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domingo, 27 de março de 2016

Passo a passo para o sucesso

A estratégia usada por atletas de elite para obter desempenho de alto nível 
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A estratégia usada por atletas de elite para obter desempenho de alto nível

A arte de confiar no processo e dar um passo de cada vez

Seguir + Ryan Holiday
iStock
(Esta matéria é uma adaptação de The Obstacle Is The Way)
Quando o treinador Shaka Smart foi entrevistado após seu time inesperadamente vencer a Carolina do Norte, o que ele disse? Ele não focou no resultado final. Ou na estratégia. Ele disse que o seu time ganhou porque "seguiu o processo".
Tony Wroten, armador pelo Philadelphia 76ers, recebeu o mesmo conselho de seus treinadores. "Eles nos dizem todo jogo, todo dia, 'acredite no processo.'" John Fox, o treinador que tenta mudar a situação do Chicago Bears, pediu a mesma coisa ao seu time.
Mas, afinal, o que é isso? O que é o processo?
Ele pode ser rastreado até Nick Saban, o famoso treinador do LSU e Alabama - talvez a dinastia mais dominante na história do futebol americano universitário. Mas ele aprendeu isso com um professor de psiquiatria chamado Lionel Rosen durante seu período na universidade Michigan State.
A grande visão de Rosen era essa: esportes - especialmente o futebol americano - são complexos. Ninguém tem habilidade mental ou motivação suficiente para administrar constantemente todas as variáveis que ocorrem durante a trajetória de uma temporada, imagine durante um jogo. Todo mundo acha tem - mas, realisticamente, não tem.
Há muitas jogadas, muitos jogadores, muitas estatísticas, contra-ataque, imprevisões, distrações. Durante a trajetória de uma longa fase eliminatória, isso se torna uma carga cognitiva impossível de ser levada. Entretanto, Rosen descobriu que uma jogada regular no futebol americano dura apenas sete segundos, como conta Monte Burke em seu livro Saban. Sete segundos - isso é muito administrável.
Então ele perguntou: E se um time concentrasse apenas no que ele pode administrar? E se eles fizessem as coisas passo a passo - não focando em nada além do que estivesse bem na frente deles e em fazer isso bem?
Como resultado, Nick Saban não focou no que todos os outros treinadores focam, ou pelo menos da maneira que eles focam. Ele fala:
"Não pense em vencer o Campeonado SEC. Não pense sobre o campeonato nacional. Pense sobre o que você precisa fazer nesse treino, nessa jogada, nesse momento. Esse é o processo: Vamos pensar no que podemos fazer hoje, a tarefa desse momento."
É essa mensagem que tem sido internalizada por seus jogadores e times - que juntos foram campeões de quatro campeonatos nacionais em um período de oito anos, um campeonato Mid-American Conference, foram coroados campeões SEC 15 vezes e Saban recebeu múltiplos prêmios de treinador.
No caos do esporte, como na vida, o processo proporciona um caminho. Uma forma de transformar algo muito complexo em algo simples. Não que "simples" seja "fácil".
Mas é mais fácil. Vamos dizer que você tem que fazer algo difícil. Não foque nisso. Em vez disso, separe em partes. Simplesmente faça o que você tem que fazer nesse momento. E faça bem. E depois vá para a próxima coisa. Siga o processo e não o prêmio. Como Bill Belichick celebremente falou, apenas faça seu trabalho.
