TV Memória
São R$ 250 milhões jogados fora por ano, porque a média de audiência é zero. Não é nem 0,5%, é zero mesmo
Nelson Motta, O Globo
A ambição inicial de Lula e Franklin Martins ao criar a TV Brasil era uma emissora pública que pudesse ser uma alternativa à “mídia monopolizada” (para eles, as grandes redes e emissoras independentes de televisão que competem ferozmente entre si por audiência e patrocinadores).
Para tanto, seria como uma BBC inglesa, uma TVE espanhola, que vendem produções para o mundo inteiro e têm grande audiência e credibilidade em seus países. Dinheiro seria fácil, difícil era encontrar ideias e talentos, profissionais competentes e criativos, que já estavam empregados nas TVs privadas, restando contratar o que sobrou no mercado e companheiros de partido.
Deu no que deu. O filósofo Herbert Marcuse, ídolo das jovens gerações esquerdistas dos anos 60, decretava que na era das comunicações de massa “o meio é a mensagem”. No caso da TV Brasil, o sinal trêmulo e a imagem borrada são o meio mais coerente com o conteúdo da programação, que pretendia dar uma visão alternativa e plural do Brasil, mas se tornou apenas uma televisão chapa-branca — a menos vista entre todas as emissoras brasileiras.
Salva-se só o ótimo “Sem Censura”, que tinha mais audiência quando era da TVE. Sim, todo país precisa de uma boa TV pública, independente, com diversidade e credibilidade. Não sou contra a TV Brasil, mas, como foi planejada e administrada, tentando competir com emissoras privadas com telejornais toscos e telenovelas angolanas, não..
São R$ 250 milhões jogados fora por ano, porque a média de audiência é zero. Não é nem 0,5%, é zero mesmo. Qual o sentido de falar para ninguém? A TV Brasil poderia seguir a estratégia vitoriosa do canal Viva, que conquistou grandes audiências exibindo programas dos arquivos da TV Globo.
Um bom rumo para uma TV pública de um país desmemoriado seria se tornar uma espécie de preservadora e difusora da memória nacional (a RAI e a RTP portuguesa têm canais “Memória”) exibindo programas e documentários da rede de emissoras estatais que se espalham pelo Brasil. Só os arquivos de programas musicais da TVE do Rio de Janeiro têm milhares de horas de arte e cultura, a custo zero.
Franklin Martins e Luiz Inácio Lula da Silva no lançamento da TV Brasil Internacional, 24/05/2010 (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom / ABr)
Nelson Motta é jornalista
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