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domingo, 15 de maio de 2016

O Brasil pode ajudar politicamente a Venezuela...

domingo, maio 15, 2016

Dilma cai, Maduro perde - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 15/05

Em meros seis meses, a Venezuela bolivariana perdeu dois dos seus já poucos aliados na América do Sul, exatamente os dois países mais importantes no subcontinente (Argentina, primeiro, e Brasil, agora ).
No caso da Argentina, deu perda total: Cristina Kirchner era uma defensora incondicional do chavismo, até porque seu governo, como o de seu marido, recebia precioso financiamento de Hugo Chávez.

Mauricio Macri, o novo presidente, antes mesmo de assumir, já propunha impor à Venezuela a cláusula democrática do Mercosul, no pressuposto que se tratava de uma ditadura, incompatível, portanto, com as regras do grupo.

No caso do Brasil, a perda talvez seja ainda mais terrível, pela simples e boa razão de que o país pesa mais no cenário global e, portanto, ainda mais no panorama regional.

É verdade que o governo Dilma já vinha se afastando dos amigos bolivarianos. Mas, ainda assim, o fazia com aquela paquidérmica lentidão que é uma característica permanente da diplomacia brasileira.
A nota de sexta-feira (13) criticando os bolivarianos em geral já é um primeiro sinal. Mas foi apenas reação a um ataque. Falta agora a ação, a iniciativa.

Há uma segunda ressalva a fazer na expectativa de que José Serra à frente do Itamaraty representará perda total para a Venezuela: o novo ministro, por sua formação centrada na economia, tenderá a dar prioridade à negociação de acordos comerciais, território de que o Brasil ficou afastado nos últimos muitos anos.

A propósito, Brasil e União Europeia acabam de trocar as ofertas indispensáveis para eventualmente fechar um acordo de livre comércio, que é negociado desde 1995.

Logo, é razoável supor que Serra poderá, nessa seara, aterrissar já acelerando.

Mas seria um erro deixar de lado o dossiê venezuelano. Afinal, Serra já disse, como senador, que a Venezuela é uma "ditadura". Não é exatamente assim, mas não fica muito longe disso.

Logo, seria coerente que o novo ministro desse todo o apoio ao esforço da oposição para convocar o chamado "referendo revogatório" do mandato do presidente Nicolás Maduro.

Como Maduro é um fracasso administrativo muito mais portentoso do que Dilma Rousseff, caberia ao vizinho Brasil, além disso sócio no Mercosul, apoiar uma saída que permita salvar a Venezuela de uma crise aparentemente terminal.

Sugiro a Serra, como leitura inicial a respeito, o texto para "The Atlantic" dos analistas venezuelanos Francisco Toro e Moisés Naïm, que já foi colunista da Folha.
Dizem, para começar: "O que o país está enfrentando é monstruosamente único. É nada menos do que o colapso de uma nação grande, rica, aparentemente moderna, aparentemente democrática, a poucas horas de voo dos Estados Unidos" [e do Brasil, acrescento].
Não é exagero. A mazela venezuelana (recessão impressionante, inflação recorde mundial, criminalidade idem, escassez de quase tudo) é arquiconhecida.

O hiperativo Serra vai assistir inerme ao colapso?

Aquíferos, suas reservas subterrâneas, Mapa Mundi das águas ...

http://ecologia-clima-aquecimento.blogspot.com.br/2016/05/agua-doce-recurso-escasso-suas-reservas.html?m=0

domingo, 15 de maio de 2016


Água doce, recurso escasso? Suas reservas subterrâneas poderiam sepultar a superfície terrestre

Este é o primeiro mapa-múndi das águas subterrâneas.
Este é o primeiro mapa-múndi das águas subterrâneas.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



Certa feita, visitando a catedral católica de uma cidade do oeste do Paraná, chamou-me a atenção o esmero com o qual duas senhoras tentavam arrumar uma montagem com papéis coloridos no fundo do templo. 

Quando cheguei perto, fiquei pasmo. O tema era a Campanha da Fraternidade falando que a água doce é um recurso cada vez mais raro, escasso e caro. 

Não preciso dizer quanto chove no Paraná. Nem toda a água doce do rio do mesmo nome. Nem tampouco toda a água do Iguaçu que cai na foz desse rio, tão visitado por pessoas do mundo inteiro pela sua grandiosidade.

