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segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Ensaio sobre a vida esportiva de Usain Bolt / BBC

Usain Bolt: O que treinadores, colegas e rivais acham do homem mais rápido do mundo

  • Há 1 hora
Usain Bolt no estádio olímpico do RioImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionBolt conquistou no Rio seu terceiro ouro olímpico nos 100m neste domingo no Rio
A única vez que Usain Bolt foi lento na vida foi quando o jamaicano chegou ao mundo, dez dias após a data prevista.
Sua mãe, Jennifer, diz que sabia que o filho era especial desde que ele tinha três semanas de vida - uma opinião muito comum entre pais, mas que no caso dela se confirmou. Ela viu seu filho se tornar o homem mais rápido da Terra.
Usain Bolt está tentando uma tripla vitória no Rio. Já conseguiu os 100m, no último domingo. Agora ele também tentará os 200m e o 4x100m, nos Jogos que o atleta, de 29 anos, diz que serão seus últimos.
O "raio" percorreu um longo caminho desde que começou a correr em Trelawney, na Jamaica, e chorava quando perdia uma corrida.
"Ele não gosta de perder", disse o pai, Wellesley, à BBC Sport.
Com sete ouros olímpicos, 11 títulos mundiais e diversos recordes, parece não ter havido muito tempo para lágrimas em sua carreira.
"Ele tinha uns cinco anos quando percebemos que estava disputando com os colegas de turma e sempre ganhava", diz Jennifer. "Ele ficava sempre em primeiro. Percebemos que seria um grande atleta."

A escola de Usain BoltImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionAtleta diz que deve muito à professora de ex-escola

Na escola

Mais tarde, já no ensino médio, Bolt tinha mais interesse em jogar críquete do que treinar na pista de atletismo. Estava "tão apaixonado" pelo esporte que "não queria fazer nenhuma outra coisa".
Mas uma professora de educação física, Lorna Thorpe, o aconselhou a focar no atletismo, já que ele "tinha uma mina de ouro nas pernas".
E o campeão, hoje, agradece muito o conselho da professora.
"Ela é como uma segunda mãe para mim", diz.
"Quando eu estava no ensino médio ela cuidava de mim, garantindo que tudo estava ok, sempre focada. Ela teve um papel muito importante."
Mas a diretora à época, Lorna Jackson, conta que teve que dar conselhos a Bolt em outra área: mulheres.
Ela contou ao jornal britânico Sunday Telegraph que Bolt era muito próximo de uma garota que o ajudava nas redações.
"Mas aí disseram que ele tinha uma namorada em uma escola vizinha. Falei para ela: não escreva mais nada para ele!", brinca.
Ela também ensinou espanhol ao atleta porque sabia que ele "viajaria muito e precisaria de espanhol".
Usain BoltImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionUsain Bolt ganhou o Mundial júnior nos 200m em 2002
Aos 15 anos, Bolt virou "o assunto" no mundo do atletismo ao correr os 200m no Mundial júnior na Jamaica, em 2002, contra homens quatro anos mais velhos.
Ele venceu e virou o medalhista júnior mais novo da história. Também ganhou o prêmio de "estrela em ascensão" da Associação Internacional de Federações de Atletismo.
Faculdades americanas correram para oferecer bolsas de estudos para Bolt - e agentes esportivos lhe ofereceram contratos.
O irlandês Ricky Simms era um jovem agente que havia acabado de assumir uma das grandes empresas esportivas do mundo. Ele conseguiu assinar com o jamaicano.
"Após o ensino médio, atletas jamaicanos constumam ir para a universidade nos Estados Unidos e passam quatro anos lá antes de virarem profissionais", explica Simms. "Mas ele decidiu virar profissional em 2003."
Mas o início da vida profissional de Bolt não foi tão fácil - o adolescente às vezes ficava tão nervoso antes de corridas que chorava.
"Quando conversamos, ele parou de chorar e disse: 'Vou fazer o melhor que puder'", contou a mãe, Jennifer, à rede americana CNN, sobre o campeonato júnior de 2002.
Usain Bolt e Justin GatlinImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionBolt e Gatlin são rivais mas conseguem se divertir juntos

