sábado, 7 de outubro de 2017

Você não precisa saber o que é distopia... Você convive com ela ! /

El País

A nova era dourada das distopias

Séries de televisão, romances e filmes parecem ratificar que estamos em uma era de ouro das distopias

Continuação de ‘Blade Runner’, ambientada em 2049
Continuação de ‘Blade Runner’, ambientada em 2049 ALCON ENTERTAINMENT
A primeira utopia da literatura é a de Thomas Morus: uma ficção em que um dos marinheiros de Américo Vespúcio conta que encontrou a república perfeita na ilha de Utopia. Tudo começou ali, em 1516. Como escreveu Jill Lepore na revistaThe New Yorker, “a utopia é o paraíso; a distopia, o paraíso perdido”. Assim, uma segue a outra irremediavelmente, ou melhor, a utopia, a sociedade ideal, já contém sua própria distopia. Lepore afirma que estamos na era de ouro da distopia. Traça uma cronologia do romance distópico, que surge como resposta aos utópicos. Em 1887, a escritora Anna Bowman Dodd publicou A República do Futuro, uma distopia socialista ambientada em Nova York no ano de 2050. As pessoas não têm muito que fazer e passam o dia na academia, obcecadas pela forma. Como acontece em um dos capítulos de Black Mirror – uma das séries que lideram a volta da distopia tecnológica –, a distopia é a academia.
No fundo, poderíamos pensar, as distopias não mudaram tanto ao longo de dois séculos. Ou, com outras palavras, o caminho da humanidade, em sua maior parte, foi quase sempre na direção do progresso e o mundo é melhor do que era. Isso é demonstrado por livros como O Otimista Racional, de Matt Ridley, ou Enlightenment Now: The Case for Reason, Science, Humanism and Progress, de Steven Pinker. Por mais difícil que seja acreditar, estamos mais perto do que nunca do paraíso e, portanto, o espaço para a catástrofe é maior. As distopias podem ser apocalípticas ou não, aparecerem acompanhadas por um cenário de guerra ou não, mas em todas o que acontece é que a liberdade do indivíduo foi sacrificada para alcançar uma suposta perfeição. Os romances distópicos por excelência (Nós, de Ievguéni Zamiátin, publicado em 1924; Admirável Mundo Novo, deAldous Huxley, em 1932; 1984, de George Orwell, em 1949) são parábolas políticas. Os horrores vistos na Segunda Guerra Mundial dispararam os cenários apocalípticos e as possibilidades das sociedades autoritárias que as distopias exploraram. Depois veio a crítica do consumismo e do conforto que banalizaram tudo (Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, publicado em 1953, ou O Reino do Amanhã, de J. G. Ballard, em 2006). A Guerra Fria foi um terreno fértil para as distopias cheias de super-heróis e ameaças nucleares. Nas distopias de meados do século XX, Lepore vê a rejeição ao Estado liberal. A historiadora explica que, para cada dilema atual, há um romance distópico.
Em 1985 foi publicado O Conto da Aia, romance de Margaret Atwood que faz parte do que ela chama de “ficção especulativa”. É uma distopia feminista que se transformou em série de televisão em 2017. Por casualidade, começou a ir ao ar pouco depois da chegada de Donald Trump à Casa Branca e à manifestação das mulheres em reação. Naquele protesto havia uma faixa com o seguinte lema: “Make Margaret Atwood fiction again” (Façam que Margaret Atwood seja ficção novamente). No romance de Atwood houve um golpe de Estado nos Estados Unidos que devolveu o país aos princípios do puritanismo do século XVII. A série faz referências ao presente (Uber, Estado Islâmico) para que o paralelismo seja mais evidente. É uma sociedade vigiada, militar e teocrática, mas com uma particularidade: encontrou uma solução para o problema que