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sexta-feira, 6 de outubro de 2017

"A parábola do réu pródigo" / José Nêumanne

José Nêumanne: 

A parábola do réu pródigo

A tentativa de transferir delitos para sua mulher, Marisa Letícia, morta, revelou o hábito de manifestar esse laivo machista e covarde de seu caráter

Publicado no Estadão
Quem é Luiz Inácio Lula da Silva? O herói que deu acesso às linhas aéreas e ao ensino superior aos pobres e por isso conta com o apoio de pelo menos 35% dos eleitores, o dobro da preferência atribuída aos dois principais adversários, de acordo com a pesquisa Datafolha – o oficial da reserva que conta com a nostalgia da ditadura militar e a militante ambiental? O bandido que já deveria ter sido preso, na opinião de 54% dos mesmos entrevistados? Ou seria os dois em um? Talvez fosse ainda o caso de acrescentar mais uma quarta opção: todas as hipóteses anteriores.
Os fatos falam por si. Em dois mandatos de quatro anos cada, o ex-líder sindical virou dono do Partido dos Trabalhadores (PT) e “messias” das esperanças salvacionistas da esquerda e de grande parcela da população, porque amealhou um prestígio avassalador. Este lhe garantiu eleição, reeleição após ter sido flagrado com a mão na botija no escândalo do mensalão e metade do mérito pela vitória da “poste”, que impôs aos companheiros petistas, eleita com a mãozinha nada desprezível do PMDB de Michel Temer e reeleita pela lei da inércia e pelo sucesso da repetição da parceria. A estratégia sensata de não se opor às conquistas dos antecessores que se lhe opunham, para depois construir sua própria fortuna, no maior assalto ao conjunto dos cofres da República, reservou-lhe o lugar mais alto no pódio dos heróis. Ainda hoje, apesar de tudo o que já se descobriu sobre ele, Lula exibe a mais bem-sucedida trajetória pessoal de uma política fragmentária e cruel como o é a nossa. Isso é suficiente para lhe garantir o apoio incondicional de um terço do eleitorado nacional, que nada cobra dele.
Muitas razões mais têm os 54% que disseram aos pesquisadores que os abordaram que o que foi descoberto de sua longa e profícua atividade fora da lei pelos policiais federais e procuradores da Operação Lava Jato já dá motivos suficientes para que o titular da operação, o juiz federal Sergio Moro, o condene a uma cela no inferno prisional brasileiro.
Lula protagoniza a parábola do réu pródigo. No âmbito da Lava Jato, foi condenado em primeira instância a nove anos e meio de prisão, acusado de ter recebido uma cobertura triplex no Guarujá como propina da Construtora OAS, por serviços que lhe prestou no governo. Na mesma operação responde a acusações do Ministério Público Federal de ter recebido da Odebrecht o apartamento vizinho ao dele em São Bernardo e um terreno, no qual teria pretendido construir a sede do Instituto Lula. Na Justiça Federal de Brasília é acusado em processos penais que dizem respeito a tráfico de influência, negócios em Angola e obstrução de Justiça. É uma incrível via-crúcis com várias estações do Código Penal.
Ilícitos penais à parte, revelações vindas à tona ao longo desse percurso, que sua defesa chama de perseguição política, desnudaram atitudes nada condizentes com seu ícone de mártir popular. Apelidado de “amigo” de Emílio Odebrecht nas planilhas do departamento de propinas da empreiteira, teve o dissabor de ser acusado por este de ter comprado dele greves de interesse da empresa no Recôncavo Baiano. Assim como antes havia sido apontado como informante das lutas sindicais ao então diretor do Dops, Romeu Tuma, pelo filho homônimo deste no livro Assassinato de Reputações (Topbooks, Rio, 2013), nunca contestado por Lula, algum advogado ou aliado dele. No livro O que Sei de Lula (Topbooks, Rio, 2011), narrei um encontro no qual ele relatou particularidades do movimento sindical a um agente do Serviço Nacional de Informações (SNI), em plena ditadura militar, que ele ajudou a derrubar ao desafiar a legislação trabalhista com as greves que liderava no ABC.
A tentativa de transferir delitos de que é acusado para sua mulher, mãe de seus filhos e avó de seus netos, Marisa Letícia, morta, revelou o hábito de manifestar esse laivo machista e covarde de seu caráter.
A carta de seu ex-lugar-tenente Antônio Palocci, que foi ministro da Fazenda em seu governo e chefe da Casa Civil na (indi)gestão de Dilma Rousseff, contém detalhes malfazejos desse caráter cheio de jaça. Pouco importa que o missivista esteja longe de ser um santo, como demonstrou o sórdido episódio da desqualificação do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que testemunhou contra ele no escândalo de certa mansão em Brasília. Os crimes de que é acusado o ex-prefeito de Ribeirão Preto foram cometidos sob a égide de Lula.
Outro episódio que expõe à luz solar sua contumácia em mentir com cinismo é o dos recibos entregues por sua defesa para “comprovar” que Marisa – sempre ela! – pagou religiosamente os aluguéis de um apartamento que o casal ocupa ao lado da própria moradia a um incerto Glaucos da Costamarques, que aparece como Pilatos no Credo. Ou como o J. Pinto Fernandes, súbito personagem do poema Quadrilha (que não se perca pelo título apropriado para o caso), de Carlos Drummond de Andrade.
Seu discípulo na arte de tergiversar, o dr. Zanin Martins apareceu com recibos que nada comprovam, pois transações comerciais rotineiras não são atestadas por eles, mas por movimentação bancária fiscalizada pelo Banco Central. E ainda reinventou o calendário gregoriano, datando dois em inexistentes 31 de junho e 31 de novembro. Os papéis inúteis poderão provocar o vexame de revelar mais uma farsa típica de Lula se a perícia da Polícia Federal atestar em laudo que foram assinados no mesmo dia.
O mito do teflon de Lula, que evita lama em seu ícone, é ajudado por pesquisas como a última em que ele surgiu como adversário do juiz que o condenou, Sergio Moro. Qualquer brasileiro com QI superior a 30 sabe que não lhe será fácil obter daqui a um ano atestado de ficha limpa e que o julgador em parte de seus processos penais não deixará a carreira para se candidatar a nenhum posto na política. Trata-se do mesmo material de ilusões de que é feita sua fama de intocável.

