MEDALHAS
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
"Assassinato de um país...!
O assassinato de um país
A ultima novidade sobre a Grécia é que a troika externa que assumiu o controle das finanças do país pretende obrigar a população a trabalhar um dia a mais na semana – sem aumento de salário, é claro.
É um retrocesso histórico.
Depois de eliminar os empregos, derrubar o consumo, arrasar as aposentadorias, esvaziar as residências – o número de sem-teto em Atenas cresceu 25% durante a crise – agora os credores pretendem roubar um dia de descanso da população.
É indecente.
Pois é este o destino que a União Europeia reserva a população de um país a quem se prometeu crédito farto e até subsídios vantajosos na hora em que se queria abrir o mercado grego para as empresas dos países ricos do Velho Continente.
Quando o cassino financeiro da União Européia cobrou a conta, os credores fecharam suas torneiras e encontraram políticos dóceis, dispostos a sufocar seu próprio país em nome da estabilidade econômica e do respeito aos mercados.
De lá para cá, o que se viu foram dores e sacrifícios sem utilidade.
O país está em recessão há cinco anos, em patamares cada vez mais deprimentes. A queda foi de 6,9% negativos em 2011. (Não fazemos ideia do que é isso. A recessão de 1981, a pior do Brasil, em tempos recentes, foi de 6% negativos).
Pois em 2012, a Grécia avança para uma recessão ainda pior, de 7,5%. O custo de vida, que deveria crescer 1,2% por falta de demanda, voltou a subir e deve chegar a 2,5%. Acabo de ler que o desemprego chegou a 40%. Não consigo imaginar como é viver num país onde 4 pessoas em 10 estão sem desempregadas. É pesadelo de filmes futuristas, como Blade Runner…
Mas sempre se pode imaginar que a Grécia estava a caminho de uma tragédia nacional quando decidiu submeter seu destino aos interesses dos mercados externos, colocando o pagamento dos credores – daí o apego ao euro – acima dos interesses da população. O resultado é essa crueldade. Alguém acha que poderia ser diferente?
O grave é que a maioria dos governos europeus pretende submeter os povos mais frágeis a um regime de sacrifício maior, capaz de extrair o que parece ser a última gota. Depois da Grécia, a Espanha, Portugal e a Italia encontram-se no mesmo caminho. A França de François Hollande, recém-eleito pelo Partido Socialista, deve fechar -0,1% no próximo trimestre.
Apesar do tom de perplexidade de muitos observadores e comentaristas, convém reparar que nem todos perdem tudo nesta situação. O rebaixamento dos salários, a insegurança no emprego, o fim de garantias históricas representam uma tragédia sem fim para milhares de famílias e as gerações futuras. Mas também abre oportunidades de negócio animadoras para quem aposta no rebaixamento da humanidade. O nome do processo é “Destruição Criadora” e é ensinado em várias escolas de economia. Não vamos nos enganar. É esta a aposta que aprofunda crise européia e promove, em público, o assassinato do país mais fraco.
Na porta do Céu // Roberto DaMatta
Na porta do Céu
05 de setembro de 2012 | 3h 12
Roberto DaMatta - O Estado de S.Paulo
Da hoje talvez esquecida obra do psicólogo existencial Rollo May (1909- 1994), ficou em mim a marca de dois dos seus livros. O do famoso Amor e Vontade (de 1969); e de Coragem para Criar (de 1975) que li na Universidade de Cambridge, Inglaterra, quando visitava brevemente o seu Centro para Estudos Latino-Americanos, em 1978, e lá terminava o meu livro Carnavais, Malandros e Heróis, no qual tentei revelar o Brasil pelo seu avesso conflitivo, dilemático e hierárquico por meio de instituições tidas como inocentes como o carnaval, o você sabe com quem está falando e os seus heróis - alguns vistos como santos, outros como bandidos, quase todos como malandros. Era preciso alguma coragem para escrever sobre o Brasil sem falar em classes sociais, usar o estruturalismo de Dumont e Lévi-Strauss (tido como a miséria da razão) e citar o reacionário Alexis de Tocqueville e não o revolucionário Karl Marx.
