Confrontos ofuscam Natal na Síria pelo segundo ano seguido
Igrejas do país pediram que a comunidade respeite as mortes e não coloquem enfeites do lado de fora das casas.
BBC Brasil | - Atualizada às
Pelo segundo ano consecutivo, a Síria passa o Natal sem comemorações por causa dos confrontos que assolam o país há 21 meses. Nesta época do ano em tempos de paz, as ruas de Damasco costumavam ficar cheias de árvores de Natal e decorações, não apenas nos bairros cristãos. Mas dessa vez, de novo, as ruas estão vazias.
Em 2012, apenas uma loja da capital síria colocou à venda enfeites de Natal, mas poucos apareceram para comprar. 'Ninguém está com ânimo para comemorar. Eles não têm dinheiro para gastar com luxo como este e não querem comemorar enquanto pessoas são mortas não muito longe daqui', afirmou o dono da loja.
Ele aponta para os arredores de Damasco, onde os bombardeios do governo podem ser ouvidos dia e noite. E um recente episódio de violência no domingo aumentou ainda mais o desânimo dos sírios. Um ataque aéreo na cidade rebelde de Halfiya atingiu uma fila em uma padaria e, segundo ativistas de oposição, teria deixado mais de 90 mortos.
Pedido da igreja
As igrejas do país pediram que a comunidade respeite as mortes que acontecem e não coloquem enfeites do lado de fora das casas. O bispo Ishak Barakat, da Igreja Grega Ortodoxa da Cruz em Damasco, afirmou que, com o país em guerra, esse Natal será mais discreto.
"Como toda a sociedade síria, estamos muito tristes com o que está acontecendo e pelos ataques brutais contra pessoas inocentes", afirmou. "Como Igreja, decidimos que, como na Páscoa e no Natal passados, os serviços serão limitados a orações nas igrejas. Não vai haver comemorações", acrescentou.
O bispo afirmou que não há um risco em particular para os cristãos, mas acrescentou que os fiéis da igreja também não estão excluídos do conflito.
"Somos parte deste país, parte da sociedade síria. Não significa que, como cristãos, estamos fora do que está acontecendo no país." "Hoje, quando um foguete cai, ele não tem olhos para ver se é um cristão ou um muçulmano. Está matando humanos. Como Igreja, acreditamos que todos somos feitos à imagem de Deus."
No entanto, alguns cristãos se sentem mais ameaçados. Muitos fugiram da Síria e foram para os países vizinhos . Alguns dos que fugiram simplesmente se viram em meio aos confrontos, outros temem se transformar em alvos de ataques dos combatentes de oposição. A comunidade está tensa. Cerca de 10% da população do país é cristã.
Fitas e cartazes
A cidade de Jaramana, ao sul de Damasco, é habitada por minorias, incluindo cristãos. Nos últimos meses, o lugar tem sido alvo de ataques com carros-bomba que deixaram muitos civis mortos.
Em uma rua perto da praça Al Raees, onde houve explosões, fitas brancas foram colocadas em varandas e balcões, um sinal tradicional de luto entre os cristãos locais. Pelo menos 16 foram mortos na rua depois de uma explosão.
Cartazes com anúncios de mortes estão colados nas paredes. As famílias das vítimas se recusam a falar, temendo a exposição. No entanto, uma mãe recebeu a reportagem da BBC em casa, sob a condição de não divulgar seu nome.
Ela perdeu dois filhos: um morreu em um ataque em um posto de fiscalização. O outro correu para ajudar os feridos depois da explosão de um carro-bomba e foi morto em uma explosão subsequente. Apenas um dos filhos ainda está vivo e ela quer paz, para que ele não morra.
Outros cristãos não temem o envolvimento com o conflito. Fares é de Jaramana e afirma que tem participado de protestos e levado ajuda humanitária para os refugiados de outras partes do país.
"Não me sinto ameaçado por ser cristão. Esse é um jogo do regime para que as minorias temam a revolução", disse. 'Culpo o regime pelos ataques em Jaramana e em outros lugares do país, mas o Exército Livre da Síria também está lançando ataques e os civis estão pagando o preço", disse em referência a um dos grupos armados da oposição.
Mesmo entre as minorias, existe divisão entre os que apoiam e os que fazem oposição ao governo sírio. Mas, em ambos os lados, há o temor de que será necessário muito tempo para acabar com as divisões causadas pela violência
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