“A ausência de limites é inimiga da Arte”, Orson Welles

“A ausência de limites é inimiga da Arte”, como disse Orson Welles

“Minha afirmação como artista explica que meu trabalho é totalmente incompreensível e, portanto, cheio de significados!”, escreveu  Bill Watterson, criador da genial tirinha “Calvin e Hobbes”.
Calvin é um garoto de seis anos muito esperto apesar de só tirar notas baixas. Seu melhor amigo é Hobbes, um tigre sarcástico que não tem medo de mostrar ao Calvin como é a realidade.
Calvin e Hobbes ocupados em não fazer nada (Foto: calvinandhobbesgifs.tumbir.com)Eles ensinam a seus leitores uma lição muito importante: a curiosidade e o desejo de compreender o mundo são tão importantes quanto se divertir ou não fazer nada. Faz parte de crescer e é o que fazemos diariamente.
Assim eu, Maria Helena, curiosa, aprendi com Calvin e Hobbes e resolvi ver mais de perto o que pensavam sobre Arte grandes figuras que passaram pelo mundo.  Copio neste espaço alguns desses pensamentos.  Espero que ajudem a ver como o mundo de hoje está querendo acabar com a Beleza.Por quê? Sei lá; vamos esperar que surja uma pessoa capaz de nos explicar direitinho o motivo...
Calvin e Hobbes ocupados em não fazer nada (Foto: calvinandhobbesgifs.tumbir.com)
“Quem trabalha com as mãos é o operário; quem trabalha com as mãos e a cabeça é o artesão; quem trabalha com as mãos, a cabeça e o coração, é o artista”. São Francisco de Assis

