IRMÃO DE GARCÍA MÁRQUEZ CONFIRMA QUE ESCRITOR SOFRE DE DEMÊNCIA E NÃO VAI MAIS ESCREVER
SEGUNDO ELE, IRMÃO NÃO ESTÁ EM CONDIÇÕES DE ESCREVER A SEGUNDA PARTE DE SUA BIOGRAFIA, "VIVER PARA CONTAR", NEM NENHUMA OUTRA OBRA
O escritor colombiano Gabriel García Márquez sofre de demência senil, embora "ainda conserve o humor, a alegria e o entusiasmo que sempre teve", confirmou seu irmão Jaime García Márquez.
Num encontro com participantes do programa cultural Ruta Quetzal BBVA, no Museu da Inquisição, na cidade caribenha de Cartagena, o irmão do prêmio Nobel de Literatura disse que "do ponto de vista físico ele está bem, embora já tenha alguns conflitos de memória", que se agravaram pelo câncer linfático que enfrentou em 1999. "Em nossa família, todos sofremos de demência senil e ele já tem os estragos causados pelo câncer, que quase o matou. A quimioterapia salvou sua vida, mas também acabou com muitos neurônios, muitas defesas e células e isso acelerou o processo", explicou.
No entanto, o irmão de "Gabito", nome pelo qual se referiu o tempo todo ao prêmio Nobel, afirmou que ainda é possível conversar com ele, que demonstra "muita alegria e entusiasmo, como sempre foi. Sempre cheio de humor". "Quando falamos com ele temos muita preocupação com sua saúde, mas terminamos profundamente felizes porque ele está vivo", acrescentou.
Jaime García Márquez explicou que o estado de saúde de seu irmão é uma notícia que, por diferentes razões, mantiveram relativo segredo, não porque exista algo grave que não possa ser divulgado, "mas porque se trata de sua vida, e ele sempre tentou protegê-la". "O fato real é que há muitos comentários, alguns estão certos, mas sempre estão cheios de morbidez. Às vezes dão a sensação de que queriam que ele morresse, como se a morte dele fosse uma grande notícia", reclamou.
Jaime García Márquez, que dirige a Fundação Novo Jornalismo Ibero-Americano (FNPI), criada por "Gabo" em 1994, em Cartagena, lamentou que seu irmão não esteja em condições de escrever a segunda parte de sua biografia "Viver para Contar", nem nenhuma outra obra. "Infelizmente acho que não será possível, mas tomara que esteja errado", disse emocionado. EFE
'Luta do século' entre Anderson Silva e Sonnen eclipsa card do UFC 148
Carreiras e provocações entre pesos-médios justificam expectativa em evento que tem outros quatro brasileiros e despedida de Tito Ortiz do MMA
Finalmente chegou o momento. Quase dois anos depois, após muitas declarações polêmicas e desrespeitosas e momentos de tensão, Anderson Silva eChael Sonnen vão se reencontrar e resolver suas diferenças dentro do octógono, neste sábado, no UFC 148, na MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas. A rixa pessoal e profissional que permeia o evento principal "engoliu" um card repleto de lutadores de alto nível, incluindo um tira-teima de uma das maiores rivalidades da história do esporte e a despedida de uma das lendas do Ultimate, Tito Ortiz, recebendo o status de "luta do século". Apesar de os detratores de ambos os competidores discordarem da alcunha, as carreiras dos dois pesos-médios e toda a dinâmica desenvolvida entre os dois justificam a expectativa. (Confira, ao lado, especial produzido pelo UFC sobre o duelo deste sábado).
O evento terá transmissão ao vivo e na íntegra do canal Combate a partir de 19h40m (horário de Brasília). A TV Globo exibirá a luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen logo após o "Altas Horas". O SPORTV.COM vai acompanhar o evento em Tempo Real, na íntegra.
