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NOTÍCIAS DE BRASÍLIA

quinta-feira, 1 de março de 2018

O ,movimento financeiro do crime do tráfico no Brasil faz parte dos elementos de sustentação do PIB ?

Facção paulista se une a quadrilhas do RJ 

que tentam tomar tráfico na Rocinha

Principal grupo criminoso de SP faz aliança com nova organização criada nos presídios fluminenses com apoio de ex-chefe do tráfico na comunidade.

Por Marco Antônio Martins, G1 Rio
 
Passarela na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (Foto: Felipe Dana/AP)Passarela na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (Foto: Felipe Dana/AP)
Passarela na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (Foto: Felipe Dana/AP)
Documentos do sistema penitenciário do RJ e do serviço de inteligência que apoia a intervenção federal na segurança do estado mostram que o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, articulou novas alianças para expandir a atuação de seu grupo criminoso no Rio. Uma das áreas em questão é a Rocinha, favela mais populosa da cidade e localizada entre bairros nobres, como Leblon e São Conrado.
Nem é um dos chefes da facção Amigos dos Amigos (ADA) e está preso em uma penitenciária federal em Porto Velho (RO). Recentemente, entrou em guerra com Rogério 157, de quem foi aliado e que deixou a ADA para se unir ao Comando Vermelho (CV) – facção da qual Nem tenta tirar o controle do tráfico de drogas na Rocinha.
Nem firmou acordo da ADA com o Terceiro Comando Puro (TCP) para formar o TCA (Terceiro Comando dos Amigos). A nova facção se aliou ao Primeiro Comando da Capital (PCC), principal grupo criminoso de São Paulo que rompeu seu acordo de trégua com o CV. Com essa parceria, a quadrilha passou a ser chamada nos presídios de TCA-1533 (os números são uma referência ao PCC).
Mesmo preso, Nem financiou a compra de 200 fuzis para a quadrilha ao custo de R$ 7 milhões, segundo os órgãos de inteligência. O armamento foi recebido no ano passado na favela de Acari, na Zona Norte da cidade. Segundo os documentos da Seap e da inteligência federal, o PCC também repassa armas e drogas para o TCA-1533 em diferentes pontos da capital e interior do RJ.
A formação do TCA-1533 vem sendo acompanhada pelos serviços de inteligência da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) e pelo governo federal. Segundo os investigadores, nos últimos dias de dezembro de 2017, no interior do presídio Jonas Lopes de Carvalho, Bangu 4, chefes da ADA confirmavam o acordo iniciado em 2016 com integrantes do TCP e criavam o Terceiro Comando dos Amigos.
Os documentos obtidos pelo G1 mostram que os traficantes presos uniram as duas quadrilhas e ainda contaram com a briga do PCC com o Comando Vermelho para obter o apoio financeiro da facção paulista.

Formação

O TCA-1533 começou a se desenhar quando, em 2016, integrantes do PCC romperam a parceria com o Comando Vermelho, considerada a maior facção carioca. Na ocasião, 120 detentos de São Paulo que cumpriam pena em três presídios pediram a transferência para unidades chamadas de "neutro". Todos dividiam unidades com o CV.
Por determinação do então subsecretário Sauler Sakalem foi tomado um procedimento diferente: os presos do PCC foram enviados para Bangu 4, onde ficam os detentos da ADA. O acordo entre as duas facções se consolidou.
Criminosos em liberdade e parentes passaram a ir morar em comunidades dominadas pela ADA como o Morro de São Carlos, na região central do Rio, e a favela da Rocinha, na Zona Sul.

