Marcos Chuva: "Se não fosse o desporto também emigrava"
A facilidade com que saltou 8,34 metros em comprimento fez despertar as atenções. Mas continua a treinar com a alegria de um juvenil
"Stor, agora saltei bué!" O grito ecoa, ao fim da tarde, na pista de atletismo da Escola dos Salesianos de Manique e o prof. Fernando Pereira - o "stor" - sorri. Há 11 anos que está habituado a ouvir Marcos Chuva a exprimir-se daquela maneira, sempre que consegue um "brilharete", no treino. Mas agora aquele grito tem um valor suplementar, significa que o jovem atleta, de 22 anos, começou a vencer a pubalgia que o obrigou a uma inatividade de alguns meses. E a poucas semanas dos Jogos Olímpicos de Londres, essa é uma notícia que, para Marcos, "dá bué de confiança".
Mas consegue acordar com um sorriso, mesmo quando está lesionado e com dores?
O sofrimento faz parte do desporto. E os atletas têm de ter capacidade de sofrimento, é fundamental para atingirem os seus objetivos. Podemos ser muito bons em termos físicos, mas se fizermos isto contra vontade e se não gostarmos do que fazemos, então, não vale a pena. É assim no desporto e em muitas outras coisas na vida. A sério que não me custa sofrer, transpirar, até, às vezes, ficar quase a desmaiar. E as lesões encaro-as como mais um obstáculo que tenho de ultrapassar
Antes de optar pelo salto em comprimento era também um atleta promissor nas barreiras. Porque escolheu o salto?
A escolha foi feita quando eu tinha 15 ou 16 anos, na passagem de juvenil para júnior. Aí, o prof. Fernando Pereira achou que os saltos seriam a prova onde poderia ter melhores resultados. Como juvenil saltei 7,12 metros... não era a melhor coisa do mundo, mas era uma boa marca. Modéstia à parte, era razoavelmente bom nas barreiras, mas não o suficiente.
Como é a sua relação com o prof.?
Não tenho nada a apontar ao professor. Se calhar tem mais ele a mim... Mas o que eu sinto, sinceramente, é que tive uma educação muito boa. Em casa e na escola que, para mim, é a melhor que existe em Portugal. Aqui, não se preocupam só em ter alunos de 18, querem também formar pessoas boas para a sociedade, com valores e princípios. E entre mim e o prof. Fernando Pereira sempre houve uma relação muito cívica, com respeito mútuo. Nunca escondi nada do prof. E o prof. também nunca escondeu nada de mim. E a cada dia que passa, aprendemos um com o outro.
Há muitos jovens da sua idade que, neste momento, estão a emigrar, a deixar o País. Revê-se neles?
Conheço alguns. Felizmente, graças ao atletismo, estou numa situação diferente. Eles vão à procura de vencer na vida. Eu, se não fosse o desporto, tendo em conta a situação do País, também estaria a fazer o mesmo, a emigrar.
Como encara a participação nos Jogos Olímpicos?
Para mim, os Jogos são um objetivo, representam aquilo porque eu luto todos os dias. Mas não me deslumbro. E gostava de ficar com uma boa memória dos Jogos, fruto de uma boa marca. Vamos ver. Se conseguir estar ao meu nível, será possível
De onde lhe vem essa confiança que transmite?
Não sei. Acho que é da minha forma de ser. Mas sei que a confiança é fundamental no desporto, é ela que nos permite chegar a uma prova e superar-nos.
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