Anderson Silva e Chael Sonnen na pesagem de sexta-feira: tensão no ar entre os dois rivais (Foto: AP)
A longa jornada de Anderson Silva como campeão dos pesos-médios do UFC torna qualquer uma de suas lutas um evento especial. A cada vitória, o Spider amplia seus recordes de invencibilidade na franquia, atualmente em 14 lutas - 15 se contar sua última derrota em outra organização, em 2006, por desclassificação - e de defesas de cinturão bem sucedidas, de nove. Em todo esse período, Chael Sonnen foi o homem que chegou mais perto de derrotá-lo - e quão perto. Em agosto de 2010, no UFC 117, o americano botou o brasileiro para baixo inúmeras vezes e dominou usando sua especialidade, o wrestling, por mais de quatro rounds. No quinto, porém, Spider aproveitou um momento de distração para encaixar um estrangulamento por triângulo e finalizar Sonnen, numa das viradas mais espetaculares da história do esporte.
Anderson sempre lembra que lutou com dores - sofreu uma lesão na costela e por muitas vezes parecia deixar a guarda baixa para não levar golpes na região - mas o bom desempenho de Sonnen tanto no wrestling como na luta em pé provou que o americano não era um lutador de um truque só. Apesar de os fãs do brasileiro alegarem que ele só recebeu a chance de desafiar o cinturão pelas incessantes provocações ao rival e seu país - o que, em parte, é verdade - Chael Sonnen vem mostrando há anos que está entre os melhores do mundo na categoria. Ele já disputou cinturões no UFC e WEC. Seu cartel tem 11 derrotas e um empate em 39 lutas, contra apenas quatro derrotas do Spider em 35 combates, mas muitas delas foram na categoria de cima, peso-meio-pesado. Desde que passou a lutar com um limite de 84kg, foram quatro derrotas e 13 triunfos. O "gângster americano", como se auto-apelidou, venceu cinco lutas desde seu retorno ao UFC, todos contra lutadores de alto nível como Nate Marquardt, Brian Stann e Michael Bisping.
As provocações de Sonnen, porém, certamente eclipsam sua qualidade como lutador. Antes da primeira luta, o americano já tinha dito que os irmãos Nogueira, mestres de jiu-jítsu de Anderson Silva, não valiam nada e que o costume do Spider de se curvar em respeito ao adversário o faria ser assaltado no Brasil. Após a devastadora derrota no UFC 117, o falastrão elevou seus ataques a outro nível. Passou a disparar contra diversos lutadores brasileiros, como Lyoto Machida, Vitor Belfort e Wanderlei Silva; ironizou via Twitter o problema do país com o tráfico de drogas ("Em São Paulo, eles chamam 'brunch' de cocaína", escreveu) e se defendeu dizendo que "não sabia que havia internet no Brasil". Após sua vitória sobre Brian Stann, em seu retorno após a derrota para Anderson, o xingou ainda no octógono. Dias depois, disse que invadiria a casa do rival e daria um tapa na bunda de sua esposa. A mídia, sempre sedenta por aspas polêmicas, o abraçou, e Sonnen logo se tornou o queridinho dos americanos e o maior vilão esportivo do povo brasileiro desde Alain Prost.
Na primeira luta, no UFC 117, Sonnen dominou, mas Spider levou a melhor no final (Foto: Divulgação UFC)
O falatório parece ter afetado o normalmente calmo e monossilábico Anderson Silva. Nas últimas duas semanas, o campeão dos pesos-médios inverteu os papéis e partiu para o ataque, prometendo "arrancar todos os dentes" e quebrar todas as articulações do arquirrival. Na coletiva de imprensa e na pesagem oficial do evento, o Spider partiu para cima de Sonnen na tentativa de intimidá-lo antes da luta, da mesma forma que fez contra Vitor Belfort, seu desafeto pessoal. O combate contra o "Fenômeno" também foi vendido como a "luta do século". Na ocasião, Anderson venceu no primeiro round, com um espetacular chute alto no queixo que nocauteou o "Fenômeno" rapidamente. O que o Spider fará desta vez, que está 100%?
- Acabou a brincadeira, vocês não estão entendendo o que vai acontecer. O Chael, em outras palavras, está ferrado. Eu vou bater nele, ele vai tentar me agarrar, eu vou bater nele de novo, e ele vai desistir. Eu acho que a luta vai acabar no primeiro round. Não tem jogo nenhum. Acabou a brincadeira. Pode continuar falando bobagem, mas sábado as coisas vão mudar. Muita coisa vai mudar - prometeu Anderson Silva.
