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sexta-feira, 22 de setembro de 2017

O poder do Quinto Poder

sexta-feira, setembro 22, 2017


SALVEMOS AS CRIANÇAS

Por Maria Lucia Victor Barbosa (*)
Discutir o que é contemporâneo avançou sob novas formas através das transformações revolucionárias da comunicação trazidas pela tecnologia. É bom frisar que tal progresso não significa em si perfeição, pois a ação humana serve tanto para o bem quanto para o mal, para a mentira ou para a verdade, para o amor ou o ódio. De todo modo, as redes sociais avultam hoje como o quinto poder, algo que não foi ainda analisado em toda sua potencialidade e complexidade, sendo que não há indícios de recuo na participação e na interação de pessoas através das redes sociais onde opiniões trafegam livremente, debates se cruzam, ideologias provocam embates acalorados.
Na análise de tal fenômeno social quero retomar a tese de Robert A. Dahl sobre o que ele denominou de “poliarquia”, termo que significa “o governo de muitos, que permite ao povo participar das principais escolhas, sobretudo nas dos dirigentes”.
Atualizando o conceito se pode dizer que, além das escolhas políticas, hoje a participação nas redes sociais ampliou a poliarquia, que nada mais é do que uma forma de democracia na qual excessos deveriam encontrar seus limites não na censura, mas nos direitos fundamentados nas leis.
Dito isso, tomemos como exemplo de discussão recente que percorreu as redes sociais e a mídia, aquela relativa ao encerramento da exposição Queermuseu havida em Porto Alegre (RS), patrocinada pelo Banco Santander e financiada pela Lei Rouanet com a nada modesta quantia de R$ 800.000,00.
Nesse sentido, significativa foi a matéria da Veja (20/09/ 2017), que teceu duras críticas ao Movimento Brasil Livre (MBL), chamando-o de obscurantista por ter pedido nas redes sociais o boicote a tal exposição por conta do incentivo a pedofilia, a zoofilia e pelo desrespeito a símbolos sagrados. Além do MBL, outros grupos também se indignaram com a mostra. O título da matéria da Veja foi: “A Vitória das Trevas”.
De modo sucinto, pois um artigo tem seus limites, faço referência ás “trevas” citadas, uma alusão à Idade Média. Mas, haverá realmente obscurantismo e trevas no repúdio de grupos sociais à exposição? Não teria sido uma reação normal diante do claro apelo a pedofilia e a zoofilia que aparece de forma contundente na tela de Adriana Varejão, em que pese as interpretações sofisticadas dadas pela autora? Mais chocantes ainda as figuras das “crianças viadas”, apelo forçado ao homossexualismo e indutor da pedofilia.  Uma caixa de hóstias era cercada por palavrões, um arremedo de Nossa Senhora carregava em vez de Jesus um macaco, um Cristo estapafúrdio cheio de braços refletia mais uma vez o mau gosto da mostra. E havia muito mais coisas que no passado, em vez de arte, eram chamadas de modo politicamente incorreto de taras, aberrações, blasfêmias.
Se a mostra pelo menos tivesse tido uma classificação por idade, como no teatro e no cinema, vá lá, mesmo provocando reações instintivas de repúdio e asco. Mas a questão crucial é que a exposição, que tratava de questões de gênero e diversidade, “receberia alunos de escolas públicas e particulares e ensejaria trabalhos” sobre obras dos expositores.

Como, pergunto, olhos infantis espantados veriam aquilo tudo? De que modo o inexplicável sexo com animais repercutiria em suas mentes em formação? 

