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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Na dúvida pergunte a quem tem experiência no assunto... / Ponte Aérea


E se perguntássemos a quem entende?

01-10-2013

Depois de tantos acidentes com o BRT e do rosário de sugestões para acabar com eles, a singela mensagem de um motorista desses ônibus revela o absurdo do qual nos tornamos cativos: adoramos ouvir um especialista, ainda que, na maior parte das vezes, não se tenha ideia de onde nasceu a intimidade do doutor com o tema. Não nos passa pela cabeça, porém, falar com quem tem a condução de um BRT como ofício.
Brotaram dessa contrição aos sábios propostas como gradear a avenida das Américas, cavar passagens de nível e reduzir a velocidade do BRT. Todas arquivadas, felizmente. Tivessem perguntado a Sérgio Pessoa, há oito meses motorista do sistema, ele teria dito que a simples instalação de temporizador junto aos sinais da via expressa seria uma mão na roda para evitar bom número desses acidentes.
Pergunta ele: “por que em vias urbanas onde o limite de velocidade é 40 quilômetro por hora todo cruzamento com pardal eletrônico tem temporizador ao lado do sinal, e numa via, como a avenida das Américas, onde a velocidade de um ônibus articulado (com 21 metros de comprimento, 200 passageiros e 20 toneladas) é 70 quilômetros por hora, os sinais saem do verde para o vermelho sem nenhum tipo de sincronia ou sequência?”.
Sobram para o motorista, informa Sergio, 4 segundos de sinal amarelo para reagir. Se estiver a menos de 100 metros do cruzamento, vai provocar uma freada brusca, grande desconforto aos passageiros e, até parar completamente, o BRT ainda vai avançar por largo trecho. “Já aconteceu comigo e metade do ônibus ficou sobre a faixa de pedestre”.
Outra causa de acidente, pela qual até agora os especialistas têm passado batido, mas Sérgio registra, é a falta de pardal para flagrar motoristas que fazem retorno irregular sobre a pista do BRT. Se tiver sorte e escapar da batida, o infrator sai do outro lado impune. O mesmo diz ele da descoberta recente de grupos de caloteiros. Esperam à certa distância a chegada do ônibus. “Quando ele encosta, correm por trás, sobem na plataforma e entram pela última porta”.

Tirando os tropeços – “que poderiam dar um livro” – Sergio acha o serviço um avanço no transporte urbano. Além da pista livre, o que encurta as viagens, elogia o conforto. Só não admite que os motoristas sejam transformados em vilões dos acidentes. “Investi na profissão com o único objetivo de trabalhar no BRT e gosto, apesar das circunstâncias”. Mas acredita que poderia ser ainda melhor se a prefeitura tivesse o cuidado de ouvir os que têm alguma noção do assunto. Não parece ser o caso de Crea-RJ e a tropa de engenheiros quem deitaram falação até agora. (publicado em Metro)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Exemplo da cultura política brasileira... blog Ponte Aérea - Xico Vargas