Dinheiro apreendido com detentos das duas facções sob a guarda de um agente penitenciário (Foto: Divulgação)Dinheiro apreendido com detentos das duas facções sob a guarda de um agente penitenciário (Foto: Divulgação)
Dinheiro apreendido com detentos das duas facções sob a guarda de um agente penitenciário (Foto: Divulgação)
Em setembro, apareceu um indício de que a união entre TCP e ADA já estava encaminhada: o agente penitenciário Marcelo Aparecido de Lima foi preso pelo Ministério Público estadual guardando dinheiro das duas facções no presídio Carlos Tinoco, em Campos, no Norte Fluminense. Marcelo responde a processo preso.
Entre outubro e dezembro do ano passado, a movimentação de presos chamou a atenção dos órgãos de inteligência da Secretaria de Segurança e da PF: 840 presos solicitaram a transferência de Bangu 4 para a Lemos de Brito, cadeia do TCP. Novamente sem questionamentos das autoridades, todos foram transferidos.
A Seap informou que as transferências são determinadas pelo Subsecretário de Gestão Operacional da pasta. O Secretário de Estado de Administração Penitenciária, David Anthony Gonçalves Alves, admitiu que o número de transferências impressiona.
"É um número alto que me impressionou. Estou reunindo o 'staff' para que o quantitativo de transferências seja controlado e que estas só aconteçam por um motivo justificado. A rotina de incluir os dados de transferências da porta de entrada para as demais unidades será desconsiderada, pois assim aumentará o controle e transparência. Essa inclusive foi uma das demandas apresentadas na primeira reunião com a Defensoria Pública", afirmou.
Em 2016, mais de 65 mil transferências foram realizadas, contando os ingressos nas portas de entradas do sistema penitenciário e posterior deslocamentos para outras unidades prisionais, além de transferências para hospitais penitenciários.
A Seap investiga se houve irregularidades nas transferências, que juntaram itegrantes de ADA e TCP, e de PCC e ADA.

Transferências

Segundo um agente penitenciário, a criação da nova facção pode ter sido facilitada pela postura da gestão da época, que fazia transferências de membros das quadrilhas sem maiores questionamentos.
A distribuição dos detentos nos presídios do RJ ocorrem de acordo com as facções a que pertencem. Quando um detento comunica que quer deixar a quadrilha e se sente ameaçado, ele é enviado para uma ala isolada na cadeia de qualquer quadrilha.
Nos últimos dias de dezembro, logo depois do Natal, o preso Thiago Martins Cafieiro, o FM, que havia ido para a Lemos de Brito junto com os outros colegas, retornou para Bangu 4. Para os investigadores, FM tinha ido homologar o acordo com o TCP e voltava para comunicar a decisão aos chefes da ADA – entre eles Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, que tem dito não gostar da decisão.
Para agentes penitenciários há uma explicação para a postura do antigo chefe: Celsinho está perto de ganhar benefício judicial e passar a cumprir pena no regime semi-aberto. Qualquer envolvimento na criação da facção poderia impedir a obtenção do benefício.

MP e Seap

Sobre o surgimento do TCA-1533 nos presídios do RJ e as transferências que o motivou, a promotora Andreia Amin, coordenadora do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) comentou:
"Não digo que a gestão anterior [da Seap] deixou correr frouxo, talvez tenha sido uma falha na análise sobre o que isso [a transferência] representava. O PCC estimulou um pacto de não agressão logo que rachou com o CV dando início à proximidade entre eles", explicou.
A Seap através de nota informou que "o atual secretário David Anthony Gonçalves Alves assumiu a pasta em 24 de janeiro, com o objetivo de reorganizar a mesma. Novas ações estão sendo operacionalizadas pela Seap, objetivando garantir a segurança do sistema penitenciário".
Ainda segundo a secretaria, entre as medidas estão o aumento das fiscalizações nas unidades prisionais, bem como o fortalecimento da Corregedoria com um trabalho integrado junto ao setor de Inteligência: "A Seap ressalta que a Superintendência de Inteligência desta pasta vem passando por uma reestruturação. O objetivo é ampliar sua capacidade operacional e de cooperação com as agências de inteligência dos demais órgãos de segurança pública".
O ex-subsecretário Operacional, Sauler Sakalem não foi encontrado para falar sobre as transferências de presos das facções.
Em nota, o MPRJ informa que desconhece a existência de relatório de inteligência que atribua à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) domínio territorial na comunidade da Rocinha. Segundo o órgão, a responsabilidade pela divulgação das informações são de responsabilidade exclusiva do promotor.
O MP informa ainda que a Coordenadoria de Segurança e Inteligência do Ministério Público fluminense (CSI/MPRJ) está acompanhando os acontecimentos na Rocinha e até o momento não identificou dados que permitam conferir veracidade às informações veiculadas na mencionada matéria jornalística

