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sábado, 27 de fevereiro de 2016

O nível dos dirigentes do país é motivo para entristecer a sociedade brasileira ...


POLÍTICA

Os imbecis de Umberto Eco

Burro no PC (Foto: Arquivo Google)
Em memória de Umberto Eco, vamos lembrar aqui uma reflexão recente do mestre da semiótica, que em seus estudos, como o marcante “Apocalípticos e Integrados”, deu um verniz de nobreza às manifestações da cultura de massas, como as histórias em quadrinhos ou o cinema.
Numa cerimônia realizada em 2015 na Universidade de Turim, onde ensinava, Eco foi impiedoso com as consequências do uso indiscriminado das mídias sociais para discussões supostamente edificantes:
“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”.
Esta semana tivemos o exemplo mais sólido do que pode acontecer quando a miséria intelectual do debate político brasileiro se mistura ao direito de fala concedido aos milhões de imbecis. Só podia dar no que deu: um espetáculo de degradação e desinformação de fazer corar, como se dizia antigamente, um frade de pedra.
Vamos passar por cima e desconsiderar, para efeitos de discussão do uso desqualificado das redes sociais, dos mexericos da Candinha que envolveram a vida privada de políticos de relevo, com discussão sórdida de detalhes que só interessam aos envolvidos e que não trouxeram a mínima evidência do uso de dinheiro público.
Baixarias à parte, houve um outro tema que não envolvia alcova, mas que demonstra, de maneira chocante, a superficialidade e a desinformação que pautam grande parte da opinião pública assim dita “engajada” numa guerra de palavras de ordem e slogans sem pé nem cabeça em torno de um assunto de grande interesse para o País: a exploração dos campos de petróleo das províncias do pré-sal, que os dois últimos presidentes chamaram de “bilhete premiado”.
Até as rochas submersas sabem que os governos petistas se agarraram a essa descoberta como se ela fosse a lâmpada de Aladim da redenção nacional. Fizeram de tudo com o pré-sal: tiraram fotos com as mãos sujas de óleo (ah, se fosse só de óleo…), gastaram por conta, resolveram os problema de educação até o fim dos tempos, e só não dançaram fantasiados de barril de petróleo na Praça dos Três Poderes porque Shigeaki Ueki, o “japonesinho do Geisel”, já tinha prometido fazer isso antes.
No meio dessa euforia, o governo criou um marco regulatório substituindo o sistema de concessão pelo de partilha, e sacou da algibeira uma decisão insensata, que foi a de OBRIGAR a Petrobras a comandar a operação de todos os campos, com uma participação mínima de 30%.
A Petrobras, que atualmente deve 5 vezes mais do que vale, não tem, neste momento, condições de cumprir a OBRIGAÇÃO. Portanto, sem dinheiro para cumprir o que manda a lei, a Petrobras não pode licitar campos porque não tem dinheiro para investir neles. Obviamente, a exploração dos campos, prejudicada além de tudo pela queda brutal dos preços do óleo cru, diminuiu de ritmo.
O projeto de lei de José Serra, aprovado no Senado, OBRIGA a Petrobras a ceder os campos? Não, ele só a DESOBRIGA de participar e comandar a operação de todos e com um mínimo OBRIGATÓRIO de 30%. Se União acha que a empresa tem condições de entrar com 30%, tudo bem. A decisão é da União. A lei aprovada pelo Senado não prejudica em nada a Petrobras. Pelo contrário: lhe dá mais alternativas para uma escolha racional, que mais interesse à empresa naquele momento.
As redes sociais, povoadas de imbecis ideológicos, desenterrou dos seus baús de memórias afetivas slogans velhos e bichados como “entreguistas" e condenou a união de bárbaros pela “entrega" do pré-sal aos “agentes do imperialismo”.
Pode haver coisa mais enferrujada do que essa? Os “patriotas" do arco da velha preferem ficar sem petróleo nenhum do que abrir mão de seus mitos ideológicos.
Não existe maneira mais fácil de identificar os imbecis de Umberto Eco.

domingo, 10 de janeiro de 2016

"...o PT se lambuzou" , frase de Jacques Wagner em momento de sinceridade..