O disparate era tamanho que custei a reagir. Também percebi que essas boas senhoras, pertencentes a algum movimento de sacristia, nada entendiam do que estavam fazendo. Apenas o pároco e o bispo mandaram-nas fazer. 

E elas montavam com boa fé um painel segundo o que entendiam do tema na sua fantasia. E manifestamente nada entendiam da proposta dessa Campanha da CNBB.

Tempos depois, em São Paulo, um velho amigo me contou ter ouvido do ex-frei Leonardo Boff que a luta do futuro seria pela água doce. Achei um perfeito disparate, mas aqueles meses eram de seca e a Cantareira batia recordes negativos...

Lembrei-me dessas boas pessoas logradas quando recebi um artigo do site Inovação Tecnológica com o título “Um mapa-múndi das águas subterrâneas”. 

Já tive ocasião de difundir neste blog algumas valiosas informações sobre os imensos lagos subterrâneos de água doce existentes em todo o planeta.

A começar pelos aquíferos do Brasil: o Guaraní (o maior em extensão de água) e o Alter do Chão (o maior em volume de água) nas bacias dos rios Prata e do Amazonas, para só falar deles e deixar de lado gigantes como o Cabeças, o Urucuia-Areado ou Furnas.

Mas também o colossal lago Vostok, na Antártica, ou aquele que permitiria irrigar boa parte do Saara e atender às necessidades de grande parte da população que vive em seu entorno, além das áreas futuramente irrigáveis.

Nunca, porém, vi uma visão de conjunto dessas águas doces que Deus colocou em quantidades desmesuradamente grandes debaixo de nossos pés.

O referido artigo pôs-me diante de um panorama de cair de costas. 

Ele informa que, pela primeira vez desde que um cálculo do volume mundial das águas subterrâneas foi tentado, na década de 1970, um grupo internacional de hidrólogos produziu a primeira estimativa das reservas totais de águas subterrâneas da Terra.

O estudo fornece dados importantes para os gestores de recursos hídricos e desenvolvedores de políticas, bem como para pesquisas de campo na hidrologia, ciência atmosférica, geoquímica e oceanografia.

A equipe, liderada por Tom Gleeson, da Universidade de Vitória, no Canadá, usou vários conjuntos de informações (incluindo dados de perto de um milhão de bacias hidrográficas) e mais de 40.000 modelos de águas subterrâneas para compor o mapa-múndi das águas subterrâneas.

Os cálculos estimam um volume total de cerca de 23 milhões de quilômetros cúbicos de água subterrânea, algo muito próximo da estimativa feita há 40 anos.

Grandes aquíferos conhecidos no mundo, segundo a NASA.
Grandes aquíferos conhecidos no mundo, segundo a NASA.
Para efeito de comparação, se fosse possível retirar essa água e depositá-la sobre a parte seca da Terra, ela poderia produzir um dilúvio que cobriria todos os continentes com uma profundidade de 180 metros. Talvez nem Noé visse tanta água!

Ou poderia elevar os níveis do mar em 52 metros, caso fosse espalhada sobre o globo inteiro.

Do total das águas subterrâneas da Terra, apenas cerca de 0,35 milhão de quilômetros cúbicos de “água jovem” é inferior a 50 anos de idade.

Essa fração de “água jovem” recarrega-se através das chuvas e dos cursos d'água em uma escala temporal de algumas décadas, representando assim a parte potencialmente renovável das águas subterrâneas. 

Segundo Gleeson, as águas mais profundas são demasiadamente salgadas, isoladas e estagnadas, e deveriam ser vistas como recursos não renováveis.

O volume da água subterrânea moderna supera todos os outros componentes do ciclo hidrológico ativo e é um recurso renovável. 

Lembrei-me das sacrificadas senhoras católicas enganadas daquela catedral do oeste do Paraná, bem como do bom amigo que caíra no papo do ex-frei agora Teólogo da Libertação da Terra.

E pensei: vermelhos ou verdes, eles são sempre os mesmos! Eles obedecem à risca o péssimo conselho de Voltaire: “Menti, menti, algo sempre ficará!” 

"Dilma caiu não por ser mulher, mas por seus erros, teimosias e irresponsabilidades, marcada pelo estilo grosseiro e autoritário que a aproxima de uma caricatura dos machistas mais truculentos."