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

"Big Brother Brasília" //João Pereira Coutinho

terça-feira, fevereiro 27, 2018

Big Brother Brasília

JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 27/02

Qualquer forma de política 'carismática' é um perigo brutal para a sobrevivência das democracias liberais

Luciano Huck para presidente? Ele diz que não. Acredito. Mas, se a decisão fosse outra, o Brasil estaria na vanguarda das democracias ocidentais —e Fernando Henrique Cardoso percebeu isso.

Anos atrás, na revista "Foreign Policy", FHC publicou um bom artigo sobre o futuro dos partidos políticos. "Futuro", vírgula: FHC não acreditava que houvesse futuro para os partidos. As tradicionais divisões ideológicas entre esquerda e direita já não tinham o mesmo significado —e a mesma militância.

E, além disso, a desilusão do eleitorado com o "establishment" faria emergir movimentos, grupos, "populistas" (termo meu, não de FHC) capazes de rivalizar com as estruturas decrépitas e assaz rígidas dos partidos. Fernando Henrique foi um visionário.

Claro: existe uma diferença entre mim e FHC. Para ele, essa nova realidade extrapartidária não parece ser um mal em si, sobretudo se os partidos não se souberem recriar para responder aos desafios do presente. O entusiasmo de FHC com Huck demonstra isso: o apresentador "areja", "põe em xeque os partidos", afirmou o ex-presidente.

Para mim, qualquer forma de política "carismática" representa sempre um perigo brutal para a sobrevivência das democracias liberais e das suas instituições. Mas admito que o "espírito do tempo" está mais próximo de FHC.
E mais próximo de Luciano Huck, já agora. Um exemplo: a revista "The Spectator" publicou um ensaio revelador sobre os possíveis candidatos democratas para as eleições norte-americanas de 2020. Não perco tempo com nomes menores. Prefiro avançar para os nomes maiores, que aliás surgem na capa da revista: Oprah Winfrey, Tom Hanks, George Clooney. O que têm os três em comum?

Sim, créditos progressistas imaculados. Mas o essencial não está na ideologia. Está na celebridade: os três são produtos da indústria de entretenimento. Exatamente como Donald Trump. A lógica é fulminante: se Donald Trump foi um produto midiático de sucesso, é preciso responder na mesma moeda.

Essa hipótese arrepia a minha costela platônica —e escrevo "platônica" no sentido próprio do tempo. Se existe uma ideia consensual na história da política moderna é a velha crença de que os melhores devem governar, como Platão defendia na sua "República".

Bem sei que a realidade nem sempre cumpre o ideal. Mas o ideal não existe para ser cumprido. Existe, quando muito, para que a realidade se aproxime dele.
Dito de outra forma: se a política é, ou deve ser, a mais nobre das artes, então espera-se de um governante algumas virtudes que exigem preparação e conhecimento.

Tudo isso está em causa nas "democracias midiáticas" em que vivemos. Não são os melhores que vencem; os melhores são aqueles que vendem. E vendem o quê? Uma imagem que corresponde às preferências voláteis e sentimentais dos consumidores.

Quando os democratas cogitam a hipótese de um George Clooney para a Casa Branca, ninguém perde um minuto para indagar as ideias do senhor. Ideias? Quais ideias? O que interessa é o sorriso, o olhar, o traje e dezenas de outras imbecilidades avulsas. As democracias midiáticas não querem políticos, mas estrelas pop.

E no futuro?

Não pretendo horrorizar ninguém. Mas imagino facilmente dois cenários.

O primeiro seria transformar os partidos políticos em organizações muito semelhantes às agências de modelos. Haveria o "estilista" ideológico --alguém responsável por um programa eleitoral mais ou menos clássico; e, depois, haveria o candidato-modelo para desfilar na "passerelle" dos comícios e dos debates.

