O protesto realizado em São Paulo na quinta-feira foi a manifestação "que mais causou transtornos" desde o início da Copa do Mundo, segundo um relatório de inteligência feito por agentes de segurança à serviço da Fifa, ao qual a BBC Brasil teve acesso.
O documento, produzido por agentes de segurança privados contratados pela Fifa, diz também que o resultado do ato indicaria falhas no esquema de segurança local. Afirma ainda que o episódio pode ser um sinal de que os próximos protestos podem se tornar violentos.
Na ocasião do protesto, autoridades de São Paulo optaram pela estratégia de não enviar forças policiais para acompanhar a manifestação de perto.
A Polícia Militar só entrou em ação no final da manifestação, quando mascarados vandalizaram concessionárias de veículos e bancos.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou nesta sexta-feira que a estratégia será diferente nos próximos protestos. "A estratégia vai ser revista pela polícia e ela estará presente", disse ele em entrevista a veículos de imprensa no interior de São Paulo.
‘Confiança traída’
O protesto de quinta-feira começou pacífico na avenida Paulista no meio da tarde. Os manifestantes se deslocaram pela avenida Rebouças em direção à Marginal Pinheiros – duas vias importantes da cidade.
No trajeto, houve uma série de discussões entre participantes. Grupos de mascarados queriam vandalizar bancos e lojas, mas eram dissuadidos por outros integrantes. Eles gritavam que se estabelecimentos fossem atacados, a marcha seria interrompida pela polícia antes de chegar ao seu destino.
Por outro lado, esses mesmos ativistas que lideravam o deslocamento também gritavam frases de apoio aos mascarados, adeptos da tática black blocs – conhecidos por promover atos de vandalismo.
Os manifestantes conseguiram chegar à Marginal Pinheiros e a bloquearam. O ato foi então encerrado. Porém, dezenas de mascarados começaram então a fazer barricadas e atacaram uma concessionária de carros, se dispersando após a chegada da polícia.
Ainda na quinta-feira, um porta-voz da Polícia Militar havia afirmado que o principal grupo organizador do protesto, o Movimento Passe Livre, havia pedido por meio de documento que a polícia não estivesse presente na manifestação.
Eles teriam divulgado ainda o trajeto pretendido da marcha – procedimento que deixou de ser adotado por muitos grupos de manifestantes após os protestos de junho do ano passado.
A Polícia Militar disse que havia dado um "voto de confiança" ao grupo e que teria sido traído.
A reportagem apurou que a opção da polícia de manter distância do protesto teria sido feita em parte porque o ato se realizava longe da Arena Corinthians, onde jogavam Inglaterra e Uruguai.
Na semana passada, na abertura da Copa, a polícia usou a força para impedir que um grupo de manifestantes marchasse em direção ao estádio.