Nelson Motta: Depois da queda 

Dilma foi marcada por seu estilo grosseiro e autoritário que a aproxima de uma caricatura dos machões mais truculentos


Por: Augusto Nunes  
Publicado no Globo
Na reta final, uma das acusações mais patéticas aos que queriam o impeachment de Dilma é a de machismo.
Todo golpista é machista? Todo machista é golpista? Parece papo de Cristina Kirchner no tango do desespero. Quem ousaria tentar depor Margaret Thatcher, Angela Merkel ou Hillary Clinton? É como comparar Michelle Obama com Marisa Letícia. Afinal, Dilma foi eleita pelo machão Lula.
Dilma caiu não por ser mulher, mas por seus erros, teimosias e irresponsabilidades, marcada pelo estilo grosseiro e autoritário que a aproxima de uma caricatura dos machistas mais truculentos.
Diz que não é dura, que é honesta, como se os cordiais, os tolerantes, os amistosos não pudessem ser decentes. Ou como se os corretos não pudessem ser durões.
Mas ser honesta não é só não roubar. Será honesto mentir, esconder dívidas, prometer o que não poderia cumprir, acusar os adversários do que depois ela faria, permitir que uma organização criminosa tomasse a Petrobras e outras estatais para financiar um projeto de poder? Para ela e para Lula, não é desonestidade, é “luta política”.
Mas o vale-tudo é só para eles. Na oposição, o PT foi um denunciante e perseguidor implacável de adversários políticos, destruindo reputações, estabelecendo o padrão nós contra eles para a vida política nacional. Sim, a ascensão do bonde do PMDB não inspira esperanças, apenas alívio para uma situação insustentável. Quem sabe o PT seja útil na oposição?
Fiel à sua formação marxista e suas crenças econômicas brizolistas, Dilma decidiu exercer seu poder para baixar os juros na marra e a energia elétrica no grito, certa de que estava fazendo um bem ao Brasil e aos pobres. E à reeleição. Não ouviu nenhuma opinião divergente, mesmo quando as consequências devastadoras de suas decisões já eram evidentes. As maiores vítimas foram os pobres.
Será possível que alguém que se expressa tão confusamente possa pensar da forma clara, objetiva e analítica que a função exige ?
Recordista no anedotário da República, seu estilo se sintetiza na piada final:
“Dilma faz delação premiada. Mas investigadores não entendem nada”.

Mais propina... agora com Sergio Cabral... // Diário do Poder

EX-GOVERNADOR DO RIO EXIGIA DINHEIRO ATÉ QUANDO NÃO HAVIA OBRA 

http://www.diariodopoder.com.br/noticia.php?i=


LAVA JATO
SERGIO CABRAL ACERTAVA PROPINA EM REUNIÕES NO PALÁCIO GUANABARA
Publicado: 14 de maio de 2016 às 12:44 - Atualizado às 12:56

Em depoimento sob acordo de delação premiada na Lava Jato, Clóvis Peixoto Primo e Rogério Nora de Sá, ex-executivos da construtora Andrade Gutierrez, revelaram que o guloso ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral exigiu propina até mesmo quando não havia contratos: em 2011, início do seu segundo mandato, pediu “adiantamento”, afirmando que ainda não havia projetos e nem obras. A empreiteira passou a pagar R$ 350 mil por mês.
Os executivos contaram também que se reuniram no Palácio Guanabara, sede do governo estadual, para combinar o pagamento de propina equivalente a 5% do valor das obras de reforma do Maracanã, do Arco Metropolitano e da urbanização no Conjunto de Favelas de Manguinhos. Eles contaram que até nas obras em que não havia dinheiro do Estado, Sérgio Cabral exigia propina.
Segundo o ex-executivo Rogério de Sá, durante reunião para cobrar créditos atrasados do governo com a Andrade Gutierrez, o guloso -governador pediu também propina de 1% sobre as obras de terraplanagem do Comperj, importante obra da Petrobras em Itaboraí.
Na conversa co  os executivos, Sérgio Cabral afirmou que o pagamento de propina havia sido acertado com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Rogério de Sá então procurou Paulo Roberto, que confirmou o acerto e recomendou: "Tem que honrar".