Quatro brasileiros e uma despedida
Tito Ortiz na pesagem: lenda do UFC faz sua última luta na carreira (Foto: Reprodução/Twitter)
O clima em Las Vegas é de Brasil x Sonnen, mas o país tem muito mais representantes no UFC 148 do que apenas Anderson Silva. No card principal, Demian Maia, ex-vítima do Spider, estreia no peso-meio-médio contra Dong Hyun Kim. No card preliminar, Gleison Tibau enfrenta o russo Khabib Nurmagomedov; Fabrício "Morango" Camões encara o americano Melvin Guillard; e Rafaello "Trator" Oliveira luta contra o cubano Yoislandy Izquierdo. Todos eles esperam aproveitar o apoio das centenas de brasileiros que foram a Las Vegas assistir ao evento para crescer em seus combates e derrotar seus adversários.
O co-evento principal destaca um lutador que fez algumas "lutas do século" em sua carreira: o americano Tito Ortiz, que faz sua despedida do octógono após 15 anos no Ultimate. O ex-Bad Boy de Huntington Beach já foi o maior astro da companhia, apesar de inúmeras brigas com seu presidente, Dana White, e detém o recorde de defesas de cinturão bem sucedidas na categoria meio-pesado, cinco. Suas lutas contra Ken Shamrock, Randy Couture e Chuck Liddell marcaram época. A rivalidade com o compatriota Forrest Griffin, seu adversário deste sábado, também ficará marcada em sua trajetória. Os dois se enfrentaram duas vezes, com uma vitória para cada lado, ambas lutas memoráveis vencidas por decisão dividida dos jurados. Com apenas uma vitória nos seus últimos oito combates, Ortiz vai entrar com tudo para "ter sua mão levantada" uma última vez.
Confira a programação completa do evento:
CARD PRINCIPAL Anderson Silva x Chael Sonnen Forrest Griffin x Tito Ortiz Cung Le x Patrick Côté Dong Hyun Kim x Demian Maia Chad Mendes x Cody McKenzie Ivan Menjivar x Mike Easton CARD PRELIMINAR Gleison Tibau x Khabib Nurmagomedov Melvin Guillard x Fabrício "Morango" Camões Costa Philippou x Riki Fukuda John Alessio x Shane Roller Rafaello Oliveira x Yoislandy Izquierdo
Fortes emoções em debate de políticos jordanianos na TV... As palavras não foram suficientes para as argumentações e, então, usaram socos, empurrões e um dos convidados apontou um revólver para reforçar suas crenças...
Mais de cem pessoas morrem por causa de chuvas no sul da Rússia
MOSCOU - Mais de cem pessoas morreram e milhares de casas foram destruídas por causa de fortes chuvas, nas últimas 24 horas, na região de Krasnodar, no sul da Rússia, informou a polícia neste sábado. A região ficou alagada depois de uma tempestade que pegou os moradores de surpresa, durante a madrugada. Imagens da TV russa mostram casas completamente submersas.
A exportação de petróleo do Mar Negro, no porto de Novorossiysk - o maior da região - foi suspensa. Em Krimsk, a área mais afetada pelas enchentes, ao menos 92 pessoas morreram, incluindo um menino de 10 anos. Na televisão russa, imagens mostram pessoas em cima do telhado de prédios e casas para tentar escapar da água. As fortes chuvas são previstas para continuar na cidade.
- A enchente começou de noite, enquanto moradores estavam dormindo. Muitas pessoas foram atingidas por choques elétricos e outros foram levados pela água para o mar - disse o porta-voz da polícia Igor Zhelyabin.
No distrito de Gelendzhik, onde mais de 22 mil pessoas ficaram sem eletricidade e duas pessoas morreram, a situação se estabilizou nas últimas horas. Em um dia, o equivalente a dois meses de chuva caiu em Krimski, a poucas horas de onde será celebrada as Olimpíadas de inverno de 2014. Nas redes sociais, pessoas dizem que Krimski parece ter sido tomada por uma tsunami. Alguns moradores acusam autoridades de não revelar a real dimensão do desastre. Nove pessoas ainda morreram em Novorossiysk. Mais de mil trabalhadores estão envolvidos no resgate aos moradores.
