0:10, 27/03/2012
REDAÇÃO ÉPOCA
MUNDO TAGS: KOFI ANNAN, NAÇÕES UNIDAS, SÍRIA
O enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, afirmou nesta terça-feira (27) que o governo do ditador Bashar al-Assad aceitou o plano proposto por ele para encerrar a onda de violência que toma conta do país desde março de 2011. Ainda que o anúncio seja um indicativo positivo, é cedo para crer que a mediação de Annan terá bons frutos. A oposição Síria também precisaria aceitar o plano, o que não deve fazer tão cedo, e o governo sírio precisaria tirar reformas genuínas do papel, uma ação sem precedentes em seu passado.
Annan fez o anúncio desta terça na China, onde foi buscar apoio político para seu plano. A China, ao lado da Rússia, vetou resoluções do Conselho de Segurança da ONU contra a Síria propostas por potências ocidentais e países árabes. A agência Reuters conta:
Em visita a Pequim, Annan disse ao primeiro-ministro chinês Wen Jiabao que a cooperação global com a China e outros países é a única forma de desarmar o conflito, cuja dimensão sectária levantou temores de que poderia se espalhar e desestabilizar toda a região. “Eu recebi uma resposta do governo sírio e a tornarei pública hoje. Ela é positiva e esperamos trabalhar com eles para que se traduza em ação”, disse Annan. |
O plano aceito pela síria não pede a saída imediata de Assad do poder, mas sim medidas que proporcionem o fim das hostilidades, que já deixaram pelo menos 8 mil mortos segundo a ONU. De acordo com Annan, o plano inclui a retirada de armas pesadas e tropas de centros populacionais, a permissão para que ajuda humanitária seja enviada ao país livremente, a libertação de prisioneiros e acesso irrestrito a jornalistas.
Para ter aceitado medidas como essas, é provável que o governo Assad acredite que, após um ano de repressão, já tenha conseguido eliminar seu mais ferrenhos opositores. Uma demonstração desta possibilidade foi dada nesta terça. Segundo a agência Associated Press, Assad visitou nesta terça o distrito de Baba Amr, em Homs, um dos bastiões da oposição. Recentemente, o distrito foi cercado e bombardeado por tropas do governo, uma ação que produziu, segundo a oposição, massacres na cidade. As imagens abaixo, divulgadas no Youtube, mostram o que seria a visita de Assad a Homs:
Também nesta terça, militares sírios invadiram, segundo a Reuters, o território do Líbano para combater rebeldes. O jornal libanês The Daily Star cita fontes de segurança locais que negam a incursão de militares sírios, mas também civis libaneses que confirmam o ataque. De qualquer forma, o ataque na região foi um sinal de que a Síria está conseguindo afugentar os oposicionistas do território sírio.
Ao mesmo tempo em que Assad celebra seu triunfo e mantém a pressão sobre seus rivais políticos, setores de oposição sírios continuam buscando alternativas para contrapor o regime. Nesta terça, pelo menos 300 opositores se reuniram em Istanbul, a pedido dos governos da Turquia e do Catar, que romperam com Assad. Os principais grupos de oposição classificaram a iniciativa de Annan como “sem sentido” e “irreal” uma vez que as tropas aliadas ao regime Assad continuam massacrando sua população. Neste clima de tensão e desconfiança, o mais provável é que o plano de Annan acabe fracassando a curto prazo.
Foto: Lintao Zhang / AP
José Antonio Lima
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