"A primeira mulher a presidir o Brasil pecou por falta de humildade, por inabilidade, por não saber ouvir... foi vítima da própria arrogância" // Sonia Zaghetto


Sonia Zaghetto: O outro lado

A cerimônia do adeus pelo olhar de uma jornalista que estava lá: `Atrás dela, Lula se mantém alheio, acariciando o bigode com um gesto mecânico e aquela expressão de descrença que todos temos nos velórios dos amados. Lula assiste ao enterro de seu projeto'

Por: Augusto Nunes  
goya
“Marionete”, do pintor espanhol Francisco Goya
Sob o sol inclemente, milhares de pessoas enfrentam uma fila para entrar na área cercada diante do Planalto. Índios, funcionários públicos, velhos militantes de longos cabelos brancos e jornalistas se comprimem contra as grades. Muitos vestidos de vermelho, com camisas da CUT, bandeiras da UNE e uma espécie de avental do MST. Há gente fina, elegante e, creio, sincera, com óculos Ray-Ban e iPhone, mas a maioria traz na roupa e na expressão o selo da pobreza. Cheiro do suor e balões vermelhos, rosas meio murchas nas mãos das mulheres. Celulares registrando cada movimento, como convém a esses tempos.
Palavras de ordem de repente rebentam no meio da multidão. “Dilma, guerreira da pátria brasileira” e “Golpistas não passarão” soam mais modernos, mas “O povo não é bobo: abaixo a rede Globo” parece ressuscitar algum fantasma da década de 70 que deveria estar morto e enterrado, não fossem os interesses da hora. Entre os que estão fechados no espaço gradeado há reclamações sobre crianças e idosos sedentos. Seus pedidos por água são ouvidos com total impassibilidade pelos seguranças do Planalto.
Nem bem encosto na grade e ouço uma moça, com crachá de funcionária de um dos Ministérios, comentar com a amiga: “A luta continua. Eles vão ter que nos matar. Nós, servidores públicos, mulheres, negros e trabalhadores rurais enfrentaremos tempos muito difíceis. Mas nós resistiremos“. A frase me soa surreal. Eles. Quem seriam eles? Temer? As perversas elites? Não me contenho e indago. “Eles, os que sempre mandaram no Brasil e agora não admitem que os pobres estejam no comando. Esses coxinhas, claro!“, é a resposta.
Um silêncio se faz em mim. Coxinhas. Sob esse rótulo – mais um dos que nos separam – vi o rosto de cada um de meus muitos amigos que combatem, com todas as forças, o governo petista. São médicos, garçonetes, taxistas, engenheiros, porteiros e professores. Alguns têm filhos recém-nascidos, outros estão desempregados, há os que estão abatidos com o noticiário interminável sobre corrupção e os que apostaram tudo o que tinham em pequenos negócios. Todos temem a sombra da grande crise que nos engolfa. Além de posts no Facebook e participação em manifestações, são inofensivos como borboletas. E menciono borboletas propositalmente, pois tenho um ridículo medo delas. São incapazes de me fazer qualquer mal, mas, em algum momento de minha vida, aprendi a temê-las e até odiá-las, coitadas.
Exatamente nessa hora recebo uma mensagem da Paula, que me confidencia: “Por que estou constrangida em dar uma leve comemoradinha em público!? Será que é respeito pelos colegas de esquerda, queridos, ou porque não há o que comemorar de verdade? Depois de tanto tempo eu deveria estar mais eufórica, mas não estou”. Paula, coxinha e borboleta, cuja doce sensibilidade até em comemorar traduz bem o instante e o perigo de julgar desconhecidos. Paula e sua mensagem são uma demonstração de que nem todo “coxinha” toma champanhe em copinhos de plástico na Paulista.
Olha essas flores, vem aqui que eu te dou. Essas duas cercas não podem nos separar!“, grita um rapaz com sotaque gaúcho para uma garota do outro lado da grade. Não ouço a resposta, mas registro no rosto dele, se não o amor, mas a pura atração em tempos de cólera. Ele insiste: “Vem pra cá com a sua câmera. Aqui não tem ladrão nem golpista“. Atrás de mim, uma voz responde: “Há golpistas aqui, também“.
O ruído aumenta, punhos erguidos, mãos fechadas. Os ânimos se acirram, a grade é derrubada, um grito alto se eleva e o povaréu invade a cena.  A jornalista americana está visivelmente tensa, assim como o cinegrafista musculoso, de óculos de sol e coberto de suor. Juntam os equipamentos e correm. Apenas um susto. A segurança intervém e põe a grade de pé novamente.
Olho para o lado e vejo dois militantes de meia idade – Tomás e sua companheira – que carregam cartazes em russo e alemão falando sobre o suposto golpe. Vieram do Ceará e querem alertar o mundo sobre o que acreditam ser um atentado à democracia. Atrás deles, um homem idoso, de longos cabelos totalmente brancos, compra um pacote de amendoim na barraca do ambulante (sempre os há). Veste uma regata branca. Os cabelos empapados de suor grudam na pele clara e no rosto vermelho.
De repente, um burburinho: o ex-presidente Lula chega. Começam a cantar um olê-olê-olê-olá-Lulá-Lulá. Apesar da saudação, Lula mal olha para os apoiadores. Passa direto, sem disfarçar o abatimento.
