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terça-feira, 8 de abril de 2014

FMI tem estimativa de crescimento do Brasil para 1,8% em vez de 2,3% / O Globo


FMI reduz de 2,3% para 1,8% previsão para o crescimento do Brasil este ano

  • É o segundo maior corte entre as principais economias do mundo, sendo o primeiro o da Rússia
  • Na América do Sul, país só fica atrás da Argentina e da Venezuela, países em grave crise
  • Para o mundo, previsão caiu de 3,7% para 3,6% em 2014


FLÁVIA BARBOSA (EMAIL)
CORRESPONDENTE
Publicado:
Atualizado:

WASHINGTON - Um amplo cardápio de problemas está impondo uma trava substancial ao crescimento do Brasil, avalia o Fundo Monetário Internacional (FMI) na nova edição do relatório “Panorama da Economia Mundial”, divulgada esta manhã na capital americana. A equipe do organismo multilateral cortou pela terceira vez seguida — e a quarta desde janeiro de 2013, quando era de 4,2% — a projeção de expansão da atividade econômica brasileira em 2014: desta vez a estimativa caiu de 2,3% para 1,8%. Em 2015, o Fundo espera alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,7%, uma revisão negativa de 0,2 ponto. Distorções internas e falta de confiança dos investidores são os principais pecados nacionais, para o FMI. O organismo vê ainda manutenção da pressão inflacionária. A recomendação ao governo é apertar as políticas monetária e fiscal e reduzir gargalos de infraestrutura.
O Brasil não está isolado. As economias emergentes — que puxaram o crescimento global após a quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, até o fim de 2012 — têm amargado perda considerável de dinamismo, na esteira das turbulências financeiras desencadeadas pelo anúncio de aperto gradual da política monetária dos EUA, ocorrido em maio de 2013, e reformas empreendidas pela China, fatores que exacerbaram desequilíbrios domésticos. Mas a economia brasileira está sofrendo relativamente mais.
Nas revisões feitas pelo FMI, apenas a Rússia teve corte maior da previsão de expansão em 2014 entre as principais economias do mundo e terá crescimento menor do que o brasileiro (1,3%). O desempenho do Brasil será inferior este ano ao dos demais Brics — grupo dos maiores emergentes, formado por Brasil, Rússia, Índia (5,4%), China (7,5%) e África do Sul (2,3%) — e ao da média dos países latino-americanos (2,5%).
Na América do Sul, o Brasil só ficará atrás das combalidas economias de Argentina (expansão de 0,5%) e Venezuela (retração de 0,5%). A expectativa de crescimento da economia mundial é de 3,6% este ano e o da média dos países emergentes e em desenvolvimento, de 4,9%. O PIB dos ricos deverá avançar 2,2%, com destaque para os Estados Unidos (2,8%).
Desequilíbrios em vários campos são os responsáveis pelo pessimismo com a capacidade de a economia brasileira voltar a acelerar. O que vem favorecendo o Brasil, diz o FMI, é a resistência do crescimento dos salários e, como efeito direto, do consumo.
“Estão pesando (negativamente) sobre a atividade constrangimentos à oferta doméstica, especialmente em relação à infraestrutura e à persistência do crescimento fraco do investimento privado, refletindo perda de competitividade e baixa confiança empresarial. Espera-se que a inflação permaneça perto na banda superior da meta oficial (6,5%), uma vez que a limitada capacidade ociosa e a recente desvalorização do real mantêm pressão (de alta) sobre os preços”, afirma a equipe do economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, no relatório.
Enquanto o Fundo menciona, para outros países, respostas positivas aos desafios apresentados — maior controle do crédito na China, reformas setoriais no México e medidas para destravar investimentos e atrair capitais na Índia —, o organismo é lacônico em relação ao Brasil no relatório, notando apenas que “o mix de políticas foi direcionado a aperto monetário desde o ano passado, e espera-se uma política fiscal (incluindo a política de crédito) em geral neutra em 2014”.
O trunfo do Brasil parece ser a baixa exposição às mudanças de condições financeiras globais, que podem elevar demais o custo de endividamento externo e de acesso a recursos e o risco de fuga de capitais. Reservas internacionais robustas e dívida externa baixa parecem fornecer um escudo ao país, ainda que riscos de desequilíbrios permaneçam.
Mas há cinco frentes que merecem atenção imediata do governo, abrindo um grande leque de ações, segundo o relatório.
“No Brasil, há necessidade de aperto continuado das políticas. Embora tenha havido altas substanciais dos juros neste último ano, a inflação continua no teto da meta. A intervenção no mercado de câmbio deve ser mais seletiva, usada primordialmente para limitar volatilidade e evitar mudança desordenada das condições de mercado. Uma consolidação fiscal ajudaria a reduzir pressões sobre a demanda doméstica e a diminuir desequilíbrios externos, ao mesmo tempo em que reduziria o elevado percentual de endividamento público (interno). Gargalos de oferta têm que ser resolvidos”, lista o FMI.
Os demais países emergentes, em geral, também passam por situação de grande incerteza. Com a recuperação das nações ricas e o aperto gradual da política monetária americana, o Fundo adverte que “o sentimento dos investidores está menos favorável aos riscos dos países emergentes”, representados por problemas domésticos que não foram atacados quando a maré externa era positiva a essas economias, até 2012.
Os principais riscos estão associados a fugas de capital, acentuando desequilíbrios nas contas externas e provocando desvalorizações rápidas das moedas locais; e ao aumento dos prêmios de risco, dificultando o financiamento de dívidas e aumentando o custo de captação de recursos e de tomada de empréstimos. Esse quadro, se materializado, afetaria investimento e consumo, reduziria ainda mais o crescimento e retroalimentaria desconfianças.
Para se fortalecerem, os países têm de fazer o dever de casa, diz o Fundo: combater inflação, ajustar a política fiscal, garantir estabilidade financeira com esforços regulatórios e de supervisão sobre o sistema financeiro, fazer reformas que respondam a desafios particulares (crédito, investimento, gargalos de infraestrutura) e preparar-se para saída de capitais.
“A mudança no ambiente externo aumenta a urgência de os mercados emergentes resolverem desequilíbrios macroeconômicos e deficiências em suas políticas”, afirma o organismo no relatório.


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