“Tenho a impressão que a única coisa que torna possível encarar o mundo em que vivemos sem desconforto é a beleza que de vez em quando o Homem tira do caos. Os quadros que pinta, a música que compõe, o livro que escreve, a vida que leva. De tudo, o mais rico em beleza é a vida bem vivida: essa é a mais perfeita obra de arte”.  Somerset Maughan, em O Véu Pintado
“Quando críticos de arte se reúnem, eles falam da Forma, da Estrutura e do Significado. Quando artistas se reúnem, eles conversam sobre onde encontrar terebentina mais em conta”.Pablo Picasso
“Uma obra de arte num museu ouve mais opiniões ridículas do que qualquer outra coisa no mundo”. Edmond de Goncourt
Arte ou é revolução ou é plágio”. Paul Gauguin
"A função da arte não é, como acreditam certos artistas, a de impor ideias ou servir de exemplo. Sua função precípua é preparar o homem para a morte, trabalhar e irrigar sua alma e a tornar capaz de se voltar para o bem". Andrei Tarnovskiem O Tempo Lacrado
“Por que a Arte não deve ser bela? Já há coisas desagradáveis demais no mundo...”. Pierre-Auguste Renoir
“Digo que bons pintores imitam a natureza; os maus a vomitam”.  Miguel de Cervantes
“A cor é o teclado, os olhos são os martelos, a alma é o piano com suas muitas cordas. O artista é a mão que, tocando esta ou aquela tecla, faz a alma vibrar automaticamente”.Vladimir Kandinsky
“Uma obra de arte digna desse nome é aquela que nos traz de volta o frescor das emoções da infância”. André Breton
“A palavra Arte no início significou maneira de fazer e mais nada. Essa acepção ilimitada foi perdida com o uso”.  Paul Valéry em seu Cadernos

Depois de milhares de palavras e de dezenas de horas de discussão os Poderes dizem que está tudo certo ...!

sexta-feira, outubro 06, 2017

‘Afrontá-la, nunca!’ - 

ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 06/10

Cármen Lúcia, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia são decisivos contra a crise entre Poderes


É conversando que a gente se entende e foi exatamente conversando que os presidentes do Supremo, Cármen Lúcia, do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, estão apagando mais um incêndio que poderia tomar grandes proporções entre os dois Poderes.

Depois de muita tensão entre Congresso e Supremo, ontem foi dia de bandeira branca, aproveitando a solenidade pelos 29 anos da Constituição de 1988. Estavam lá, amigavelmente, os três presidentes, ministros e parlamentares que participaram daquele grande momento da democracia brasileira e ainda hoje são seus fiéis defensores, como Miro Teixeira, do Rio.

Visões diferentes de mundo, reações corporativas e eventuais divergências fazem parte da vida, ninguém é obrigado a concordar sempre. Mas o fundamental é que o Legislativo faz leis e o Judiciário as interpreta e aplica e que não é bom para a democracia – logo, para o País – quando Poderes se estranham e se confrontam.

Depois da crise gerada pela decisão monocrática do ministro Marco Aurélio derrubando o então presidente do Senado, Renan Calheiros, agora foi a Primeira Turma, com os votos de Roberto Barroso e os dois próximos presidentes do TSE, Luis Fux e Rosa Weber, que jogou o Senado contra o STF, num embate entre instituições em que nenhuma delas sai vitoriosa.

O pivô desta vez foi o senador Aécio Neves, presidente afastado do PSDB, que recebeu R$ 2 milhões de Joesley Batista e foi delatado pelo benfeitor. Mas, apesar de pivô, Aécio é uma figura secundária na nova crise, porque ele tem um encontro inexorável com a Justiça e crise não é para salvá-lo, é para resguardar a independência entre Poderes.

A decisão da Primeira Turma de afastar Aécio do mandato e criar a figura do “recolhimento noturno” deixou o Senado em polvorosa, já que senadores e deputados não podem ser presos, a não ser em flagrante delito inafiançável e o tal “recolhimento noturno” é um eufemismo para... prisão. E até no STF os ministros se dividiram: apoiar os três colegas ou dar razão ao Senado?