Pouco depois, Dilma começa a falar. Cada frase transmitida pelo sistema de som desperta reações na plateia. Chama o processo de impeachment de golpe e repete que não cometeu crime de responsabilidade. Quando se diz “vítima de uma grande injustiça” vários manifestantes começam a chorar, principalmente as mulheres. A presidente afastada pede várias vezes para que os seguranças mudem de lugar para que ela enxergue as pessoas do outro lado da grade. “Quero ver o pessoal!”, repete.
Atrás dela, Lula se mantém alheio, acariciando o bigode com um gesto mecânico e aquela expressão de descrença que todos temos nos velórios dos amados. Lula assiste ao enterro de seu projeto. Pergunto a mim mesma no que estará pensando. Lembro do líder carismático, domador de multidões de outrora, e tenho certeza que, naquele instante, ele está enfrentando a si mesmo: as escolhas equivocadas, a voracidade de seu grupo que lhe corroeu a popularidade, os planos de poder destruídos. Parece muito, muito velho. E cansado.
Lula - pronunciamento 2
Volto novamente minha atenção para Dilma, que responsabiliza por sua queda não os erros que cometeu, mas os adversários, “os que não conseguiram chegar ao governo pelo voto direto do povo”, os que perderam as eleições e “tentam agora pela força chegar ao poder”. É aplaudida em delírio.
Em meio ao discurso de Dilma, disperso-me de novo. Noto um rapaz. Muito jovem, negro, vestido com simplicidade. Soluçava abraçado à mãe, que o consola. Eu e outra jornalista os fotografamos (a imagem era irresistível). A mãe nota as câmeras e quase sorri, abraça-o mais, conferindo pelo canto dos olhos se os celulares registram a cena. O rapaz afunda a cabeça no pescoço dela, as lágrimas encharcando a camisa. Balbucia frases sobre futuro incerto, desesperança, portas fechadas e perdas. Sinto uma brutal vontade de chorar. Uma compaixão imensa por aquele rapaz, tão jovem, acreditar que apenas um governo é capaz de erguê-lo.
Penso imediatamente em meu tio-avô, Deoclécio, negro, com seu impecável uniforme branco da Marinha Mercante, muito engomado, desfilando perante a vizinhança, orgulhoso de só dever sua carreira a si mesmo. E sofro, muda, por aquele rapaz estar tão vitimizado e dependente. Minha dor imensa é por terem roubado dele o que temos de mais esplêndido: o espírito independente, altivo. Abatido, ele agora acredita que não é nada. Sem a mão do governo, que seria dele? E isso, penso, é uma coisa inominável.
Isso, sim, é a restauração da escravidão. Uma escravidão que não atinge apenas a uma raça, que não vitima uma epiderme: a escravidão da alma, que é subjugada até não mais acreditar em si mesma, em seu esforço e capacidade. Alguém disse àquele rapaz – quase menino – que só sob a tutela do grande pai governamental ele seria algo na vida. E ele acreditou. Ao microfone, Dilma repete que é um dia muito triste.
Uma espiada em torno e vejo novamente os tipos clássicos que deveriam estar ali, obrigatoriamente. Alguns com jeito de classe média alta, mas que carregam uma culpa ancestral pela desigualdade social que testemunham. São sonhadores como Lennon e querem mudar o mundo como Cazuza. Dividem o planeta entre capitalistas feios e socialistas bondosos; acreditam que ser de esquerda é um certificado de “ser do bem”. Demoro algum tempo observando a moça que tudo fotografa com um iPhone: corte de cabelo moderno, óculos de sol e um colar de miçangas alaranjadas enrolado no braço direito.
Volto a atenção para Dilma pela terceira vez.  Ela está dizendo que sofreu a dor da tortura, da doença e, agora, a da injustiça e da traição. Um coro se eleva: “Fora Temer!”. Ouço o discurso pensando que ela também foi vítima da própria arrogância. A primeira mulher a presidir o Brasil pecou por falta de humildade, por inabilidade, por não saber ouvir.
A presidente se aproxima de onde estou. Abraça e beija as mulheres que estão ao meu lado. Sorri muito. Noto seus cabelos escovados, a face coberta de pesada maquiagem. Terá dormido? Estará medicada para enfrentar a dureza da hora? Começo a sentir piedade, mas lembro que, poucos minutos antes, ela havia, ainda uma vez, insinuado a toda aquela gente desesperançada que eles perderiam tudo o que tinham conquistado: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Fies, Prouni, cotas raciais e sociais. E a imagem do rapaz que chorava absorve toda a minha capacidade de sentir compaixão.
A presidente se afasta e começo a retornar. O caminho está impedido por muitos índios que cantam, dançam e gritam pela demarcação das terras indígenas. Penso nos treze anos em que o autointitulado governo das minorias e dos desamparados não resolveu a questão indígena, a mortandade dos Guarani-Kaiowá e a reforma agrária.
Abro caminho entre os índios, os jornalistas que correm e uma parte do povo que se dispersa. De repente eu me apanho rindo e tentando decifrar uma imagem: caminha à minha frente um objeto de chita onde está escrito “Dilma”. Penso comigo: parece algo que faria parte de uma encenação de bumba-meu-boi, mas era apenas um guarda-chuva que tinha uma espécie de sainha costurada nele. A pessoa andava e a sainha ia sacolejando pela Praça dos Três Poderes, com suas letras de tecido colorido costuradas. Tão pueril, tão brasileiro.
E pensei, como Vinicius, poeta e brasileiro como eu:
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