- Pessoas estão nas ruas, elas estão perdidas, não sabem o que fazer. Helicópteros sobrevoam a região para retirar moradores de áreas alagadas. As enchentes são muito, muito grandes - disse Vladimir Anosov, morador de Novoukrainsky.
O governador da região de Krasnodar, Alexander Tkachov, fez um apelo para que os moradores não entrem em pânico. O sistema de transporte na região entrou em colapso. Segundo autoridades, pelo menos 13 mil pessoas foram afetadas pelas enchentes.
- Ninguém consegue se lembrar de enchentes como esta em nossa história. Nos últimos 70 anos, nada do tipo aconteceu - disse o prefeito, pela manhã.
Pouco antes de morrer, o cineasta Adrian Cowell liberou um documentário com cenas brutais da guerra travada na Amazônia brasileira. Filmada nos anos 80, a obra manteve-se inédita no Brasil por mais de duas décadas para proteger as testemunhas de assassinatos. Nesta semana, o filme será exibido pela primeira vez – e poderemos constatar que o passado continua dolorosamente presente
ELIANE BRUM
Cena 1 – Os homens andam pela floresta. Eles têm pés de andar, machucados pelas raízes, pelo sol, pela chuva, pelo caminho. E velhas espingardas nas mãos. No rosto, a expressão dos que foram lançados uma curva além. São homens desesperados – e homens desesperados não têm nada a perder. Exceto a vida, mas esta eles vão perder de qualquer jeito. Em busca de terra, já não há para onde ir. Exceto mais e mais para dentro. “A gente vai ficar. Se for, a gente só morre mais depressa”, diz um. Ali, eles já morrem depressa demais. É o corpo de um companheiro que vão buscar. Raimundo Piauí, posseiro como eles, sem-terra em busca de terra, apodrece há sete dias na mata. Assassinado por pistoleiros a mando de fazendeiros na guerra cotidiana travada na Amazônia.
Cena 2 – Ele é só um velho caçador, com uma espingarda de caça quase tão velha quanto ele. Os pistoleiros sabem disso. Mas não importa. Ele está ali, fácil e frágil. E é preciso dar um aviso aos posseiros que lutam pela terra. Os pistoleiros exigem a espingarda. Ele não entrega. Não entrega porque não pode entregar. Sem ela, morrerá de fome no meio da mata. É morrer de um jeito – ou de outro. Ele se vira. Os pistoleiros o abatem pelas costas. Um tiro atinge a sua boca, os dentes se espalham. Ele cai. João Ventinho era o seu nome. Mais um, só mais um ninguém cuja vida jamais será paga na Justiça.
Cena 3 – O homem corre. Os pistoleiros o perseguem atirando. O homem carrega uma criança nas costas. O menino grita primeiro. As últimas palavras do homem são: “Ô malvadeza”. Os dois corpos tombados na terra. O do posseiro Sebastião Pereira, liderança rural. E o de Clésio, de três anos. Um corpo de menino na mesa do necrotério, vítima de uma guerra que o matou antes que pudesse entendê-la. Uma guerra onde as crianças recebem balas de chumbo.
Estas cenas reais fazem parte do documentário Matando por terras (52 minutos), que será exibido pela primeira vez no Brasil nesta quinta-feira (5/7), no CineSesc, em São Paulo. Filmado nos anos 80, ele não pôde ser mostrado aqui por mais de duas décadas para não expor as testemunhas dos crimes – e condená-las também à morte.
Adrian Cowell produziu o maior registro audiovisual da Amazônia. Todo o seu acervo foi doado à PUC de Goiás e está disponível para ser acessado: quase 900 mil metros de filme, sete toneladas que se transformaram em 30 documentários. Neste percurso, Adrian conviveu com Orlando Villas-Boas antes mesmo da criação do Parque Indígena do Xingu. Trabalhou também com Apoena Meireles, outro grande sertanista, assassinado em 2004 durante um assalto em Porto Velho (Rondônia). Em meio século, ele filmou um Chico Mendes ainda desconhecido do próprio Brasil – e o seu trabalho ajudou a projetar o líder seringueiro no mundo.