Lambuzados e otários Sandro Vaia 

Mulheres e chocolate.Não é estranho que alguns dias depois de ter dito que “o PT se lambuzou” o ministro Jacques Wagner apareça lambuzado em novas investigações da Operação Lava Jato?
Na verdade, nada parece estranho no modo petista de habitar ambientes subterrâneos de poder, e de construir ligações perigosas com todos os tipos imagináveis de heterodoxia no                                                                                     trato com a coisa pública.
A fala de Wagner, que segundo a versão luvas de pelica com que a imprensa trata as relações de poder, causou “mal estar” entre governo e PT, pretendia, no fundo, ser uma autocrítica higienizada do partido, mas como o que fica no imaginário popular são as palavras mais fortes, o ministro chefe da Casa Civil acabou puxando uma descarga mais barulhenta do que ele imaginava.
E explicação que Jacques Wagner desenvolveu para explicar o “lambuzado" é de uma inocência angelical. Na verdade, ele atravessou o samba e saiu do ritmo:
“O PT errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo de Lula. Aí não mudou os métodos do exercício da política. Ficou usando as ferramentas que já eram usadas, do financiamento privado (para campanhas eleitorais). O resultado é que o PT, que não foi treinado para isso, (encarnou o ditado) “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”.
Subestimar a inteligência alheia e tratar as pessoas como se elas tivessem dificuldades de discernimento é um dos maiores pecados da histórica soberba do PT. Somos otários, Jacques Wagner? Não, não somos.
O PT montou esquemas de assalto aos cofres da Petrobras (com a parceria dedicada do PMDB e do PP) por falta de reforma política? O mensalão e o petrolão existiram porque “o PT não foi treinado para isso”? (Imaginem a catástrofe que seria se o partido fosse treinado para isso…). A quem Jacques Wagner acha que está enganando?
Para azar do ministro-chefe da Casa Civil, o que ficou de sua narrativa fantasiosa foi só o high-light da manchete: o PT se lambuzou. O resto da digressão se perdeu na poeira das palavras ao vento.
Tarso Genro (Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo)Por isso ele foi repreendido por um petista mais cosmopolita, mais escolado do que o baiano em questões de uso cauteloso da linguagem. Tarso Genro, que passa por reformista e eterno candidato a “refundador” do partido, já escolado na tergiversação desde o asilo concedido ao terrorista e assassino italiano César Battisti, condenado em seu país por participação em quatro homicídios, puxou-lhe as orelhas:
“A declaração de Wagner foi profundamente infeliz e desrespeitosa, porque generaliza e não contextualiza. Ele faz coro com o antipetismo raivoso que anda em moda na direita e na extrema direita no País. Com a responsabilidade que ele tem, deveria ser menos metafórico e mais politizado em suas declarações".
A terceirização da culpa é outra das características do DNA petista. Atrás de qualquer fracasso, há sempre um culpado em quem descarregar a ira. E esse culpado nunca está entre eles.
Será difícil ao tergiversador Tarso Genro encontrar qualquer traço de direitismo, extremo ou não, nas palavras do professor Eugenio Bucci, petista histórico do tempo em que acreditava estar nadando em águas limpas. Ele escreveu no final de seu artigo desta semana, no Estadão:
“Por que a corrupção, que antes seria uma intercorrência, ganhou o estatuto de método? Como a corrupção submeteu o partido aos ditames do capital selvagem? Se querem mesmo falar de política, é disso que o PT e a presidente precisam falar. Mas eles não podem. Têm medo do inferno. E ardem”.
Tarso Genro pediria menos metáfora e mais politização?
Tarso Genro (Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