sábado, 14 de maio de 2016

O novo ministro da Educação e Cultura ao se apresentar aos servidores públicos de sua pasta foi vaiado porque era ministro da Educação e Cultura...


Hostilizado por servidores, ministro pede diálogo

Josias de Souza
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O novo ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho, sentiu nesta sexta-feira os efeitos da longevidade do PT no poder. Deputado do DEM de Pernambuco, Mendonça fez questão de se apresentar aos servidores. Foi desaconselhado. Avisaram-no que seria hostilizado. Não abriu mão de falar. Ouviu vaias e impropérios de uma plateia guiada pela lógica do petismo. Foi chamado de golpista. Em resposta, pregou o diálogo e o respeito à diversidade.
A hostilidade foi maior na Cultura (repare no vídeo acima). Ali, além da irritação com o afastamento de Dilma Rousseff, os servidores estavam irritados com a fusão do ministério à pasta da Cultura. Mendonça pediu “permissão” para falar. “Algumas pessoas chegaram a me desaconselhar, a dizer que eu não deveria vir aqui. Mas quero dizer que, em nenhuma parte do território nacional, um cidadão livre pode ser impedido de circular”. Ouviram-se vaias.
Mendonça prosseguiu: “Ainda mais num ambiente que represente a Cultura, que dignifica a diversidade. Eu respeito a todos, respeito as pessoas que pensam diferente de mim.”
Sobre a fusão dos ministérios, Mendonça afirmou que não há a intenção de esvaziar a Cultura. “A mensagem que trago aqui é que nós vamos trabalhar no sentido de termos um secretário nacional de Cultura, com autonomia e identidade com a área.” Comprometeu-se a manter projetos e órgãos públicos vinculados ao setor. E manifestou o desejo de abrir “um canal de diálogo.”
A certa altura, o novo ministro declarou: “Não há clima de caça às bruxas. A resolução desse conflito político e essa situação institucional grave vivida pelo Brasil não vai ser no braço, não vai ser na porrada, vai ser respeitando valores democráticos e as instituições.”
O novo ministro encerrou o discurso evocando uma frase de Deng Xiaoping, ex-secretário-geral do Partido Comunista chinês. “…Ele disse que não importa a cor do gato, importa que o gato persegue e come o rato. O que quero dizer é o seguinte: não tenho partidarismo em relação à Cultura. Pouco importa se é do PT, do PMDB, do DEM ou qualquer que seja o partido. O que importa é que a Cultura é do Brasil e dos brasileiros.” Ouviram-se novas vaias. Mas também soaram no auditório alguns aplausos.

Arte de Antonio Lucena no blog de Ricardo Noblat

HUMOR

Arte de Antonio Lucena


Coisa Bolivariana > Maduro ordenou a realização de 'exercícios militares' no próximo sábado por causa de ameaça externa...

