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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A transparência chegou aos hospitais?


CRISTIANE SEGATTO - 30/11/2012 16h28 - Atualizado em 30/11/2012 16h28
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Faltou o "Q" de qualidade

A partir de janeiro, a ANS começará a avaliar os hospitais. O tempo da transparência chegou ao Brasil?

CRISTIANE SEGATTO
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CRISTIANE SEGATTO  Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo. Para falar com ela, o e-mail de contato é cristianes@edglobo. (Foto: ÉPOCA)
Ninguém vai a um hospital porque quer. Quem abre o livrinho do plano de saúde para decidir onde buscar atendimento quase sempre está num péssimo dia. Consumido por sentimentos miseráveis como dor, fragilidade, dúvida. Para piorar a vida, o que encontra? Uma mera lista de nomes e endereços, sem qualquer informação objetiva sobre a qualidade das instituições.
Indefeso e desorientado, o cliente escolhe o hospital mais próximo, mais famoso, mais bonito. Isso precisa mudar. Todo consumidor tem o direito de saber o que está comprando. Esse direito deveria ser garantido também no momento em que precisamos cuidar do nosso bem mais precioso: a saúde.
A defesa da transparência nas instituições de saúde foi o tema dareportagem de capa de Época na semana passada. Foi também o assunto de minha última coluna.
Os comentários postados por pacientes e seus familiares revelam que o sentimento de fragilidade é geral. Os brasileiros se sentem perdidos diante da difícil escolha de um hospital e, muitas vezes, desamparados depois da internação. Reproduzo aqui o relato de duas leitoras, que sintetizam o espírito geral:
“Enfrentei muita resistência em hospitais, todas as vezes que meu marido era internado com problemas cardíacos. Mesmo na UTI, fazia questão de acompanhá-lo. Briguei muito, mas sei que estava certa. Flagrei, a tempo, pelo menos cinco erros na administração do medicamento. Iam dar o remédio errado e consegui impedir. Até para colher material para exame! O rapaz do laboratório entrou, rapidamente disse que precisava colher sangue e, quando pedi para verificar o pedido, constava o nome de outro paciente” (Janete)   
“Estou com minha mãe internada num hospital particular do Rio há 24 dias. Até hoje não nos passaram um diagnóstico. O que eu já vi nesses 24 dias é mesmo de ficar com os cabelos em pé! Com 15 dias de internação consegui falar com uma das médicas da “equipe”. Ela respondeu que tinha 16 pacientes e não tinha mais tempo para responder tudo o que eu queria saber” (Deca)
A relevância e o calor do debate me obrigam a voltar a ele. Hoje, com uma boa notícia.
A partir de janeiro, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) começará a testar os indicadores de qualidade dos hospitais privados de várias regiões do país. Eles serão avaliados em itens como infecção hospitalar, mortalidade no hospital, mortalidade cirúrgica, média de permanência na UTI, tempo de espera por atendimento na urgência e na emergência, satisfação do cliente etc. No total, serão 26 indicadores de qualidade divididos em seis áreas.
Numa primeira fase, entre janeiro e junho, 33 hospitais de todas as regiões serão submetidos a avaliações mensais. Durante esse período de testes, eles participarão voluntariamente. Por meio de um sistema criado pela ANS, os hospitais enviarão à agência os dados de desempenho em cada item avaliado.
De julho em diante, os hospitais das redes próprias das operadoras serão obrigados a participar da avaliação. Os demais poderão participar de forma opcional. As instituições enviarão os dados à ANS e as informações poderão ser averiguadas por uma auditoria. Não se sabe como essa auditoria será feita, mas é um bom começo.
O bom desempenho será identificado por um selo de qualidade, identificado pela letra “Q”. Ao abrir o livreto ou entrar no site da operadora do plano de saúde, o cliente poderá ter um parâmetro mínimo para identificar se um hospital é bom ou ruim. Poderá comparar as instituições com base em critérios objetivos. E cobrar das operadoras a inclusão de estabelecimentos seguros.
Numa segunda etapa, outros serviços de saúde serão avaliados: laboratórios, unidades que oferecem diagnóstico por imagem, hemodiálise, hemoterapia e tratamento oncológico.
O tempo da transparência terá chegado ao Brasil? É um bom sinal, mas a cultura de avaliação de qualidade e de cobrança por parte dos pacientes precisa crescer e se fortalecer.
O país tem 6,5 mil hospitais. Apenas 21 dispõem de um selo de qualidade emitido pela Joint Comission International (JCI). Além desses hospitais, cerca de outros 180 têm certificados emitidos por outras entidades como Acreditação Internacional Canadense e Organização Nacional de Acreditação.
As avaliações feitas por essas entidades revelam um retrato preciso da condição de cada hospital. É uma quantidade gigantesca de dados preciosos. Nada disso é divulgado. O consumidor continua no escuro, sem ter a menor condição de comparar os prestadores de serviço.
Se a ANS criou uma metodologia para tornar a comparação possível e acessível ao paciente, ainda que essa metodologia seja passível de críticas e aprimoramentos, estamos diante de uma boa notícia. É um primeiro passo para garantir ao consumidor o poder de decidir o melhor a fazer por sua saúde. Não tem o “Q” de qualidade? Tchau. Até nunca mais.
E você? O que acha da avaliação proposta pela ANS? Como foi a sua experiência nos hospitais que procurou? Conte pra gente. Queremos ouvir sua opinião.
(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)

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