A estrada para campeonatos seguidos, ou para ser um escritor ou um empresário de sucesso é apenas isso, uma estrada. E você viaja pela estrada dando passos. Excelência é uma questão de passos. Obter excelência nisso, então naquilo e no depois disso. O processo de Saban é exclusivamente isso - existir no presente, seguir cada passo em seu tempo, não se distraindo com nada além disso. Nem com o outro time, nem com o placar, nem com a plateia.
O processo é finalizar as coisas. Finalizar os jogos. Finalizar os treinos. Finalizar as sessões de filme. Finalizar os trajetos. Finalizar as repetições. Finalizar as jogadas. Finalizar os blocos. Finalizar as tarefas menores que você tem na sua frente e finalizá-las bem.
Seja buscando o auge do sucesso em sua área, ou simplesmente sobrevivendo a uma provação horríve, a mesma abordagem funciona. Não pense sobre o fim - pense em sobreviver. Fazendo o certo de refeição a refeição, reunião a reunião, projeto a projeto, salário a salário, um dia de cada vez.
E quando você estiver bom nisso, até as coisas mais difíceis se tornam administráveis. Como Heráclito observou "o caminho que desce e o caminho que sobe são os mesmos". É isso que o processo é. Sob sua influência, nós não precisamos entrar em pânico. Até tarefas colossais se tornam apenas uma sériee de componentes.
Foi isso que o grande pioneiro da meteorologia do século 19, James Pollard Espy, aprendeu em um encontro ocasional como um jovem. Sem saber ler ou escrever até os 18 anos, Espy escutou um discurso incentivador feito pelo famoso orador Henry Clay. Após a fala, fascinado, Espy tentou chegar até Clay, mas ele não conseguia formar palavras para falar com seu ídolo. Um de seus amigos gritou para ele: "Ele quer ser como você, mesmo sem saber ler."
Clay pegou um de seus cartazes, que tinha a palavra CLAY escrita em letras grandes. Ele olhou para Espy e disse "Você vê isso, garoto?" apontando para uma letra. "Isso é um A. Agora só faltam 25 letras".
Espy tinha acabado de receber o dom d'O Processo. Dentro de um ano, ele entrou na universidade.
O que Rosen, Espy, o que estes treinadores estão praticando é o princípio central da filosofia estóica - a que eu tentei pregar em meu livro The Obstacle Is The Way. É apenas uma interpretação moderna do que Marco Aurélio dizia:
"Não deixe sua imaginação ser destruída pela vida como um todo. Não tente imaginar tudo de ruim que poderia acontecer. Se prenda à situação do momento e pergunte “Por que isso é tão insuportável? Por que eu não consigo encarar isso?”
Sete segundos. Se prendendo à situação do momento. Focando no que está imediatamente à sua frente. Sem pressão, sem resistência. Bem relaxado. Sem esforço ou preocupação. Apenas um simples passo após o outro. Este é o poder do processo.
Nós podemos canalizar isso também. Não precisamos lutar como frequentemente fazemos quando temos alguma tarefa difícil na nossa frente. Em vez disso, nós podemos respirar, fazer a parte que está imediatamente na nossa frente - e seguir o fluxo até a próxima ação. Tudo em ordem, tudo conectado.
Quando se trata de nossas ações, a desordem e a distração são letais. A mente desordenada perde o foco do que está na sua frente - o que importa - e se distrai com pensamentos sobre o futuro. O processo é a ordem, ele mantém nossas percepções sob controle e nossas ações em sincronia.
Parece óbvio, mas esquecemos disso nos momentos mais importantes.
Agora, se eu lhe nocauteasse e lhe derrubasse, como você responderia? Você provavelmente entraria em pânico. E então iria me empurrar com toda sua força para que eu saísse de cima de você. Não iria funcionar: apenas usando todo o peso do meu corpo, eu seria capaz de manter seus ombros no chão com pouco esforço - você ficaria exausto lutando contra isso.
Isso é o oposto do processo.