"O PT no divã do analista" / Sandro Vaia /


POLÍTICA

O PT no divã do analista

É muito difícil que desse divã do analista saia um diagnóstico preciso sobre o processo de perda de identidade ou de esquizofrenia do PT
Divã (Foto: Arquivo Google)
O PT está deitado desde ontem, em Salvador, no divã do analista, tentando achar o núcleo de sua personalidade perdida.
Quem sou eu, doutor? Sou o partido que nasceu para ser diferente dos outros e no entanto estou fazendo tudo igualzinho aos outros, e muitas vezes até pior, e não consigo achar mais o meu norte ético.
Estou no governo - ou pelo menos parte de mim está no governo - e no entanto outros pedaços de mim mesmo estão saindo às ruas para protestar contra o que eu mesmo estou fazendo no governo.
Sou de esquerda, de centro ou de direita ou não sou nada disso - mas apenas um partido como os outros, que quer o poder pelo poder e nada além do poder?
Há pelo menos 8 tendências internas representadas nesse 5º Congresso Nacional e elas não estão de acordo nem sequer no fato, agora incontornável, de que discutem até hoje se deveriam mesmo estar reunidos em congresso exatamente num momento de tantas dúvidas existenciais que abalam a própria identidade do partido.
Eles se reuniram, no mínimo, para ouvir as palavras de seu grande e indiscutido (entre eles, claro) “condottiere” Lula, para ver se ele, com suas palavras, ilumina o mundo, como diria a Chauí. Em momentos de dúvida, as massas militantes apelam ao Grande Timoneiro que está mais à mão. Cada fé tem seu Santo Expedito a quem apelar na hora das causas impossíveis.
Petrolão, estagnação, inflação, desemprego em alta, ajuste fiscal operado pelas mãos de um estranho no ninho, alimentado pela ortodoxia econômica inimiga, um plano mirabolante de concessões, uma atribulada convivência com uma base aliada sôfrega, rebelde e desrespeitosa- eis o cenário perfeito para o inferno astral que o PT está levando para o divã.
Enquanto o governo de Dilma, na perfeita analogia musical do professor Luiz Werneck Vianna, sociólogo e pesquisador da PUC-Rio, faz como o velho marinheiro, que em meio ao nevoeiro, leva o barco devagar, a rapaziada sente falta do pandeiro e do tamborim.
Os oito pedaços de PT reunidos em Salvador se dividem entre aqueles que querem voltar a tocar o pandeiro e o tamborim em alto e bom som e aqueles que acham que é preciso criar esperanças de bom tempo para depois do nevoeiro.
Os pés do demiurgo Lula estão instalados nos dois barcos: para sonhar com 2018 ele precisa que o marinheiro leve o barco ao seu destino, mas ele precisa também tocar o pandeiro e o tamborim para fazer-se ouvir.
A crise de identidade que o PT, deitado no divã, está expondo ao analista, deriva em grande parte desse dilema: como ser contra e a favor do governo ao mesmo tempo ?
Retomar o discurso de esquerda praticando um ajuste fiscal que eles estigmatizam como uma prática de direita? Defender a democracia e ao mesmo tempo proteger a Venezuela de sanções por práticas antidemocráticas como encarcerar líderes oposicionistas? Defender a ilusão do Mercosul ao mesmo tempo em que o comércio entre tão solidários hermanos despenca 30%?
Cortar despesas em educação e saúde ao mesmo tempo em que os 39 ministérios e seus cargos agregados incham como um balão? Tentar conter a inflação a laço enquanto ela vaza pela via dos preços controlados e pela irresponsabilidade fiscal?
É muito difícil que desse divã do analista saia um diagnóstico preciso sobre o processo de perda de identidade ou de esquizofrenia do PT.
Se a patologia se revelar benigna, pode ser que o PT encontre um mapa para sair de seu próprio labirinto. Caso contrário, a receita pode requerer o uso de uma camisa de força.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O ressentimento está invadindo a cabeça de autoridades com síndrome de pânico ou com complexo de inferioridade...

http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2015/06/coisa-aqui-ta-preta.html