Assim, o Senado aprovou urgência para autorizar ou não a prisão, ops!, o recolhimento noturno do tucano e o STF marcou data para definir regras claras para punições de deputados e senadores, principalmente se o plenário da Câmara e do Senado têm de autorizar, além da prisão, também medidas cautelares como recolhimento noturno.

Escolhidas as armas, Eunício Oliveira seguiu um caminho familiar para Rodrigo Maia: o do gabinete de Cármen Lúcia. Foi ali, conversando, que a solução foi construída: o Senado adiou a decisão sobre desautorizar ou não a Primeira Turma para o dia 17, ou seja, para depois do julgamento do Supremo sobre punições a políticos com mandato.

A expectativa é que o STF repita a solução para a crise Marco Aurélio-Renan: o pleno faz mil elogios a Fux, Rosa e Barroso, mas decide, em tese, contra as medidas cautelares aplicadas a Aécio. Se for assim, o Senado fará sua parte na semana seguinte, deixando a crise com o STF para lá e se concentrando no afastamento de Aécio pelo Conselho de Ética, sem interferência “externa”.

Na votação do adiamento, Roberto Requião, Gleisi Hoffmann e Renan Calheiros aproveitaram para atacar o Supremo, mas o resultado tende a estancar a crise. Foi um acordão, apesar de seus atores preferirem dizer que “prevaleceu o bom senso, o diálogo”.

Repetindo o histórico discurso de Ulysses Guimarães 29 anos atrás, Cármen Lúcia lembrou que a Constituição não é perfeita, mas não há alternativa: “Discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca”. Vale tanto para senadores e deputados quanto para ministros do Supremo, de hoje e sempre.

"Quem pode perder mais empregos para os robôs: homens ou mulheres ?" / BBC

Quem pode perder mais empregos para os robôs: homens ou mulheres?


YuMi conduz Bocelli e a orquestraDireito de imagemREUTERS
Image captionRecentemente, o robô YuMi conduziu a Orquestra Filarmônica de Lucca na cidade italiana de Pisa, com a participação especial do tenor Andrea Bocelli

Garçons virtuais, caixas self-service e maestros robóticos: gostemos ou não, automação, inteligência artificial e robótica estão aqui para ficar. Mas esses avanços tecnológicos em fábricas, escritórios e afins afetarão igualmente a vida de homens e mulheres?
Apesar dos benefícios da automatização no ambiente de trabalho ainda serem motivo de muito debate por causa da perda de postos de homens e mulheres para máquinas, é inegável que mais robôs e mais inteligência artifical resultam em mais empregos nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática - um grupo conhecido pela abreviatura (em inglês) Stem.
Nos EUA, lar de algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo, o crescimento da automatização poderá gerar meio milhão de empregos nos próximos dez anos.
Mas como são os prospectos mais pessimistas? Eles não são nada animadores para meninas e mulheres.
De acordo com um estudo do Fórum Econômico Mundial em 12 economias avançadas, para cada 20 empregos perdidos para a automatização, homens trabalhando em Stem verão cinco novos empregos; mulheres, apenas uma vaga. Isso leva em conta as atuais taxas de participação de gênero no setor.
Essa pesquisa mostra que mulheres e meninas perderão oportunidades de emprego. Para especialistas, a maior participação feminina em áreas como ciência da computação resultaria em maior equilíbrio de gênero em termos de contribuições criativas e supervisão de novas tecnologias.

Gráfico

Mas o que sabemos sobre empregos sob risco de desaprecimento em áreas mais tradicionais da economia?
Estudos até agora mostram que a automatização afetaria mais homens do que mulheres em empregos "ameaçados de extinção". E, de muitas maneiras, a tecnologia beneficiou a força de trabalho feminina ao longo do século 20.
Máquinas criaram postos que requerem mais habilidades cognitivas, como memória e leitura, e susbtituíram tarefas físicas anteriormente exercidas em sua maioria por homens.
Mas outro relatório do Fórum Econômico Mundial, "O Futuro dos Empregos", lançado em 2016, estimou que os dois gêneros sofreriam da mesma maneira.
O problema masculino foi evidenciado em um recente estudo da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC), sugerindo que uma maior porcentagem de homens em Alemanha, EUA, Japão e Reino esteja em empregos ameaçados por máquinas e robôs.