o mundo enfrenta, a infertilidade provocada pela poluição ambiental. Em Gilead (esse é o nome, depois da guerra, dos Estados Unidos), as mulheres férteis são sequestradas, suas orelhas são grampeadas por um brinco (como se fossem gado, pois de fato o são) e são vestidas de vermelho. Depois de eficientes sessões de lavagem cerebral –que, claro, incluem torturas físicas e amputações– são enviadas às casas designadas para serem estupradas (e fecundadas) pelo chefe da casa uma vez por mês. A ideia é uma interpretação literal da Bíblia, verdadeira constituição da nova ordem. A questão que inevitavelmente surge é: como isso pôde acontecer? No prólogo da reedição do romance, Atwood explica que “sob determinadas circunstâncias, qualquer coisa pode acontecer em qualquer lugar”.
Perguntada sobre se o Conto da Aia é uma profecia, a escritora canadense diz que é, em vez disso, uma “antiprofecia: se esse futuro pode ser descrito em detalhes, talvez não chegue a acontecer. Mas tampouco podemos confiar muito nessa ideia bem-intencionada”. Nisso Atwood tem razão: no site Electric Literature, Andy Hunter reuniu algumas das previsões que aparecem em livros de ficção científica (a lista tem desde engenharia genética, tanques ou energia solar até a bomba atômica e a espionagem massiva dos Governos) e não é absolutamente reconfortante.
Histórias apocalípticas ou não, guerreiras ou não, em todas elas a liberdade do indivíduo é sacrificada para alcançar uma suposta perfeição
Por outro lado, o esquete de Muchachada nui sobre as previsões fracassadas do filme De Volta para o Futuro é um bom antídoto. Em parte, a função das distopias é fazer uma advertência do que o futuro pode trazer: é uma das leituras do romanceRendición, de Ray Loriga, em que a transparência e limpeza da cidade de vidro que permanece isolada da guerra são sinais inconfundíveis da ausência de emoções, isto é, da perda de humanidade. Os romances de Philip K. Dick são, entre outras coisas, uma advertência sobre para onde a proliferação tecnológica e a inteligência artificialnos levam.
Neste mês chegou a continuação do filme Blade Runner, ambientada em 2049 – o filme de Ridley Scott acontece em 2017 e no romance Andróides Sonham com Ovelhas Elétricas? o futuro distópico é em 1992. Além disso, está sendo preparada uma série que adapta alguns dos romances de Dick. Mas tambémWall-E, o filme da Pixar, tinha um alerta em forma de distopia com uma história de amor entre dois robôs.
O auge das distopias não se deve a Trump, mas não deixa passar a oportunidade de demonstrar o quanto é capaz de criar um cenário apocalíptico. Na verdade, elas nunca se foram. Embora tenham picos, como em Jogos Vorazes, uma trilogia juvenil que foi um sucesso literário antes de ser levada ao cinema. O que acontece, de acordo com Lepore, é que a distopia (e seus leitores) também têm uma classificação ideológica: durante o primeiro ano da presidência de Obama, A Revolta de Atlas, de Ayn Rand, vendeu meio milhão de exemplares e no primeiro mês de Trump na Casa Branca 1984 foi um dos livros mais vendidos na Amazônia.
Para Lepore, a distopia deixou de ser uma ficção de resistência e se tornou uma ficção de submissão. Seu sucesso responde à incapacidade – em parte resultado da preguiça e da covardia – de imaginar um futuro melhor e revela um desencanto também em relação à política: “De esquerda ou de direita, o pessimismo radical de um distopismo incessante contribuiu para desmantelar o Estado liberal e enfraquecer o compromisso com o pluralismo político”.
Aloma Rodríguez é escritora e jornalista. Seu último livro é Los Idiotas Prefieren la Montaña(Xordica)

