Governo procura hospital que jogou no lixo
31-05-2013
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É velho como a República, na paisagem brasileira, o hábito de tirar da vista investigações que destampam sorvedouros de dinheiro público. Anos de prática mostraram ser o melhor caminho para apagá-las da lembrança. Na área da Saúde, no Rio, esse mau costume encobre há 10 anos um hospital inteiro. O governo Lula o recebeu pronto para inaugurar, nunca lhe abriu as portas e hoje arrasta um monte de escombros.
Ia se chamar Instituto de Neurociência e custou R$ 10 milhões dos impostos dos trabalhadores. Para botá-lo de pé, compraram o equipamento mais moderno da época. Com ele, rechearam o prédio do antigo Instituto Brasileiro do Café, no bairro da Saúde, ao lado do hospital dos Servidores. Tinha até UTI infantil. O projeto era realizar 120 cirurgias cérebro por mês – quase 1.500 por ano – e acabar com a fila em um ano e meio.
Um mês antes de Lula sentar pela primeira vez na cadeira de presidente, o hospital recebeu fronhas e lençois, cheirando a novos, para os 160 leitos. Quase quatro vezes mais que os 44 do hospital do Cérebro que o governo do estado constrói hoje no antigo prédio do Into, na Lapa. Ali, obras que acumulam atraso de oito meses erguem duas unidades (a outra é o hospital do Olho) por R$ 40 milhões.
As maravilhas da medicina que se prometem, a partir da inauguração do hospital do Cérebro, são as mesmas que o governo federal negou ao carioca há uma década. Quando passou o cadeado na porta do Neurociência, o ministério da Saúde jogou no lixo uma montanha de dinheiro dos brasileiros e cassou de pelo menos 11.500 cariocas e fluminenses o direito ao que, ainda hoje, seria o melhor em neurocirurgia.
Discretamente, como convém aos envolvidos nas grandes patifarias, há pouco mais de três anos um inquérito examina as causas dessa aberração. Em busca da ordem suprema que mandou trancar e deixar apodrecer um hospital pronto para salvar vidas, já foram ouvidos funcionários do Servidores e diretores que por lá passaram na década perdida. Mas o Rio talvez não seja o lugar adequado para procurar. A resposta pode estar em Brasília.
É possível que fique tudo mais claro, quando a origem do hospital for localizada entre papeis assinados por José Serra, que desembarcou da cadeira de ministro da Saúde para disputar a presidência com Lula. O que aconteceu depois teria sido apenas o cumprimento de uma das mais enraizadas tradições da política brasileira que recomenda ao vencedor sepultar a obra do vencido. A população e o dinheiro público são só detalhe.
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