Governo procura hospital que jogou no lixo
31-05-2013
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É velho como a República, na paisagem brasileira, o hábito de tirar da vista investigações que destampam sorvedouros de dinheiro público. Anos de prática mostraram ser o melhor caminho para apagá-las da lembrança. Na área da Saúde, no Rio, esse mau costume encobre há 10 anos um hospital inteiro. O governo Lula o recebeu pronto para inaugurar, nunca lhe abriu as portas e hoje arrasta um monte de escombros.
Ia se chamar Instituto de Neurociência e custou R$ 10 milhões dos impostos dos trabalhadores. Para botá-lo de pé, compraram o equipamento mais moderno da época. Com ele, rechearam o prédio do antigo Instituto Brasileiro do Café, no bairro da Saúde, ao lado do hospital dos Servidores. Tinha até UTI infantil. O projeto era realizar 120 cirurgias cérebro por mês – quase 1.500 por ano – e acabar com a fila em um ano e meio.
Um mês antes de Lula sentar pela primeira vez na cadeira de presidente, o hospital recebeu fronhas e lençois, cheirando a novos, para os 160 leitos. Quase quatro vezes mais que os 44 do hospital do Cérebro que o governo do estado constrói hoje no antigo prédio do Into, na Lapa. Ali, obras que acumulam atraso de oito meses erguem duas unidades (a outra é o hospital do Olho) por R$ 40 milhões.
As maravilhas da medicina que se prometem, a partir da inauguração do hospital do Cérebro, são as mesmas que o governo federal negou ao carioca há uma década. Quando passou o cadeado na porta do Neurociência, o ministério da Saúde jogou no lixo uma montanha de dinheiro dos brasileiros e cassou de pelo menos 11.500 cariocas e fluminenses o direito ao que, ainda hoje, seria o melhor em neurocirurgia.
Discretamente, como convém aos envolvidos nas grandes patifarias, há pouco mais de três anos um inquérito examina as causas dessa aberração. Em busca da ordem suprema que mandou trancar e deixar apodrecer um hospital pronto para salvar vidas, já foram ouvidos funcionários do Servidores e diretores que por lá passaram na década perdida. Mas o Rio talvez não seja o lugar adequado para procurar. A resposta pode estar em Brasília.

É possível que fique tudo mais claro, quando a origem do hospital for localizada entre papeis assinados por José Serra, que desembarcou da cadeira de ministro da Saúde para disputar a presidência com Lula. O que aconteceu depois teria sido apenas o cumprimento de uma das mais enraizadas tradições da política brasileira que recomenda ao vencedor sepultar a obra do vencido. A população e o dinheiro público são só detalhe.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

A banalização do horror no Rio.... / Xico Vargas


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 A banalização do horror instalou-se no Rio


09-02-2012
Há pouco a cidade acordou com a notícia segundo a qual cinco jovens da nossa festejada classe média tinham espancado um mendigo que dormia numa rua da Ilha do Governador. O miserável estava sendo pisoteado, quando foi socorrido por uma testemunha. Um jovem, do extrato social dos agressores, interveio e foi igualmente agredido. Salvou-o o amigo que o acompanhava. Dois “valentes” foram presos, os outros esconderam-se, o mendigo fugiu e o rapaz que tentou ajudá-lo teve o rosto quebrado. Talvez fique com alguma deformidade.
Há cinco anos, um grupo da juventude emergente da Barra da Tijuca avistou Sirlei Silva num ponto de ônibus, às cinco da manhã. Eram cinco rapazes ao juízo dos quais não era hora de mulher decente andar na rua. Pararam o carro e encheram Sirlei de bordoadas. Presos, ofereceram justificativa singela: acharam que fosse uma prostituta. Sueli, uma doméstica, tinha conseguido que os patrões a liberassem. Ia pegar a filha doente, na favela onde morava, e padecer mais um pouco na fila de um hospital público.
Um ano depois, uma garota de 17 anos, pobre, negra e grávida foi incendiada e morta nos caixotes onde dormia, sob o viaduto dos Marinheiros. Nem um ano mais tarde, um mendigo que dormia no Centro do Rio foi queimado com álcool. Morreu embrulhado em seus trapos, ao lado de uma banca de jornais.
A indignação da opinião pública, exuberante quando Sueli apanhou, encolheu-se nas mortes da grávida e do miserável calcinado. A doméstica tinha patrões influentes, classe média alta da Barra, gente que faz barulho. A negra foi morta por um bandido ao qual a polícia não deu caça. Do mendigo sequer se soube quantos eram os incendiários. Morreram como vítimas da falta de sorte.
Pode ser difícil de entender, mas algo sugere que nem a barbárie nos choca mais. Ao contrário, a repetição nos apascenta os sentimentos, como se só nos movesse desgraça inédita. Não houvesse um jovem estudante ferido no espancamento na Ilha, talvez tivéssemos apenas a alegação de um dos agressores a um policial: só estava tentando tirar o mendigo, que cheirava mal, do caminho onde seu pai se exercita nas manhãs. Como se faz com o lixo.(publicado em Metro-RJ)