O processo é muito mais fácil. Primeiro, não entre em pânico, conserve sua energia. Não faça nada estúpido tipo se asfixiar por agir sem pensar. Foque em não deixar isso piorar. Então levante seus braços, para se apoiar e criar um espaço para respirar. Agora se esforce para ficar de lado. Daí você consegue começar a me tirar de cima de você: pegue um braço, prenda uma perna, sacuda os quadris, deslize um joelho.
Vai demorar um tempo, mas você vai conseguir sair. A cada passo, a pessoa no topo será forçada a se levantar um pouco, até que não esteja mais em cima de você. Depois você estará livre.
Estar preso é apenas uma posição, não um destino. Você se livra disso ao encaminhar e eliminar cada parte dessa posição através da ação pequena e deliberada - não pela tentativa (e fracasso) de empurrar com força super-humana.
Com nossos rivais nos negócios, nós torturamos nossos cérebros para pensar em um novo produto arrebatador que tornará a concorrência irrelevante e, no processo, tiramos o foco do objetivo. Nós desistimos de escrever um livro ou fazer um filme mesmo sendo nosso sonho porque é muito trabalhoso - nós não conseguimos imaginar como ir daqui até lá.
Com que frequência fazemos concessões ou nos acomodamos porque sentimos que a solução real é muito ambiciosa ou fora do nosso alcance? Com que frequência assumimos que a mudança é impossível porque ela é muito grande? Porque ela envolve muitos grupos diferentes? Ou pior, quantas pessoas estão paralizadas por todas suas ideias e inspirações? Elas vão atrás de todas elas e chegam a lugar nenhum, se distraindo e nunca trazendo progresso. Elas são brilhantes, mas raramente conseguem executar algo. Elas raramente vão para onde querem e precisam ir.
Todos esses problemas são solucionáveis. Cada um seria superado pelo processo. Nós apenas presumimos, erroneamente, que tudo tem que acontecer na mesma hora, e desistimos quando pensamos a respeito. Somos pensadores de A-Z, nos preocupamos com A, ficamos obcecados por Z, mas esquecemos tudo de B a Y.
Queremos ter metas, claro, para que tudo que fizermos tenha alguma finalidade. Quando sabemos o que nós realmente estamos nos propondo para fazer, os obstáculos que surgem tendem a parecer menores, mais administráveis. Quando não fazemos isso, cada um parece maior e impossível. Metas ajudam a colocar os altos e baixos na proporção correta.
Quando nos distraímos, quando começamos a nos preocupar com algo além do nosso próprio progresso e esforço, o processo é uma voz útil, às vezes autoritária, em nossa cabeça. É o protesto do sábio líder mais velho que sabe exatamente quem ele é e o que ele tem que fazer. Cale a boca. Volte ao seu posto e tente pensar no que nós mesmos faremos, em vez de se preocupar com o que está acontecendo lá fora. Você sabe qual é o seu trabalho, pare de se queixar e vá trabalhar.
O processo é aquela voz que requer que tomemos responsabilidade e posse. Que nos motiva a agir mesmo que seja de uma maneira pequena.
Como uma máquina incansável, subjugando a resistência de toda maneira que ela existir, pouco a pouco. Seguindo em frente, um passo de cada vez. Coloque o processo acima da força. Substitua o medo pelo processo. Dependa dele. Se apoie nele. Confie nele.
Leve o tempo que precisar, não se apresse. Alguns problemas são mais difíceis que outros. Lide com os que estão bem na sua frente primeiro. Volte para os outros depois. Você chegará lá.
O processo é uma questão de fazer as coisas certas agora. Sem se preocupar com o que irá acontecer depois, ou com os resultados, ou com a visão geral.


