alguém, a gente pede referências aos empregadores anteriores. Por que não fazer o mesmo na hora de casar?

O passeio da astronauta Kate Rubins pelo céu a bordo do Destiny

Esta nave nada formosa passeando no céu e acomodando cientistas que nem sabemos o que fazem por lá pode nos trazer novidades sobre o clima do planeta, de reações de temperaturas e nos desvendar um monte de dúvidas sobre tanta coisa que desconfiamos ...?  Seu passeio pode ser útil para a humanidade?
Bom, pelo menos, o sorriso de Kate Rubins demonstra que a nave tem charme para encantar seus ocupantes em meio ao caos de ferramentas, instrumentos, fios, aparelhos de precisão e outras peças que não identificamos... 
Mandamos um recado : ela pode continuar tranquila e sorridente; aqui embaixo ninguém está com inveja dela e de seus companheiros de voo

Kate Rubins

Kate Rubins

Kate Rubins

Kate Rubins

Kate Rubins

Kate Rubins

Kate Rubins

Kate Rubins