Inspiração

O futuro parecia favorecer Justin Gatlin quando o velocista americano, que já tinha sido suspenso por doping, ganhou os 100m aos 22 anos em 2004 e o adolescente Usain Bolt foi eliminado nas classificatórias dos 200m.
Mas eis que, nos Jogos de 2008, em Pequim, Gatlin estava no meio de uma suspensão de quatro anos por doping e Bolt havia se firmado em cena, destruindo o tempo que o americano havia feito em Atenas e ganhando suas três primeiras medalhas de ouro.
Gatlin ficou com o bronze quando Bolt defendeu seu título nos 100m em Londres 2012, e no Mundial do ano passado a rivalidade deles foi renovada quando o jamaicano venceu o americano por 0,01 segundo.
"Ele (Bolt) provou que, quando está por baixo, consegue dar a volta por cima, e quando está em cima, ele está no topo", Gatlin disse à NBC. "É o tipo de pessoa que te faz querer seguir. Ele me deu uma visão de onde preciso estar".
As mães deles se conheceram no Mundial em Pequim e agora são amigas. Apesar da rivalidade nas pistas, os filhos também gostam da companhia um do outro.
"A gente relaxa e se diverte fora das pistas, mas quando pisamos ali, queremos vencer", afirma Gatlin.

A equipe de revezamento da Jamaica, em 2012Image copyrightGETTY IMAGES
Image captionA equipe de revezamento da Jamaica conta com Bolt para vencer

O mentor

Os colegas jamaicanos de Bolt não são nem de forma alguma lentos. Entre 2005 e 2008, Asafa Powell quebrou o recorde mundial duas vezes. Já o ex-campeão mundial Yohan Blake ganhou a prata tanto nos 100m quanto nos 200m em Londres em 2012 (e ficou em quarto na competição de domingo no Rio).
Embora com Bolt eles tenham mais chances de ganhar o ouro no revezamento 4x100m, eles sabem que o "raio" abocanha todas as medalhas individuais.
Ele foi o primeiro atleta a ganhar ouros tanto nos 100m quanto nos 200m e já tem sete títulos mundiais desde 2009, perdendo apenas os 100m de 2011 quando foi desclassificado por queimar a largada.
Então será que os companheiros de equipe dele se sentem ameaçados ou frustrados por não conseguirem ganhar?
"É bom para o esporte ter ele, já que ele é o número 1 do mundo e recordista", disse Powell, que não vai correr no Rio. "Somos amigos desde antes dos recordes mundiais e das Olimpíadas. Nada mudou, ele só ficou bem mais famoso."
E quando Powell terminou em um decepcionante sétimo lugar no Mundial do ano passado, Bolt mandou uma mensagem de apoio.
"Força, irmão. As pessoas não entendem esse caminho e o sacrifício que fazemos", tuitou.
Enquanto Blake, três anos mais novo que Bolt, entrava em cena, o futuro campeão olímpico já agia como mentor de seu prodígio adolescente.

Glen Mills e Usain BoltImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionGlenn Mills treinou Bolt aos 19 anos em Kingston
Bolt assistia enquanto Blake ganhava uma corrida juvenil na Jamaica em 2008, dizendo ao jovem recém-chegado ao grupo para não se desgastar muito, porque "ele ainda tinha uma grande carreira pela frente".
Blake disse à Newsweek que ficou surpreso por Bolt saber quem ele era. "Eu fiquei muito feliz (com seus conselhos)".

O piadista

Glen Mills foi técnico-chefe da equipe nacional da Jamaica por 22 anos. Ele treinou atletas que conquistaram mais de 100 campeonatos mundias e medalhas olimpícas - número favorecido pelas conquistas de Bolt.
Após a decepção na estreia olímpica em Atenas, Bolt recorreu a Mills e seus mais de 40 anos de experiência.
"Ele é uma atleta abençoado", disse Mills ao Speed Endurance. "Quando comecei a trabalhar com ele, uma das coisas que se destacavam era sua técnica, muito ruim. Ele corria fora do centro de equilíbrio. Isso trazia uma força negativa que afetava outras áreas".
"Começamos a gravar os treinos, para ver em câmera lenta o que ele fazia. Eu desenhava diagramas com as posições que ele deveria atingir", contou.
A determinação de Bolt para melhorar acabou transformando-o em uma estrela global, e ele fez tudo isso com um sorriso no rosto.
"Ele trabalha muito duro", disse Mills ao jornal britânico Evening Standard. "Ele mistura isso com sua personalidade jovial. Mas as pessoas precisam saber que ele leva treinos e corridas muito a sério", afirmou.
E como é competir com Bolt?
"Ficamos pasmos com o que tinha acontecido", disse Darvis Pattons, 8º em Pequim, à Sports Illustrated sobre a noite em que Bolt ganhou seu primeiro ouro olímpico e bateu o recorde mundial no caminho.
"A forma (como foi a corrida). Ele correu 9,6 (segundos). E comemorando."
Marc Burns, de Trinidad e Tobago, acrescentou: "Eu estava me preparando para cruzar a linha de chegada quando ouço esse barulho e vejo Bolt já do outro lado, celebrando."