O brasileiro quer se armar...

https://www.google.com.br/amp/s/noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/10/07/registro-de-armas-pelo-sistema-do-exercito-brasileiro-quadruplica-em-dois-anos.amp.htm#ampshare=https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2017/10/07/registro-de-armas-pelo-sistema-do-exercito-brasileiro-quadruplica-em-dois-anos.htm


"Onde está a democracia?" / Ruy Fabiano...

Onde está a democracia?

Democracia brasileira (Foto: Arquivo Google)(Foto: Arquivo Google)
A reforma política recém-aprovada pelo Congresso consolida o descrédito da sociedade em relação aos partidos e parlamentares. Trata-se, sobretudo, de uma reforma que não reforma.
A rigor, a única novidade importante que traz é a criação de um fundo eleitoral, que não tem teto, só piso: R$ 1,7 bilhão - o dobro do orçamento do Ministério da Defesa, que teve de retirar as tropas do Rio por falta de recursos. O dinheiro acabou em setembro.
Os recursos do fundo serão tirados do Orçamento da União. As emendas parlamentares ao Orçamento, destinadas em regra a setores essenciais, como saúde, educação e segurança pública, terão 30% de seus valores desviados para bancar os custos de campanha.
Isso pode ir bem além do valor previsto. Só para que se tenha uma ideia, no Orçamento de 2016, as emendas impositivas de bancada destinadas à educação somaram R$ 1,492 bilhão; à saúde, 4,4 bilhões; à infraestrutura, R$ 1,192 bilhão. Só com essas rubricas, os 30% somam mais de R% 2 bilhões. E há muitas outras.
No Orçamento de 2018, calcula-se que esse corte equivalerá a um mínimo de R$ 3 bilhões. Havia uma proposta alternativa, do senador Ronaldo Caiado, que preservava integralmente o Orçamento e retirava os recursos para o fundo da renúncia fiscal, decorrente do horário eleitoral dito gratuito. Essa renúncia é de R$ 1,5 bilhão.
A proposta extinguia esse horário, restringindo-o às emissoras estatais e às redes sociais, a custo zero, proibindo ainda acesso pago às emissoras privadas. Punha fim às produções hollywoodianas do horário “gratuito”, em que as grandes estrelas são os marqueteiros.
E ainda: restringia a propaganda nas emissoras estatais à presença do candidato, ao microfone e à câmera. Olho no olho do eleitor. Claro, foi rejeitada, sem que fosse sequer discutida.
O Congresso, sem maiores controvérsias, preferiu deixar como está e investir no orçamento, já de si comprimido pelo rombo legado pelos governos do PT – e que o atual, sem autoridade moral, cogita em normalizar por meio de reformas que não terá meios de empreender. Com 3% de apoio popular, índice que se estende a toda a classe política, não se reforma nem um carro velho.
A proibição de doações de empresas aos partidos, estabelecida pelo STF, criou essa situação. Em vez de corrigir as distorções, dando transparência às doações, simplesmente as proibiu.
O Congresso poderia ter suprido essa lacuna, estabelecendo, por exemplo, que uma mesma empresa não pode doar a mais de um partido, como ocorre nos Estados Unidos.
Optou, porém, pelo fundo público, o que não impedirá a velha prática do caixa dois e será gerido pela cúpula dos partidos. O crime organizado, por sua vez, fortalecerá sua condição de doador e eleitor.
Uma mudança importante aprovada, o fim das coligações nas eleições proporcionais – expediente que permite que um Tiririca traga consigo mais uma dúzia de sem votos -, ficou para 2020.
Em 2018, teremos mais do mesmo. O máximo que se cedeu foi com a aprovação de uma cláusula de barreira bastante tímida, que não propiciará uma redução significativa das legendas de aluguel.
Para compensar, no entanto, embutiu-se na reforma algo que, além de inconstitucional, extrapola o seu universo de alcance: uma censura à internet. Por ela, qualquer parlamentar que se sentir ofendido por uma informação, ainda que verídica, poderá tirá-la do ar em 24 horas, mesmo sem autorização judicial.
Temer promete vetá-la. É o mínimo.
De quebra, adiou-se a adoção do voto impresso, colocando-se o eleitor mais uma vez diante do imponderável. A Smartmatic, empresa que fabrica as urnas utilizadas no Brasil, admitiu que são vulneráveis e que, na Venezuela, fraudaram as eleições. E aqui?
Pela teoria das aproximações sucessivas, mencionada pelo general Hamilton Mourão, cujo retrato, em um banner de dez metros de altura, foi colocado esta semana em frente ao Congresso, a crise avança cada vez mais. Democracia é o melhor remédio para os males que ela mesma gera, não há dúvida. Mas por onde anda a dita cuja?

