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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Portal UOL e sua faixa de esporte.. // Brasil e Uruguai será na quarta, 16h em Belo Horizonte

Reunião com presidente faz surpresa ao MPL

Dilma recebe MPL, governadores e prefeitos para discutir manifestações - Política - iG

Dilma recebe MPL, governadores e prefeitos para discutir manifestações

Onda de protestos no País motivou encontro com líderes. Movimento Passe Livre, que organizou atos contra novas tarifas, declarou-se surpreso com convite feito pela presidente

iG São Paulo 



Depois de uma semana de manifestações nas principais cidades do país, a presidenta Dilma Rousseff  recebe nesta segunda-feira o Movimento Passe Livre (MPL), governadores e prefeitos das capitais. Na sexta-feira (21), em cadeia nacional de rádio e televisão, ela defendeu o direito de protestar, mas condenou o vandalismo e os atos de violência . A presidenta disse que está atenta às reivindicações e que o pedido de mudança é legítimo.
Reprodução
Dilma Rousseff durante fala em cadeia nacional sobre a onda de protestos no País
“Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo, de propor e exigir mudanças, de lutar por mais qualidade de vida, de defender com paixão suas ideias e propostas, mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira”, disse na ocasião.
A presidente conversa com os líderes dos protestos, às 14h. Em sua página na internet, o MPL publicou uma carta aberta declarando-se "surpreso" com o convite feito pela presidente para uma reunião.
O documento será entregue pelos ativistas no encontro no Palácio do Planalto e defende a tarifa zero, a municipalização da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) e mais verbas do governo federal aos municípios para que sejam adotadas políticas de priorização do transporte público em todo o País. Eles afirmaram ser contra a desoneração de impostos.
"Gostaríamos de conhecer o posicionamento da presidente sobre a tarifa zero no transporte público e sobre a PEC 90/2011, que inclui o transporte no rol dos direitos sociais do artigo 6º da Constituição Federal", diz a carta.
Após a reunião com os líderes, Dilma deve se encontrar com os prefeitos das capitais às 16h, mas antes, ao meio-dia, eles participam de reunião na sede da Frente Nacional de Prefeitos. Paralelamente, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, estará, às 15h, no Rio de Janeiro, para se reunir com o governador Sérgio Cabral e com o prefeito Eduardo Paes.
Manifestações
No Distrito Federal, há manifestação marcada em Taguatinga, a maior cidade dos arredores do Plano Piloto, cuja concentração está prevista para as 14h, na Praça do Relógio. De acordo com líderes do movimento, o protesto é contra a qualidade dos serviços públicos, a corrupção e os gastos na Copa das Confederações e na Copa do Mundo de 2014.
Em São Paulo, a previsão é que os protestos ocorram apenas amanhã (25). Há um ato organizado na capital. A concentração está marcada para as 7h, no Largo do Campo Limpo e no Capão Redondo.
Na semana passada, os protestos levaram, em algumas cidades, à redução das tarifas de ônibus, cuja reivindicação predominou nos atos. “As manifestações da semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças, mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira”, disse Dilma.
A presidente lembrou que a geração dela lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. “Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada, e ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros. Sou a presidenta de todos os brasileiros, dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática”, ressaltou.
*com Agência Estado e Agência Brasil

Salários de prefeitos de capitais


Ranking aponta os salários dos prefeitos das 26 capitais brasileiras - Fotos - UOL Notícias

domingo, 23 de junho de 2013

Metáforas musicais para não serem ouvidas em alguns meses depois da Esperança dos Protestos

Doralice eu bem que lhe disse
amar é tolice...


Que não seja uma Inútil Paisagem 

Cuidado com os mascarados....!!!