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A voz do povo nos estádios e nas ruas quer Dilma fora do Planalto


27/03/2016
 às 10:20 \ Opinião

J. R. Guzzo: Insano, errado e inútil

Publicado na revista EXAME whttps://youtu.be/33iegELFr-w
Dilma Rousseff tanto fez, mas tanto fez que acabou sendo obrigada a aceitar o “fora Dilma” gritado nas ruas pela multidão — e também, como ficou oficialmente comprovado agora, por seu próprio partido. A opinião pública já não quer saber dela há muito tempo. O PT também não quer. E, mais que todos, o ex-presidente Lula não quer — e, quando ele não quer, ela não fica. Não ficou. Enquanto o Congresso Nacional não resolve a questão do impeachment e a Justiça não chega a uma decisão sobre a legalidade do mandato presidencial, Lula é o único que poderia tentar alguma pirueta extrema na esperança de resolver o prodigioso embrulho político, penal, econômico e gerencial montado no governo pela criatura que, um dia, ele teve a infeliz ideia de colocar no Palácio do Planalto como sua sucessora. Resolveu, como se viu, assumir ele mesmo o cargo de presidente da República, disfarçado de “ministro da Casa Civil”; a Dilma restam hoje o crachá de presidente, a incumbência eventual de aparecer na televisão falando um disparate qualquer e a possibilidade de andar de bicicleta em volta do palácio com seu capacete, seu traje de ciclista no último estilo e seu pelotão de seguranças. Pode dar certo uma extravagância dessas, até agora jamais tentada em nossa “história republicana”? Do ponto de vista do interesse pessoal de Lula, não está claro se pode ou não. Ele assumiu, sem eleição, esse terceiro mandato porque achou que era sua melhor, ou única, chance de salvar o próprio couro diante da Justiça penal brasileira; mas tem contra si tantas variáveis potencialmente desastrosas, política e juridicamente, que nada está garantido. Do ponto de vista do interesse dos cidadãos, a coisa já é bem simples: não há nenhuma possibilidade de dar certo.
É um caso claríssimo de pau que nasce torto; não pode endireitar mais tarde. Não se sabe de nenhuma democracia no mundo em que um político de primeira grandeza tenha sido nomeado subitamente para um cargo de ministro com a única finalidade de fugir de uma possível prisão preventiva, legalmente ordenada pela Justiça, sob a acusação de praticar crime comum. No presente caso de Lula, não houve sequer uma tentativa de dizer que sua nomeação atende a algum interesse público — que interesse público poderia ser esse, santo Deus? E por que a urgência desesperada? É óbvio que numa situação dessas, em qualquer época ou lugar, o certo é justamente não colocar no ministério, de jeito nenhum, uma pessoa com tal tipo de problema. Mas não: fizeram o exato contrário. A isso se soma uma declaração de hostilidades à opinião pública. Bem na hora em que 1,3 milhão de pessoas, em São Paulo, e outros 2 milhões ou mais, em outras 500 cidades e nos 27 estados brasileiros, repudiam o governo na maior manifestação popular da história nacional, Lula, o PT e Dilma decidem ir na direção oposta e provocam abertamente a voz da rua; em vez de tentar algum gesto para apaziguar um pouco os espíritos, mandam a população calar a boca. Também não prometem endireitar uma situação que começa com a divulgação, em plena luz do dia, das malfadadas conversas gravadas em que Lula dispara uma barragem sem precedentes de insultos ao Judiciário, ao Congresso e a todos os que não concordam com ele.
Mais complicado que tudo, enfim, é a impossibilidade material, para Lula, de “salvar a economia” ou torná-la um pouco menos ruim — o que, em sua imaginação, acabaria resolvendo tudo. Mas o repertório de ações aparentemente cogitadas por suas forças se divide entre o insano, o errado e o inútil. Falam em usar as “reservas internacionais” para fazer “obras”, como se fossem um cofrinho em que o governo vem guardando suas economias para um dia de chuva. Sonham em gastar mais — e aumentar a maior dívida pública da história econômica do Brasil. Acreditam no milagre da ressurreição do imposto do cheque. Acham que dá para comprar por atacado o Congresso e os partidos. Nenhum deles notou, pelo jeito, que em fevereiro o governo teve a pior arrecadação dos últimos seis anos — como tirar dinheiro de onde não há nada? Fora essas ideias, não há outras. O terceiro mandato de Lula começa mal.

sábado, 26 de março de 2016

Humor de Chico Caruso no blog de Ricardo Noblat

A charge de Chico Caruso

Charge (Foto: Chico Caruso)

Humor de Amarildo no blog de Ricardo Noblat


A charge de Amarildo

Charge (Foto: Amarildo)

"Cada dia uma agonia..." / Fernando Gabeira

Cada dia uma agonia - 

FERNANDO GABEIRA

ESTADÃO - 25/03

Pensei que esta seria uma semana de trégua. E é, de certa forma, no plano nacional. Na verdade, o atentado em Bruxelas mostrou a face covarde da guerra. Ao considerá-la assim, uma semana de trégua, lembrei-me de uma grávida que entrevistei num bairro infestado de mosquitos em Aracaju: “Graças a Deus, o que tive foi chikungunya”.

Os fatos da semana passada não me permitiram tratar de escutas telefônicas. Tenho experiência disso. Nas eleições de 98, um repórter ouviu ligação minha e divulgou uma frase em que dizia que uma deputada estadual era suburbana. Isso num contexto sobre implantação de aterros sanitários, que, para mim, deveriam ter um enfoque metropolitano. Reclamei de forma, mas não me detive nisso porque havia algo mais importante a tratar: o conteúdo.
O adversário na época, Eduardo Paes, fez uma grande campanha em torno disso. Vestiram camisetas com a inscrição Sou suburbano com muito amor. Ainda hoje as fotos me fazem rir.

A reação de Dilma e seus defensores foi dissociar a forma do conteúdo e discutir só aquela. A tentativa de explicar o diálogo gravado foi ridícula, segundo o New York Times. Patética para outros, que observam o fluxo dos últimos acontecimentos. No caso, não se trata de um grampo, mas de levantar o sigilo de um processo. Moro investigava Lula e o conjunto das gravações indicava a busca de um ministério para escapar do processo. O último áudio apenas foi uma espécie de CQD.
A Lava Jato é, para mim, a maior e mais bem-sucedida operação realizada pela polícia brasileira. Sua atuação é espetacular, mas, se comparamos com o futebol, é possível jogar uma partida magnífica e ainda assim cometer algumas faltas.

