O assassinato de um país
A ultima novidade sobre a Grécia é que a troika externa que assumiu o controle das finanças do país pretende obrigar a população a trabalhar um dia a mais na semana – sem aumento de salário, é claro.
É um retrocesso histórico.
Depois de eliminar os empregos, derrubar o consumo, arrasar as aposentadorias, esvaziar as residências – o número de sem-teto em Atenas cresceu 25% durante a crise – agora os credores pretendem roubar um dia de descanso da população.
É indecente.
Pois é este o destino que a União Europeia reserva a população de um país a quem se prometeu crédito farto e até subsídios vantajosos na hora em que se queria abrir o mercado grego para as empresas dos países ricos do Velho Continente.
Quando o cassino financeiro da União Européia cobrou a conta, os credores fecharam suas torneiras e encontraram políticos dóceis, dispostos a sufocar seu próprio país em nome da estabilidade econômica e do respeito aos mercados.
De lá para cá, o que se viu foram dores e sacrifícios sem utilidade.
O país está em recessão há cinco anos, em patamares cada vez mais deprimentes. A queda foi de 6,9% negativos em 2011. (Não fazemos ideia do que é isso. A recessão de 1981, a pior do Brasil, em tempos recentes, foi de 6% negativos).
Pois em 2012, a Grécia avança para uma recessão ainda pior, de 7,5%. O custo de vida, que deveria crescer 1,2% por falta de demanda, voltou a subir e deve chegar a 2,5%. Acabo de ler que o desemprego chegou a 40%. Não consigo imaginar como é viver num país onde 4 pessoas em 10 estão sem desempregadas. É pesadelo de filmes futuristas, como Blade Runner…
Mas sempre se pode imaginar que a Grécia estava a caminho de uma tragédia nacional quando decidiu submeter seu destino aos interesses dos mercados externos, colocando o pagamento dos credores – daí o apego ao euro – acima dos interesses da população. O resultado é essa crueldade. Alguém acha que poderia ser diferente?
O grave é que a maioria dos governos europeus pretende submeter os povos mais frágeis a um regime de sacrifício maior, capaz de extrair o que parece ser a última gota. Depois da Grécia, a Espanha, Portugal e a Italia encontram-se no mesmo caminho. A França de François Hollande, recém-eleito pelo Partido Socialista, deve fechar -0,1% no próximo trimestre.
Apesar do tom de perplexidade de muitos observadores e comentaristas, convém reparar que nem todos perdem tudo nesta situação. O rebaixamento dos salários, a insegurança no emprego, o fim de garantias históricas representam uma tragédia sem fim para milhares de famílias e as gerações futuras. Mas também abre oportunidades de negócio animadoras para quem aposta no rebaixamento da humanidade. O nome do processo é “Destruição Criadora” e é ensinado em várias escolas de economia. Não vamos nos enganar. É esta a aposta que aprofunda crise européia e promove, em público, o assassinato do país mais fraco.