O público foi informado há pouco que o cidadão italiano Cesare Battisti foi preso por tentar atravessar a fronteira terrestre entre o Brasil e a Bolívia, em Corumbá, no Mato Grosso do Sul, levando consigo 6.000 dólares e 1.300 euros não declarados às autoridades. É ilegal. Chamam a isso de evasão de divisas, crime previsto no Código Penal Brasileiro. Está rigorosamente proibido pelos nossos superiores das repartições alfandegárias, policiais, fiscais, fazendárias e outras ainda mais alarmantes. Mas vamos com calma. Ninguém vai morrer por causa disso; são coisas que acontecem na rotina agitada das nossas fronteiras, por onde passam todos os dias, e pelos dois lados, coisas muitos piores que aquele dinheirinho – carros roubados, toneladas de cocaína vendidas pelo companheiro Evo Morales, fuzis de combate e mais ou menos tudo que se possa imaginar de ilegal. (De mais a mais, o que são esses 6 mil dólares e uns quebrados no país dos 51 milhões dos Geddels, das sondas marítimas para a Petrobras ou das “Operações Estruturadas” da Odebrecht?) O que há de esquisito nessa história banal é que ela não tem nada de banal, quando se presta 30 segundos de atenção na “narrativa”, como se diz hoje.
Para começo de conversa, o cidadão detido foi descrito universalmente como um “ativista”. Que raio seria isso – um “ativista”? Um sujeito muito ativo, que não para quieto? Que está em movimento perene, como no moto-contínuo, ou vive correndo de um lado para outro? Seria o contrário, talvez, de um “passivista”? Faça a sua escolha. O certo é que Cesare Battisti não é ativista coisa nenhuma – é um quádruplo homicida, condenado à prisão perpétua pela Justiça da Itália num processo juridicamente impecável, por assassinar friamente quatro pessoas em seu país, durante os anos 70. Após sua condenação, escapou do presídio e fugiu para o Brasil, onde está desde 2007 – e onde desfruta, desde 2010, os privilégios de “asilado político”. Mas como ele é um homem de esquerda – praticou seus homicídios na condição de matador do grupo “Proletários Armados Pelo Comunismo” – foi ressocializado e promovido à ocupação de “ativista”, ou às vezes de “militante”. Em alguns casos, talvez por vergonha de descreverem o cidadão com palavras flagrantemente falsas, é chamado de “italiano” – o que o homem não deixa de ser, claro, mas continua servindo como uma maneira de esconder o que ele realmente fez.
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