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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Carinho de filho... / Ivan Martins /


Amor de pai

A paternidade nos aproxima de um sentimento suave e agridoce de perdão por nossos pais, que agora somos nós

IVAN MARTINS
24/09/2014 10h00

Meu pai morreu quando eu era criança, há mais de 40 anos. Como muitos homens de seu tempo, e muitos dos tempos atuais, foi ausente e autocentrado. Ao final, destrutivo. Não fez por merecer a homenagem de uma memória duradoura. Ainda assim, a tem. Segue vivo nas minhas lembranças, nos meus traços e no meu temperamento. Também se prolonga, de forma mais amena, no sorriso dos meus filhos, homens bonitos como ele. Esse pai cada vez mais distante é uma presença tão intensa - e tão costumeira - que me pergunto se um dia desaparecerá. Ou se, do contrário, se tornará cada vez mais pungente, como o fantasma do pai de Hamlet, à medida que eu me torne mais velho. 

A pergunta é retórica. Sei a resposta.


Durante um tempo, achei que a relação complicada com a figura paterna fosse uma experiência apenas minha. Aos poucos, percebi que não. Boa parte dos homens carregam pela vida emoções semelhantes, embora sejam filhos de pais diferentes do meu. O filósofo francês Jean-Paul Sartre, cujo pai morreu quando ele era bebê, dizia ter sido privilegiado pela ausência de uma figura paterna capaz de moldá-lo ou influenciá-lo. Ele julgava ser mais livre que o resto dos homens. Li essa afirmação muito jovem. Achei que fazia sentido. Hoje acho bobagem. Não há pai mais influente que o pai que não existe. Ele deixa tamanho vazio, provoca tantas interrogações, que seu filho pode gastar a vida tentando entender-se. A figura paterna é uma referência monumental. Tão grande que, se não existir, terá de ser criada.

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O cinema, arte popular que se alimenta dos sentimentos bons e maus das multidões, ilustra isso esplendidamente. Em filmes como Juventude transviada, de 1955, Guerra nas estrelas, de 1977, e o Campeão, de 1979, todos de enorme sucesso, as relações entre pai e filhos estão no centro da trama. É assim também com super-heróis do cinema recente: Batman, Super-Homem, Homem Aranha, Thor. Todos querem provar, dizer ou perguntar algo ao próprio pai. Ou à lembrança dele. Parece ser uma necessidade – ou uma lacuna – universal.
O jeito mais simples e mais bonito de lidar com a herança emocional do pai é ter um filho. No momento em que você ouve as palavras “é menino”, cria-se uma ponte instantânea entre o pai que você teve e o pai que você acaba de se tornar – assim como entre o filho que você foi e o filho que recém-nasceu. É uma espécie de reencontro. Materializa-se, concretamente, a possibilidade de fazer tudo de novo, fazer tudo direito, corrigir os erros. Resolver, no tumulto real da vida, em oposição ao mundo intangível das lembranças e sentimentos, as dificuldades das relações entre pais e filhos. Tem sido assim comigo e com muitos homens que conheço.
Outro dia, um amigo me mostrou algo que ele e seu filho pequeno têm feito juntos. É uma lista de coisas em que os dois acreditam. Começa com a importância de aventurar-se e de experimentar coisas novas. Termina, provisoriamente, com o dever de ser solidário e de ajudar a quem necessita. No meio, há coisas como “aprender a perder” e uma pergunta: o que é mais importante, estar certo ou ser feliz? A resposta de pai e filho é “ser feliz”.

A primeira coisa que me veio ao ler o decálogo do amigo com seu filho foi inveja. Por que não tive uma ideia linda dessas quando meus filhos eram pequenos? Passado esse momento mesquinho, fui tomado pela admiração. Num mundo repleto de valores contraditórios, ou tomado pela falta absoluta de valores, meu amigo tenta criar, num gesto de amor, uma espécie de camada protetora em torno do filho. Esses princípios simples, descobertos e partilhados entre eles, podem orientar o pequeno na ausência do pai, quando ele tiver de fazer suas próprias escolhas. Mais que qualquer objeto, mais que a fortuna, o decálogo é um presente para a vida - mesmo do meu amigo.