Vândalos e policiais, cúmplices ...! Ricardo Noblat

Vândalos e policiais, cúmplices (07/10/2013)

Ricardo Noblat

 
Vinte mil pessoas reclamam no centro do Rio por melhores salários e um plano de cargos e salários. Um reduzido grupo de vândalos jogou bombas há pouco. Por que a polícia não os prende - e quando prende alguns solta rapidinho?
Porque os vândalos servem à polícia e ao Estado. São responsáveis pelo esvaziamento das recentes manifestações.
Passeata entre a Candelária e a Cinelândia.Rio Branco (Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo)Passeata entre a Candelária e a Cinelândia.Rio Branco (Foto: Pedro Kirilos / Agência O Globo)

Frase de Torquato Jardim... / G1

Frase

"... o brasileiro "tem vergonha de falar em dinheiro". "Desde a mais remota antiguidade, dinheiro vem casado com política e sexo"

Torquato Jardim, 
ministro da Justiça

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Notícias incríveis de Brasília / coluna de Cláudio Humberto


sexta-feira, outubro 06, 2017


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

BATTISTI USA SUPOSTO FILHO CONTRA SUA EXTRADIÇÃO


O terrorista Cesare Battisti recorreu à mesma manobra dos criminosos internacionais que fogem para o Brasil em busca de impunidade, a exemplo do assaltante britânico Ronald Biggs: ter um filho brasileiro. Tentando impedir a extradição, advogados dele alegam no Supremo Tribunal Federal que o suposto filho de Battisti “depende econômica e afetivamente dele”, como consta do artigo 53 da Lei de Estrangeiros.

BANDIDO ESPERTO
Enquanto advogados recorriam ao STF contra a extradição, o terrorista Battisti era preso tentando fugir para a Bolívia. Sem a mulher e o filho.

SAIA JUSTA
É de Aloysio Nunes, atual ministro das Relações Exteriores, a Lei de Estrangeiros usada pelo criminoso para tentar escapar da extradição.

BANDIDO SÁDICO
Battisti matou 4 covardemente, como atestaram duas condenações à prisão perpétua. Sádico, diz a Justiça, gargalhava sobre os mortos.

TESTEMUNHA-CHAVE
Uma vítima Battisti, segundo a Justiça italiana, foi executado na frente do filho de 15 anos, que, ferido, sobreviveu. Mas ficou paraplégico.

TSE VÊ SUSPEIÇÃO DE JUIZ DO TRE-PA LIGADO AO PT
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverteu uma asneira do Tribunal Regional Eleitoral do Pará, que cassou o governador Simão Jatene (PSDB). Foi alegada suspeição de um dos algozes de Jatene no TRE-PA, José Alexandre Buchacra Araújo, ex-filiado ao PT, aliado ao PMDB de Helder Barbalho derrotado por Jatene. O ministro Herman Benjamin, de TSE, viu elementos de suspeição do juiz e suspendeu a cassação.

NULIDADE
A decisão do TRE-PA contra Jatene é considerada “contaminada de nulidade”, pela participação de um juiz suspeito.

ESTACA ZERO
Agora, com a decisão do TSE, que é definitiva, o caso Simão Jatene voltará ao TRE-PA para afastar, ou não, o juiz Buchacara.

AÇÃO CONTRA O JUIZ
A defesa do governador do Pará agora avalia medidas administrativas em relação a Buchacara, diante dos prejuízos causados a Jatene.

ATO DE VIOLÊNCIA
A substituição do deputado Bonifácio Andrada (MG) na CCJ foi considerado pelo governo um “ato de violência” contra um dos decanos da Câmara. Para Temer, ele não merece esse tratamento do PSDB.