No meu entender, elas estão no levantamento do sigilo de áudios que tratam de assuntos pessoais, sem importância real no processo. Eu deparo com esse problema no trabalho cotidiano. Outro dia entrevistei uma cozinheira e ela disse que se casou com o primo por falta de alternativa. Minutos depois me procurou para que apagasse esse trecho da entrevista. Atendi imediatamente. Que interesse teria isso para a história que estava para contar? Nenhum. 

O que é irrelevante para o público pode ter enorme repercussão na vida da pessoa. Uma frase mal colocada, absolutamente inócua para o espectador, pode desatar inúmeros dramas familiares, suspeitas, rancores.

Com escritores, juristas, tanta gente de talento defendendo Dilma, ninguém trata do conteúdo do processo levado por Moro, o que, na verdade, interessa mais ao povo. Falam em defesa da democracia, mas ignoram o mensalão, o escândalo na Petrobrás, dois ataques violentos à própria democracia.
Fui deputado alguns anos e me sinto enganado por ter de discutir com parlamentares que foram comprados pelo governo. Não há debate real. As posições foram pagas no guichê do palácio. Para mim, isso é a real negação do processo democrático. E os dados estão aí: a Petrobrás foi arrasada, apenas em 2015 teve um prejuízo de R$ 43,8 bilhões; só a Operação Lava Jato conseguiu bloquear R$ 800 milhões no exterior. 

Que tipo de democracia é esta em que você compete com campanhas milionárias sustentadas com grana roubada de empresas estatais, via propinas das empreiteiras?

As delações premiadas da Andrade Gutierrez e de Marcelo Odebrecht vão demonstrar tudo isso. No caso de Odebrecht, é preciso ver ainda o que tem a falar, porque sua resistência acabou provocando um avanço da Lava Jato sobre os segredos mais guardados da empresa.

Outra discussão que reservei para a semana de trégua: a condução de Lula. Tenho amigos que a criticam, na verdade, tenho amigos que até são contra o impeachment. A Lava Jato, a esta altura, fez 130 conduções coercitivas. Mas Lula estava disposto a depor, dizem. E os outros, se chamados, também não estariam dispostos? O que determina a medida é análise dos fatos, a lógica da investigação.

Outros lembram: Lula é um símbolo. Respondo que a lei vale para todos. Está escrito na Constituição. Teríamos de redigir a emenda: a lei vale para todos, menos para os símbolos. 

Aliás, o termo símbolo é muito vago. Eventualmente um homem desconhecido pode se tornar símbolo de algo. O pedreiro Amarildo transformou-se num símbolo. Um jovem negro assassinado os EUA vira símbolo do conflito racial. 

É surpreendente ver como Lula se transformou, na realidade, num líder conservador: a esperança dos corruptos de melar a Operação Lava Jato. Deixando de lado o machismo, que não é novidade, suas falas gravadas mostram um personagem típico: sabe com quem está falando? Seu ataque à autonomia da Polícia Federal é simplesmente reacionário. Ainda mais, articulado com frases em que condena a busca de autonomia em outros setores. “Só Dilma não consegue governar, não tem autonomia”, diz ele.

Uma visão realmente política não culpa a oposição pela imobilidade do governo. Seria o mesmo que Lenin, derrotado num bar do Quartier Latin, afirmar que a revolução fracassou por causa dos mencheviques.

Dilma não consegue governar, concordo com Lula. Mas o problema não está na oposição, está nela. Lula reconhece isso nos seus discursos, pedindo que Dilma sorria pelo menos algumas vezes. Acho um apelo inútil, como os que encontramos em algumas lojas: sorria, você está sendo fotografado.

Se Lula reconhece que Dilma não é capaz de presidir, terá de reconhecer também que errou ao lançá-la. E toda essa imensa máquina petista teria de compreender que não se inventa um quadro político, ele se faz na história cotidiana, ao longo de mandatos, no fascinante jogo político, um jogo tedioso para quem não gosta dele.
Isso são reflexões de uma semana de trégua. Não há futuro para o governo. Toda a sua energia se consome na defesa do impeachment, no medo da Lava Jato. Cada dia que um projeto fracassado consegue sobreviver é mais um dia em que o Brasil afunda. Isso parece não ter nenhuma importância para eles. Lamento.