Penso que cada um é livre para escolher seu modo de viver, mas incomoda a obsessiva doutrinação existente, como se todos fossem obrigados a se converter em homossexuais. E a doutrinação começa nas escolas com crianças muito novas, fazendo-as perder suas referências, o que pode mais tarde gerar adultos problemáticos; estimula-se a diversidade de experiências sexuais precoces, perigoso caminho para a legitimação da pedofilia, sendo que entendo pedofilia como crime hediondo; em construções arbitrárias ensina-se que não existe diferença entre meninos e meninas, o que raiaria ao absurdo de se querer revogar leis da natureza.
Se trevas existem é porque o momento é de graves manipulações. Há um desmanche de valores e grupos permissivos se impõe. Corrompe-se a juventude e a infância. Prega-se o vale-tudo. Não existe mais limites nem moral. Prevalece o prazer individual como único bem possível. Há uma busca de felicidade nunca alcançada, pois se dá por motivos errados. E os insatisfeitos correm atrás de novas experiências desesperadas das drogas e do sexo. Parece que estamos vivendo o fim de uma civilização de criaturas perdidas, que será substituída por outra mais evoluída, quem sabe, composta por inteligências artificiais.
Mas ainda é tempo, salvemos as crianças resgatando valores desaparecidos. Que os pais estejam atentos aos crimes cometidos contra seus filhos inocentes. E os que querem respeito, que aprendam a respeitar e exercer também a tolerância, para que banalização da sexualidade não faça a violência se voltar contra eles mesmos.
Com a palavra as redes sociais.


(*) Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

Vida em vídeo !

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quinta-feira, 21 de setembro de 2017

ARNALDO JABOR comenta o depoimento de LULA ao juiz federal Sérgio MORO






A Política em ambiente de cassino ou jogatina...

S. Excia, a grana

José Casado

Michel Temer, Eduardo Cunha e Henrique Alves foram identificados como beneficiários de propinas de US$ 8,2 milhões (R$ 26,2 milhões) pagas pela Odebrecht fora do Brasil

Sua Excelência, o fato: o presidente da República, Michel Temer, e os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves foram identificados como beneficiários de pagamentos de US$ 8,2 milhões (ou R$ 26,2 milhões) realizados pelo grupo Odebrecht fora do Brasil. Os ex-deputados Cunha e Alves estão presos.

O dinheiro para os “pagamentos a Eduardo Cunha, Michel Temer e Henrique Eduardo Alves”, como definem o Ministério Público e a Polícia Federal, saiu das contas (nº 244006, 244001, 244035, 244003) no Meinl Bank Antigua, no Caribe, mantidas pelas empresas Klienfeld, Trident, Innovation e Magna.