Enviado por Janaína Figueiredo - 19.6.2013 | 16h42m

O assalto dos rabinos


O bairro portenho de Villa Urquiza, no coração da capital argentina, foi cenário nesta quarta de um assalto cinematográfico. Por volta das 13hs (horário de Brasília), três ladrões vestidos de rabinos entraram numa agência do Banco Ciudad localizada na avenida Triunvirato, uma das mais importantes da região. Quando já estavam dentro do banco, os assaltantes revelaram sua verdadeira identidade e ameaçaram os clientes que estavam no lugar e os funcionários do banco com armas.
Segundo informações divulgadas por agências de notícias locais, os ladrões conseguiram ter acesso a vários cofres e conseguiram roubar uma grande quantidade de dinheiro que estava guardada em pelo menos quatro dos cofres abertos durante o assalto. Os delinquentes fugiram com o dinheiro e ainda estão sendo procurados pela polícia.
O caso provocou preocupação entre membros da comunidade judaica argentina, a maior da América Latina, estimada em 300 mil

Revoltados e atrasados /// Guilherme Fiuza


Revoltados e atrasados

(ÉPOCA – edição 787)

   O melhor diagnóstico até agora sobre as manifestações de rua veio do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência. Ele disse que as revoltas são estaduais e municipais. Não deixa de ser um alívio. Quem quiser ficar a salvo da confusão, já sabe: refugie-se no Brasil federal. Nada de ficar vagando pelo Brasil estadual e municipal, porque esse anda muito perigoso, cheio de gente insatisfeita e nervosa. No Brasil federal não, está tudo tranquilo.
   Por sorte, Dilma Rousseff também está no Brasil federal, portanto a salvo do tumulto. Desse lugar calmo, sem culpa, a presidente disse que o que os manifestantes querem é o que o governo quer. São praticamente almas gêmeas. “O meu governo está ouvindo essas vozes pela mudança. Está empenhado e comprometido com a transformação social”, informou Dilma. Disse que passeata é uma coisa normal, que ela mesma já fez muito. Parecia prestes a botar uma mochila nas costas e ir para a Avenida Paulista fazer a transformação social.
  E mostrou sua visão de estadista: “Essa mensagem direta das ruas contempla o valor intrínseco da democracia”. Às vezes a presidente exagera na erudição. Vai acabar deixando Luís de Camões encabulado. Ela já explicara que o combate à inflação “é um valor em si”, demonstrando conhecimento profundo sobre as coisas da vida e seus valores intrínsecos: “Essa mensagem direta das ruas é de repúdio à corrupção e ao uso indevido de dinheiro público”, acrescentou Dilma, praticamente uma porta-voz dos revoltosos contra tudo isso que aí está.
   Olhando para o circo, só há uma conclusão possível: os revoltosos – os do passe livre, os dos 20 centavos, os do Ocupem Wall Street sucursal brazuca, os do turismo cívico e os do civismo vândalo – merecem Dilma Rousseff. Repetindo: os revoltosos merecem Dilma Rousseff. Ou mais que isso: são cúmplices dela, pois estavam sentadinhos em casa enquanto a grande líder mulher brasileira perpetrava suas obras completas de explosão das finanças públicas – a céu aberto, para quem quisesse ver. Agora a inflação está doendo no bolso? Tarde demais, meus queridos justiceiros.
   Essa “presidenta” que vive lá na calmaria do Brasil federal com seus 40 ministérios (contando com o do marketing, de João Santana, o único essencial) presidiu, entre outras festas, a distribuição de dinheiro público para o milagre da multiplicação de estádios da Copa. Em São Paulo, numa jogada comandada por Lula e seus amigos empreiteiros (que ele representa no exterior), o histórico Morumbi foi mandado para escanteio. Em seu lugar surgiu o Itaquerão, novinho em folha, presente do ex-presidente ao seu clube do coração. Um mimo de 1 bilhão de reais. Sabem de onde vem esse dinheiro, bravos manifestantes?
   Exato: dos vossos bolsos. E onde estavam vocês quando nos esgoelávamos aqui da imprensa sobre essa gastança populista (protegida por índices lunáticos de aprovação da “presidenta”), avisando que a conta ia chegar? Vocês não lêem jornal?
   Onde estavam vocês quando a CPI do Cachoeira – com revelações da imprensa – estourou o esquema da Delta, a empreiteira campeã de obras superfaturadas do PAC? Vocês sabiam que mais esse ralo de dinheiro público do governo popular ficou impune, porque a CPI foi asfixiada por Dilma e sua turma? Por que vocês não saíram às ruas para gritar contra esse golpe?
   Onde estavam vocês quando a “faxineira” asfixiou a CPI do Dnit e a investigação do maior foco parasitário de um governo que – no seu primeiro ano! – teve que demitir sete ministros suspeitos? Vocês não desconfiaram de nada? Vocês não leram que o dinheiro de vocês estava escoando para ONGs de fachada em convênios fantasmas? Vocês não viram essa praga espalhada por vários ministérios do governo popular, apesar de a imprensa esfregar o escândalo na cara do Brasil? Vocês não notaram que a tecnologia do mensalão (privatização partidária do dinheiro público) nunca saiu de cena, de Dirceu a Rosemary?
   Vocês chegaram tarde, meus caros revolucionários. Quando o bolso dói é porque o estrago nas contas públicas já é grande. Bem, antes tarde do que nunca. Mas prestem atenção: entendam logo o que vocês estão fazendo nas ruas, senão suas passeatas em breve estarão no mesmo museu dos escândalos que vocês não viram.