LAVA JATO DEFINIRÁ
O senador Fernando Bezerra trocou o PSB pelo PMDB, mas ainda não assumiu a candidatura ao governo de Pernambuco. Vai depender da evolução das investigações que pesam contra ele, na Lava Jato. A opção seria o herdeiro, ministro Fernando Filho (Minas e Energia).

FALA, GONZAGÃO
Só se surpreendeu com o Progredir no Nordeste, porta de saída do Bolsa Família, quem ignora os versos de Luiz Gonzaga: “Dar esmola a um homem que é são/ Ou lhe mata de vergonha/Ou vicia o cidadão”.

SERRA FORA
Investigado e adoentado, o senador José Serra (PSDB-SP) renunciou à presidência da Comissão Especial que analisa da Medida Provisória 795/17, que trata de incentivos fiscais à exploração de petróleo.

OTIMISMO
A aprovação pela CCJ do Senado do projeto da senadora Maria do Carmo (DEM-SE), que abre caminho para demitir servidores relapsos ou incompetentes, reanimou o governo a retomar as reformas.

MAIOR DA HISTÓRIA
Só a folha de pessoal do governo Michel Temer para o ano de 2017 soma R$306,9 bilhões, sem contar as “vantagens eventuais”. O projeto do Orçamento para 2018 já é o maior da História do Brasil.

REVERSÃO EM BRASÍLIA
Acontece em Brasília o que parecia improvável: na reta final de um rígido controle fiscal, aos poucos o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) recuperar musculatura para se candidatar à reeleição, em 2018.

PANCADARIA NA CPI
Durante o depoimento do advogado Willer Tomaz de Souza, na sessão secreta da CPI mista da JBS, o ex-procurador-geral Rodrigo Janot foi “espancado” de forma inclemente, segundo expressão de um dos seus integrantes. Sobrou também para o ministro relator Edson Fachin.

PENSANDO BEM...
...nada mais governista que um deputado cuja família está no Congresso há 195 anos


"A parábola do réu pródigo" / José Nêumanne

José Nêumanne: 

A parábola do réu pródigo

A tentativa de transferir delitos para sua mulher, Marisa Letícia, morta, revelou o hábito de manifestar esse laivo machista e covarde de seu caráter