"Lama no ventilador" / Ruy Fabiano

Lama no ventilador

A delação premiadíssima dos irmãos Batista, com toda a carga de suspeitas que levantou, teve ao menos um efeito colateral positivo: obrigou o procurador-geral Rodrigo Janot a desengavetar denúncias que lá estavam há quase dois anos.
As denúncias contra os quadrilhões do PT e do PMDB misturam fatos antigos com outros recentes. Foi o meio que Janot encontrou de enquadrar o presidente da República, Michel Temer, que a lei exime de prestar contas de atos alheios e anteriores a seu mandato.
Ventilador, lama, sujeira (Foto: Arquivo Google)
Mas a pressa, ainda que necessária, que Janot exibiu em relação a Temer, não a teve em relação a Lula, Dilma et caterva.
O caso Aluízio Mercadante, por exemplo, que tentou comprar o silêncio do ex-senador Delcídio do Amaral, que preparava delação premiada (a seguir feita), veio a público em março de 2016. Só agora Janot a encaminhou ao STF. Por quê?
Mercadante, que cometeu o mesmo delito que levou Delcídio à prisão sumária e à perda do mandato, não foi incomodado e exerceu seu cargo de ministro da Educação até a saída de Dilma.
Janot, a rigor, não incomodou nenhum dos governos do PT, pelos quais foi nomeado e renomeado.
Chegou a ser visto como um procurador do PT. Não explicou, até agora, por que incinerou a delação do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro, que tratava em minúcias de Lula e de um ministro do STF, Antonio Dias Toffoli. Sua atuação, até os 44 minutos do segundo tempo, esteve longe de mostrar isenção.
Ao sair, porém, em meio às trapalhadas (eufemismo de coisa bem mais séria) da delação dos irmãos Batista – e do comportamento que agora criminaliza de seu braço direito na PGR, Marcelo Miller -, decidiu jogar lama no ventilador.
E haja lama. O contribuinte, lesado por tudo quanto veio à tona, agradece. O problema é que a extensão do que remeteu ao STF faz prever encaminhamento lento e problemático. Por serem amplas demais, e documentadas de menos, as denúncias perdem clareza e objetividade. A defesa dos acusados agradece.
Janot viverá dias difíceis. Arranjou inimigos poderosos em todos os partidos. Mas o modo como o fez, de última hora e sem transparência em suas motivações, não o tornou um herói popular. Muito pelo contrário, o colocou sob suspeição.
Não terá, pois, a contrapartida que tem um Sérgio Moro, de compensar a ira dos poderosos com o apoio entusiástico da opinião pública. Inversamente, terá muito o que explicar, para fora e para dentro da PGR. Seu entorno na instituição está todo citado nos áudios de Joesley Batista e Ricardo Saud.
Ele, que inicialmente defendeu a probidade de Marcelo Miller, terminou por pedir-lhe a prisão. Tal como Lula, alegou que não sabia de nada, embora, por força do cargo que ocupava, devesse sabê-lo.
É a teoria do domínio do fato, que a PGR sustentou, com êxito, no Mensalão contra José Dirceu, levando-o à condenação.
O fato concreto é que, se o país já estava quase órfão de referências institucionais, agora ficou sem nenhuma. Os três Poderes estão, para dizer o mínimo, chamuscados com o que se extraiu das fitas de Joesley e Saud. E há mais, muito mais por vir, em áudios ainda não decodificados, em posse do STF.
Disso resultam urgências políticas, decorrentes da anomalia de um presidente da República, acusado de comandar uma quadrilha, continuar no cargo, em contraste com o rito judicial, lento, complexo e pouco confiável, incumbido de selar-lhe o destino.
O PT, que está em situação bem pior, já que sua quadrilha ficou com a parte do leão na rapina ao Estado, não hesita em insistir no “Fora, Temer!”. Pretende levá-lo com mais força às ruas, acreditando que até os antipetistas serão sensíveis ao apelo.
O certo é que a semana termina com extensa lista de ações da Justiça: O depoimento desastroso de Lula a Sérgio Moro; o agravamento da pena de José Dirceu e João Vaccari, no TRF 4 (para 40 anos), pendente ainda do voto de minerva; a rejeição unânime pelo STF da tentativa de Temer de colocar Janot sob suspeição; a prisão de Wesley Batista; a prisão do ex-governador Garotinho; a evidência de que Marcelo Miller era agente duplo (participava, inclusive, de um grupo no WhatsApp com o pessoal da JBS para tratar da delação junto à PGR). E a busca e apreensão no apartamento funcional do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, acusado também de corrupção.
Diante de tal cenário, é absolutamente inviável especular sobre as eleições de 2018. Falta um ano – e até lá não se sabe quais serão os atores dessa peça de horrores a que o país assiste. Não se sabe sequer que partidos haverá - ou mesmo se haverá eleições.
(Foto: Arquivo Google)

Arte de Antonio Lucena.... / blog do Ricardo Noblat

Arte de Antonio Lucena

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Charge (Foto: Arte: Antonio Lucena)

O Brasil está ficando sem escolhas... Tá todo mundo roubando nosso dinheiro...


‘Lava Jato’ na PM de SP: coronel detalha desvio milionário e envolve outros 18 coronéis

Em carta obtida pelo EL PAÍS, ele apresenta roteiro do que pretende delatar sobre esquema que desviou mais de 200 milhões entre 2005 e 2012. Um deputado estadual é citado