No passado, quando os filhos cresciam na mesma casa com pai e mãe, os sentimentos no interior da família não eram simples. Todos sabemos disso. Agora que o conceito de família se ampliou, para envolver novos adultos e novas crianças, as coisas se tornaram ainda mais complicadas. Mas não piores. Pais separados têm a oportunidade de desenvolver com seus filhos uma relação mais intensa e mais íntima do que antes. A responsabilidade de olhar, cuidar e compartilhar não se dilui “na família”, como os pratos sujos sobre a pia ou o lixo acumulado na varanda. Ela é pessoal, intransferível. Ao pai, cabe estabelecer uma relação intensa e singular com seus filhos, sem a intermediação do amor e dos cuidados maternos. Tendo vivido isso, e vendo outros homens viver, concluo que é uma das experiências mais bonitas que se podem ter.

O passado não vai embora. As coisas perdidas nunca serão inteiramente recuperadas. A vida nos oferece, apesar disso, oportunidades de refazer de outra forma, numa outra esfera. A paternidade é uma delas. Nos permite ser homens melhores e criar homens melhores. Nos permite ser crianças novamente. Nos permite esboçar alguma compreensão e nos aproximar – apenas nos aproximar, mas já é algo – de um sentimento suave e agridoce de perdão por nossos pais, que agora somos nós.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

A Utopia ao alcance do Canada... Sistema Único de Saúde oferece tratamento igual para ricos e pobres

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/09/140922_medico_salasocial_eleicoes2014_canada_ac_cq


'Pobres e ricos têm tratamento idêntico em sistema 


único no Canadá', diz médico brasileiro

  • Há 8 horas
Thinkstock
Para brasileiro, classes sociais dividem vantagens e desvantagens de sistema de saúde no Canadá.
Com passagem pelo SUS (Sistema Único de Saúde) no Paraná e há mais de 10 anos atuando no Canadá, o médico brasileiro Fabio Cury acumula experiência nos dois sistemas públicos de saúde e acredita que o Brasil poderia aproveitar alguns aspectos do modelo canadense.
Para Cury, que é especializado em rádio-oncologia - o tratamento do câncer com radiações ionizantes (também conhecido como radioterapia) - uma das grandes diferenças entre os dois países é a presença, no Brasil, de dois sistemas de saúde, um público e outro privado, diferentemente do que acontece no Canadá.
“A vantagem de ter um sistema único realmente único (como acontece no Canadá) e não ter um sistema paralelo, como o sistema privado ou o plano de saúde, é que todo mundo tem que ser tratado, e bem tratado, sob aquele sistema (público)”, disse Cury à BBC Brasil.
“(No Canadá) Toda a população tem acesso aos mesmos tratamentos, aos mesmos médicos, independentemente da sua classe social. É diferente do Brasil, onde uma pessoa com mais recursos será tratada em um hospital particular, e outra, com menos recursos, às vezes não será sequer tratada, ou será tratada em um hospital com menos tecnologia”, diz.

Sistema público

Cury explica que todos os canadenses, independentemente da situação financeira, usam o sistema público para serviços médicos e atendimento hospitalar. O gasto com saúde já está incluído no Imposto de Renda, de acordo com os rendimentos de cada um. Na hora de receber o atendimento, geralmente não é preciso desembolsar nada.
Mesmo no caso de uma clínica de propriedade privada, o pagamento pelo tratamento será feito pelo governo, dentro do sistema público de saúde, e não pelo paciente. O sistema privado pode ser usado apenas para alguns serviços, como testes e diagnósticos, algumas cirurgias estéticas ou tratamento odontológico.
Cury faz uma comparação com a situação no Brasil, onde, dependendo dos recursos financeiros, os pacientes vão optar pelo SUS, por planos de saúde ou por pagar pelo tratamento integralmente.
“No tratamento do câncer, por exemplo, há drogas que o SUS não cobre, e o convênio cobre. Ou só tem acesso se pagar. Então essa pessoa (com mais recursos financeiros) vai receber um tratamento diferenciado do que aquele que está lá pelo SUS (no Brasil)”, afirma.