A coisa aqui tá preta 

Substituir o livre arbítrio e até mesmo a Divina Providência pela mão protetora do Estado babá, o Estado guia, o Estado provedor, é um sonho dos engenheiros sociais
Sandro Vaia
Mapa do Brasil (Foto: Arquivo Google)

Peguei emprestado um salvo conduto do Chico Buarque de Holanda e portanto posso ser politicamente incorreto. 
Você sabe, tem gente que pode fazer isso sem ser chamada de racista e tem gente que não pode nem pensar em usar uma expressão dessas sem ser linchado em praça pública.
Na música “Caro Amigo”, onde ele relatava a situação do Brasil durante a ditadura militar a um suposto amigo distante, Chico diz que a "coisa aqui tá preta” e, como estava mesmo, ninguém se lembrou de chamá-lo de racista. Se ele fosse um coxinha, estaria crucificado. Como é um progressista, está liberado. E aplaudido, claro.
Então vamos usar do salvo conduto e repetir: a coisa aqui tá preta.
Otelo, o mouro de Veneza, ainda não foi expulso de campo, mas falta pouco para isso. Machista, ciumento doentio, e além de tudo, um mouro. Na próxima montagem teatral, duvido que Otelo passe em brancas nuvens (racismo de sinal trocado pode).
Li no Facebook um manifesto de um grupo pró-igualdade racial exigindo a troca do nome de um restaurante chamado “Senzala”, porque isso lembra a escravidão, que deve ser esquecida para sempre. Como Ruy Barbosa, que mandou queimar documentos sobre a escravidão para apagar da História essa ignomínia. Os historiadores agradeceram, penhorados.
A paranoia politicamente correta ganhou a contribuição de um obscuro vereador petista de São José, cidade do interior do Espírito Santo. Ele conseguiu transformar em lei uma proposta que proíbe os restaurantes da cidade de colocar o saleiro à disposição dos clientes, em nome da preservação da saúde deles, ameaçada pelo poder hipertensivo do sódio.
Mas acontece que eu faço questão de temperar a minha própria salada e conclamo todos os habitantes da próspera cidade capixaba a um movimento de resistência civil, que deveria alastrar-se por todo o Brasil, sob o sagrada bandeira da liberdade de mandar na própria vida: deixem o saleiro na mesa!
É muito gratificante saber que o Estado, que é uma superestrutura de altruísmo, formada por várias camadas de generosidade e amor ao próximo, esteja tão preocupado em guiar os passos de seus cidadãos, para evitar que eles façam xixi nas calças, cocô fora do penico, e comam, bebam ou fumem coisas que podem prejudicar a saúde.
Substituir o livre arbítrio e até mesmo a Divina Providência pela mão protetora do Estado babá, o Estado guia, o Estado provedor, é um sonho recorrente dos engenheiros sociais que estão em busca de plantar os alicerces da sociedade perfeita.
Querem apenas guiar-nos em direção ao bem, e nós, ingratos, resistimos.
Não há de ser por outra razão, por exemplo, que o pró- reitor da Universidade Federal de Santa Maria (RS), mandou um memorando aos diretores de todos os departamentos pedindo para identificar todos os alunos e professores de origem israelense. O pedido foi feito por sindicatos de professores, DCE, e o Comitê Santa-mariense de Solidariedade ao Povo Palestino. O pró-reitor, em vez de jogar o pedido no lixo, o repassou a todos os departamentos da universidade.
Para que localizar professores e alunos de origem israelense? Para bordar uma estrela amarela na roupa deles? Nem o pró-reitor que assinou o memorando nem o reitor da universidade conseguiram justificar o pedido.
Como é que três assuntos tão diferentes, como o sal, o antissemitismo e o nome de um restaurante dizem tanto a respeito de um momento de degradação moral de um país?
A coisa aqui está mesmo preta.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

É difícil entender de Política quanto mais política brasileira // blog do Noblat / Sandro Vaia

http://noblat.oglobo.globo.com/artigos/noticia/2015/05/o-pt-e-o-dinheiro-dos-outros.html