‘Lava Jato’ na Polícia Militar
Cerimônia de formatura de policiais militares em São Paulo.  A2IMG
Um tenente-coronel promete revelar as entranhas e os beneficiários de um esquema que desviou mais de 200 milhões de reais da Polícia Militar de São Paulo. Detido desde março no presídio militar Romão Gomes no Tremembé, zona norte de São Paulo, o tenente-coronel José Afonso Adriano Filho negocia um acordo de delação premiada com o Ministério Público do Estado de São Paulo.
Nos corredores do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo, o caso é apelidado de Operação Lava Jat' da PM. Isso tanto pelo valor desviado quanto pela alta patente dos beneficiários e envolvidos. Além de tentar um acordo com o Ministério Público, o tenente-coronel escreveu uma carta, enviada à Corregedoria da Polícia Militar, em que tenta demonstrar uma espécie de lealdade à corporação e dá um roteiro do que pretende delatar.
O documento, obtido pelo EL PAÍS, Adriano levanta suspeitas de que 18 coronéis e um deputado estadual receberam recursos desviados da Polícia Militar. Ao longo de 15 páginas, o coronel se diz disposto a colaborar com investigações e sugere à Corregedoria que faça determinadas perguntas a essas 19 pessoas. Informa também que parte dos “documentos comprobatórios” de suas denúncias estão em um pendrive e um CD apreendidos pela polícia quando foi preso. Diz até que "depósitos bancários foram efetuados em dezenas de vezes, para atender a demanda desses oficiais, em épocas distintas, para diversos fins". Mas o coronel reclama do que chama de “total parcialidade” da Corregedoria da PM. Para ele, a investigação da corporação poupou oficiais mais graduados.
Em carta, o coronel José Afonso Adriano Filho menciona
Em carta, o coronel José Afonso Adriano Filho menciona "depósitos bancários" para atender a demandas de coronéis que pretende delatar  EL PAÍS
No fim de agosto, Adriano foi condenado pelo Tribunal de Justiça Militar de São Paulo à perda de patente e de aposentadoria. Ainda responde a uma ação penal por peculato e é investigado em mais de 20 inquéritos. Adriano tenta umadelação premiada para receber punição mais branda em troca de revelações às autoridades.
Até se aposentar em outubro de 2012, Adriano trabalhou mais de 12 anos no Departamento de Suporte Administrativo do Comando-Geral da Polícia Militar de São Paulo. Fez boa parte da carreira no setor, que é responsável por compras e licitações na corporação. Esteve lá em gestões de sucessivos comandantes da PM e de vários secretários de Segurança nos governos de Geraldo Alckmin (PSDB), Alberto Goldman (PSDB) e José Serra (PSDB). Algumas aquisições do Departamento de Suporte Administrativo precisam ser aprovadas pelo comandante-geral da PM e até pelo secretário estadual de Segurança Pública. Nas investigações da Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo, até agora foram identificados desvios e fraudes em mais de 200 compras entre 2005 e 2012, com mais de 20 fornecedores envolvidos – incluindo empresas de fachada.
O jornal Folha de S. Paulo revelou em 2015 que as investigações começaram restritas aos anos 2009 e 2010, mas foram ampliadas depois das reportagens do jornal. Ainda assim, o único punido até agora foi o tenente-coronel Adriano.
Ele acabou preso preventivamente depois que um outro investigado disse em depoimento à Corregedoria da PM que foi ameaçado. De acordo com esse investigado, o coronel Adriano lhe falou para “ficar com o bico calado, pois estava mexendo com peixe grande”. A prisão foi decretada pelo juiz Marcos Fernando Theodoro Pinheiro, que assumiu um dos inquéritos contra Adriano depois que o juiz José Álvaro Machado Marques, inicialmente responsável pelo caso, se declarou impedido para julgar o coronel. O capitão Dilermando César Silva, subordinado de Adriano no departamento de compras, também foi preso, mas responde a processo em liberdade.
Autoridades que acompanham o caso temem que o esquema não sejatotalmente investigado pelo Ministério Público e pela Corregedoria da Polícia Militar de São Paulo. Procurado, o corregedor da PM, coronel Marcelino Fernandes, não quis dar explicações sobre o andamento das investigações das denúncias mencionadas na carta de Adriano. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo disse que “foi instaurado um Inquérito Policial Militar para apurar os fatos. O IPM está em segredo de Justiça, motivo pelo qual detalhes da investigação não podem ser passados”.
Como envolve pelo menos uma autoridade com foro privilegiado, um deputado estadual, a negociação da delação premiada de Adriano depende do aval do procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio. O Ministério Público informou que a proposta de colaboração premiada está sendo avaliada. “No momento, as informações estão sob análise, não cabendo ao MPSP tecer qualquer tipo de consideração sobre tais tratativas”, afirmou, em nota.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

O Brasil tem novos colonizadores... Suas armas, novas, são canetas e argumentos maliciosos e nada republicanos

quarta-feira, setembro 20, 2017

A negação como método - ROBERTO DAMATTA

ESTADÃO - 20/09

No Brasil, é uma maneira de mostrar superioridade. ‘O que vem de baixo não me atinge’



É necessário ignorar e negar para viver. Mas alguns estudos revelam que em muitas sociedades ignorar é uma arte e negar um método.