Adrian filmou tribos isoladas e filmou a destruição. Enquanto ele capturava a vida em um embate de morte, seus personagens tombavam junto com a floresta. Às vezes, antes mesmo do final do filme. Adrian começou a filmar Chico Mendes porque o personagem cuja história planejara contar, Padre Josimo, um religioso negro da Comissão Pastoral da Terra, foi assassinado no Tocantins pouco antes do início das filmagens. E Chico Mendes foi executado ao longo das gravações da série mais famosa de Adrian, A década da destruição, que será exibida na mostra.
O cineasta acreditava que um dia documentaria "A década do meio ambiente", com o fim da devastação da Amazônia. Morreu com seu sonho – mas sua obra teve uma importância crucial para que a preservação da floresta e dos povos da floresta deixasse de ser uma questão de ecologistas para se tornar um problema do mundo.
Em 1980, Adrian conheceu o cinegrafista brasileiro Vicente Rios e, juntos, filmaram pelos 30 anos seguintes. “Rios e Cowell formaram uma poderosa dupla, como aquelas de pistoleiros do Velho Oeste, retratadas pelos filmes de Sergio Leone”, escreveu o jornalista Felipe Milanez, idealizador e curador da mostra. “Por vezes, andaram literalmente armados de revólver, para o caso de precisarem se defender, como em Serra Pelada, ou então portando uma arma muito mais poderosa: a câmera.”
Quem quiser conhecer as aventuras vividas pela dupla poderá ouvir da boca do próprio Vicente, na abertura da mostra e em algumas sessões apresentadas por ele. Vicente Rios também exibirá um documentário inédito – Visões da Amazônia. A obra apresenta cenas de bastidores das filmagens e coloca Adrian diante das câmeras, fazendo uma reflexão sobre suas memórias e sua paixão pela floresta.
Adrian apaixonou-se tanto pela Amazônia e pelo seu povo que deu ao filho um nome que junta mundos: Xingu Cowell. O menino morreu em um acidente de caiaque, aos 18 anos, no mesmo ano em que Adrian começou a filmar Matando por terras, no sul do Pará. O próprio Adrian participaria da mostra de cinema em homenagem à sua obra, mas tombou no meio do gesto. Até o fim, ele acreditou que a floresta poderia ser salva. E lutou por isso.
Em 6 de junho de 2011, Adrian escreveu para o jornalista Felipe Milanez. O cineasta acabara de saber do assassinato de José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. O casal foi executado a tiros nas proximidades do assentamento onde viviam, em Nova Ipixuna, no sul do Pará. Adrian dizia, com o português que aprendeu enquanto se embrenhava na selva, que o filme “Matando por terras”, ainda inédito, mostraria que os assassinatos registrados por ele, 25 anos atrás, continuavam se repetindo no Brasil de hoje. Foi assim, porque o filme é presente tanto quanto passado, que a versão brasileira foi feita.
O futebol, o Corinthians e a linha que separa a paixão do vício
CRISTIANE SEGATTO
Parecia final de Copa do Mundo. Uma final do tempo em que dava gosto torcer pela seleção brasileira. Do tempo em que jogar futebol não parecia ser um “bico”, uma mera “escada” para garotos-propaganda de telefone celular, aparelho de barba, linguiça... Na quarta-feira (4), final da Libertadores, São Paulo acordou dispersa.
Foi um dia de produtividade baixa para corintianos e anticorintianos. Os rojões começaram a estourar de manhã, muito antes do início da partida decisiva entre Corinthians e Boca Juniors. A cada estampido, uma provocação no trabalho e nas ruas. O incômodo na boca do estômago tirava a fome. A angústia tirava a concentração. A ansiedade tirava da cadeira.
Essa é a sina de quem gosta de futebol – independentemente da camisa que defenda. Quando o time em questão é o Corinthians, a paixão e o ódio assumem outra proporção. Tudo é exagerado, intenso. Há alguma coisa nesse time, nessa nação, que os outros times não têm. É esse atributo impalpável, difícil de definir, que tanto encanta e incomoda.