O PT e o dinheiro dos outros

Os gestores dos fundos são indicados pelo governo, acionista majoritário das estatais, e a maioria deles é entregue ao PT
Definitivamente, estamos num país estranho. Somos governados por um partido de trabalhadores, e o Congresso acaba de aprovar o primeiro item de um ajuste fiscal que restringe alguns direitos dos trabalhadores.
Dinheiro dos outros (Foto: Arquivo Google)
Mais estranho ainda: os aliados sindicais do partido que está no poder ocuparam as galerias do Congresso e fizeram chover sobre as cabeças dos deputados notas falsas com a efígie do fundador e guru do partido, o ex-sindicalista Lula, e da atual presidente, Dilma Roussef. As notas falsas eram chamadas de PTrodólares.
Mas as coisas estranhas não pararam por aí: a primeira medida do ajuste fiscal só foi aprovada porque 16 dos deputados da dita oposição- 8 do DEM, 7 do PSB e 1 do Solidariedade- votaram a favor dela. Mais estranho ainda: da base aliada, 9 deputados do PT fugiram do plenário e 1 votou contra; do PMDB, 13 votaram contra; no PDT, que tem o ministério do Trabalho, os 19 deputados votaram contra; no PP, 18 votaram contra; e no PTB, 12 votaram contra.
Ou seja: o governo só conseguiu aprovar a medida que restringe o acesso ao seguro desemprego e ao abono salarial graças a 16 votos da oposição. Ganhou por 252 a 227. Se dependesse apenas de sua base e se os votos oposicionistas tivessem ficado na oposição, teria perdido por 243 a 236.E o PDMB ainda se vangloriou de ter obrigado o PT “a descer do muro” para conseguir aprovar a medida.
Isso quer dizer que os liberais e os socialistas se juntaram aos peemedebistas e aos petistas para votar contra direitos dos trabalhadores ? Um total consenso, que é bem o retrato da vã filosofia da política partidária no Brasil. Se não fosse assim, disse
Rodrigo Maia, uma das lideranças do DEM que votaram a favor do governo, “o país quebraria no dia seguinte”. Enfim, um patriota ou um traidor?
Haverá, assim, uma espécie de divórcio conceitual entre os trabalhadores reais e o partido que pretende representá-los?
O caso dos fundos de pensão das estatais é um exemplo escandaloso desse divórcio. A maioria deles, vítimas de gestões temerárias, apresentam pesados déficits que ameaçam a aposentadoria complementar para a qual os trabalhadores contribuem mensalmente.
Os gestores dos fundos são indicados pelo governo, acionista majoritário das estatais, e a maioria deles é entregue ao PT. Os fundos estão sujeitos à fiscalização da Superintendência Nacional da Previdência Complementar, que normalmente toma conhecimento dos erros de gestão quando estes já se tornaram escandalosamente irreparáveis.
Foi o que aconteceu com o fundo dos funcionários dos Correios, o Postalis, que acusou um rombo de 5,6 bilhões de reais. Para cobrir esse buraco, os trabalhadores terão que sofrer descontos adicionais no salário durante um prazo de 15 a 20 anos.
Não é tarefa fácil para um fundo de investimentos, com tantas opções no mercado, conseguir perder dinheiro. Só mesmo com uma gestão desastrosamente incompetente, mal intencionada, ou amarrada a motivações políticas inconfessáveis. Algum gestor de fundos, no uso pleno de   faculdades mentais, investiria em títulos de bancos liquidados, como Cruzeiro do Sul ou BVA, ou em compra de títulos lastreados na dívida da Argentina (notória caloteira) ou da Venezuela?
A oposição está tentando instalar um CPI dos Fundos de Pensão no Congresso. Se conseguir, mais uma vez o PT será chamado a sentar no banco dos réus para explicar como e por que maltrata o dinheiro alheio- e no caso, especificamente, o dinheiro dos trabalhadores.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A luta pelo cérebro vermelho // Sandro Vaia // blog Ricardo Noblat



os
A luta pelo cérebro vermelho, por Sandro Vaia


Quando o eloquente Adlai Stevenson disputava a presidência dos EUA com Dwight Eisenhower, uma mulher entusiasmada disse ao candidato Democrata, depois de um comício: “Todo ser pensante vai votar em você”, ao que Stevenson supostamente respondeu: “Senhora, isso nao é suficiente. Preciso da maioria”.


