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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

"Meu cão é um cínico"! / Sérgio Rodrigues

Blogs e Colunistas
06/01/2014
 às 16:01 \ Consultório

O que o cinismo tem a ver com os cães?

mutley
“Outro dia uma amiga me disse que a palavra cinismo tem a ver com cachorro. É verdade isso? Não conheço ninguém menos cínico do que o meu amado cãozinho.” (Adelaide Veiga)
Sim, Adelaide, é verdade. A palavra cinismo nos chegou, por meio do latim, do grego kynismós, nome de uma escola filosófica, termo que por sua vez era derivado dekynós, “cão” – a mesma matriz que nos legou o vocábulo cinofilia (“amor aos cães”).
Mas o que tais filósofos tinham a ver com os cachorros? O Houaiss oferece a seguinte explicação no verbete cinismo: “doutrina filosófica grega fundada por Antístenes de Atenas (444-365 a.C.), que prescrevia a felicidade de uma vida simples e natural através de um completo desprezo por comodidades, riquezas, apegos, convenções sociais e pudores, utilizando de forma polêmica a vida canina como modelo ideal e exemplo prático destas virtudes”.
A extensão da identificação dos filósofos cínicos com a vida canina comporta alguma controvérsia, mas é certo que eles adotaram tal animal como seu símbolo. O etimologista brasileiro Antenor Nascentes cita a teoria alternativa de que o nome da escola teria a ver com a localidade de Cinosargos, “arrabalde de Atenas onde lecionava o fundador da escola, Antístenes, discípulo de Sócrates”.
Seja como for, a antiguidade dessa associação zoofilosófica é indiscutível. Nascentes acrescenta às suas considerações uma saborosa anedota que envolve o filósofo Diógenes de Sinope, famoso cínico da geração imediatamente posterior à de Antístenes:
Perguntando alguém um dia a Diógenes por que tomara este nome de cínico, ele respondeu: “Adulo os que dão, ladro para os que não dão e mordo os maus”.
*
Envie sua dúvida sobre palavra, expressão, dito popular, gramática etc. Às segundas e quintas-feiras o colunista responde ao leitor na seção Consultório. E-mail:sobrepalavras@todoprosa.com.br

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Esqueça o que você sabe... Pode estar tudo errado!

27/08/2013
 às 14:15 \ Curiosidades etimológicas

Álibi, um advérbio que subiu na vida

O substantivo masculino álibi – que nasceu no vocabulário legal, mas não demorou a transbordar para a linguagem comum – guarda uma curiosidade: a palavra latina alibi, que está na sua origem, era um advérbio e não um substantivo.
Como se sabe, a principal acepção de álibi é “defesa que o réu apresenta quando pretende provar que não poderia ter cometido o crime por, por exemplo, encontrar-se em local diverso daquele em que o crime de que o acusam foi praticado” (Houaiss). Por extensão de sentido, segundo o mesmo dicionário, surgiu mais tarde a acepção informal de “justificação ou escusa aceitável”.
Em latim, além de ser um advérbio, a palavra não tinha aplicação legal. Formada pela junção dealius (“outro”) e ibi (“ali, em tal lugar”), queria dizer apenas isso, “em outro lugar”, sentido para o qual o português tem uma palavrinha tão charmosa quanto desusada: “alhures”.
Sua substantivação não se deu em latim, mas se relaciona ao fato de o direito romano ter fornecido a base – e a língua – dos sistemas legais do Ocidente. O mais antigo registro de alibicom seu sentido moderno aparece num texto francês de 1394, segundo o Trésor de la Langue Française.
Como a palavra só penetrou na língua inglesa com tal papel no último quarto do século XVIII, de acordo com a datação do Webster’s, é legítimo supor que o francês foi seu irradiador. Em português a demora foi ainda maior: álibi ganhou seu primeiro registro oficial em 1858 no clássico dicionário de Antonio de Morais Silva.