Para aonde estamos indo....???

23/06/2013 - 11h33

As cidades estão em mãos estranhas

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RICARDO MENDONÇA

O filósofo Gilberto de Mello Kujawski diz que os protestos pelo país simbolizam uma tentativa de apropriação da cidade por seus habitantes. Mas ele alerta para a possível entrega das ruas "aos que têm raiva". De tendência conservadora, Kujawski entende que o acúmulo de promessas não cumpridas explica a eclosão dos atos.
Ele destaca a desconexão entre anseios da população e as prioridades dos políticos, como o gasto com estádios. E reprova o comportamento de governantes no episódio, em especial o do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), a quem admira.
★
Folha - Como o sr. está vendo esses acontecimentos?
Kujawski - Com inquietação, claro. Ninguém sabe qual é o rumo das coisas.
Que balanço o senhor faz?
O lado bom foi definido por um cientista político cujo nome me escapou. Ele disse que é um movimento que está colocando a cidade em nossas mãos. Realmente São Paulo, Rio, as grandes cidades estão em mãos estranhas, de tecnocratas, engenheiros, políticos, administradores. Dos que não têm muita identidade com a cidade viva. Eles tratam de uma cidade que só existe na cabeça deles, muito regulamentada, burocrática, economicista. É uma cidade que foge aos padrões da vivência cotidiana.
Vivência cotidiana seria andar nos parques, ruas, encontrar um amigo e conversar tranquilamente numa esquina. Tudo isso está ficando impossível. A pessoa está conversando à noite com um amigo na esquina e pode ser baleada. O cotidiano da cidade está perturbado. O habitante não tem mais direito ao seu cotidiano.
O transporte traduz bem essa ideia de direito ao cotidiano?
O cotidiano seria andar de ônibus numa condução regular, decente, limpa, pontual. Não existe. Diariamente a gente vê atraso dos trens. Um incidente qualquer, os trens atrasam, fica aquele povo todo esperando. Você embarca como gado, é conduzido como gado.
E o aspecto ruim?
O ruim é que a cidade pode cair em mãos violentas, desajeitadas, mãos de sociopatas. Como é o que está acontecendo. Depredadores, vândalos, os que destroem tudo o que encontram. São os que têm raiva da cidade. Raiva porque a cidade não permite mais uma vida normal. Todos temos um pouco de raiva. Mas não é com raiva destrutiva que se conserta as coisas.
Por que esse movimento desencadeou agora?
Acúmulo de insatisfação. O brasileiro é vítima de promessas não cumpridas. É um mundo azul que está logo ali, mas nunca é atingido. Fiquei muito impressionado com um cartaz que dizia o seguinte: "Um professor vale mais que o Neymar". Achei muito interessante.
Os entusiasmos do país estão sendo conduzidos de maneira errada. E o governo, quando faz aqueles estádios monumentais, gasta fortunas, está nessa direção de favorecer mais o Neymar que o professor. Nossa professora que vai dar aula no meio rural, sem condução, com um sacrifício tremendo, essa é a maior heroína.
Nos atos, quem levantava bandeira de partido era censurado.
Censurado e hostilizado. Coerência: não querem interferência desse tipo de gente. Seria uma espécie de apropriação por um partido. Se fosse apropriado por partido, todas as pretensões ficariam desfiguradas, muito diminuídas. Nada de oficialização. Mas isso é bom e mau. É preciso que esse movimento deságue numa instituição para ter continuidade. Por enquanto não há mostra disso, outro perigo. Os líderes, se é que existem, são líderes embuçados.
Deveriam criar um partido?
Agora, não. Mas no final, deveriam. Sem institucionalização essa coisa não se sustenta. Veja o que ocorreu com o Ocupe Wall Street. Veio o inverno e o derrotou. O inverno tem uma força. Isso é interessante também, depende de fatores imponderáveis. Suponhamos que nesses dias estivesse chovendo torrencialmente. Esse movimento não existiria. Por falta de condições meteorológicas.
O que achou do comportamento das autoridades?
Errático. Primeiro entraram com violência. Foram criticados e então ficaram tímidos demais. Na hora de agir, não agiram. Deixaram perpetrar barbaridades por medo de censura. Cruzaram os braços, com medo da mídia, da sociedade.
Está falando de Geraldo Alckmin?
Infelizmente, sim. Porque eu o admiro.
E o Haddad?
Também vale. Mas aí eu não digo infelizmente (risos).