O candidato-modelo seria apenas uma máscara, uma marionete do partido, com a única missão de apaixonar as massas. Uma vez eleito, ele continuaria o seu trabalho de fachada, deixando para os comuns mortais a mecânica burocrática do governo.

Outro caminho seria acabar com os partidos e, por exemplo, criar um show televisivo --um "Big Brother Brasília", digamos. Nesse caso, seriam as massas a escolher diretamente o presidente, depois de assistirem às suas proezas em sunga ou biquíni.

Hoje, olhamos para Donald Trump ou Oprah Winfrey como excentricidades. Dois nomes que representam o triunfo do entretenimento sobre a política.

Amanhã, quando o dilúvio chegar, ainda vamos olhar para trás e recordar Trump ou Oprah como os últimos grandes estadistas.

João Pereira Coutinho
É escritor português e doutor em ciência política.

Sergio Cabral 'ficou assustado' com devolução 300 milhões de reais ... O brasileiro também ficou

Na prisão, Sérgio Cabral ficou 'muito assustado' com devolução de R$ 300 milhões, diz delator

Carlos Miranda confirmou também que houve pagamentos de propina 

nas áreas da Saúde, Educação e Administração Penitenciária.


Por Gabriel Barreira, G1 Rio
 
Carlos Miranda também prestou depoimento ao juiz Marcelo Bretas no ano passado (Foto: Reprodução/TV Globo)Carlos Miranda também prestou depoimento ao juiz Marcelo Bretas no ano passado (Foto: Reprodução/TV Globo)
Carlos Miranda também prestou depoimento ao juiz Marcelo Bretas no ano passado (Foto: Reprodução/TV Globo)
O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) ficou "assustado" quando o Ministério Público Federal (MPF) determinou a devolução aos cofres públicos de cerca de R$ 300 milhões que haviam sido desviados pela organização criminosa por ele chefiada. Foi o que afirmou na tarde desta terça-feira (27) o delator Carlos Miranda durante depoimento ao juiz Marcelo Bretas pela Operação Eficiência.
Antes de ser transferido para uma prisão em Curitiba, Cabral chegou a ficar preso juntamente com Carlos Miranda, que admitiu ter sido operador financeiro do esquema do ex-governador, na Cadeia Pública de Benfica. Foi neste período, em que ambos estavam detidos juntos, que o MPF determinou a devolução do montante milionário. Cerca de 80% do valor, segundo afirmou o delator e os donos da conta, seriam de Cabral.
"Ele ficou muito assustado. Eu acredito que seja isso (não imaginou que ia tão longe). Acho que, em nenhum momento, (ele) realizou que a situação era tão séria", disse Miranda.
A pedido do magistrado, o operador também comentou sobre o seu sentimento naquele momento.
"É difícil definir. O que imaginei é que realmente não tinha para aonde correr. A partir do nome da investigação, Eficiência (o mesmo nome da conta de Cabral no exterior), na hora me veio o nome da conta. Percebi que a situação era a pior possível", admitiu.
Antes, o operador também detalhou como funcionava o esquema e confirmou pagamentos de propina nas áreas da Saúde, Educação e Administração Penitenciária.
"Eu participei da organização criminosa chefiada por Sérgio Cabral, que tinha (os ex-secretários) Wilson Carlos e Régis Fichtner como principais assessores, e (eu) desempanhava função de gerenciar fluxo financeiro dessa organização, fruto de propina de empresas que fechavam contratos com o Estado. Depois de feito o acordo (entre a empresa) pelo Cabral e, principalmente pelo Wilson Carlos, eu entrava em contato com a empresa para pegar o dinheiro que tinha sido combinado".
Segundo Miranda, depois disso, os doleiros enviavam as remessas das propinas para contas no exterior do ex-governador.
Segundo o MPF, R$ 300 milhões ligados ao esquema criminoso do qual participava Cabral foram apreendidos - 250 já foram devolvidos e outros 50 estão à espera de entraves burocráticos para serem devolvidos.
A defesa do ex-governador afirmou que os valores atribuídos a Sérgio Cabral pelos delatores, na verdade, pertenceriam a outros clientes dos doleiros. Cabral nega que tenha recebido propina.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