Publicado no Estadão
Quem é Luiz Inácio Lula da Silva? O herói que deu acesso às linhas aéreas e ao ensino superior aos pobres e por isso conta com o apoio de pelo menos 35% dos eleitores, o dobro da preferência atribuída aos dois principais adversários, de acordo com a pesquisa Datafolha – o oficial da reserva que conta com a nostalgia da ditadura militar e a militante ambiental? O bandido que já deveria ter sido preso, na opinião de 54% dos mesmos entrevistados? Ou seria os dois em um? Talvez fosse ainda o caso de acrescentar mais uma quarta opção: todas as hipóteses anteriores.
Os fatos falam por si. Em dois mandatos de quatro anos cada, o ex-líder sindical virou dono do Partido dos Trabalhadores (PT) e “messias” das esperanças salvacionistas da esquerda e de grande parcela da população, porque amealhou um prestígio avassalador. Este lhe garantiu eleição, reeleição após ter sido flagrado com a mão na botija no escândalo do mensalão e metade do mérito pela vitória da “poste”, que impôs aos companheiros petistas, eleita com a mãozinha nada desprezível do PMDB de Michel Temer e reeleita pela lei da inércia e pelo sucesso da repetição da parceria. A estratégia sensata de não se opor às conquistas dos antecessores que se lhe opunham, para depois construir sua própria fortuna, no maior assalto ao conjunto dos cofres da República, reservou-lhe o lugar mais alto no pódio dos heróis. Ainda hoje, apesar de tudo o que já se descobriu sobre ele, Lula exibe a mais bem-sucedida trajetória pessoal de uma política fragmentária e cruel como o é a nossa. Isso é suficiente para lhe garantir o apoio incondicional de um terço do eleitorado nacional, que nada cobra dele.
Muitas razões mais têm os 54% que disseram aos pesquisadores que os abordaram que o que foi descoberto de sua longa e profícua atividade fora da lei pelos policiais federais e procuradores da Operação Lava Jato já dá motivos suficientes para que o titular da operação, o juiz federal Sergio Moro, o condene a uma cela no inferno prisional brasileiro.
Lula protagoniza a parábola do réu pródigo. No âmbito da Lava Jato, foi condenado em primeira instância a nove anos e meio de prisão, acusado de ter recebido uma cobertura triplex no Guarujá como propina da Construtora OAS, por serviços que lhe prestou no governo. Na mesma operação responde a acusações do Ministério Público Federal de ter recebido da Odebrecht o apartamento vizinho ao dele em São Bernardo e um terreno, no qual teria pretendido construir a sede do Instituto Lula. Na Justiça Federal de Brasília é acusado em processos penais que dizem respeito a tráfico de influência, negócios em Angola e obstrução de Justiça. É uma incrível via-crúcis com várias estações do Código Penal.
Ilícitos penais à parte, revelações vindas à tona ao longo desse percurso, que sua defesa chama de perseguição política, desnudaram atitudes nada condizentes com seu ícone de mártir popular. Apelidado de “amigo” de Emílio Odebrecht nas planilhas do departamento de propinas da empreiteira, teve o dissabor de ser acusado por este de ter comprado dele greves de interesse da empresa no Recôncavo Baiano. Assim como antes havia sido apontado como informante das lutas sindicais ao então diretor do Dops, Romeu Tuma, pelo filho homônimo deste no livro Assassinato de Reputações (Topbooks, Rio, 2013), nunca contestado por Lula, algum advogado ou aliado dele. No livro O que Sei de Lula (Topbooks, Rio, 2011), narrei um encontro no qual ele relatou particularidades do movimento sindical a um agente do Serviço Nacional de Informações (SNI), em plena ditadura militar, que ele ajudou a derrubar ao desafiar a legislação trabalhista com as greves que liderava no ABC.
A tentativa de transferir delitos de que é acusado para sua mulher, mãe de seus filhos e avó de seus netos, Marisa Letícia, morta, revelou o hábito de manifestar esse laivo machista e covarde de seu caráter.
A carta de seu ex-lugar-tenente Antônio Palocci, que foi ministro da Fazenda em seu governo e chefe da Casa Civil na (indi)gestão de Dilma Rousseff, contém detalhes malfazejos desse caráter cheio de jaça. Pouco importa que o missivista esteja longe de ser um santo, como demonstrou o sórdido episódio da desqualificação do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que testemunhou contra ele no escândalo de certa mansão em Brasília. Os crimes de que é acusado o ex-prefeito de Ribeirão Preto foram cometidos sob a égide de Lula.
Outro episódio que expõe à luz solar sua contumácia em mentir com cinismo é o dos recibos entregues por sua defesa para “comprovar” que Marisa – sempre ela! – pagou religiosamente os aluguéis de um apartamento que o casal ocupa ao lado da própria moradia a um incerto Glaucos da Costamarques, que aparece como Pilatos no Credo. Ou como o J. Pinto Fernandes, súbito personagem do poema Quadrilha (que não se perca pelo título apropriado para o caso), de Carlos Drummond de Andrade.
Seu discípulo na arte de tergiversar, o dr. Zanin Martins apareceu com recibos que nada comprovam, pois transações comerciais rotineiras não são atestadas por eles, mas por movimentação bancária fiscalizada pelo Banco Central. E ainda reinventou o calendário gregoriano, datando dois em inexistentes 31 de junho e 31 de novembro. Os papéis inúteis poderão provocar o vexame de revelar mais uma farsa típica de Lula se a perícia da Polícia Federal atestar em laudo que foram assinados no mesmo dia.
O mito do teflon de Lula, que evita lama em seu ícone, é ajudado por pesquisas como a última em que ele surgiu como adversário do juiz que o condenou, Sergio Moro. Qualquer brasileiro com QI superior a 30 sabe que não lhe será fácil obter daqui a um ano atestado de ficha limpa e que o julgador em parte de seus processos penais não deixará a carreira para se candidatar a nenhum posto na política. Trata-se do mesmo material de ilusões de que é feita sua fama de intocável.