As manifestações sociais devem continuar dizem diversos cientistas sociais....

http://revistaepoca.globo.com//tempo/noticia/2013/06/andre-singer-energia-social-nao-voltara-atras.html
ENTREVISTA - 23/06/2013 08h00
TAMANHO DO TEXTO

André Singer: "A energia social não voltará atrás"

O teórico do lulismo diz que as manifestações de rua abriram um ciclo longo de mobilizações que colocarão o governo e o país diante de escolhas cruciais

GUILHERME EVELIN

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O cientista político André Singer é um festejado teórico do “lulismo” – como ele batizou o alinhamento de segmentos sociais, antes hostis ao PT, às forças políticas comandadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora surpreso com a forma como eclodiu, Singer diz que o movimento que tomou conta das ruas do Brasil estava “meio anunciado”. Ele o relaciona à ascensão de um “novo proletariado”. Nos últimos anos, diz, ele ganhou emprego e renda, mas vive ainda de forma precária. Para Singer, a emergência do movimento coloca o governo Dilma diante de uma encruzilhada. Os manifestantes pedem mais gastos públicos, enquanto o mercado cobra austeridade. 
À ESQUERDA O cientista político André Singer, em sua casa em São Paulo. Para ele, as mobilizações vieram para ficar (Foto: Camila Fontana/ÉPOCA)
ÉPOCA – As manifestações são um abalo para o lulismo? Acabou a lua de mel da maioria da população com o PT?
André Singer –
 Elas representam um possível retorno do movimento de massas, ausente no cenário político brasileiro desde, pelo menos, 1992. Ele começou a desaparecer com a derrota eleitoral de Lula em 1989, quando se encerrou um ciclo de dez anos de mobilizações. O movimento tem hoje características novas e não pode ser ainda caracterizado como um abalo, mas um desafio importante. Coincidiu com um momento complicado da economia. O lulismo enfrenta duas forças em direções contrárias. Essas manifestações tendem a ser um movimento por aumento de gasto público. E, do lado do capital, vemos pressão pelo corte dos gastos públicos. É um momento que representa um desafio para o lulismo. Não havia, nos setores que se mobilizam, uma lua de mel com o governo. Há uma forte base do lulismo no subproletariado, um setor expressivo da população, que não está na rua.
ÉPOCA – Quem está na rua?
Singer –
 Minha hipótese é que as manifestações estão compostas de duas camadas sociais. Uma são os filhos da classe média tradicional, estabelecida assim há mais de uma geração, que possivelmente puxaram as manifestações. Elas ganharam adesão também do que chamo de novo proletariado. Não é uma nova classe média. São jovens que não pertencem a famílias nitidamente de classe média, mas passaram a ter emprego por causa do lulismo. Mas têm empregos precários, com alta rotatividade, más condições de trabalho e baixa remuneração. Ao longo das manifestações, a participação desse segundo grupo foi aumentando. Isso talvez explique por que, na segunda etapa, elas se expandiram pela Grande São Paulo, pelo Grande Rio e pelas cidades em torno das capitais. A segunda camada é muito mais extensa do que a primeira e mostra o potencial do movimento.
ÉPOCA – A que o senhor atribui a insatisfação que emergiu?
Singer – 
O lulismo é um processo de reformismo fraco, de mudança estrutural do Brasil, mas muito lento e concentrado no subproletariado, os mais pobres. De um modo geral, esse subproletariado não está nas capitais. É mais expressivo no Nordeste ou no interior do que nas grandes capitais. O lulismo é um modelo que favoreceu essa camada e, indiretamente, também os trabalhadores urbanos, porque aumentou emprego e renda. Mas os problemas urbanos das grandes metrópoles são muito caros. Para você conseguir resolvê-los, precisa fazer investimentos gigantescos, que teriam de sair dos cofres públicos. Para isso, teria de haver um rearranjo, em matéria tributária ou de serviços da dívida, ou na forma de taxação das grandes fortunas, ou tudo isso junto. Isso não foi feito. Os problemas urbanos se acumulam e se somam à precariedade da situação do novo proletariado. A situação estava meio anunciada, porque esse setor tem condições agora de reivindicar. Na verdade, foi completamente inesperada a maneira como o movimento emergiu. Mas, em retrospecto, a equação que explica o que aconteceu é bem clara.