Transição

Para Cury, uma possível maneira de elevar a qualidade do sistema público de saúde no Brasil seria melhorar salários e equipamentos, até que houvesse uma transição natural dos pacientes do sistema privado para o público.
“Quando (o tratamento pelo SUS) chegasse no mesmo nível dos grandes hospitais, talvez o paciente particular olhasse com outros olhos, visse que poderia fazer o tratamento de graça e com a mesma qualidade e no mesmo tempo”, destaca.
O brasileiro ressalta que os hospitais públicos no Canadá, ao contrário de muitos no Brasil, são equipados com tecnologia de ponta, acessível a todos os pacientes, ricos ou pobres.
“O investimento em tecnologia poderia fazer o sistema público do Brasil se tornar algo mais próximo do que o que existe aqui fora. Porque os profissionais do Brasil são bem treinados, de maneira geral”, afirma o brasileiro, que integra a equipe do Montreal General Hospital, parte do McGill University Health Center (Centro Universitário de Saúde McGill) em Montreal, na Província do Québec.

Espera

No sistema canadense, todos compartilham dos mesmos benefícios e eventuais desvantagens.
“Aqui toda a população tem acesso a tecnologia de ponta, tratamento de ponta, com as devidas restrições”, resume Cury.
Uma reclamação comum no Canadá é em relação ao tempo de espera para determinados tratamentos, considerado longo – mas, de acordo com Cury, ainda menor que a média no Brasil.
Naquele país, um órgão do governo é responsável por vistoriar e ter certeza de que os prazos são cumpridos.
Hospital em Montreal, Canadá (Thinkstock)
Pacientes têm acesso a tecnologia de ponta, mas muitos reclamam de espera na saúde pública canadense
“Aqui tem fila, mas ninguém morre na fila”, afirma Cury, ao observar que o tempo de espera costuma ser menor que o registrado no SUS, mas maior do que no sistema privado do Brasil ou de outros países.
Ao contrário do que ocorre no Brasil, no Canadá o paciente não tem a opção de pagar mais para ser atendido mais rápido.
Cury observa que há casos de pacientes com mais recursos que acabam, por exemplo, viajando aos Estados Unidos em busca de uma consulta de segunda opinião ou de tratamento mais rápido.
Mas de modo geral, em caso de descontentamento com algum serviço, a reação da população costuma ser reclamar e exigir seus direitos ao tratamento de saúde de ponta.

Ensino e pesquisa

Para o rádio-oncologista, o maior estímulo ao ensino e à pesquisa também são aspectos do modelo canadense que poderiam ser adotados no Brasil.
Outro fator que, na visão de Cury, poderia ser melhorado no Brasil seria a criação de condições para que os profissionais de saúde se dediquem exclusivamente a um determinado local, sem precisar recorrer a dois ou mais empregos para pagar as contas.
“Infelizmente, vejo colegas no Brasil trabalhando em dois ou três lugares. Aqui, a maioria trabalha em um único hospital. É onde você vai ver seus pacientes, vai fazer sua pesquisa e vai lidar com a sua parte de ensino”, afirma.
“A ideia de se ter plano de carreira para um médico, tanto dentro da universidade quanto alguma coisa guiada pelo governo, com salários melhores, com plano de aposentadoria e tudo mais, seria um grande atrativo para o médico brasileiro.”
Formado pela Universidade Federal do Paraná, Cury, de 40 anos, chegou ao Canadá em 2003, após concluir residência no Brasil. Logo depois, surgiu o convite para permanecer no país.
Assim como todos os médicos formados fora do Canadá, ele teve de revalidar seu diploma e fazer diversas provas, inclusive de língua francesa (falada no Québec), para ganhar a permissão para atuar.
O fato de muitos médicos estrangeiros atuarem no Canadá facilitou a adaptação, diz Cury. “Nunca senti preconceito em relação a ser de fora ou em relação a ser brasileiro”, afirma.
“Acho que o aspecto humano do médico brasileiro é uma coisa que chama a atenção de qualquer população. Quando o brasileiro vem para cá, faz sucesso entre os pacientes. Essa forma carinhosa que o brasileiro tem é um ponto positivo.”