Sheryl SandbergDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSheryl Sandberg, diretora de operações do Facebook, é um mulher ocupando posições de destaque na indústria da tecnologia

Só que uma análise do ISEA, na Califórnia, concluiu que mulheres tem o dobro de probailidade de homens de trabalhar em empregos com altas chances de automatização - postos administrativos em escritórios, por exemplo, que empregam mais mulheres que homens.
"As autoridades precisam se preparar para o futuro", diz a pesquisadora Jess Chen, do ISEA.
O ritmo de mudança será variado em diferentes partes do mundo, e crises econômicas podem afetar investimentos em robótica ou inteligência artificial.
Ao mesmo tempo, teremos no futuro empregos que ainda não existem, e haverá demanda para empregos em tarefas que não poder ser realizadas por robôs.
Outro ponto a ser levado em conta é o ético-social: será que todo mundo ficaria confortável, por exemplo, com robôs tomando conta de parentes idosos?

Igualdade

Mas a maior participação feminina no campo Stem não é apenas uma questão de oportunidade de emprego, mas também discutir tendências sexistas.
Catherine Aschraft, diretor do Centro Nacional para Mulheres e Tecnologia da Informação, nos EUA, diz que o preconceito pode se manfiestar de várias maneiras, das práticas de contratação às técnicas de entrevista.
Só que a preocupação também se estende à automatização de processos de avaliação de candidatos, em que a inteligência artifial pode ajudar humanos a cumprir tarefas e tomar decisões através da análise de grande quantidades de dados.
Empresas ao redor do mundo estão usando essas técnicas para avaliar candidatos a emprego.
"Será que a inteligência artifical consideraria um candidato masculino menos habilitado para uma posição de enfermeiro? Ou isso resultaria em mulheres com menores chances de conseguir um emprego como programadoras?", questionou Aylin Caliskan, especialista em inteligência artificila da Universidade Princeton (EUA), em uma recente entrevista.
Sendo assim, pode ser importante que mais mulheres trabalhem nas profissões que estão moldando essa nova tecnologia.
"Se não fizermos alguma coisa, o preconceito vai se propagar e piorar", diz Aimee Ms Van Wynsberghe, especialista em robótica e fundadora da Responsible Robotics, empresa que prega a "cibernética ética".

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Notícias inacreditáveis de Brasília... / Coluna de Cláudio Humberto

quinta-feira, outubro 05, 2017

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

BOLSA FAMÍLIA JÁ CUSTOU R$16,8 BILHÕES SÓ ESTE ANO

Apavora o governo o aumento dos gastos com Bolsa Família, por isso lançou o programa “Progredir”, porta de saída para os beneficiados. Já são mais de 13,4 milhões de famílias que têm no Bolsa Família, na maioria dos casos, a única renda mensal. O programa custou ao País só este ano, até setembro, R$16,83 bilhões. O governo avalia que a médio prazo os investimentos no “Progredir” vão reduzir esses gastos.

DEPENDÊNCIA TOTAL
Levantamentos oficiais indicam que nos estados mais pobres do Nordeste a dependência do Bolsa Família supera 60% das famílias.

COMPRA DE VOTOS

O Bolsa Família “é o maior programa de compra de votos do mundo”, com já definiu do deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).

DEVAGAR COM O ANDOR
O Planalto não quer apressar o “Progredir”. É que o pequeno comércio, que emprega milhões, também depende dos recursos do Bolsa Família

ZONA DE CONFORTO
O Progredir oferecerá requalificação profissional com garantia de emprego, para estimular a saída da zona de conforto do Bolsa Família.