Usain Bolt e seus paisImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionBolt comemora com seus pais após vencer os 100m no Mundial no ano passado

O futuro do homem mais rápido do mundo

A família Bolt ainda mora em Trelawney, onde o pai dele ainda trabalha na lojinha local. O filho mais famoso da localidade sempre é bem recebido quando volta.
Seu melhor amigo, Nugent Walker, diz que Bolt "nunca esqueceu de onde ele vem". A fundação do ídolo oferece ônibus e computadores para sua ex-escola e pagou pela reconstrução de um centro de saúde próximo.
"A Jamaica deu muita base para ele", acrescenta. "Os pais dele passaram valores importantes: respeitar as pessoas, cuidar delas. Ele é muito gentil - até gentil demais, alguns diriam."
"Acho que ele não percebe muito que é uma estrela. Certa vez, na França, fomos para um lobby (de hotel) e havia muita gente esperando do lado de fora. Ele perguntou para o porteiro: 'Quem eles estão esperando?'. O porteiro respondeu: 'Você'".
A mãe dele, Jennifer, diz que ele passa bastante tempo com a família quando não está correndo, mas que a aposentadoria pode trazer uma situação diferente.
"Ele vai poder ir e vir o quando quiser", diz Jennifer. "As pessoas sempre querem estar perto dele, não para machucá-lo, mas para estar perto."
Ela diz que ele ainda é aquele mesmo menino que ganhou o campeonato júnior em 2002 - e que ainda escuta seus pais.
Mas Wellesley, que assume o crédito pelos passos de dança do filho, diz que com o sucesso ele virou "mais um entertainer".
A mãe gostaria que ele virasse um embaixador do esporte.
"Ele traz diversão para o esporte", diz. "Sem ele, quem vai assumir esse papel? Vai ficar chato."
E sobre mais um membro na família Bolt? Seus pais dizem que estão confiantes de que serão avós logo, mas Bolt se mantém discreto sobre a identidade da mulher que namora há dois anos.
"É por isso que ele quer se aposentar cedo", diz o pai. "Ele quer fazer uma família."

Más notícias... Igreja Universal é denunciada por esquema ilegal em seus braços no exterior