Venezuela

Maduro anuncia tomada de fábricas paralisadas e prisão de empresários

Presidente também ordenou a realização de "exercícios militares" no próximo sábado, para enfrentar o que denunciou como "ameaça externa"

Por: AFP
14/05/2016 - 18h24min | Atualizada em 14/05/2016 - 18h37min
Maduro anuncia tomada de fábricas paralisadas e prisão de empresários JUAN BARRETO/AFP
Maduro discursa em um evento de rally em Caracas neste sábadoFoto: JUAN BARRETO / AFP
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ordenou neste sábado, como parte do estado de exceção decretado na sexta-feira, a intervenção nas fábricas que estiverem paralisadas e a detenção dos empresários que pararem a produção com o objetivo de "sabotar o país".
– No âmbito desse decreto em vigor (...) tomemos todas as ações para recuperar o aparelho produtivo que está sendo paralisado pela burguesia (...), e quem quiser parar para sabotar o país que vá embora, e o que fizer isso deve ser algemado e enviado para a PGV (Penitenciária Geral da Venezuela) – declarou Maduro, em um comício no centro de Caracas.
A medida pode implicar a tomada de quatro fábricas de cerveja da Empresas Polar – a maior produtora de alimentos e de bebidas do país. Essas unidades se encontram paralisadas desde 30 de abril passado pela falta de acesso a divisas para importar insumos, de acordo com a companhia, dentro do estrito controle cambial imposto em 2003 pelo então presidente Hugo Chávez (1999-2013).
– Planta parada, planta entregue ao povo! (...) Vocês vão me ajudar a recuperar todas as plantas paralisadas pela burguesia – lançou Maduro a seus milhares de seguidores durante o ato.
Também neste sábado, Maduro ordenou a realização de "exercícios militares" no próximo sábado, para enfrentar o que denunciou como "ameaça externa", após decretar estado de exceção no país.
– No próximo sábado, convoquei exercícios militares nacionais das Forças Armadas, do povo e da milícia, para nos prepararmos para qualquer cenário – afirmou Maduro, em entrevista à televisão no encerramento da mobilização chavista.Opositor Henrique Capriles adverte sobre implosão na Venezuela se Maduro bloquear referendo.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Muita vigilância nesta hora ... / Monica de Bolle

Cabe ao 'novo' servir de fato como a 'ponte para o futuro' 

 MONICA DE BOLLE

O ESTADÃO - 13/05

O momento é difícil, os nervos à flor da pele, todos prontos para acreditar que qualquer mudança só pode ser para melhor. Por óbvio, os dados do governo de Dilma Rousseff, sobretudo desses que, provavelmente, foram seus últimos dezessete meses no poder, alimentam a esperança de que o porvir será melhor do que aquilo que não foi a lugar algum. Contudo, o momento pede cautela e ressalvas. Muitas ressalvas.

Na política econômica, há poucas dúvidas de que os pouco mais de 24 meses do provável governo Temer haverão de superar os 17 meses de desgoverno do segundo mandato de Dilma Rousseff. Os desafios são enormes. Os rombos fiscais, desconhecemos seu tamanho. Afinal, há dívidas estaduais e municipais a renegociar, injeções de capital em estatais a providenciar, recapitalizações e auditorias de bancos públicos a fazer. No entanto, há esperança de que o governo liderado por Michel Temer siga as diretrizes traçadas em A Ponte para o Futuro, documento do PMDB publicado no ano passado delineando agendas e medidas. Mantidas as premissas elaboradas nesse documento, é de se esperar que haja ao menos um caminho para a política fiscal, além de olhar diferente sobre a necessidade de reinserir o Brasil no mundo. Não é pouca coisa depois de tantos anos de desmandos e desvarios capitaneados pela presidente-economista, que, delegar, jamais soube.

No entanto, ainda que a restauração de rumos seja motivo para alívio depois de tantos abusos cometidos contra o País e a população brasileira, o “novo” não tem cara de “novo”. O “novo” é formado por grupo de pessoas que fazem parte da política nacional há décadas. O “novo” chama novamente aos Ministérios pessoas capazes, mas que já deram a sua contribuição ao menos algumas vezes durante outros governos. O “novo” tem ranços da distribuição pegajosa de cargos que marcou os anos do lulopetismo – afinal, o “novo” foi parte integrante do lulopetismo. No “novo”, não parece haver lugar para gente com ideias novas, para a diversidade, para o mosaico que é o Brasil. Tal situação incomoda. Tal estado de coisas deixa gosto amargo depois do trauma de um afastamento presidencial que se arrasta por tanto tempo. Tal arranjo remete, inevitavelmente a Don Fabrizio, o sábio de Lampedusa: “Para que tudo permaneça igual, é preciso que tudo mude”.

