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sábado, 24 de novembro de 2012

Motel para casais caninos em Belo Horizonte


The New York Times24/11/2012 | 04h03

Motel em Belo Horizonte é especializado em romances de cachorros

Animalle Mundo Pet oferece aos casais caninos quartos com cortinas escuras, colchões vermelhos e até espelhos no teto

Motel em Belo Horizonte é especializado em romances de cachorros Lalo de Almeida/NYTNS
Cachorro tem direito a espelho no teto nos quartos do Animalle Mundo PetFoto: Lalo de Almeida / NYTNS
Simon Romero

Belo Horizonte, Brasil – Espelho em formato de coração no teto: confere. Cortinas fechadas para bloquear a entrada de luz: confere. Colchão vermelho: confere.

O estabelecimento que abriu aqui este ano tem características que clientes exigentes naturalmente esperam de um motel. O Brasil, afinal de contas, é líder mundial em lugares prazerosos para uma rápida estadia, o que atrai os casais para encontros amorosos longe de olhares curiosos, com nomes como Swing, Absinto e Álibi, e com decorações como a de castelos medievais ou do faroeste americano.

Mas o mais novo motel de Belo Horizonte se diferencia da multidão por um aspecto crucial. É para cachorros.

O Animalle Mundo Pet, um empreendimento de oito andares em um bairro de classe alta nesta cidade de 2,4 milhões de pessoas, apresentou seu motel para cães junto com alas de artigos como cerveja com gosto de carne para cachorros (sem álcool), um spa para cachorros com um ofurô de imersão japonês e roupas para cachorro estampadas com os brasões dos times Atlético Mineiro e Cruzeiro.

— Adoro o romantismo desse lugar — disse Andreia Kfoury, de 43 anos, gerente de uma empresa de tecnologia que recentemente deu uma espiada no Motel Pet numa manhã em que ela e seu marido compravam roupas para seu Yorkshire terrier, Harley. O casal, entusiasta das motocicletas, gastou cerca de 500 dólares em itens importados da Harley-Davidson para o cachorro.

— Com certeza vou trazer o Harley de volta aqui quando for a hora de cruzar — disse Kfoury com um sorriso. — Ele é muito macho e seria uma sensação nesse lugar.

Se cães como Harley precisam mesmo de uma suíte romântica, com cortinas fechadas para acasalar, parece fora de questão. Alguns donos de cachorro apenas gostam do conceito de um motel para seus bichinhos amorosos e se dispõem a pagar cerca de 50 dólares por sessão, que o Animalle ficará feliz em providenciar. Se não sair como o planejado, alguns estão preparados para gastar ainda mais por uma inseminação artificial, outro serviço do Animalle.

A atmosfera de colmeia do mega pet shop de Belo Horizonte, que emprega 35 funcionários (sem contar os veterinários de plantão), aponta não apenas para o aumento da população de cachorros de estimação no Brasil, hoje de 36 milhões, mas também para grandes mudanças na sociedade brasileira depois de anos de crescimento econômico e mudanças nos padrões demográficos. Lojas similares prosperam em outras cidades grandes do Brasil: em São Paulo, foi inaugurado um hospital público para cachorros e gatos; e alguns cirurgiões plásticos oferecem aplicações de Botox para os cãezinhos.

Desde que um programa de estabilização econômica foi colocado em prática nos anos 90, a renda per capita cresceu bruscamente no Brasil, para cerca de 10 mil e 700 dólares por ano, de acordo com o Banco Mundial, permitindo que as pessoas gastem mais com seus bichos de estimação. As famílias estão cada vez menores, com a taxa de natalidade caindo para menos de 1,9 filhos por mulher, de 2,5 nos anos 90, de acordo com estatísticas do governo, dando aos bichinhos um novo papel em muitos lares. E a expectativa de vida cresceu para 73 anos, dos 67 daquele tempo. Com a idade, as pessoas podem recorrer aos animais em busca de companhia.

Uma crescente classe média no Brasil, em particular, gerou um rápido crescimento nos serviços para cachorros e seus donos entusiastas. Em alguns nichos, o Brasil ultrapassa os Estados Unidos e outros países de alta renda: Ele é número 1 no ranking dos países com cachorros pequenos (com nove quilos ou menos) per capita, com quase 20 milhões, de acordo com a Euromonitor, uma empresa de pesquisa de mercado.

— Eu estava cansada de ser advogada e percebi que o mercado para cachorros estava crescendo muito — disse Daniela Guimarães Loures, de 28 anos, dona de um dálmata e que investiu um milhão de dólares junto com seu irmão para abrir a Animalle em julho. Referindo-se a números publicados em revistas como Negócios Pet, ela disse que os pet shops do país geram mais de seis bilhões de dólares em receita total ao ano.

Para abrir o motel de cachorros, os irmãos arrendaram um antigo hospital infantil em Gutierrez, uma área arborizada de Belo Horizonte. Eles agora oferecem hospedagem para cães e gatos, um táxi para transportar animais, um café que serve iguarias como muffins com gosto de carne e uma loja que vende produtos especiais como o Chic Animale, um perfume para cachorros produzido em Porto Alegre. O frasco é vendido por 40 dólares.

Embora partes do estabelecimento sirvam aos donos de gatos, peixes e roedores como esquilos da Mongólia, o foco é claramente nos cachorros. Juliana Lima, de 24 anos, estudante de psicologia que trabalha no Animalle tosando e dando banho em cachorros, disse que a demanda para o motel de cachorros foi grande, embora não tenha ficado claro se alguma das sessões de acasalamento serviu para gerar filhotes.

— Estamos funcionando há apenas alguns meses — disse Lima — e isso é uma coisa nova.

O motel de cachorros aproveita o fascínio brasileiro por acomodações de curta estadia para atividades sexuais. Os motéis do Brasil são parecidos com os motéis norte-americanos, já que muitos estão à beira de estradas e oferecem acesso fácil – e anônimo, esperam os clientes – aos motoristas. Mas aqui, eles compartilham certas características, como a arquitetura e os temas, com hotéis de renome no Japão.

Os donos de bichinhos atendidos pelo Animalle frequentemente não resistem e acabam espiado boquiabertos por trás das cortinas do Motel Pet.

— O ambiente daqui é adorável — disse Teresa Cristina Carvalho, que mostrou para sua filhote de Shih Tzu, chamada Mel, as acomodações do local. — Voltaremos quando a Mel estiver no cio — disse, acrescentando que, enquanto isso, ela compraria uma garrafa de cerveja para cachorros para sua filhote.

— A Mel fica agitada com tanto estímulo, e precisa relaxar um pouco — explicou Carvalho. — Pensando bem, eu também preciso de um pouco de paz e sossego.
THE NEW YORK TIMES NEWS SERVICE

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