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sábado, 24 de março de 2018

Fortaleza, sem novidades no front / G1

Polícia esperava ataque a prédio da 

Sejus, diz secretário da Segurança do CE;

 três criminosos morreram

Homens passaram atirando e iam jogar uma granada no prédio da secretaria da Justiça na madrugada deste sábado (24); a polícia revidou e três bandidos morreram.

 
Marcas de bala em janelas da Sejus, em Fortaleza; homens atacaram o prédio na madrugada deste sábado (24). (Foto: Alana Araújo/TVM)Marcas de bala em janelas da Sejus, em Fortaleza; homens atacaram o prédio na madrugada deste sábado (24). (Foto: Alana Araújo/TVM)
Marcas de bala em janelas da Sejus, em Fortaleza; homens atacaram o prédio na madrugada deste sábado (24). (Foto: Alana Araújo/TVM)
Homens atiraram contra o prédio da Secretaria da Justiça na madrugada deste sábado (24), no Bairro Aldeota, em Fortaleza, e três deles morreram em confronto com a polícia. Um deles ia lançar uma granada contra o prédio, disse o secretário da Segurança do Ceará, André Costa.
Costa afirmou que sabia da ameaça e determinou que policiais ficassem de campana. "A Inteligência detectou a ameaça. Então logo que chegou ao meu conhecimento, determinei às equipes que fizessem uma campana ao redor, no entorno da secretaria. E a gente sempre espera que nada aconteça, mas já que os bandidos foram até lá, a polícia estava lá presente, eles efetuaram disparos, tentaram lançar uma granada no momento que os nossos policiais reagiram", disse.
Os criminosos passaram de carro atirando por volta de 1h30 da madrugada. Quando os homens começaram a atirar, a polícia interveio e, na troca de tiros, três bandidos foram atingidos e morreram no hospital, segundo a Secretaria da Justiça. Dois deles caíram na frente do prédio e o terceiro foi atingido perto de uma casa, a cerca de 100 metros do ataque. A Sejus não informou quantos homens estavam na ação.
Buraco de bala prédio da Secretaria de Justiça. (Foto: Alana Araújo/TVM)Buraco de bala prédio da Secretaria de Justiça. (Foto: Alana Araújo/TVM)
Buraco de bala prédio da Secretaria de Justiça. (Foto: Alana Araújo/TVM)
As marcas de bala estão nos muros, paredes externas e janelas. Uma das balas atravessou o muro. Na manhã deste sábado, muitas cápsulas estavam espalhadas no chão.

'Um filme de terror'

Moradores disseram que ouviram muitos disparos. "Estava dormindo na hora que aconteceu, acordei no terceiro tiro, minto, foram umas duas bombas para depois começar os tiros. Foi assim, um filme de terror", disse uma moradora. Uma das famílias da vizinhança foi para a cozinha da casa e se abaixou, relatou uma moradora. Uma outra pessoa disse ter ouvido mais de 60 tiros.
Carta deixada em agência atacada dos Correios faz ameaças caso sejam instalados bloqueadores de celular nos presídios (Foto: Reprodução)
Carta deixada em agência atacada dos Correios faz ameaças caso sejam instalados bloqueadores de celular nos presídios (Foto: Reprodução)

Correios

Na noite da quinta-feira (22), um grupo tentou invadir e incendiar o prédio dos Correios no Bairro Padre Andrade, em Fortaleza. Antes de fugir, o bando deixou bilhetes com mensagens contra a instalação de bloqueadores de sinal de celular em presídios. Eles tentaram violar o prédio e derramaram gasolina para incendiar a agência, mas não conseguiram.
O governador Camilo Santana defendeu que as operadoras instalem bloqueadores de sinal de celular nos presídios de todo o país. O pronunciamento ocorreu durante a abertura da 29ª legislatura da Assembleia Legislativa do Cear, em fevereiro.
No dia 7 do mesmo mês, o Senado aprovou o projeto de lei que torna obrigatória a instalação de bloqueadores de telefones celulares em presídios. O projeto está em análise na Câmara. Caso seja aprovado o texto final e sancionada a lei, as unidades têm até seis meses para instalar os equipamentos. No início de março, a Justiça determinou que o estado do Ceará instale os bloqueadores.
Cápsulas de balas ficaram espalhadas no chão. (Foto: Alana Araújo/TVM)Cápsulas de balas ficaram espalhadas no chão. (Foto: Alana Araújo/TVM)
Cápsulas de balas ficaram espalhadas no chão. (Foto: Alana Araújo/TVM)

Onda de violência no Ceará:

sexta-feira, 23 de março de 2018

"Que as mortes não nos separem " / Fernando Gabeira

Que as mortes não nos separem 

FERNANDO GABEIRA



ESTADÃO - 23/03
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Prevalecem discursos de ódio e a exploração política descarada do assassinato de Marielle


A morte de Marielle Franco e 60 mil mortes estúpidas registradas anualmente no Brasil deveriam unir-nos. Ou, pelo menos, nos aproximar. Mas não é isso que acontece no momento. Prevalecem discursos de ódio e a exploração política mais descarada.

Até autoridades engrossam o coro dos que tentam reescrever a história da vereadora, atribuindo-lhe um passado inexistente. O PT afirma que a morte de Marielle e a pena de Lula são faces de uma mesma moeda. Dilma a considera uma parte do golpe.