Presentes para Lula / Maria Helena RR de Souza


POLÍTICA

Alguns Presentes

Presentes (Foto: Arquivo Google)
1) O presente que mais chamou minha atenção nos últimos dias foi o que Lula recebeu do ministro Teori Zavacki.

Lula, com a ajuda de Dilma, lutou acirradamente pelo cargo de ministro do Governo Federal para escapar da “República de Curitiba”, como ele chama a 13ª Vara da Justiça Federal. Pois não é que não precisava tanto esforço?
Bastava ter reclamado junto ao STF que o ministro Teori Zavacki atenderia ao ex-presidente: retirar seu processo das mãos do juiz Sergio Moro e levá-lo para o STF.
A mim me parece que esse é um presente de grego, mas isso só saberemos depois que o plenário do STF se reunir, o que pode levar alguns dias.

2) Naquele dia em que Lula foi tomar café da manhã em casa do presidente do Senado, Renan Calheiros, o que mais me intrigou foi o presente que o anfitrião deu ao seu convidado: um exemplar da Constituição Federal de 1988.
Achei indelicado, para dizer o mínimo. A não ser que fosse um exemplar ricamente encadernado da nossa Constituição, francamente, não vi sentido, já que é impossível imaginar que um ex-presidente da República não tenha mais de um exemplar, um em cada uma das casas que possui, fora um no Instituto Lula. E exemplares lidos e relidos.
A não ser que aquilo tenha sido uma mensagem subliminar, o que é possível, vindo de quem vem...
3) Eu já disse aqui e repito hoje: Deus lembrou-se que é brasileiro e nos enviou um grande presente, o juiz Sergio Moro. Trabalhando sem trégua, dedicado ao Brasil, o juiz que está desvendando a teia infernal da corrupção que devora o país, em vez de só receber apoio e aplausos, vem sendo criticado por almas menos perceptivas do Bem que ele está nos fazendo.
Há quem tenha a coragem de dizer, diante da admiração e gratidão que Sergio Moro desperta na grande maioria dos brasileiros, que não precisamos de mitos e que o juiz de Curitiba deve fugir dos holofotes. De mitos não precisamos, é verdade. Deus nos livre dos mitos. Mas de pessoas que mereçam nossa admiração, disso estamos mais do que necessitados. São poucas, muito poucas, as pessoas públicas dignas da admiração dos brasileiros. Nunca estivemos tão pobres nessa área... Mais do que pobres, indigentes. O Juiz Sergio Moro é uma brava exceção!
4) Mas, falando em presentes, eu não poderia deixar de mencionar o presente que dona Dilma deu ontem à Imprensa Internacional.
Ela reuniu os correspondentes estrangeiros em seu Palácio para queixar-se amargamente dos que pregam seu impeachment. Falou um bocado e disse, como sempre, que a Oposição quer sua renúncia porque sabe que seu afastamento não tem base legal. É o que ela diz...
Sabem que fiquei com pena dela? Será que ela pensa que os jornalistas estrangeiros que aqui representam os maiores jornais e revistas do mundo estão tão por fora de tudo que o Governo Federal tem aprontado que vão rezar pela ladainha dela?
Tenho a impressão que esse presente vai se transformar num osso duro de roer...
5) Peço licença para mencionar o meu presente: votos de uma Boa Páscoa para os leitores do Blog do Noblat e de uma rica Pascoela para todos os brasileiros, com o renascimento de nosso país.

Frase do dia no blog de Ricardo Noblat

FRASE DO DIA
Lula no governo foi estupidez inominável.
CIRO GOMES

sexta-feira, 25 de março de 2016

"Quando saí, o governo Dilma respirava por aparelhos; agora, estertora." / Hélio Schwartsnam

sexta-feira, março 25, 2016

País conflagrado - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 25.03

SÃO PAULO - Fui ao Oriente Médio e, na volta, encontro o Brasil conflagrado. Quando saí, o governo Dilma respirava por aparelhos; agora, estertora. O fato que mais contribuiu para lançar combustível às chamas foi a divulgação, por Sergio Moro, da gravação de um diálogo comprometedor entre Dilma e Lula.

Para os simpatizantes do Planalto, o juiz federal violou todas as regras atinentes a escutas telefônicas, ao privilégio de foro e desrespeitou a instituição da Presidência da República, a soberania nacional etc. Deveria estar atrás das grades. Para a turma pró-impeachment, Moro agiu como herói ao lançar luzes sobre as entranhas pouco iluminadas do poder.