"... narcisista é alguém que se acha" / Luiz Felipe Pondé

segunda-feira, fevereiro 26, 2018

Demência narcísica  

LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 26/02
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No nível radical da doença, ela se revela como uma forma autoimune de demência irreversível

Não é só a febre amarela que está pondo em risco a saúde pública. Há uma outra epidemia em curso que ainda não invadiu a mídia: o narcisismo dos bons.
O fenômeno atingiu níveis epidêmicos. E os órgãos competentes não detectaram ainda os indícios desse quadro clínico. Talvez uma das razões seja que muitos desses órgãos competentes são grandes áreas de risco de contágio.

No passado, as áreas de risco eram mais localizadas dentro de instituições religiosas (não que estas tenham deixado de sê-lo).

Você está tendo dificuldade de entender o que vem a ser essa patologia designada "narcisismo dos bons"? Vou te ajudar.

Antes de tudo, a designação "narcisismo" tem credenciais sofisticadas, mas fiquemos com o seu sentido mais comum: narcisista é alguém que "se acha". Clinicamente, o narcisista é um miserável de autoestima que finge se achar o máximo pra combater justamente a sua miséria interior. Nesse movimento de negação, ele acaba por criar uma persona que tende a supervalorizar a si mesmo. Daí o apaixonar-se pela própria imagem refletida na água.
O narcisismo dos bons é uma patologia moral.

A sintomatologia associada ao quadro não tem apenas efeitos individuais privados.

Se assim fosse, talvez seu dano em níveis epidêmicos fosse apenas para as vidas de seus doentes e pessoas mais próximas. Como uma peste que ficasse localizada num ambiente de quarentena.

Não. O narcisismo dos bons se caracteriza por ser uma peste pública. Seu modo de contágio, já identificado razoavelmente, se dá, justamente, pela contaminação em larga escala da população por meio de instituições de caráter social e político, quando não educativo.

As redes são uma cultura de bactérias poderosa para a reprodução do vírus. A mídia clássica, há muito tempo, já era uma área de risco. Os jornalistas carregam todos os sintomas da patologia há décadas.

A sociedade está, completamente, à mercê dessa epidemia porque, normalmente, quem deveria combatê-la tem, exatamente, a condição do mosquito transmissor. Mas vamos a dados mais objetivos do quadro.
Se você tem certeza de que representa o lado do bem no mundo, é quase certeza de que está contaminado. Se você tem certeza de que seu filho também representa, o risco aumentou muito. Se você tem certeza de que seu cachorro também representa, você está além de qualquer possibilidade de cura. Se você acha que sua bike também representa, não tenho palavras pra expressar minha misericórdia. Se você acha que o restaurante que frequenta é um templo, não sei o que dizer.

Sinto muito por você, seu filho, seu cachorro, sua bike e o restaurante que frequenta.

Melhor procurar ajuda profissional. Cuidado: sua terapeuta pode estar, ela mesma, contaminada.

O fato de haver tantos dramas no mundo que precisam de solução é uma das causas etiológicas da epidemia: a facilidade do contágio está no fato de que muita gente que se acha do bem acaba por conviver. Os efeitos são evidentes. As câmaras de eco dos bons carregam muitos vírus dessa patologia. O mundo da educação, da arte e da cultura são grandes áreas de risco.
O mundo da educação, coitado, luta para manter sua relevância enquanto agente de pensamento, quando, na verdade, está sucumbindo à competição mais violenta ou às modas mais fajutas, sejam elas vindas de setores "naturalistas" da sociedade, sejam elas vindas de setores "algorítmicos" do mundo dos negócios, sejam elas vindas de setores do mundo corporativo que tomou a dianteira na reflexão sobre o futuro por meio de "consultores de futuro".

Já o mundo da arte e da cultura é um caso especialmente interessante. Talvez seja uma das áreas de maior risco entre todas.

