Um dia após seus dois filhos serem indiciados pela Polícia Federal em Roraima, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), foi à rádio 93FM, que pertence à sua filha, e deu uma longa entrevista na qual chamou o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot de “palhaço”, e “imbecil”. Jucá também criticou a imprensa, a ponto de chamar jornalistas da Rede Globo de “canalhas” por terem divulgado os áudios de conversa entre ele e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Em um dos trechos gravados por Machado, que na ocasião buscava firmar um acordo de delação premiada, ouve-se Jucá dizer que era preciso “estancar a sangria”, em referência ao avanço da Operação Lava Jato.
A rádio 93 FM de Roraima está registrada em nome de Marina de Holanda Menezes Jucá. Ela e seu irmão, Rodrigo Jucá, ex-deputado estadual, foram indiciados pela PF pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no caso da venda superfaturada de uma fazenda cujo terreno, mais tarde, foi usado para construir um empreendimento do programa Minha Casa Minha Vida. Duas enteadas de Jucá foram conduzidas coercitivamente. Em resposta, Jucá dedicou quase 40 minutos à entrevista para defender os filhos e enteadas e rebater as acusações feitas pela Polícia Federal. Em seguida, Jucá lembrou do episódio com Sérgio Machado, no ano passado. “Um ano eu fui atacado, o Jornal Nacional, todo dia aqueles canalhas da Globo bateram em mim", disse Jucá ao locutor. "A imprensa toda, falando de “sangria”, quando eu falava que a sangria era o governo da Dilma que estava matando o povo brasileiro, tirando o sangue do País”.
A partir daí, Jucá passou a atacar o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, que apresentou três denúncias contra o senador na véspera de deixar o cargo, no dia 17. “Pois bem: esse palhaço desse Janot, um mês antes, quinze dias antes de sair, ele teve dar um despacho se dobrando ao relatório da PF, dizendo que não tinha nada de errado que eu tinha feito, nem tinha falado nada que tinha que ‘parar a Lava Jato’”, atacou. “Ao contrario, eu ajudei a aprovar aquele imbecil na recondução dele do Senado, mas não sabia que ele era tão imbecil a esse ponto”. Jucá é um dos parlamentares campeões de inquéritos na Lava Jato.
Na conversa grampeada, o senador afirmava que era necessário “mudar o governo para estancar a sangria” e mencionava como ‘solução’, o então vice-presidente Michel Temer. À época, a então presidente Dilma Rousseff estava à beira do processo de impeachment e Nachaod e Jucá falavam sobre as investigações. Jucá, inclusive, sugeria um “pacto nacional” com o Supremo para que a Lava Jato não avançasse sobre outros alvos além dos que já estavam sob investigação. O áudio levou à abertura de um inquérito contra Jucá, Renan Calheiros e o ex-presidente José Sarney por suspeita de tentativa de obstrução de Justiça e que foi arquivado por Janot em seus últimos dias à frente da Procuradoria já que, apesar dos áudios, nem a polícia nem a Procuradoria encontraram provas de como os parlamentares agiram para prejudicar a investigação.
Ao final, Jucá ainda aproveita o recente escândalo envolvendo a negociação da delação dos executivos da J&F para atacar Janot e toda sua equipe que esteve à frente da Lava Jato.
“E o que aconteceu hoje? Estão aparecendo os áudios da JBS, hoje apareceu um dizendo que ele (Janot) queria acabar com o PMDB, que eles montaram um esquema, uma facção uma organização criminosa de delação premiada. Ele, o Marcelo Miller (ex-procurador suspeito de fazer jogo duplo na negociação da delação), o Pelella (Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete de Janot) o Sérgio Bruno (promotor que estava no Grupo da Lava Jato na PGR), com a doutora Fernanda (Tórtima, advogada da JBS que atuou na negociação da delação) o Sérgio Machado, esse povo todo aí, os filhos do Cerveró. Tudo no pacote, isso será investigado, isso será apurado a sociedade brasileira vai saber de toda essa história”.
“E o que aconteceu hoje? Estão aparecendo os áudios da JBS, hoje apareceu um dizendo que ele (Janot) queria acabar com o PMDB, que eles montaram um esquema, uma facção uma organização criminosa de delação premiada. Ele, o Marcelo Miller (ex-procurador suspeito de fazer jogo duplo na negociação da delação), o Pelella (Eduardo Pelella, ex-chefe de gabinete de Janot) o Sérgio Bruno (promotor que estava no Grupo da Lava Jato na PGR), com a doutora Fernanda (Tórtima, advogada da JBS que atuou na negociação da delação) o Sérgio Machado, esse povo todo aí, os filhos do Cerveró. Tudo no pacote, isso será investigado, isso será apurado a sociedade brasileira vai saber de toda essa história”.