O filósofo David Hume reconheceu três séculos atrás que a razão é escrava da emoção, e não o contrário.


No livro “O Cérebro Político” (editora Unianchieta), que nao por acaso é prefaciado pelos agora ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo, o neurocientista norte-americano Drew Westen, professor de psicologia e psiquiatria da Universidade de Emory, e que também trabalhou como conselheiro de marketing em campanhas presidenciais do Partido Democrata, mostra como funcionam os circuitos neurais que controlam as emoções e as decisões dos eleitores.


Drew fala em experiências científicas comprovadas, e não trata a emoção como qualquer espécie de sentimentalismo rasteiro. A emoção não é tango. É ciência.


Drew parte dos estudos do neurocientista português Antonio Damásio, que dissecou o papel da emoção e da razão no cérebro humano, e trabalhou para comprovar tudo em experiências laboratoriais conduzidas através de ressonância magnética, que mapeou as áreas do cérebro e o funcionamento dos respectivos circuitos neurais.


Para facilitar o entendimento, Drew simplificou dividindo o córtex pré-frontal do cérebro em duas áreas, o “cérebro vermelho”, no centro do córtex, onde se localizam os circuitos emocionais, e o “cérebro azul”, na periferia do córtex, onde se localizam os circuitos racionais.


Resumindo um pouco grosseiramente: numa campanha política, quem trabalha para ativar os circuitos do “cérebro vermelho” tem mais chance de sucesso de quem trabalha para ativar os circuitos do “cérebro azul”.


Afirma Drew: “O cérebro gravita em torno de soluções concebidas para corresponder não apenas a dados, mas a desejos, por disseminação da ativação de redes que levam a conclusões associadas a emoções positivas, inibindo redes que levariam a emoções negativas”.


Em outras palavras: o cérebro de quem tem um partido político definido descarta as chamadas “emoções negativas” e tende a ativar apenas as emoções positivas já previamente definidas.


Assim, os petistas descartariam o mensalão, como se não tivesse existido, como os tucanos descartariam seus supostos escândalos ou a quebra da promessa de Serra de permanecer na prefeitura durante os 4 anos de mandato,como se também nao tivessem existido.


Discussões racionais sobre os temas não influenciam decisões no “cérebro vermelho”.


Assim, quem é petista permanece petista, quem é tucano permanece tucano, e é no centro flutuante e indefinido que os marqueteiros vão buscar aprisionar o “cérebro vermelho” que define quem ganha a eleição.






Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

"Bombeiro com fantasia de incendiário"...