No Brasil, a negação é um método de demonstrar superioridade. “O que vem de baixo não me atinge”, falamos diante de um desafeto. As pedras (ou flechas) atiradas pelos inimigos não nos afetam. Pelo elo contrário, podem – como bumerangues – cair nos que ousaram nos atacar. Descobrir que isso tem mudado é um dos trabalhos da crise.

Anular o outro distingue sistemas aristocráticos imobilizados por posições sociais fixas das democracias marcadas pela mobilidade. O privilégio marca certos cargos e categorias sociais nas aristocracias. Nelas, uma mesma ação é crime se for feita por um indivíduo sem “eira ou beira” (sem relações), mas vira crise política se o seu praticante for “gente grande”.

A resistência extremada à igualdade perante a lei é o cerne da crise. Nela, as chamadas imunidades atreladas a certos cargos impedem qualquer processo. Seria absurdo sugerir que esse oceano de privilégios seria uma projeção da matriz aristocrática e escravocrata, que vigorou de 1500 até 1889 no contexto republicano?

Na monarquia, nobres, claro, e povo tinham os seus códigos. Numa república proclamada a partir desse contexto (sem esquecer a escravidão), capitularam-se cuidadosamente os privilégios dos seus funcionários. Altas patentes, hoje chamadas de assessores ou aspones – esses recebedores de mochilas, malas e caixas cheias de dinheiro sujo –, são muito mais do que governantes. Eles passaram a ter foro privilegiado e, mais obsceno que isso, prescrição para seus crimes que têm o colarinho mais branco do que suas camisas.

O viés aristocrático da burocracia republicana é um brasileirismo. A surpresa de Pedro II diante da maluquice republicana é significativa. Pois a maluquice é imaginar que se pode sair de uma monarquia para uma república sem crises e tumultos. As perenes crises republicanas todas, aliás, muito semelhantes resultam de uma revolução: a se tentar governar por meio do mérito individual uma sociedade de credo escravocrata e patriarcal. Republicanismo num contexto sócio-histórico patriarcal e escravocrata é muito mais revolucionário do que se pode imaginar. E as crises são o testemunho disso. Elas são chamadas de políticas mas, de fato, são crises sociais e de valores promovidas na sua totalidade por racionalidades opostas ou muito diferenciadas. Imaginar que a transição seria sem crise ou que a crise é defeito nosso é tão absurdo quanto pensar que os responsáveis por empresas estatais sejam indicados por suas capacidades e trabalhem para o bem do País e não para os seus partidos e famílias.

A passagem por golpe de uma monarquia a uma república não é algo trivial. Esse é o ponto.

Somente no Brasil se pode imaginar que o trânsito de uma reciprocidade maussiana do dar para receber para os labirintos contratuais hobbesianos seria como tomar um sorvete ou ir ao cinema. Não é de graça que se substitui a mão visível do amigo preocupado em providenciar a propina, pela mão invisível de Mr. Adam Smith. Tal transformação é profunda e a ausência dessa percepção engendra todo tipo de mal-entendidos. Um deles é fantasiar que o Estado deve “corrigir” ou “curar” a sociedade.

Não se pode negar o papel de impulsionador do Estado, mas isso não é igual a ele atribuir uma onipotência que em todo lugar resultou em totalitarismo e, no Brasil hodierno, nessa vasta roubalheira.

Estou dizendo que a república foi um erro ou que ela é historicamente impossível no Brasil? De modo alguém. Só os imbecis negam o que foi feito. Mas como não apontar que a crise brasileira é sistêmica e que ela tem um elo profundo com a tentativa largamente inconsciente de operar com valores opostos sem discuti-los.

O que espanta na construção da democracia à brasileira é a inocência cultural relativa ao seu funcionamento. Inocência da qual os malandros se aproveitam.

A “corrupção” é o resultado na intrusão do passado no presente. Um anacronismo que reproduz no novo regime as práticas recorrentes dos tempos do rei e dos déspotas porque sua força simbólica sempre foi subestimada. E o poder da política como uma engenharia sem consequências sociais sempre foi superestimado.

A negação como narrativa – ninguém cometeu nenhum crime, tudo foi inventado, MAS... ninguém é de ferro – nada mais é do que a consequência da descoberta da democracia. Hoje sabemos que ela não é uma utopia; que ela é alérgica a privilégios e tem como ideal a igualdade, essa igualdade que é, de longe, o maior problema brasileiro.