Como tudo na vida, a questão é mais nuançada. Pelas análises de juristas que li, acho que dá para sustentar que a produção das provas, que incluem o diálogo comprometedor, foi legal; há dúvidas sobre sua validade num eventual julgamento da presidente; e é mais ou menos certo que Moro avançou o sinal ao revelar "urbi et orbi" seu conteúdo.

Isso, é claro, só vale no âmbito jurídico. Na esfera política, é preciso ser apaixonadamente petista para não perceber que o juiz recorreu a um expediente de que o PT não só se utilizou no passado como frequentemente elogiou, que é tornar público aquilo que aos poderosos interessa manter secreto –mesmo que para isso certas leis tenham de ser violadas.

Para ficar num caso recente, o governo não se mostrou tão zeloso com procedimentos quando o ex-agente americano Edward Snowden, em violação às leis dos EUA, divulgou em 2013 dados que mostravam Washington bisbilhotava a presidente brasileira. Um ministro de Dilma disse na ocasião que o ex-espião prestara um "serviço à humanidade".

No que a atitude de Moro difere da de Snowden? Mesmo que o diálogo não valha como prova num tribunal, foi bom para o país ter tomado conhecimento dessa conversa? O velho PT teria dito "sim" sem pestanejar.

"A irresponsabilidade de Dilma Rousseff e de Lula nessa reta final do governo é assombrosa.." / Reinaldo Azevedo

Dilma na cerimônia do adeus - REINALDO AZEVEDO

Folha de SP - 25/03

A irresponsabilidade de Dilma Rousseff e de Lula nessa reta final do governo é assombrosa. Tanto a dupla como o establishment petista sabem que nada mais pode ser feito. Acabou mesmo! Eles se dedicam agora é a criar uma narrativa da partida que possa manter reunido ao menos um pedaço da militância.

Quando a presidente, seu antecessor e a cúpula petista gritam "golpe!", já não falam mais para o conjunto dos brasileiros. É um discurso voltado para os fiéis, para a militância. Criar uma mitologia da derrota, para os tempos de deserto, é tão importante como criar uma da vitória para os tempos de bonança.

O PT está deixando o poder, mas pretende voltar. Para que possa se reorganizar, terá de encolher; de buscar as suas origens; de resgatar a mística do confronto de classes; de excitar, como nos tempos primitivos, não o desejo de consumo das massas, mas o ressentimento dos oprimidos. Lula não quer deixar o poder como um ladrão, mas como um excluído.

Será o patriarca banido da Terra Prometida depois de tê-la conquistado. Viverá de contar histórias e de excitar a imaginação dos mais moços. O PT, como o conhecemos, está morto, mas não a mística intelectualmente vigarista da redenção dos oprimidos que o embala. Esta é um dado permanente na história.

Até um novo barbudo já veio à luz para divulgar "a palavra". O Lula renascido é Guilherme Boulos. Consoante com os tempos da nova esquerda, ele não vem do chão de fábrica, mas dessas milícias supostamente benignas a que chamam "movimentos sociais".

Achando que um é pouco, o rapaz comanda dois movimentos: o MTST e a Frente Povo Sem Medo. Deveria logo abrir uma incubadora de produtos ideológicos do gênero. Se houver impeachment, o novo profeta promete "incendiar o país". Dito de outro modo: se o Congresso não vota como quer Boulos, ele não reconhece o resultado.

Lula nasceu para a política quando a esquerda foi levada a aderir à "democracia como um valor universal", para citar um texto de 1979, de Carlos Nelson Coutinho. Boulos será o líder de um período partidário em que a tolerância perderá até seu valor instrumental. Sem violência, ele está convicto, não haverá redenção. Sai Coutinho do altar, entra um delinquente intelectual como Slavoj Zizek.

Não se descarte, anotem aí, a criação de uma nova sigla que funda o que restar de PT, PSOL, PSTU e outras excrescências mais à esquerda. Como no começo.

A certeza de que o impeachment virá e a necessidade de organizar a resistência com os apaniguados expulsos do paraíso levam Dilma e Lula a anunciar país e mundo afora que um golpe está em curso no Brasil.

Fora do ministério, ele apenas exercita a retórica irresponsável de sempre, cada vez mais típica de um Lula que se mostra uma farsa de si mesmo. Ela, no entanto, se o que está na Constituição é para valer, está incorrendo em novo crime de responsabilidade ao acusar, na prática, o Supremo Tribunal Federal, que votou o rito do impeachment, de fazer parte de uma arquitetura golpista.