ÉPOCA – Por que o senhor localiza o fim do movimento de massas em 1989 – e não no impeachment de 1992?
Singer –
 As manifestações pelo impeachment de Collor são uma espécie de uma última aparição daquele grande ciclo, que já terminara. O ciclo acaba em 1989, porque a derrota de Lula abriu a porta para o neoliberalismo no Brasil e quebrou a espinha dorsal da classe trabalhadora organizada, com aumento do desemprego. Houve uma diminuição expressiva no número de trabalhadores industriais nos anos 1990, seguida pela década do lulismo, onde começou a recomposição do trabalho. É um erro pensar que os movimentos sociais de massa ocorrem na depressão econômica. Eles ocorrem depois da ascensão das condições econômicas.
"Há um pacote para produzir um ajuste recessivo. As manifestações dizem: ‘Isto não!’" 
ÉPOCA – As manifestações não têm liderança, não têm organização, não têm partido. Por que virariam um grande movimento?
Singer –
 Há uma recusa dos partidos, dos sindicatos, das instituições tradicionais. O princípio fundamental é a descentralização. São movimentos horizontais, em que a orientação principal é não ter hierarquia. Essa horizontalidade tem uma enorme vantagem. Os movimentos são pouco propensos à burocratização, grande problema de partidos e sindicatos. Isso é extremamente saudável. Mas há uma contrapartida: eles não têm uma direção clara e centralizada. Essa característica torna esses movimentos mais difíceis de entender. No que isso vai dar? Foi desencadeada uma energia social que não voltará atrás rapidamente. O curso que ela encontrará não sei dizer. Mas acredito que outras coisas desse tipo virão.
ÉPOCA – Quais serão as consequências no sistema político?
Singer –
 O novo ator impacta o sistema político, mas não o substitui. O sistema político continuará funcionando. Não deixará de existir, porque, na verdade, passamos por um momento em que esses novos movimentos não têm alternativa. Os partidos terão de incorporar coisas, dialogar com o movimento, fazer concessões, mudar. Alguns ganharão. Outros perderão. Para dar um exemplo concreto, o próprio movimento da Marina Silva é uma antecipação disso, porque ela fala aos ouvidos de parte dos manifestantes.
ÉPOCA – Marina será a grande ganhadora?
Singer – 
Não digo isso, porque, embora esse movimento se caracterize pela horizontalidade, ele tem uma agenda materialista. Estamos falando da distribuição da riqueza. É isso que está em jogo: para onde vão os recursos, sejam os públicos, sejam os que transitam entre capital e trabalho. Marina lida muito mal com essa agenda materialista, porque ela quer ficar no meio. Essa posição é inviável.
ÉPOCA – Qual pode ser a consequência nas próximas eleições presidenciais? Atrapalha a reeleição da presidente Dilma?
Singer –
 É impossível fazer um prognóstico. As manifestações pendem para a esquerda. O impacto sobre a candidatura Dilma dependerá de como ela lidará com essa pressão, por mais recursos para transporte, saúde, educação e segurança.
ÉPOCA – E o PT? Como será afetado?
Singer – 
O PT está desafiado, com o lulismo. Como o PT tem uma importante, embora não dominante, facção de esquerda, esses setores estão diante de perguntas existenciais.
ÉPOCA – O lulismo atendeu aos anseios de consumo de parte da população. Esse modelo de crescimento não foi posto em xeque pelas manifestações, que pedem melhores serviços públicos e não mais consumo?
Singer – 
Não creio que seja um problema do modelo de crescimento. Ele incluiu pessoas excluídas. Com isso, ativou a economia por baixo. Mas houve uma diminuição da margem para isso. Desde 2011, estamos num quadro complicado, que tem a ver com a crise do capitalismo iniciada em 2008. Acreditava-se que tinha sido contida em 2009. Na verdade, não conhecemos ainda o final do túnel. Se a economia tivesse continuado com um crescimento maior, haveria margem para investir mais em saúde, educação, segurança. Mas ela anda devagar. Os recursos estão mais escassos. Os juros subiram. As restrições ao capital especulativo foram retiradas. E agora há uma enorme pressão para cortes de gastos públicos. Há um pacote para produzir um ajuste recessivo na economia. De alguma maneira, as manifestações dizem: “Isto não!”.