O número de pessoas "legais" nesse mundo é infinito. Pessoas "legais" são contaminadas ou "carriers", com certeza, do agente transmissor.
Se um dia você voltar pra casa de uma festa qualquer e tiver certeza de que todo mundo ali representa o bem, o quadro autoimune estará já instalado. No nível mais radical da doença, ela se revela como patologia autoimune que se manifesta como uma forma de demência irreversível.

"OLHOS PARA VER OU PARA CHORAR?"

OLHOS PARA VER OU PARA CHORAR?
Ricardo Bergamini
“Quem não usar os olhos para ver, terá que usá-los para chorar!” (Foerster).

Hoje é dia de divulgação da dívida da União base janeiro de 2018 e, como sempre, a imprensa omite o estoque da dívida em poder do Banco Central no montante de R$ 1.670,3 bilhões (25,28% do PIB), sendo essa a parte mais importante da dívida, visto que nada mais é do que uma “pedalada oficial” (aumento disfarçado de base monetária, ou emissão de dinheiro falso) que não existiria se o Banco Central fosse independente. Vejam que essa orgia saiu de 17,86% do PIB em 2010 para 25,28% do PIB em janeiro de 2018. Crescimento real em relação ao PIB de 41,15%. Uma imoralidade sem precedentes.

Em 2010 o estoque correto da dívida líquida da União (interna mais líquida externa) era de R$ 2.388,0 bilhões (61,46 do PIB). Em janeiro de 2018 era de R$ 5.198,6 bilhões (78,68% do PIB). Crescimento real em relação ao PIB de 28,02%.

"Uma trégua à hipocrisia, por favor " / Percival Puggina

UMA TRÉGUA À HIPOCRISIA, POR FAVOR!


por Percival Puggina. Artigo publicado em 

Existem correntes políticas e jurídicas sem qualquer entusiasmo para combater a criminalidade. Precisam dela para “justificação” de malsucedidas teses sócio-políticas e econômicas. Parte importante de sua tarefa, aliás, consiste em convencer as pessoas de que a criminalidade é subproduto da desigualdade social. E sabem que quem acreditar nisso estará assumindo, também, que basta implantar o socialismo para a harmonia e a paz reinarem entre os homens. Sim, sim, claro...
Num dos primeiros atos da intervenção das Forças Armadas no Rio de Janeiro, moradores da vila Kennedy, Vila Aliança e Coreia foram objeto de abordagem de rua com identificação para verificação de antecedentes criminais. A operação começou bem cedo, na manhã do dia 23 de fevereiro. Mais de três mil soldados retiraram barricadas instaladas pelos criminosos e passaram a fazer a identificação dos transeuntes. Enquanto isso, solicitavam aos moradores, por alto-falantes, que colaborassem com a operação denunciando traficantes.
Os defensores de direitos humanos, membros da defensoria pública e representantes da OAB-RJ logo se apresentaram para reprovar o que designavam como criminalização da pobreza e grave violação de garantias constitucionais. O Comando Militar do Leste discordou: “Trata-se de um procedimento feito regularmente, legal, cuja finalidade é acelerar a checagem nos bancos de dados da Segurança Pública”. Ademais, o tipo de operação está previsto no Decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) assinado por Temer em 28 de julho de 2017.
Comprova-se o que afirmei no primeiro parágrafo acima. De um lado, os traficantes, os barões do crime, os comandantes das facções se escondem nas favelas valendo-se da proteção que tais conglomerados proporcionam. De outro, entidades e instituições com orientação esquerdista, ou autorrotuladas como defensoras de direitos humanos, buscam inviabilizar a ação policial onde necessária e urgente. Mesmo uma simples identificação é apontada como perturbadora e ofensiva à dignidade daquelas populações. Na próxima vez que me pararem no trânsito devo convocar a OAB e a Defensoria Pública?
Pergunto: onde se escondem essas instituições e as tais comissões de “direitos humanos e cidadania” quando armas de guerra ceifam vidas inocentes nessas mesmas comunidades? Entre tiroteios, balas perdidas e rajadas de metralhadora, e uma simples identificação de rua, qual deve ser a escolha de uma mente sadia? Ora, senhores! Trégua ao cinismo e à hipocrisia, por favor! Querem prender criminosos mediante intimação por edital, carta registrada, telefone?
Só uma profunda desonestidade intelectual pode justificar o argumento de que operação desse tipo não aconteceria no Leblon. Bandidos devem ser buscados onde habitualmente se escondem. A decisão de realizar operações cá ou lá não é tomada por preconceito, mas por estatística.
Nota do autor: Aos 60 anos da revolução cubana, estou ultimando uma nova edição ampliada e atualizada de “Cuba, a tragédia da utopia”. Ela estará disponível nos próximos meses.