Cabe ao “novo” o desafio de mostrar para a sociedade brasileira que o objetivo final não é a manutenção do status quo na política e na estrutura de nossas lideranças. Cabe ao “novo” servir de fato como a “ponte para o futuro” que almeja ser. Há esperança. Mas o risco de decepcionar quem apostou na “ponte” é grande. Grande demais.

Avante.

Muita calma e precisão nesta hora... / Eliane Cantanhêde

Cadê ‘o povo’? - ELIANE CANTANHÊDE

O ESTADÃO - 13/05 

Cumpriu-se a profecia de Eduardo Campos: Dilma Rousseff é a única presidente do Brasil contemporâneo a deixar o País pior, muito pior, do que encontrou. Michel Temer não assumiu interinamente “só” com o desafio de recuperar a confiança, reequilibrar as contas públicas e aquecer a economia de forma a acolher o máximo possível dos 11 milhões de desempregados – o que já é um trabalho hercúleo. Ele terá, também, de refazer o governo, desaparelhar o Estado e restaurar as instâncias de controle, como a inteligência e as agências reguladoras. A sensação é de terra arrasada.

Ao lançar Dilma para a primeira eleição, em 2010, Lula contou como se encantara com aquela moça tão disciplinada, que andava para lá e para cá com um laptop e tinha todas as respostas na ponta da língua. Foi assim que Dilma, que não era próxima dele, não é da história do PT e nunca tinha tido destaque nacional, virou ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil e, enfim, candidata à Presidência, por um único motivo: Lula quis, quis porque ela era... craque no Google.

No seu derradeiro discurso no Planalto ontem, ladeada por ministros, parlamentares e amigos petistas, Dilma repetiu o mesmo discurso de sempre, atribuindo a desagregação política e o desastre na economia à oposição. Não ganhou um voto com isso nesses meses. E não convenceu ninguém ontem. A maioria da Câmara, do Senado, dos agentes econômicos, dos analistas e da opinião pública não comprou a versão.

Dilma sai porque, apesar de manejar bem um computador, não sabe negociar, ceder, ouvir – nem mesmo o padrinho Lula –, nem compreender o jogo da política. Porque, apesar de economista, tomou decisões erradas na macroeconomia, na gestão dos juros, na intervenção no setor elétrico. E porque, apesar de “técnica”, cumpriu à risca a única coisa que aprender na política: “fazer o diabo” para ganhar eleições. Daí as pedaladas fiscais, o descalabro das contas públicas.

“Estou vivendo a dor da traição e da injustiça”, disse Dilma ontem, com voz surpreendente firme e segura, ao se despedir do Planalto sem jamais ter admitido claramente seus erros. Se não admitiu, também não aprendeu com os próprios erros. Entrou e saiu do governo sem perceber que ganhar eleição é só o começo; o problema é governar depois. Especialmente depois de prometer – e fazer – “o diabo”.

Para Temer, muda-se o verbo, não o princípio: chegar ao poder é só o começo; o problema é governar depois. Especialmente quando se chega lá sem as urnas, precisando conquistar legitimidade pela imagem, pela palavra, pela ação – e por resultados que, no seu caso, têm de ser já. Apoio político e sólida base aliada no Congresso ele tem, boa vontade dos mercados, também. Mas lhe falta o principal: confiança popular.

A foto do dia da votação do Senado que a afastou foi do fotógrafo Dida Sampaio: Dilma e Jaques Wagner puxando a cortina do Planalto e olhando os arredores do Congresso e do palácio, como que repetindo a surpresa de Jânio Quadros depois da renúncia: “Cadê o povo?”. O povo, que é agente da mudança e desde junho de 2013 vai às ruas, foi o grande ausente nesta semana tão intensa em Brasília. Algumas centenas de militantes foram apoiar a saída de Dilma do Planalto. Um único cidadão se dignou a prestigiar a posse de Temer do lado de fora.

Militante petista está sempre a postos para quando seu mestre Lula mandar. Mas Temer não tem militantes, movimentos organizados e “povo”. Entre tantos e tão graves desafios, ele vai, de um lado, tourear MST, CUT, UNE e MTST e, de outro, lutar por índices nas pesquisas e por gente de carne e osso – especialmente as mulheres, mais da metade da população – que acredite e torça para que realmente dê um jeito nesse País tão pior que Dilma deixou.