Recrutamento de estrangeiros

Arquivo Pessoal
Para Cury, plano de carreira e melhores salários são fundamentais para melhorar saúde no Brasil.
A demanda por médicos levou o Ministério da Saúde e Serviços Sociais do Québec a criar há mais de dez anos um programa de recrutamento, o Recrutement Santé Québec, para atrair profissionais formados em outros países.
Esses médicos precisam ser aprovados pela ordem profissional de médicos, o Collège des Médicins du Québec, equivalente a um CRM (Conselho Regional de Medicina) no Brasil.
As regras do programa incluem ainda a aprovação em testes e cursos de treinamento, e o recrutamento não vale para áreas universitárias, como Montreal, mas somente para áreas onde há muita demanda.
Segundo a assessoria de imprensa do projeto, desde seu início, em 2003, o programa já recebeu 62 inscrições do Brasil. Desses candidatos, 12 obtiveram licença para atuar no Québec, sendo três recrutados como professores. Atualmente, nove deles permanecem no programa.

Papa Francisco ordena a prisão de Jozef Wesolowki, ex-arcebispo e ex-embaixador da Santa Sé por pedofilia



Papa ordena 1ª prisão dentro do Vaticano 

de acusado de pedofilia

  • Há 35 minutos
Crédito: AP
Josef Wesolowki é acusado de abusar sexualmente de crianças na República Dominicana
O papa Francisco ordenou pessoalmente nesta terça-feira a detenção de um ex-arcebispo e ex-embaixador da Santa Sé acusado de pedofilia, no primeiro caso de prisão no Vaticano de alguém suspeito de cometer esse crime.
O polonês Jozef Wesolowski, de 66 anos, foi representante diplomático da Igreja Católica (núncio) na República Dominicana de 2008 a 2013.
Ele havia sido chamado de volta ao Vaticano no ano passado, após terem surgido acusações na mídia do país caribenho de que ele teria cometido abuso sexual de crianças.
Em junho deste ano, Wesolowski foi destituído do cargo de arcebispo por um tribunal do Vaticano. Desde então, ele vivia dentro de um convento na cidade-estado.
Segundo um porta-voz da Santa Sé, Wesolowski está sendo mantido em prisão domiciliar no mesmo local devido à fragilidade de sua saúde.

Fato inédito

É a primeira vez que um prelado do alto escalão da Igreja Católica é preso dentro do Vaticano.
Em Roma, ele aguardava o julgamento de sua solicitação de imunidade diplomática por parte da Justiça dominicana e da Polônia, onde nasceu.
O arcebispo deve ir a julgamento no fim deste ano também em um tribunal do próprio Vaticano.
De acordo com o porta-voz papal, o padre italiano Federico Lombardi, o papa Francisco ordenou pessoalmente a prisão do prelado para que as acusações graves possam ser examinadas sem atraso.
Desde que foi escolhido para chefiar a Santa Sé, no ano passado, o pontífice argentino vem tentando estabelecer como uma das marcas de sua administração o combate às denúncias de pedofilia dentro da Igreja Católica.

Imagina... uma cidade como a de Campos tendo que retirar todos seus habitantes por causa da violência de extremistas religiosos. 400 mil pessoas vão morar em outro lugar