______________________________
* Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

"Matadouros de seres humanos " ?

Nações Unidas denunciam "matadouros de seres humanos" https://www.dn.pt/mundo/interior/nacoes-unidas-denunciam-matadouros-de-seres-humanos-9144898.html

Notícias do dia 26/02

https://g1.globo.com/agenda-do-dia/noticia/segunda-feira-26-de-fevereiro.ghtml

domingo, 25 de fevereiro de 2018

"As minúcais" // Martha Medeiros

domingo, fevereiro 25, 2018

As minúcias 

Quadro decorativo Persistência da Memória de Dali MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA -RS - 25/02

Todos sabem: chato é aquele que, ao ser perguntado se está tudo bem, não consegue responder simplesmente que está. Ele acha que a pergunta foi pra valer, então ele discorre sobre tudo o que tem passado e sobre como anda sem esperança na humanidade. Como avisá-lo, sem que ele se sinta ainda mais deprimido, que foi apenas um cumprimento e 

Minúcias a gente guarda para o nosso advogado. Ele certamente vai precisar delas para nos inocentar.
nada mais?
Minúcias podem ser reservadas também para a família, já que nossos pais e filhos adoram saber o que já aprontamos, aqueles segredos que só podemos contar depois que o crime prescreveu e tudo vira piada.

Por fim, minúcias são bem-vindas em livros, na defesa de teses e em consultas médicas. Em nenhuma outra situação que eu me lembre. Nem mesmo (e principalmente) em conversa ao pé do ouvido com seu amor. Não quebre o clima levando a conversa para muito longe de onde vocês estão.

Ao telefone, evite. Seu neto se machucou na escola? Tadinho. Pule rápido para a parte em que ele se recuperou e ficou tudo bem. Adote a presteza do WhatsApp. O quê? Você discursa pelo WhatsApp? Chegou de que planeta?

Minúcias em festas, nem pensar. Alugar um convidado com uma história comprida é uma inconveniência. As pessoas querem circular, dançar, e não saber detalhes da sua operação no joelho. Você não operou o joelho? Sério, acabou de fazer o caminho de Santiago de Compostela? Ótimo, condense a odisseia em seis minutos. Sete, se foi tão fantástico assim. E troque para outro assunto, a não ser que seu ouvinte pegue você pelo braço, leve-o até um canto e implore pelos pormenores.

Quando estamos falando sobre nós mesmos, é quase incontrolável fazer uma retrospectiva detalhada das nossas experiências, mas lembre-se que a maioria das pessoas prefere o compacto dos melhores momentos. É mais que suficiente.

Entendi, você não está falando sobre si mesmo, e sim sobre seu primo que foi casado com não-sei-quem, que ele conheceu numas férias não-sei-onde. Você está falando do seu professor de matemática da quarta série que tinha propensão a ter acne. Você está falando da sua tia-avó falecida que fazia ótimos bolinhos de chuva. Você está falando de pessoas que não tivemos a honra de conhecer - e falando por horas, sem que a história empolgue. Não se magoe, mas tente lembrar se você não teve um primo que ficou preso no elevador com a Madonna, uma tia-avó que traficava maconha dentro dos bolinhos de chuva, um professor que foi preso político. Se não teve, invente.
Conversar é uma delícia: trocar confidências, falar de sentimentos, opinar sobre o mundo, dar dicas culturais, narrar aventuras, contar episódios divertidos - a tarde inteira, a noite inteira. Mas se o assunto for de uma banalidade extrema, não especifique demais. A gente ama você, mas ninguém está com tanto tempo sobrando.