BRASIL
Lava Jato: PF prende ex-secretário-geral do PT e
empresário ligado a caso Celso Daniel
Foco da nova fase,
batizada de
Carbono 14,
está no empréstimo fraudulento
concedido pelo Banco Schahin ao PT de
12 milhões de reais
Por: Laryssa Borges, de Brasília01/04/2016 às 08:05 - Atualizado em 01/04/2016 às 14:10
18Polícia Federal cumpre mandado de busca e apreensão no Diário do Grande ABC,
em Santo André (SP), na manhã desta sexta-feira (1), durante a 27ª fase da Operação
da Operação Lava Jato. Desta vez, o foco das investigações é
um empréstimo fraudulento concedido pelo Banco Schahin,
cujos recursos teriam sido usados para a quitação de dívidas
do Partido dos Trabalhadores. Mais do que apenas o rastreamento
do dinheiro, a nova fase, batizada de Carbono 14, traz de volta
fantasma do assassinato do ex-prefeito de Santo André
Celso Daniel (PT).
Foram presos na nova fase o ex-secretário-geral do PT Silvio
Pereira e o empresário Ronan Maria Pinto. O ex-tesoureiro
do PT Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman foram
conduzidos coercitivamente. Silvinho, como é conhecido,
chegou a ser incluído entre os réus do escândalo do mensalão,
mas fez um acordo com a Justiça para realizar serviços à
comunidade e não responder ao processo. Delúbio foi
condenado no mesmo esquema a seis anos e oito meses de
prisão por corrupção ativa.
Conforme publicou VEJA em 2012, o publicitário e operador
do mensalão Marcos Valério revelou em depoimento à
Procuradoria-Geral da República que Ronan Maria Pinto,
um empresário ligado ao antigo prefeito, estava chantageando
o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para não
envolver seu nome e o do ex-presidente Lula na morte de Daniel.
Segundo os investigadores da Operação Lava Jato, pelo menos
metade do empréstimo fictício contraído junto ao Banco Schahin
acabou desaguando nos bolsos de Ronan.
As apurações do megaesquema de corrupção na Petrobras
indicam que José Carlos Bumlai, empresário e amigo do
ex-presidente Lula, integrou um esquema de corrupção
que envolvia a contratação da Schahin pela Petrobras
para operação do navio sonda Vitoria 10.000. A transação
só ocorreu após o pagamento de propina a dirigentes da
Petrobras e ao PT. A exemplo do escândalo do mensalão,
o pagamento de dinheiro sujo foi camuflado a partir da
simulação de um empréstimo no valor de 12,17 milhões
de reais do Banco Schahin, com a contratação indevida
da Schahin pela Petrobras para operar o navio sonda
Vitoria 10.000 e na simulação do pagamento do suposto
empréstimo com a entrega inexistente de embriões de gado.
Em depoimento, Bumlai admitiu que tomou o
empréstimo para repassar os valores ao PT e
detalhou que o dinheiro foi pedido pelo ex-tesoureiro da
sigla Delúbio Soares.
"A fiar-se no depoimento dos colaboradores e do confesso
José Carlos Bumlai, os valores foram pagos a Ronan
Maria Pinto por solicitação do Partido dos Trabalhadores",
disse o juiz Sergio Moro no despacho da 27ª fase.
Agora a Polícia Federal quer entender todos os capítulos
dessa história e cumpre na manhã desta sexta doze
mandados para aprofundar a investigação sobre o
esquema de lavagem de capitais de cerca de 6 milhões
de reais do empréstimo, considerado crime de gestão
fraudulenta do Banco Schahin. As medidas estão sendo
cumpridas em São Paulo, Carapicuíba, Osasco e Santo André.
A procuradoria afirma que o dinheiro desse empréstimo
ao PT acabou gerando prejuízo para a Petrobras, já que
os valores só foram liberados depois que o Grupo Schahin
pagou propina para vencer a concorrência e ser operadora
do navio-sonda Vitória 10.000. Apenas este contrato
chegou a 1,6 bilhão de dólares.
Para a viabilização do esquema de pagamentos do
empréstimo forjado ao PT, o dinheiro saiu de
José Carlos Bumlai para o Frigorífico Bertin, que,
por sua vez, repassou cerca de 6 milhões de reais a
um empresário do Rio de Janeiro. Na sequência, ele
fez transferências diretas para a Expresso Nova Santo
André, empresa de ônibus controlada por Ronan Maria
Pinto. Outras pessoas físicas e jurídicas indicadas pelo
empresário para recebimento de valores, como o jornal
Diário do Grande ABC, também foram usadas para camuflar a transação.
Empresário com diversos negócios na região do ABC
paulista, Ronan Maria Pinto é apontado pelo Ministério
Público como um dos participantes do esquema de
corrupção instalado em Santo André durante a administração
de Celso Daniel. O nome do empresário, velho conhecido
do PT, voltou à tona com a delação premiada do ex-diretor
da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Ele
disse que Bumlai obteve o empréstimo junto ao Banco
Schahin e repassou 6 milhões de reais a Ronan. O nome
da nova fase da Lava Jato, Carbono 14, é uma referência
a procedimentos utilizados para a investigação de fatos
antigos. As suspeitas envolvem crimes de extorsão, falsidade
ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro.
Em nota, Ronan negou as acusações e afirmou que sempre esteve à
disposição das autoridades para prestar esclarecimentos. "Mais uma
vez o empresário reafirmará não ter relação com os fatos mencionados
e estar sendo vítima de uma situação que com certeza agora poderá