ONU se prepara para êxodo de 400 mil de 

cidade curda da Síria

terça-feira, 23 de setembro de 2014 11:39 BRT
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GENEBRA (Reuters) - A agência de refugiados da ONU, o Acnur, disse nesta terça-feira estar fazendo planos de contingência diante da possibilidade de que todos os 400 mil habitantes da cidade curda síria de Kobani fujam para a Turquia para escapar do avanço de militantes do Estado Islâmico.
Cerca de 138 mil refugiados curdos sírios entraram na Turquia em um êxodo que começou na semana passada, e dois pontos de cruzamento de fronteira permanecem abertos, disse o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados.
“Estamos nos preparando para o caso de toda a população fujir para a Turquia. A população de Kobani é de 400 mil pessoas”, disse a principal porta-voz do Acnur, Melissa Fleming, em uma coletiva de imprensa em Genebra. “Nós não sabemos, mas estamos nos preparando para essa contingência."
Curdos sírios lutam para defender uma importante cidade fronteiriça frente ao avanço do Estado Islâmico na segunda-feira, e jovens curdos da Turquia correram para ajudá-los.
“Nossa principal preocupação seria se a própria Kobani fosse tomada”, disse na coletiva Rupert Colville, porta-voz de direitos humanos da ONU.
Pelo menos 105 vilas ao redor de Kobani foram capturadas por forças do Estado Islâmico desde 15 de setembro, incluindo pelo menos 85 no fim de semana, disse ele. O escritório de direitos humanos da ONU recebeu relatos de que outras 100 vilas haviam sido abandonadas ou esvaziadas por causa do medo de invasão, acrescentou.
A região de Kobani também abriga entre 200 mil e 400 mil sírios deslocados de outras partes do país, incluindo Raqqa, Aleppo e Homs, disse Colville.
Fleming pediu pelo o do governo da Turquia e de outros países vizinhos para abrigarem mais de 3 milhões de refugiados sírios: “Os 138 mil que acabaram de chegar na Turquia representam o número que toda a Europa recebeu em três anos de guerra na Síria."
(Por Stephanie Nebehay)

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pessimildo x Otimildo: por que o governo dá boas razões para temer o pior - Brasil - Notícia - VEJA.com

Pessimildo x Otimildo: por que o governo dá boas razões para temer o pior - Brasil - Notícia - VEJA.com

Campanha

Pessimildo x Otimildo: por que o governo dá boas razões para temer o pior

Na tentativa de neutralizar os críticos, campanha petista lança cruzada pelo pensamento positivo. Em entrevista ao site de VEJA, o filósofo inglês Roger Scruton, autor de "As Vantagens do Pessimismo", analisa os riscos do "otimismo inescrupuloso"