Talvez o que faça a diferença seja a valorização coletiva e visceral daquilo que os corintianos definem como “raça”. A torcida não exige que o jogador seja um craque, mas espera total entrega de quem veste a camisa. Quem, dentro de campo, representa o bando de loucos do lado de fora tem de suar sangue e não desistir nunca.
Para os corintianos do passado, a garra era uma questão de sobrevivência. Foi assim para os dois pintores de parede, o sapateiro, o cocheiro e o trabalhador braçal que em 1910 se reuniram no bairro paulistano do Bom Retiro para criar o time.
Para os corintianos de hoje, a garra é mais que uma questão de sobrevivência. É também um estilo de vida. Você olha um corintiano, independentemente da classe social a qual ele pertence (sim, há vários milionários que torcem pelo time, ao contrário do que afirmam os preconceituosos) e já sabe mais ou menos o que ele pensa e como age diante dos obstáculos que a vida impõe.
Essa unidade em torno de um grupo, essa previsibilidade comportamental é movida por um fervor que tem tudo para dar certo e para dar errado. Ele dá certo quando a vitória em um jogo funciona como um estímulo permanente. A glória faz cada torcedor se sentir um vitorioso. A lembrança de uma conquista difícil o socorre nos momentos difíceis. O emprego está ruim, a mulher está chata, tudo parece mais ou menos, mas a cena inesquecível da conquista o faz acreditar que, de vez em quanto, até o impossível acontece.
O fervor pelo time dá errado quando toma conta da vida do sujeito e o leva a cometer atos impensados, desperta a violência e o crime. É milimétrica a linha que separa a paixão do vício. E, em alguns casos, ela é menos reta e mais um novelo -- um emaranhado de emoções conscientes e inconscientes.
É importante que cada torcedor – do Corinthians ou de qualquer outro time – reflita sobre o espaço que o futebol ocupa em sua vida. Existem pesquisadores que se dedicam a estudar isso e dão pistas importantes. É o caso de Robert J. Vallerand, do Laboratório de Pesquisa sobre o Comportamento Social, da Universidade de Quebec, no Canadá. Ele define a paixão pelo futebol como uma forte inclinação em direção a uma atividade que os indivíduos gostam ou amam. É algo que eles valorizam e na qual investem tempo e energia. Vallerand diferencia dois tipos de paixão: a harmoniosa e a obsessiva.
A paixão harmoniosa é aquela que faz o sujeito se sentir forte, feliz, revigorado a cada vitória. Ela é motivada pela vontade e leva o sujeito a desempenhar um papel social de respeito às normas e respeito às pessoas. O torcedor que demonstra esse tipo de paixão costuma ter a autoestima elevada e um alto grau de satisfação com a vida. A paixão obsessiva é perturbadora. Envolve um sentimento de urgência incontrolável. A pessoa passa dias ou a vida inteira perturbada pelos fatos e pelos sentimentos que envolvem o time. Não pensa em outra coisa. Perde o emprego, mas não perde um jogo importante. Perde o aniversário do filho, um casamento, um enterro de uma pessoa próxima, mas não perde a partida. Quem sofre desse tipo de paixão está propenso a infringir as regras sociais. É alguém que perturba constantemente os torcedores de outros times ou sente ódio cego por eles.
Em geral, os obsessivos são pessoas com propensão à baixa autoestima ou extrema necessidade de aceitação social. Para eles, o futebol deixa de ser um esporte e passa a ser parte fundamental da identidade. Torna-se praticamente a única fonte de satisfação de necessidades emocionais básicas, como sentir-se querido e aceito.
Os obsessivos demonstram um engajamento rígido e uma persistência exagerada quando o objetivo é satisfazer essa paixão. Como em outros campos da nossa existência, a rigidez pode ser tornar um atraso de vida.
A paixão obsessiva pelo futebol não acomete apenas os corintianos. Nem apenas os brasileiros. Vallerand encontrou o mesmo comportamento entre torcedores de vários países da Europa e do Canadá. Ele estudou os hooligans, da Inglaterra, e os torcedores da França e da Itália na final da Copa do Mundo de 2006.