“A ausência de limites é inimiga da Arte”, Orson Welles

“A ausência de limites é inimiga da Arte”, como disse Orson Welles

“Minha afirmação como artista explica que meu trabalho é totalmente incompreensível e, portanto, cheio de significados!”, escreveu  Bill Watterson, criador da genial tirinha “Calvin e Hobbes”.
Calvin é um garoto de seis anos muito esperto apesar de só tirar notas baixas. Seu melhor amigo é Hobbes, um tigre sarcástico que não tem medo de mostrar ao Calvin como é a realidade.
Calvin e Hobbes ocupados em não fazer nada (Foto: calvinandhobbesgifs.tumbir.com)Eles ensinam a seus leitores uma lição muito importante: a curiosidade e o desejo de compreender o mundo são tão importantes quanto se divertir ou não fazer nada. Faz parte de crescer e é o que fazemos diariamente.
Assim eu, Maria Helena, curiosa, aprendi com Calvin e Hobbes e resolvi ver mais de perto o que pensavam sobre Arte grandes figuras que passaram pelo mundo.  Copio neste espaço alguns desses pensamentos.  Espero que ajudem a ver como o mundo de hoje está querendo acabar com a Beleza.Por quê? Sei lá; vamos esperar que surja uma pessoa capaz de nos explicar direitinho o motivo...
Calvin e Hobbes ocupados em não fazer nada (Foto: calvinandhobbesgifs.tumbir.com)
“Quem trabalha com as mãos é o operário; quem trabalha com as mãos e a cabeça é o artesão; quem trabalha com as mãos, a cabeça e o coração, é o artista”. São Francisco de Assis

“Tenho a impressão que a única coisa que torna possível encarar o mundo em que vivemos sem desconforto é a beleza que de vez em quando o Homem tira do caos. Os quadros que pinta, a música que compõe, o livro que escreve, a vida que leva. De tudo, o mais rico em beleza é a vida bem vivida: essa é a mais perfeita obra de arte”.  Somerset Maughan, em O Véu Pintado
“Quando críticos de arte se reúnem, eles falam da Forma, da Estrutura e do Significado. Quando artistas se reúnem, eles conversam sobre onde encontrar terebentina mais em conta”.Pablo Picasso
“Uma obra de arte num museu ouve mais opiniões ridículas do que qualquer outra coisa no mundo”. Edmond de Goncourt
Arte ou é revolução ou é plágio”. Paul Gauguin
"A função da arte não é, como acreditam certos artistas, a de impor ideias ou servir de exemplo. Sua função precípua é preparar o homem para a morte, trabalhar e irrigar sua alma e a tornar capaz de se voltar para o bem". Andrei Tarnovskiem O Tempo Lacrado
“Por que a Arte não deve ser bela? Já há coisas desagradáveis demais no mundo...”. Pierre-Auguste Renoir
“Digo que bons pintores imitam a natureza; os maus a vomitam”.  Miguel de Cervantes
“A cor é o teclado, os olhos são os martelos, a alma é o piano com suas muitas cordas. O artista é a mão que, tocando esta ou aquela tecla, faz a alma vibrar automaticamente”.Vladimir Kandinsky
“Uma obra de arte digna desse nome é aquela que nos traz de volta o frescor das emoções da infância”. André Breton
“A palavra Arte no início significou maneira de fazer e mais nada. Essa acepção ilimitada foi perdida com o uso”.  Paul Valéry em seu Cadernos

Depois de milhares de palavras e de dezenas de horas de discussão os Poderes dizem que está tudo certo ...!

sexta-feira, outubro 06, 2017

‘Afrontá-la, nunca!’ - 

ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 06/10

Cármen Lúcia, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia são decisivos contra a crise entre Poderes


É conversando que a gente se entende e foi exatamente conversando que os presidentes do Supremo, Cármen Lúcia, do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, estão apagando mais um incêndio que poderia tomar grandes proporções entre os dois Poderes.