Enviado por Sandro Vaia - 
21.9.2012
 | 9h45m
POLÍTICA

O juízo fora dos trilhos, por Sandro Vaia

Algumas coisas saíram dos trilhos na carruagem petista ultimamente e a mais importante delas parece ser o juízo.
O ataque de nervos provocado pelo julgamento do mensalão está desencadeando reações desproporcionais às que deveriam ser as reações de um partido adulto e amadurecido por uma importante inserção histórica na vida política brasileira no período pós redemocratização.
Todo mundo conhece a história birrenta do PT, sua negativa em apoiar o Colégio Eleitoral que elegeu indiretamente Tancredo Neves, sua negativa inicial em assinar a Constituição, em dar seu apoio à transição política possível e até mesmo em votar em medidas importantes que reinstitucionalizaram a história econômica do País a partir do Plano Real.
O “diferente de tudo que está aí” afinal de contas constitui-se no diferencial mercadológico que ajudou a plantar as raízes do partido no cenário político brasileiro.
O partido cresceu com isso, institucionalizou-se, chegou ao poder e acabou dando a sua contribuição, ainda que às vezes por linhas tortas, à consolidação democrática do País.
Está no terceiro mandato consecutivo no comando político da República e não têm mais motivos para portar-se como um diretório acadêmico de jovens rebeldes amalucados.
O episódio do julgamento do mensalão teve o efeito de mexer com a “húbris” de Lula, que as contingências da vida deveriam ter aplacado, quando era lícito acreditar que elas deixariam lições de sabedoria e tolerância em vez de açular o rancor.
Politicamente o partido instalou-se à beira de um ataque de nervos, impondo truculentamente a sua vontade a aliados e maltratando acordos a tal ponto que não consegue despontar como favorito nas eleições municipais em mais do que duas capitais do país - Goiania e Rio Branco.
E o que é pior: não consegue demonstrar força para juntar em apoio ao candidato que Lula impôs ao partido sequer metade do seu eleitorado cativo em São Paulo.
E mais grave ainda: vozes influentes como a do seu presidente Ruy Falcão, o secretário de comunicação André Vargas, o senador Jorge Viana e o presidente da Câmara Marcos Maia, saem em desatinadas agressões sem propósito confrontando o Poder Judiciário e agitando o espantalho de um doentiamente fantasioso “golpe das elites”contra o partido.
A agressividade do PT contra as instituições como a Justiça e a Imprensa, que estão trabalhando rigorosamente dentro das atribuições que lhe são garantidas pela lei, está passando dos limites, criando um clima artificialmente exacerbado de confronto que faz temer pela saúde da democracia.
E aquele que deveria ter a sabedoria do bombeiro prefere colocar a fantasia de incendiário.


Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mailsvaia@uol.com.br

sexta-feira, 29 de junho de 2012

O golpe no Paraguai /// Sandro Vaia


Enviado por Sandro Vaia - 
29.6.2012
 | 9h45m
POLÍTICA

O verdadeiro golpe no Paraguai, por Sandro Vaia

A TV estatal do Paraguai ficou 26 minutos fora do ar por falta de energia elétrica e os alucinados constitucionalistas da Constituição alheia que cresceram como erva daninha nas redes sociais, viram isso como um sintoma de “repressão” e atentado às liberdades públicas.
Nunca se viu um golpe de Estado tão modorrento. Fora dos protestos protocolares de partidários do presidente deposto, o Paraguai continuou levando a sua vida de rotina.
O microfone da TV pública ficou aberto, o ex-presidente protestou diante de suas câmeras, o Congresso fez tudo dentro da normalidade, a Suprema Corte disse que tudo foi feito dentro da normalidade e até o advogado do deposto disse que tudo foi feito dentro da normalidade.
Mas muita gente não gosta da normalidade paraguaia e insiste em chamar de golpe uma decisão tomada por mais de 90% dos parlamentares, que se basearam rigorosamente na letra do artigo 225 da Constituição de seu país.
Dizem que foi tudo muito rápido e surpreendente. Que não houve tempo para defesa. Que o rito foi muito sumário. Mas tudo está previsto na Constituição, que dá ao Senado a atribuição de fixar o rito para o julgamento, o que foi feito através da Resolução 878.
O que resta dizer? Que a Constituição é de mau gosto e “disgusting” ao fixar um etéreo “mau desempenho” como motivo de impeachment?
Que o Legislativo paraguaio não tem polidez, educação e bons modos ao dar tão pouco prazo para a defesa do acusado?
É um pouco de cinismo e hipocrisia achar que dar mais tempo de defesa ao presidente destituído poderia salvá-lo do impeachment.
Leia a íntegra em O verdadeiro golpe no Paraguai

Sandro Vaia é jornalista. Foi repórter, redator e editor do Jornal da Tarde, diretor de Redação da revista Afinal, diretor de Informação da Agência Estado e diretor de Redação de “O Estado de S.Paulo”. É autor do livro “A Ilha Roubada”, (editora Barcarolla) sobre a blogueira cubana Yoani Sanchez. E.mail: svaia@uol.com.br