ÉPOCA – O senhor diz que o lulismo não procurou enfrentar o capital na política econômica. Nos últimos dois anos, o governo a flexibilizou, e os resultados foram crescimento baixo e inflação mais alta, por causa dos gastos públicos. A estratégia desenvolvimentista de Dilma não deu resultados.
Singer –
 Isso mesmo. Na crise mundial, o governo Dilma decidiu dar um passo à frente e modificou os termos da política neoliberal. O resultado, em crescimento, foi decepcionante. Os economistas dizem: faltou investimento. Algo na equação então falhou, porque tudo foi feito para proteger o capital produtivo brasileiro. Tenho ouvido reclamações contra o intervencionismo do governo, mas é um intervencionismo para facilitar a vida desse capital. O que não funcionou não está claro ainda. Não quero subestimar o tamanho dos problemas. Mas, se é para seguir a linha reformista, esses problemas precisam ser enfrentados para manter as mudanças. Se voltar à agenda neoliberal, não dá para fazer as mudanças.
ÉPOCA – Mas Dilma já tem recuado. Aumentou os juros e voltou ao câmbio flutuante.
Singer – 
O governo tem recuado nos últimos seis meses. O capital pede um novo recuo, com o corte dos gastos públicos. Essas manifestações pedem o aumento dos gastos. Por isso, é um momento em que os desafios são sérios e cruciais. Essa é a questão: para onde o governo penderá nessa bifurcação.
ÉPOCA – Pode haver uma desestabilização do governo?
Singer – 
Não creio. O governo tem capacidade de entender o que acontece e demonstrou que não está descolado. Tenho certeza de que tentará equacionar as questões.
ÉPOCA – Como resultado, as instituições mudarão?
Singer –
 Sim e não. Sim, pois serão obrigadas a alguma abertura. Mas não a ponto de se desfazer. Os sistemas político e econômico continuarão em suas bases tradicionais. Pode estar se abrindo um ciclo longo, em que haverá as duas coisas. É o que acontece na Europa e mesmo em outros países, onde ocorreu a Primavera Árabe. Os movimentos lá foram enormes, mudaram o regime político. Mas, quando houve eleição, os partidos tradicionais ganharam. É o que deverá acontecer aqui. Temos, nas ruas, milhares de pessoas. Mas o eleitorado são milhões. Esses milhões é que votarão e decidirão. 