Daniel Jelin
Pessimildo, o ranheta da propaganda petista
Pessimildo, o ranheta da propaganda petista (Reprodução/VEJA)
Um ranheta contumaz que torce para que o Brasil dê errado. É essa a imagem que a candidata Dilma Rousseff tem de seus críticos, a julgar pela cruzada contra o pensamento negativo que o PT levou ao horário eleitoral essa semana. A campanha é estrelada por um boneco batizado Pessimildo, de sobrancelhas grossas, olhos cansados e queixo protuberante — parece uma mistura do Seu Saraiva, o personagem de Francisco Milani no Zorra Total; com Statler, o crítico rabugento dos Muppets; Carl, o viúvo solitário de Up - Altas Aventuras; e Gru, o vilão de Meu Malvado Favorito. No vídeo levado ao ar, Pessimildo passa a noite em claro "para ver o pior acontecer" e se diverte com a perspectiva de que o desemprego cresça no Brasil — o que, hoje, é bem mais do que uma perspectiva. Um narrador de tom jovial faz pouco caso do fantoche: "Vai dormir, vai'.
Pessimildo é uma caricatura, mas bastante reveladora das obsessões da campanha petista. Desde o início da corrida eleitoral, a presidente Dilma Rousseff tem atacado os "nossos pessimistas", que "desistem antes de começar". Para ela, como para seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, "pessimismo" se opõe a valores como "verdade", "vitória" e "progresso". "Pense positivo, pense Dilma (sic)", recomenda a campanha petista, à maneira dos manuais de autoajuda.
As armadilhas deste otimismo desmedido são analisadas em The Uses of Pessimism ("As Vantagens do Pessimismo", em edição publicada em Portugal), que o filósofo inglês Roger Scruton lançou em 2010. 
Não se trata de defender a melancolia, a desesperança, a indiferença ou o ressentimento — o livro não tem nada de sombrio. Seu alvo é o "otimismo inescrupuloso". E, com frequência, o Otimildo da campanha petista é aquele que constrói sua mensagem com base em falácias, exageros, ilusões — ou na pura e simples manipulação da verdade e dos números. 
"Pessoas verdadeiramente alegres, que amam a vida e são gratas por esta dádiva, têm grande necessidade do pessimismo — em doses pequenas o bastante para que sejam digeríveis", escreve Scruton.
Vai dar tudo certo - A primeira armadilha apontada pelo britânico é a "falácia da melhor das hipóteses". É o engano típico dos apostadores, que "entram no jogo com a plena expectativa de ganhar, levados por suas ilusões a uma situação irreal de segurança" - uma descrição aproximada do transe em que vive a área econômica do governo petista. O apostador só aparentemente assume riscos, escreve Scruton. No fundo, o que ele faz é bem o contrário: julgando-se predestinado, dobra a aposta convicto da vitória que acredita "merecer". Em 2011, logo após assumir, Dilma contava com que o país crescesse 5,9% ao ano - em média! - em seu governo. A poucos meses de concluir seu mandato, Dilma amarga resultados tão ruins que só podem ser comparados aos anos Collor e ao governo de Floriano Peixoto, nos primórdios da República. O país está em recessão técnica, mas nem isso abala o otimismo palaciano. Como o jogo, o irrealismo é em si uma espécie de vício, analisa o filósofo. 
Eu tenho um plano - Uma das falácias centrais analisadas por Scruton é a do planejamento, que consiste na crença de que sociedades podem ser organizadas como exércitos em torno de um plano desenhado por um poder central. Dessa armadilha deriva o furor regulatório dos burocratas e idealistas instalados na máquina pública. É a marca de regimes autoritários, claro, mas também envenena sólidas democracias. Para Scruton, o maior exemplo dessa falácia é incansável disposição dos arquitetos da União Europeia para editar marcos regulatórios cada vez mais detalhados e intrusivos, ignorando o "o modo como, pela lei das consequências não planejadas, a solução de um problema pode ser o início de outro". Scruton dá como exemplo a determinação de que o abate de animais na UE se faça na presença de um veterinário. O objetivo: remover da cadeia produtiva os animais doentes, possivelmente impróprios para o consumo. O resultado: onde o diploma de veterinário é difícil de obter, e o profissional, portanto, é muito bem remunerado, pequenos abatedouros se viram obrigados a fechar, pondo em dificuldades também os pequenos criadores.
Um corolário da falácia do planejamento é o inchaço da máquina pública. É sintomático que Dilma, uma notória "planejadora", tenha levado o primeiro escalão a abrigar 39 ministros, incluindo o da Pesca, para, segundo informou recentemente a presidente, não descuidar da tilápia. A falácia reside na crença de que um exército de iluminados tenha soluções, de canetada em canetada, para todos os problemas do país. E é grande o apelo desse falácia. "Todo mundo quer empurrar seus problemas para o estado, com a certeza de que há um plano para sua sobrevivência que não exija esforços de sua parte", afirma Scruton a VEJA. "Como digo em meu livro, não há como convencer as pessoas a abrir mão dessas falácias, e só um desastre pode momentaneamente incutir a verdade em suas mentes."
