Com DNA boleiro, Guerrero tem
infância humilde na Avenida Brasil
Atacante do Timão é irmão e sobrinho de jogadores. Ainda pequeno, ele viveu na rua de mesmo nome da famosa novela da TV Globo
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"Oi, oi, oi”. Tão logo a música de apresentação de “Avenida Brasil” aparecia na tela da TV Globo, os telespectadores se empolgavam. Tufão, Carminha e Nina, entre tantos outros personagens, formaram o roteiro de uma novela cheia de drama e suspense. A história de Paolo Guererro, herói do Corinthians no Mundial de Clubes, tem traços parecidos. Na Avenida Brasil, mas não na do Rio de Janeiro, e sim no bairro de Chorrillos, em Lima, ele viveu infância humilde e deu os primeiros chutes na bola - hoje, a rua se chama Abrahan Ballenas, mas as placas de algumas casas conservam o nome tradicional.
Assim como Jorginho, filho de criação do renomado jogador Tufão na trama, Guerrero tem na família um ambiente boleiro. Mas duas diferenças fundamentais separam o atacante do Timão do personagem da novela. O corintiano tem raízes ligadas ao futebol por parte da família da mãe, Petronila Gonzales, e este DNA lhe ajudou a obter sucesso no futebol, diferentemente de Jorginho no Divino FC.
Além do tio José Gonzales “Caico” Ganoza, goleiro falecido em uma tragédia, e de dois tios-avôs de Guerrero, que jogaram no River Plate e no Boca Juniors, os três irmãos também tentaram a sorte na bola. Todos passaram pela base do Alianza Lima, mas só Julio Rivera, o mais velho, com 45 anos, conseguiu destaque. Inicialmente ponta-direita e depois lateral, ele foi vice-campeão da Libertadores com o Sporting Cristal diante do Cruzeiro, em 1997. Com “Coyote” (apelido de Julio pelo vigor físico e velocidade) jogando profissionalmente, as coisas melhoraram para todos.
Mais velho, ele tinha de cozinhar para Pablo, Oscar e Paolo Guerrero, enquanto a mãe Petronila Gonzales trabalhava como secretária no Instituto Nacional de Estatística. Separada do pai de Paolo, José Guerrero - os outros três irmãos têm outro pai -, ela tinha de levar os filhos para o clube, em diferentes horários, de acordo com a categoria de cada um deles. Em resumo: uma guerreira sem o sobrenome do filho ilustre.
Louco por gols até na infância
Passados os primeiros chutes na Avenida Brasil, Guerrero começou a atuar no campo da “Union de Barranco”, também em Chorrillos. Mas já nas ruas ele havia aprendido a finalizar com as duas pernas, característica usada até hoje. Em partidas entre times de bairros, jogava pelo “Las Aguilas”, antes de finalmente chegar ao Alianza Lima, com sete anos. Antes disso, ainda pequeno, ele já mostrava espírito competitivo.
“Paolo nunca gostou de perder”, é a frase unânime entre familiares. Nem mesmo os chamados da rígida mãe para o almoço interrompiam seu futebol. Nas brincadeiras de bola, ele chegava até a chorar quando não balançava a rede. Assim, os irmãos tinham de deixá-lo marcar, para que ficasse feliz. Hoje, é justamente este empenho que aumenta a admiração dos torcedores por ele.
- Se tivéssemos 11 Guerreros, que não gostam de perder e também se entregam, chegaríamos facilmente à Copa do Mundo - conta o irmão Julio, sobre os comentários dos fãs que chegam a ele.
Competitivo, Guerrero sempre jogou com garotos mais velhos. Da infância até a adolescência, passou por três colégios diferentes em Lima. No último deles, o “Los Reyes Rojos”, atuou pelo time da escola. Lá, tinha a admiração do diretor Constantino Carvalho, também dirigente e formador de garotos na base do Alianza Lima, falecido em 2008. Além da mãe, fundamental no seu crescimento como homem e jogador, Constantino também teve papel importante na formação de Guerrero.
Atualmente, a mãe ainda vive em Chorrillos, mas em uma casa bem melhor, comprada pelo próprio Paolo. Enquanto isso, a família mantém ligação com a Avenida Brasil por meio de Juan Gonzales Ganosa, tio do jogador que mora no mesmo local onde ele passou a infância.
Travessuras antigas e novas
Guerrero sempre foi um apaixonado por futebol, a ponto de ultrapassar limites. Aproveitando-se da ausência da mãe trabalhadora, ele enganava a avó Angélica. Com dez anos, guardava uniforme e chuteira em uma mochila, e fingia que iria dormir. Ao perceber o sono da parente, fugia para jogar bola.
Mas não era só a bola o alvo das loucuras de Guerrero. Quando pequeno, o garotinho gostava de brincar com seu cachorro. Certa vez, enquanto comia, ele cismou de colocar o animal sob duas patas, para dançar com ele passos de lambada brasileira. No meio da brincadeira, o cachorro mordeu seus lábios e o corintiano teve de levar diversos pontos na boca.
A paixão por animais, aliás, ele cultiva até hoje. Fanático por corridas de cavalos, Guerrero dá a eles os nomes de seus cachorros. O que também permanece com o jogador de 28 anos são as travessuras. Há poucos anos, ele esteve em Lima e foi saudado por uma festa na rua onde sua mãe mora atualmente. Para comemorar, Guerrero soltou fogos, mas sem usar uma base sólida antes de acendê-los. Resultado: o objeto voou na direção da multidão, mas felizmente ninguém se feriu gravemente. A consequência foi uma sonora bronca da brava mãe, que lhe pegou pelas orelhas.
Não se sabe o que a vida reserva para o futuro de Guerrero, mas se o roteiro for parecido com o escrito por João Emanuel Carneiro, em Avenida Brasil, a torcida do Corinthians pode aguardar muito mais emoções.
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