A sensação de emergência com que vejo o problema da segurança pública no Rio às vezes me faz sonhar romanticamente com uma solução parecida com a que demos ao surto de febre amarela. Havia um problema, definiu-se a saída – vacinação – e as pessoas foram aos postos saúde. Nas filas, ninguém gritando “fora Temer”.

Era um tipo de problema que precisava ser enfrentado, não importa quem estivesse lá em cima. Restou apenas uma pequena minoria contra vacinas que defendeu suas ideias na rede, democraticamente, sem agressividade.

É impossível transplantar esse comportamento para a segurança pública. As saídas são mais complexas. E há um pesado clima político-ideológico em torno delas.

No entanto, não creio que o Brasil se resuma ao debate ensandecido, com tanta gente zangada e os robôs incendiando a discussão. Existe um espaço racional de conversa, sobretudo para um tema tão atacado pela esquerda e pela própria Marielle: a intervenção federal na segurança do Rio.

O primeiro desafio é desvendar o crime. Houve um debate inicial sobre federalizar ou não as investigações. Temo que isso nos leve aos impasses de quando surgiu a dengue: estadual ou federal?

A hipótese indicada, creio, é reunir o que há de melhor tanto na polícia do Rio quanto nos quadros federais. Mesmo porque a polícia do Rio tem experiência no campo.

Todavia é razoável desconfiar da possibilidade de um trabalho isolado. Mas não deixa de ser uma contradição aparente: combater a intervenção federal e duvidar da capacidade da polícia. Os que o fazem desprezam a desconfiança que grande parte dos cariocas tem na capacidade da polícia de deter sozinha o avanço da ocupação armada.

Usei a expressão aparente contradição porque cabe argumentar que uma coisa é a investigação técnico-científica e outra, a crítica à presença do Exército nas favelas do Rio.

O argumento dos defensores dos pobres, às vezes sem consultar realmente os pobres, é de que a presença do Exército traz ameaças aos direitos humanos. Mas a presença de um Exército que cumpre as leis, que tem regras de engajamento transparentes, não pode ser comparada à presença de traficantes com fuzis ou milicianos armados.

Entre um Exército ostentando a bandeira do Brasil e outro exército, de boné e sandálias, mas com modernos fuzis, parece existir uma hesitação. Como explicar isso?

De um lado, a dificuldade de compreender que os anos passaram e o Exército Brasileiro está comprometido com a democracia. De outro está a romantização dos bandidos. Não me refiro apenas às conversas em torno do chope nos botequins da vida. Nem à simples interpretação vulgar do marxismo. Essa romantização está presente em textos de eruditos de esquerda, como o historiador Eric Hobsbawn. Ele via o banditismo como reação a certas condições sociais. Apesar de brilhante, interpretava o mundo apenas com os olhos do marxismo.

No cenário cultural brasileiro, discutiu-se muito a frase de Hélio Oiticica “seja marginal, seja herói”, como um exemplo disso. Nesse caso específico, entretanto, creio que Oiticica falava do criador e sua relação com o mercado de artes plásticas.

O argumento dos opositores da presença militar é o de que os favelados são incomodados pelo Exército. A verdade é que, às vezes, são estuprados por traficantes, achacados pelas milícias, que vendem de tudo, do gás ao acesso à televisão fechada. E não há espaço para a sociedade monitorá-los amplamente, como o faz com o Exercito.

Um dos argumentos do PSOL é que a intervenção não é necessária. Talvez ele se apoie nos índices de homicídios mais altos, como os do Ceará e de outros Estados do Nordeste, por exemplo. Mas não enfrenta a questão específica do Rio: a ocupação armada. Como resolvê-la?

A resposta, nesse caso, costuma estar na ponta da língua: educação, saúde, saneamento, cultura. Mas como chegar lá com isso tudo?

A presença dos militares em si também não resolve o problema de fundo. Mas abre caminho para que a polícia estadual se recupere e tente reduzir a mancha territorial ocupada.

Alguns traficantes toleram o trabalho político em suas áreas. No caso da Vila Cruzeiro, do Complexo do Alemão, liberavam algumas ruas para o corpo a corpo eleitoral. Mas isso são concessões, migalhas de liberdade, pois não só o governo, como todos os candidatos devem ter acesso irrestrito a todos os pontos da cidade.

Às vezes, alguns mais exaltados nos dão a impressão de que, se a favela de repente tivesse segurança e todos os serviços básicos assegurados, seu discurso cairia no vazio, não saberiam mais para onde apontar a luta. Quando Temer decretou a intervenção na segurança, Bolsonaro disse que estava roubando sua bandeira.

Todos sabemos que Temer não se preocupa senão com a própria sorte e a do seu bando, já dizimado pela Lava Jato. Se a intervenção conseguir equilibrar as forças no Rio e contribuir para o longo processo de libertação de parte do território, muitas bandeiras podem ser roubadas também.

Não há nada a temer. Outras virão. Uma delas, congelada há algum tempo, são os escritórios de arquitetura destinados a orientar construções e reformas. Beleza, funcionalidade e conforto, de alguma forma, podem ser acrescentados aos morros pacificados.