Depois de muita tensão entre Congresso e Supremo, ontem foi dia de bandeira branca, aproveitando a solenidade pelos 29 anos da Constituição de 1988. Estavam lá, amigavelmente, os três presidentes, ministros e parlamentares que participaram daquele grande momento da democracia brasileira e ainda hoje são seus fiéis defensores, como Miro Teixeira, do Rio.

Visões diferentes de mundo, reações corporativas e eventuais divergências fazem parte da vida, ninguém é obrigado a concordar sempre. Mas o fundamental é que o Legislativo faz leis e o Judiciário as interpreta e aplica e que não é bom para a democracia – logo, para o País – quando Poderes se estranham e se confrontam.

Depois da crise gerada pela decisão monocrática do ministro Marco Aurélio derrubando o então presidente do Senado, Renan Calheiros, agora foi a Primeira Turma, com os votos de Roberto Barroso e os dois próximos presidentes do TSE, Luis Fux e Rosa Weber, que jogou o Senado contra o STF, num embate entre instituições em que nenhuma delas sai vitoriosa.

O pivô desta vez foi o senador Aécio Neves, presidente afastado do PSDB, que recebeu R$ 2 milhões de Joesley Batista e foi delatado pelo benfeitor. Mas, apesar de pivô, Aécio é uma figura secundária na nova crise, porque ele tem um encontro inexorável com a Justiça e crise não é para salvá-lo, é para resguardar a independência entre Poderes.

A decisão da Primeira Turma de afastar Aécio do mandato e criar a figura do “recolhimento noturno” deixou o Senado em polvorosa, já que senadores e deputados não podem ser presos, a não ser em flagrante delito inafiançável e o tal “recolhimento noturno” é um eufemismo para... prisão. E até no STF os ministros se dividiram: apoiar os três colegas ou dar razão ao Senado?

Assim, o Senado aprovou urgência para autorizar ou não a prisão, ops!, o recolhimento noturno do tucano e o STF marcou data para definir regras claras para punições de deputados e senadores, principalmente se o plenário da Câmara e do Senado têm de autorizar, além da prisão, também medidas cautelares como recolhimento noturno.

Escolhidas as armas, Eunício Oliveira seguiu um caminho familiar para Rodrigo Maia: o do gabinete de Cármen Lúcia. Foi ali, conversando, que a solução foi construída: o Senado adiou a decisão sobre desautorizar ou não a Primeira Turma para o dia 17, ou seja, para depois do julgamento do Supremo sobre punições a políticos com mandato.

A expectativa é que o STF repita a solução para a crise Marco Aurélio-Renan: o pleno faz mil elogios a Fux, Rosa e Barroso, mas decide, em tese, contra as medidas cautelares aplicadas a Aécio. Se for assim, o Senado fará sua parte na semana seguinte, deixando a crise com o STF para lá e se concentrando no afastamento de Aécio pelo Conselho de Ética, sem interferência “externa”.

Na votação do adiamento, Roberto Requião, Gleisi Hoffmann e Renan Calheiros aproveitaram para atacar o Supremo, mas o resultado tende a estancar a crise. Foi um acordão, apesar de seus atores preferirem dizer que “prevaleceu o bom senso, o diálogo”.

Repetindo o histórico discurso de Ulysses Guimarães 29 anos atrás, Cármen Lúcia lembrou que a Constituição não é perfeita, mas não há alternativa: “Discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca”. Vale tanto para senadores e deputados quanto para ministros do Supremo, de hoje e sempre.