Não se descarte, ainda, que alguns cadáveres possam integrar essa narrativa da partida. Eles sempre estão no imaginário delirante e essencialmente criminoso das esquerdas. Ora, o que são alguns mortos quando o que está em jogo é a salvação da humanidade –e algumas contas secretas na Suíça?

Folha Política: Estudantes de Coimbra querem cassar título de Doutor Honoris Causa de Lula

Folha Política: Estudantes de Coimbra querem cassar título de Dout...: Imagem: Reprodução Em 2011, Lula foi a Portugal para receber seu 27º titulo de Doutor Honoris Causa, no caso uma homenagem da Universid...

A vida dá voltas... a barba embranquece, a barriga cresce

sexta-feira, março 25, 2016 

Que papelão, Lula - PEDRO DEL PICCHIA

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FOLHA DE SP - 25/03

Lula,

Esta de você buscar refúgio na Casa Civil para tentar fugir da investigação da Operação Lava Jato supera todas as espertezas que você já usou e costuma usar na ação política desde a sua aproximação irreversível com os bacanas a partir do final de 2002, logo após sua primeira e triunfal eleição para a Presidência.

Consta que então, em busca de descanso após a árdua campanha eleitoral, você foi para uma fazenda em Mato Grosso, conforme relato de alguém que o acompanhou. Não seria absurdo supor que foi aí que tudo começou em matéria de novas amizades - depois reveladas indecorosas. Hoje, olhando em retrospecto, que diferença daquele Lula do início de 1981 que percorreu alguns países da Europa em busca de apoio político e financeiro para o recém-fundado Partido dos Trabalhadores, junto a partidos políticos de esquerda e organizações sindicais.

Daquela comitiva fazia parte, além de dois sociólogos depois convertidos ao tucanato, o sindicalista Jacó Bitar, pai de Fernando, sócio de Lulinha e proprietário formal do sítio de Atibaia comprado para a família da Silva desfrutar. Na época, sinceramente, ele parecia um humilde sindicalista. A sorte, seguramente, sorriu para a família dele, porque a grana do sítio ou de meio sítio, como se divulga, foi alta, coisa de milhão, também como se diz.
No meu possante Fiat 147, vermelho confesso, carreguei a comitiva petista para um convento de freiras polonesas numa periferia perdida de Roma, onde você, Lula, ganhou as manchetes internacionais ao se encontrar com o líder do Solidariedade, Lech Walesa, que estourava na mídia mundial alavancado pela eleição do papa polonês João Paulo 2º. Walesa, mais tarde, igualmente, se tornou presidente da Polônia e, segundo consta, também igualmente, se deu bem na vida.

Tempos bons aqueles em que no seu rosto estava estampada a palavra esperança. Fomos até comemorar na noite seguinte na minha casa, em companhia do secretário-geral da poderosa Federação dos Metalúrgicos italiana. Você até pediu, em meio a quantidades memoráveis de uísque e vinho, para tomar umas doses de 51 e matar a saudade do "nosso Brasil". Daquela passagem por Roma, restou-me a carta de agradecimento que você me mandou depois.

Hoje acompanho abismado o que se passa no nosso país por conta da gestão desastrosa da triste figura - o "poste" - que, do alto do prestígio de presidente mais bem avaliado da nossa história, você empurrou para os eleitores. Acontece que o "poste", como diria o seu companheiro Jaques Wagner, se lambuzou e em manobra até agora desastrada quer passar a Presidência, de fato, para você, um cidadão sem mandato denunciado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (com pedido de prisão) e investigado pelo Ministério Público Federal do Paraná.

Defenda-se Lula. Explique o até agora inexplicável. Assuma suas responsabilidades. Vivemos num Estado democrático de Direito conquistado a duras penas, como você bem sabe. Mas não venha com essa conversa de que você iria (ou vai?) para o governo a fim de salvar a República.

Você assumiria (ou assumirá?), isso sim, para se livrar do juiz Sergio Moro e tentar o que hoje parece cada vez mais difícil, salvar o seu "poste" do impeachment ou da cassação.

Arrivederci Roma!

PEDRO DEL PICCHIA, 68, é jornalista e escritor. Foi correspondente da Folha em Roma de 1978 a 1981.