Os conselhos dele são universais. É fundamental que o torcedor e a família observem sinais de dependência psicológica. Quando se torna obsessivo e começa a atrapalhar outros campos da vida, o prazer deixa de ser prazer para virar sofrimento. É o mesmo fenômeno que ocorre em outras compulsões. Seja por sexo, amor, comida, jogo, bebida, drogas etc. Quem vive uma paixão harmoniosa está no comando da própria vida. Tem liberdade de escolha. Quem vive uma paixão obsessiva torna-se escravo. Que tal um teste? Responda, com sinceridade, as questões abaixo:
Não há desserviço pior para a democracia que a desmoralização de suas instituições. A CPI, que, no passado recente, serviu de instrumento para o impeachment de um presidente da República e para a cassação de parlamentares corruptos, é hoje palco de espetáculos políticos.
A política do espetáculo não passa disto: um jogo de cena, em que nada é para valer, mas que transmite ao espectador desinformado – a maioria - a ideia de que algo de importante está em jogo, sobretudo quando não está.
Esta semana, a CPI do Cachoeira, depois de resistir durante seguidas sessões em convocar o presidente da Delta, Fernando Cavendish, detentor da maioria das obras do PAC e suspeito (vá lá) de estar atrelado ao esquema do contraventor, decidiu intimá-lo. Aparentemente, um gesto de rigor e isenção.
No duro, porém, um engodo. Outro. No mesmo dia em que a CPI aprovou a convocação de Cavendish, adotou, paralelamente, uma regrinha que autoriza o depoente que não quiser falar – e dispuser para tanto do aval do Supremo Tribunal Federal - a se retirar do recinto sem ser incomodado por ninguém.
Ou seja, Cavendish, que apelará à mesma regra que permitiu que Cachoeira zombasse em silêncio da CPI, será poupado de ouvir impropérios e perguntas incômodas.
O Galaxy e o iPhone são rivais mortais no mercado de smartphones, mas e se pudesse combiná-los em um único celular? Foi isso o que fez o site TechRadar ao criar o iSung Galaxy V. Os especialistas em tecnologia misturaram as melhores funções dos aparelhos de Samsung e Apple e fizeram um projeto conceitual, apresentado em vídeo de pouco mais de um minuto suas características bem interessantes.
iSung Galaxy V (Foto: Reprodução)
O layout é basicamente o do iPhone, porém com botões na parte inferior ao lado do “home”, semelhantes ao do Galaxy, além da disposição de aplicativos na tela também ser inspirada no celular da Samsung. Na parte lateral, um pedido que há muito tempo fãs da Apple fazem: slot para cartão de memória microSD. Na câmera, capacidade de capturar múltiplas imagens em sequência. Ele possui ainda NFC, iBeam e Multi-Play.
Obviamente, isso não passa de um grande sonho. Afinal, não parece haver nenhuma chance de Samsung e Apple se unirem em qualquer tipo de projeto. Curiosamente, os fãs dos aparelhos não gostaram da brincadeira, pois a maioria dos votos clicou em "não gostei" no vídeo do YouTube.
E você, se pudesse unir as principais características do Galaxy e do iPhone, como deixaria o aparelho?
Já não se fazem cavalheiros dessa estirpe, murmura a expressão de Dilma Rousseff enquanto contempla o homem que se inclina para beijar a mão que a dele já capturou. No rosto da mulher que se derrete com tanta gentileza, não há vestígios da rabugenta vocacional. A carranca armada ainda no berço foi provisoriamente demitida para abrir espaço a sinais emitidos por corações em descompasso.
Os olhos estão semicerrados. Os lábios se comprimem como se ensaiassem um selinho. O queixo que se projeta para acompanhar de perto o suave encontro da boca do gentleman de filme antigo com a pele de uma dama adestrada em colégio de freiras. Tanta doçura torna quase irreconhecível a mulher fotografada de frente. O homem fotografado por trás, e só do pescoço para cima, esse todos sabem quem é: Paulo Maluf, claro.