Ex-bispo afirma que Igreja Universal mantinha esquema ilegal no exterior

© Fornecido por New adVentures, Lda.
Um ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus afirma que a entidade mantinha um esquema ilegal para operar milhões de dólares no exterior por pelo menos sete anos.
Alfredo Paulo Filho, 49, afirma ter sido responsável pela Universal em Portugal entre 2002 e 2009 e um dos principais auxiliares do bispo Edir Macedo, fundador da igreja, por mais de dez anos. Antes disso, diz que coordenou trabalhos da igreja em Estados como São Paulo, Rio, Minas e Rio Grande do Sul.
Segundo conta o ex-bispo, o esquema ilegal teria sido utilizado para financiar a instituição e sua emissora de TV, a Rede Record, na Europa. A cúpula da Universal teria criado uma rota para fazer remessas ilegais de dinheiro, ao menos duas vezes por ano, da África para a Europa.
Os dólares, diz, vinham da 'Fogueira Santa', uma campanha da igreja em Angola, e cerca de US$ 5 milhões eram despachados por viagem.
Ao dar detalhes, o ex-bispo relata que participou do esquema e afirma que que os milhões de dólares chegavam à Europa em um jato particular, depois de terem sido levados, de carro, de Angola até a África do Sul.
Já na Europa, em Portugal, conta ele, os dólares eram trocados por euros e depositados em uma conta no banco BCP como dízimos da igreja. A partir daí, afirma, eram transferidos para outros países europeus.
"A igreja em Portugal sustentava outras igrejas na Europa", diz Paulo Filho, sobre o motivo da operação.
O dinheiro proveniente de Angola, diz, ficava em sua própria casa em Portugal até ser depositado na conta da igreja, segundo informações da Folha de S. Paulo.
"Eu que ia pegar o dinheiro. Sabia que era ilegal", diz. O ex-bispo garante que Edir Macedo sabia de tudo.
Há pouco mais de um mês, Paulo Filho passou a postar vídeos na internet com as acusações e o caso foi divulgado pela mídia angolana.
O ex-bispo recebeu a Folha de S. Paulo em sua casa no Rio e mostrou, além de fotos com o Macedo, papéis a respeito de sua relação com a Universal, mas diz não ter provas do que relata.
"Minha prova sou eu. Participei e vi", diz. "O bispo Edir Macedo já falou em reunião de pastores que, para a obra de Deus, vale até gol de mão."
Paulo Filho deixou em 2013 a igreja, conta, depois de trair sua mulher. A informação chegou à cúpula da igreja e ele foi rebaixado para funções administrativas.
A Igreja Universal do Reino de Deus afirmou, por sua vez, por meio da assessoria, que "prepara um processo judicial contra o ex-bispo" Alfredo Paulo Filho por calúnia e difamação.
"Portanto, não se pronunciará sobre o assunto fora dos tribunais", afirmou

Notícias horrorosas de Brasília: 4.500 peças do Patrimônio Público desapareceram do Palácio do Planalto / Diário do Poder

segunda-feira, agosto 15, 2016


FAIXA PRESIDENCIAL SUMIU DO PALÁCIO DO PLANALTO. AUDITORIA DO TCU CONSTATA SUMIÇO DE DE 4.500 ITENS DO PATRIMÔNIO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.

Se o impeachment de Dilma Rousseff for confirmado no fim de agosto, Michel Temer será empossado como o 37º presidente do Brasil terá dificuldades de colocar no peito a faixa presidencial. Auditoria está sendo realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), segundo informa reportagem da revista Veja, para encontrar o paradeiro da faixa, de valor inestimável, com detalhes em ouro e pedras preciosas. A faixa presidencial é o principal símbolo de poder do Presidente da República.
O TCU descobriu que 4 500 itens do patrimônio da Presidência da República estão sumidos. Ninguém sabe se foram surrupiados ou simplesmente extraviados. Entre os objetos estão obras de arte, utensílios domésticos, peças de decoração, material de escritório, computadores e, sim, a faixa presidencial. Que fim ela levou?
A novidade apareceu durante uma auditoria do TCU que tinha outra finalidade. Em março passado, a Operação Lava-Jato localizou um cofre numa agência bancária em São Paulo no qual o ex-presidente Lula guardava presentes recebidos durante os oito anos de Presidência. A lei determina que os presentes trocados entre chefes de Estado sejam incorporados ao patrimônio da União.
Lula e Dilma, segundo os técnicos, desrespeitaram a regra. Entre 2003 e 2010, Lula recebeu 568 presentes. Pelos registros, deixou no Planalto só nove deles. Já Dilma recebeu 163 presentes. Apenas seis foram incorporados ao patrimônio público. O TCU sugeriu ampliar o sistema de fiscalização para impedir que futuros presidentes levem bens que deveriam ser públicos.
Entre os objetos extraviados, há computadores, equipamentos de segurança, peças da coleção de prataria palaciana, tapetes persas, porcelana chinesa, pinturas de artistas brasileiros. Apenas no Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência, foi constatado o sumiço de 391 objetos./
Já na Granja do Torto, uma espécie de casa de campo que fica à disposição dos presidentes, foram mais 114 bens. O prejuízo estimado chega a 5,8 milhões de reais: “Há clara negligência da Secretaria de Administração da Presidência da República na guarda dos bens patrimoniais”, diz o relatório elaborado pelo TCU.
Para comprovar as irregularidades apontadas na auditoria, o TCU procurou nos órgãos de controle de patrimônio e nos arquivos do Ministério das Relações Exteriores os registros de viagens oficiais dos presidentes ao exterior e de visitas de líderes mundiais ao Brasil. Com base em fotos e relatórios diplomáticos constataram-­se várias ocasiões em que os presentes recebidos por Lula e Dilma foram incorporados aos seus bens pessoais. Do site Diário do Poder