Um terço dos homens são predadores

Um terço das mulheres sofre violência doméstica no mundo, diz OMS
Quase 40% das mulheres vítimas de homicídio foram assassinadas por seus maridos. Organização Mundial de Saúde considera problema "epidemia global de saúde"
Postada em: 21/06/2013 ás 10:31:26Link:


Publicidades Surgiu-22
 Mais de um terço de todas as mulheres do mundo são vítimas de violência física ou sexual, o que representa um problema de saúde global com proporções epidêmicas, disse um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta quinta-feira (20).

A grande maioria das mulheres sofre agressões e abusos de seus maridos ou namorados, e sofrem problemas de saúde comuns que incluem ossos quebrados, contusões, complicações na gravidez, depressão e outras doenças mentais, diz o relatório.

"Esta é uma realidade cotidiana para muitas, muitas mulheres", disse Charlotte Watts, especialista em política de saúde na Escola de Higiene & Medicina Tropical de Londres e uma dos autores do relatório.


O relatório concluiu que quase dois quintos (38%) de todas as mulheres vítimas de homicídio foram assassinadas por seus parceiros e que agressão por maridos ou namorado é o tipo mais comum de violência sofrida pelas mulheres.

O relatório constatou que a violência contra as mulheres é uma das causas para uma variedade de problemas de saúde agudos e crônicos, que vão desde lesões imediatas, infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, à depressão e transtornos de saúde mental. Elas também são duas vezes mais propensas a abortar um filho indesejado.

As mulheres que sofrem violência de seus parceiros são 1,5 vezes mais propensas a ter sífilis, clamídia ou gonorréia. E, em algumas regiões, incluindo a África sub-saariana, têm 1,5 vezes mais probabilidade de serem infectadas com o vírus da Aids, diz o relatório.

“Como trabalho nesta área, os números não me surpreenderam”, afirmou ao iG Karen Devries, outra coautora do estudo. “Mas acredito que para muitos, eles serão chocantes, porque a violência doméstica acontece no âmbito íntimo e as mulheres não se sente à vontade de divulgar suas experiências, então muitos não compreendem a magnitude do problema”.

“Cada país deve estabelecer suas própria soluções para o problema,” continua Karen. “Ainda temos que aprender o que causa a violência, mas existem exemplos promissores em alguns países. Por exemplo, um programa na África do Sul diminuiu a violência pela metade em dois anos”.

A OMS está emitindo orientações para os profissionais de saúde sobre como ajudar as mulheres que sofrem violência doméstica ou sexual. Eles salientam a importância em treinar os profissionais de saúde para reconhecer quando as mulheres podem estar em risco de ser agredida pelo parceiro e saber como agir.

Em um comunicado que acompanha o relatório, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, disse que a violência causa problemas de saúde com "proporções epidêmicas", acrescentando: "os sistemas de saúde do mundo podem e devem fazer mais pelas mulheres que sofrem violência."