Eu tenho um sonho A campanha eleitoral brasileira parece uma coleção das falácias analisadas por Scruton. Uma delas é particularmente recorrente: a utopia, uma visão de futuro em que os homens terão superado suas diferenças e resolvido todos os problemas. Marina Silva, a presidenciável do PSB, tem o discurso mais utópico da corrida presidencial – já se definiu como 'sonhática', por oposição aos políticos 'pragmáticos', e acredita que seu eventual governo poderia atrair os melhores quadros dos partidos brasileiro, incluindo os arquirrivais PT e PSDB.
Claro, a mobilização política terá sempre um forte acento otimista — Martin Luther King não teria feito história se, em vez de um sonho, tivesse apenas uma sugestão a dar... A falácia da utopia, contudo, vai bem além disso: acena, não com dias melhores, mas com o fim de todos os males. É uma promessa, por definição, irrealizável. Como o eleitor pode se precaver contra esse tipo de ilusão? "Não é fácil. Ninguém vota em pessimistas. Ainda assim é possível distinguir os políticos realistas – aqueles que reconhecem os problemas e estão preparados para encará-los, como Margaret Thatcher e Winston Churchill. Mas, claro, dependemos de uma cultura de seriedade e responsabilidade", diz Scruton. "Isso existe no Brasil?"
Pior não fica - A reportagem informa Scruton da existência do palhaço Tiririca, o deputado mais votado em 2010, candidato à reeleição em 2014, cujo slogan é "pior do que está não fica". É possível cultivar um pessimismo "esclarecido", sem sarcasmo, sem desistir da política? "Sim, é possível", responde Scruton. "Mas é mais provável que isso ocorra durante uma crise nacional, quando as pessoas precisam de liderança e por isso irão procurar qualidades morais, realismo e coragem nos políticos. O sarcasmo pode ser bem-sucedido em tempos de paz e riqueza, mas não em tempos de conflito e privação. O fato de que políticos no Brasil sejam vistos como piada sugere que as coisas no Brasil não estão tão mal."
As armadilhas do progresso - Expoente do pensamento conservador, Scruton dá especial atenção às armadilhas do "progressismo". O filósofo considera enganoso estender o entendimento que se tem do progresso na ciência a outras áreas. Que a ciência avance, por acumulação de conhecimento, é inegável. Mas é "questionável acreditar, por exemplo, que haja progresso moral contínuo, que avance à velocidade da ciência", escreve. Em um país na 79ª posição no ranking do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, contudo, "progresso" é palavra de ordem no debate político. Como países emergentes devem lidar com a necessidade de se desenvolver, sem ceder às falsas esperanças? Scruton não é contra o progresso, é claro, mas lembra que algumas mudanças acontecem para pior. "Acho que é sempre necessário considerar o que as pessoas têm e aprender a dar valor a isso. Não virar as costas ao passado, aos costumes e às instituições que são a medida da felicidade das pessoas", diz. "É também necessário reconhecer o custo do progresso, em termos de prejuízos ambientais, migrações e desagregação das famílias. É necessário enfatizar esses aspectos para lembrar as pessoas das boas coisas que elas podem perder."
As armadilhas da igualdade - Uma das ciladas do otimismo inescrupuloso é o que Scruton chama de "falácia da agregação", que o filósofo ilustra com o seguinte exemplo: uma pessoa pode gostar de lagosta, chocolate e ketchup, mas isso não significa que deva combinar os ingredientes no mesmo prato. Para o filósofo, o lema da Revolução Francesa incorre na mesma falácia: só se promove a igualdade às custas da liberdade. Como países ainda tão desiguais como o Brasil devem enfrentar a questão? "É justo lutar pela igualdade quando as desigualdades, de modo manifesto, dividem e ameaçam a ordem social", responde Scruton. "Mas é errado acreditar que se pode perseguir a igualdade e a liberdade ao mesmo tempo. Para que haja uma sociedade mais igualitária, é preciso conter ambições e garantir que a renda seja distribuída, mesmo contra a vontade dos contribuintes."
Fantasias convenientes Embora disseque todas as falácias do otimismo desmedido, Scruton não tem esperança de que "otimildos" recuem de suas ilusões. Ao contrário, eles se voltarão contra seus críticos e seguirão com suas fantasias convenientes, e com energia renovada, bradando por mais progresso, novos planos, mais belas utopias. Para tanto, recorrerão a diversos "mecanismos de defesa contra a verdade", afirma Scruton, como a inversão do ônus da prova e a transferência de responsabilidades. Como esses truques podem ser tão eficientes? "Nós todos evitamos a realidade quando ela é inconveniente. A verdade é uma disciplina difícil. É importante que cada sociedade acomode instituições - locais de debate, think tanks, universidades - onde a liberdade possa ser buscada a todo custo", diz. "Enquanto houver liberdade de expressão e de opinião, a verdade pode ser dita e, gradualmente, infiltrar-se na opinião pública. Mas isso leva tempo e é necessário que as pessoas aprendam a respeitar os que dizem a verdade."