BB DEU FESTA PARA FAZER DEMISSÕES, EM LISBOA
O Banco do Brasil promoveu um evento festivo em Lisboa que, a pretexto de celebrar “parceira” com o CTT, banco postal português, serviu para promover demissões. “Encerrados brindes e amenidades, tão logo os representantes do CTT saíram, entraram os advogados do BB entregando os comunicados de demissões dos funcionários”, relata uma testemunha, que considerou a iniciativa “uma crueldade”.

MUITO ESTRANHO
Carteira de clientes vale muito no mercado, mas o BB jura que passou de graça ao banco CTT seus cerca de 8.000 correntistas em Portugal.

VEJAM COMO VALE
O BB não cobrou pelos 8.000 correntistas, mas a Caixa pagou R$ 235 milhões pelas contas correntes de 13.000 servidores da Câmara.

PARECE BANCO PARTICULAR
O BB se recusa a revelar custos das agências na Europa e até quanto planeja economizar. No total, gasta por ano R$19 bilhões em salários.

VOZ DISCORDANTE
O ministro Sebastião dos Reis Júnior, do STJ, um dos mais admirados especialistas em matéria penal do País, é contra a prisão na segunda instância, exceto diante do risco de fuga ou de recursos protelatórios para prescrição, por exemplo, mas se curva à decisão do Supremo.

RAPOSA NO GALINHEIRO
A Constituição prevê que a execução penal é papel do juiz, mas o ousado substitutivo de Jader Barbalho (PMDB-PA) ao projeto 513/13, aprovado na CCJ do Senado, transfere-a aos municípios. Escândalo.

PODE ISSO, PRESIDENTE?
O Planalto recebeu como indicação de Renata Abreu (SP), presidente do Podemos, de oposição, um sujeito cujas aptidões estão descritas em “Curriculum Proficional” (sic), para dirigir a Funasa O gabinete da deputada nega a indicação. O candidato deve ser do partido Nós Pode.

DOWNGRADE NO PMDB
Liminar suspendeu a dissolução do PMDB de Pernambuco, decretada pelo presidente do partido, Romero Jucá (RR). O PMDB quer trocar Jarbas Vasconcelos, da sua ala histórica, por Fernando Bezerra.

COMITÊ NO EDIFÍCIO CHOPIN
O ex-chanceler petista Celso Amorim já tem local para reunir aliados do PT e MST, a fim de viabilizar sua “candidatura popular” ao governo do Rio de Janeiro: o edifício Chopin, vizinho ao hotel Copacabana Palace, onde ele mora. Ali os apartamentos podem valer até R$20 milhões.

TERRORISTA DEVE SER PUNIDO
A deputada ítalo-brasileira Renata Bueno reforçou a necessidade da extradição do terrorista italiano Cesare Battisti, preso ontem na fronteira tentando fugir do Brasil. Criminoso comum, do tipo cruel, recebeu do ex-presidente Lula tratamento de “perseguido político” e ganhou asilo.

NÃO É PARENTE
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, jamais conviveu ou teve proximidade com Fernanda Tórtima, advogada da JBS, filha da senhora que se casou com o seu pai quando ele já era adulto.

HOMENAGEM A MORAES
O ministro Alexandre de Moraes (STF) receberá o Prêmio Pontes de Miranda do Instituto dos Advogados do DF, dia 18. Será saudado por Roberto Rosas, um dos mais admirados advogados de Brasília.

PENSANDO BEM...
...ontem os ministros do Supremo decidiram que a lei pode retroagir para prejudicar... os corruptos.

"Massacre nos EUA deve nos lembrar que matar é fácil e demasiado humano" / Contardo Calligaris

quinta-feira, outubro 05, 2017

Massacre nos EUA deve nos lembrar que matar é fácil e demasiado humano - 

CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 05/10

Na noite entre domingo e segunda (2), em Las Vegas, Nevada (EUA), um atirador, instalado num quarto do 32º andar do Mandalay Bay, atirou longamente, com armas automáticas, na multidão que assistia a um festival de música country, num espaço aberto próximo ao hotel.
Pelas contas até terça-feira, ele matou 58 pessoas e feriu mais de 500. Que eu saiba, foi o maior massacre produzido por um atirador isolado na história dos EUA.