Quadro de medalhas às 24 horas de 14/08/2016 dos Jogos do Rio

Jogos Olímpicos Rio 2016
VISÃO GERALESPORTESNA TVPROGRAMAÇÃOATLETASMEDALHASPAÍSES
Quadro de medalhas

País
1
Estados Unidos
26212269
2
Grã-Bretanha
1516738
3
China
15131745
4
Rússia
9111030
5
Alemanha
85417
28
Brasil
1236

domingo, 14 de agosto de 2016

A difícil escolha de Temer ... / Eliane Cantanhêde

Conciliar o inconciliável - 

ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 14/08

Quanto mais perto de se tornar presidente de fato e de direito, mais Michel Temer fica diante de um desafio e tanto: conciliar dois objetivos inconciliáveis por definição. Ele precisa conquistar apoio popular e, ao mesmo tempo, tomar medidas consideradas pelo senso comum como “impopulares”. Não se trata de opção ou de vontade. Buscar popularidade e patrocinar reformas é fundamental – e urgente.

O ponto central desse desafio de Temer é a reforma da Previdência, um debate que percorre igualmente países desenvolvidos e emergentes e é uma exigência da realidade também no Brasil. Fernando Henrique começou, Lula continuou, Dilma anunciou antes de cair e Temer não tem alternativa: é fazer ou fazer.

Apesar da defesa, a torto e a direito, de quem tem responsabilidade de governo e tem noções de contabilidade, a questão da Previdência está no foco das relações entre capital e trabalho e deixa o governo Temer entre a cruz e a espada, fustigado pela percepção da sociedade, a versão das centrais sindicais e a pressão dos investidores. Mas a encruzilhada de Temer vai além da reforma da Previdência. Há a grave questão fiscal, a regulação das relações Estado-iniciativa privada e a flexibilização das regras trabalhistas – sem contar a reforma política, às avessas: exigência da sociedade, enfrenta resistências no Congresso.

Bastou o impeachment definitivo de Dilma entrar na reta final para Temer mergulhar em reuniões com empresários e banqueiros pesos pesados, obviamente indispensáveis para reaquecer a economia e gerar empregos. Mas, de outro lado, cinco centrais sindicais divulgaram nota curta e grossa, de dois parágrafos, convocando um ato na próxima terça-feira e mandando um recado: rejeitam qualquer negociação “que vise retirar direitos trabalhistas e previdenciários da classe trabalhadora, ou precarizar ainda mais as relações de trabalho”. E essa nota uniu duas velhas inimigas: a CUT (petista) e a Força Sindical (antipetista).te

Nesse ambiente, ministros de Temer, líderes governistas e até o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, rebatem com o mesmo exemplo: a França, que, apesar de símbolo de democracia e de políticas sociais e trabalhistas, foi compelida a fazer reformas duras quando a crise na Grécia ameaçou cruzar fronteiras. “No mundo de hoje, não se pode governar a partir de dogmas, achando que as coisas são imutáveis”, diz Andrade.

É sob essa pressão do mercado e das forças trabalhistas que Temer tenta driblar os dogmas e atender a realidade, exercitando sua experiência política e discutindo como azeitar a comunicação. Assim como negociou o “Ponte para o Futuro” com o capital, ele precisa convencer o trabalho e a opinião pública de que a flexibilização trabalhista não é contra os trabalhadores e que a reforma da Previdência não é contra os velhinhos, mas exatamente para que os assalariados tenham emprego e que todos os velhinhos tenham direitos cada vez mais iguais. Aliás, que continuem tendo direitos. Como? Com novos limites de idade, equilíbrio entre contribuição e idade e um sistema único para o serviço público e o privado.

Como presidente efetivo, Temer terá mais condições de apresentar uma “atualização” do País nas áreas previdenciária, trabalhista e regulatória, e de negociar com o Congresso tendo na retaguarda o apoio do setor produtivo, a recuperação da confiança e a volta do investimento interno e externo. Mas ele também precisa da opinião pública e das centrais, sem se esquecer de que o maior problema estrutural do Brasil continua sendo a desigualdade e que populismo barato é uma coisa, justiça social é outra, obrigatória. Atualização do País, sim. Retroceder na inclusão, nunca. Isso acabaria com o governo dele e com o seu verbete na história.