Aparentemente, o homem se suicidou quando a polícia de Las Vegas fez irrupção no quarto, no qual ele estava instalado havia dias, com suas armas (23, das quais 17 eram rifles) e munições (milhares).

A premeditação era evidente, por causa das armas e da espécie de martelo que lhe permitiu quebrar as janelas antes de atirar.

Nas reportagens, a primeira hipótese foi a do terrorismo –externo (islâmico, então) ou interno (supremacistas brancos ou inimigos do governo federal, no estilo Timothy McVeigh na bomba de Oklahoma, em 1995).

Mas nada indicava que o atirador Stephen Paddock, 64, contador, tivesse se convertido ao islã ou militasse nas fileiras da extrema direita.

Aparentemente, o Estado Islâmico se atribuiu a responsabilidade pelo atentado por oportunismo.

Sem ideologia que explicasse o massacre, as reportagens vasculharam a família e a vida privada do atirador. Assistimos à consternação do irmão, que mal conseguia imaginar o que teria levado Stephen a se transformar num assassino em massa. Tivemos acesso ao Facebook de Marilou Danley, uma mulher de origem filipina que, aparentemente, morava com Paddock: eram só fotos de felicidades –de férias e margarinas.

Enfim, descobrimos que o pai dos irmãos, Benjamin Paddock, foi um fugitivo procurado pelo FBI de 1969 (quando fugiu de prisão) a 1977. Ele era um assaltante de bancos, definido como psicopata, suicida, armado e perigoso. O pai não parecia ter tido relações diretas com os filhos, e a descoberta só levantou a suspeita, que paira no ar, de uma herança genética maldita.

Depois da família, foi a vez da situação econômica. Paddock não era um ressentido do sonho americano: era proprietário de duas casas, dois aviões (que ele pilotava), dois carros e quase 40 armas. Gostava de jogos de azar, mas ninguém descobriu uma última aposta que teria ruinado as finanças e a vida dele.

Até agora, tampouco apareceu algum diagnóstico médico terminal que pudesse empurrar Stephen ao desespero e à tentativa de se suicidar levando consigo todos os que ele pudesse.

A incapacidade de descobrir a motivação do massacre é boa: ela deveria nos lembrar que matar é fácil e demasiado humano. O mistério não é que alguém se torne assassino em massa. O mistério é que a grandíssima maioria não mate ninguém.

Mas vamos ao que nos sobrou para "explicar" o acontecido. Certo, há o eterno problema do direito de possuir armas, que é garantido pela Constituição dos EUA. Mesmo que Stephen fosse o tipo de pessoa (sem antecedentes) que um controle autorizaria a comprar qualquer arma, é bizarro que alguém possa ter mais de 40 delas e milhares de munições.

Mas não temos condição de criticar: no Brasil, o Estatuto do Desarmamento produziu uma situação em que as armas automáticas pesadas são de propriedade exclusiva do Exército e do crime organizado (a polícia só as consegue quando as toma dos bandidos).

Enfim, podemos acusar a cultura. A figura do atirador só que massacra dezenas, até ser morto, é tipicamente americana (talvez seja o custo do ideal do homem sozinho no Oeste, com seu rifle, contra todos).

Da mesma forma, a figura do assaltante que mata sem que isso seja necessário para roubar é tipicamente brasileira, e poderia ser explicada por nossa história nacional.

Ou ainda, nos últimos tempos, a figura do terrorista islâmico que atropela ou esfaqueia é tipicamente francesa e inglesa (duas mulheres foram mortas assim em Marselha, no domingo; a imprensa mundial mal notou).

Mas o essencial é que, por razões culturais diferentes, um mesmo mal parece se espalhar, hoje, mundo afora: a degradação progressiva do espaço público. Ele está se transformando num terreno perigoso, em que entramos só por necessidade, quando não dá para evitar, correndo, curvos, entre os escombros e nos descampados, de casa em casa, como numa rua de Sarajevo em 1993.