Num desses livros, Rollo May conta o drama do jovem pesquisador que morreu e, chegando à porta do Paraíso, é julgado por São Pedro. No solene rito territorial que vai decidir sua futura vida eterna no Céu ou no Inferno (lembro que Rollo nasceu em Ada, Ohio, e que para os calvinistas não há o razoável e passageiro Purgatório com suas indulgências), o jovem decide que o melhor caminho é confessar e vai logo dizendo que tinha falsificado os dados de sua tese de doutorado em Psicologia Experimental. O calejado porteiro celestial olha para aquela alma, transparente na sua patética autoconfissão, e profere: "Não, meu jovem. O que pesa na sua vida não foi essa banal falsificação. Falsificar e enganar são dimensões constitutivas dos mortais. Esse é um pecado que não levamos muito a sério aqui em cima. O seu grande pecado, aquele que pode efetivamente condená-lo, é que você foi enviado para um teatro de horrores e para um vale de lágrimas e, no seu trabalho, você o reduziu a um mero circo de cavalinhos. Sua tarefa era compreender as tremendas contradições que são parte da vida emocional emoldurada pela razão e você reduziu tudo a um problema de estímulo e resposta!". Hoje, São Pedro certamente mencionaria a neurociência, esse novo reducionismo ocidental.
Tenho sido perseguido por essa passagem e talvez seja por isso que hoje, velho e um tanto cansado dos teóricos que pululam nas universidades, eu prefira ler literatura onde ninguém precisa falsificar coisa alguma, porque tudo já está falsificado, satisfazendo de sobra aquilo que buscamos. A falsificação convincente, com início, meio e fim, que tanto leva a admirar a temeridade do ladrão, a ousadia e a natural mendacidade dos políticos, quanto a bravura sisuda de um deslindador profissional de mentiras, como é o caso dos juízes os quais, com a intrepidez de Teseu, entram no labirinto do monstruoso Minotauro e, confiantes no tênue (mas mágico) fio de Ariadne não se perdem no dédalo das mentiras, as quais destroem, estabelecendo no ritual do julgamento (esse ato público de regeneração moral) o fim das falsidades.
* * * *
Essa parábola do julgamento do jovem cientista tem sido o meu emblema neste histórico e crucial ajuizamento do mensalão. Tenho assistido com assiduidade e interesse à atuação dos magistrados e dos defensores e me orgulhado de seus desempenhos. O drama da Justiça ao vivo, num caso tão importante quanto complicado e delicado para a vida democrática do nosso país, é muito semelhante à entrada no Céu ou o risco de deslindar confusões e decidir o caminho nas encruzilhadas.
Espantou-me como a maioria dos magistrados buscou com zelo e lucidez os fios mágicos - dentro daquilo que os juristas chamam de "contraditório" - para realizar um percurso em busca de uma verdade com duas caras: a da promotoria e a da defesa. Sem, diga-se de passagem, esquecer o direito dos réus. Tudo na ausência da autoridade de um poder final ou divino, exceto aquelas manifestações de onipotência humana que fazem parte de todo confronto público em que o foco é a divergência e por isso mesmo prevalece a regra da lei.
Esse espetáculo de civilidade deve ser não apenas louvado, mas visto por todos, sobretudo pelos lulo-petistas que estão no governo e nele ocupam cargos da mais alta responsabilidade.
Outro dia, um velho e querido amigo petista reclamou comigo da "politização" do caso. Mas como poderia ser de outro modo se tudo o que era do PT (e da chamada "esquerda" em geral) - do café da manhã aos desfiles carnavalescos e os jogos de futebol, sem esquecer o amor e o sexo - era (ou deveria ser) politizado? E como não ter desdobramentos políticos se o caso começa precisamente motivado por uma perspectiva da política e do poder? O que não se pode fazer é psicologizar o mensalão. Porque nesse caso seria bem pior e o julgamento entraria no terreno das compulsões e esquizofrenias nas quais a mão esquerda ignora a mão direita e deseja decepá-la, como é corrente no caso dos que escolhem o extremo como rotina e método. Ademais, se o caso fosse lido por psicólogos, alguns acabariam num hospício.
Por outro lado, essa politização está contida pelas etiquetas legais e pelos procedimentos jurídicos. Ninguém deseja destruir ninguém e muito menos um partido com a importância do PT. Agora, julgar aquilo que surgiu como engodo coletivo e como um plano para evitar o jogo liberal e igualitário de ganhar para depois perder e, em seguida, ganhar novamente, como sendo um evento trivial seria não somente leviandade, mas uma fuga dos desafios que a democracia demanda da sociedade brasileira.
Por isso, não há como fugir dessas duras viagens pelos labirintos das verdades e das mentiras. Por mais que isso aflija os que estão no mais alto poder e os que lá estiveram e se sentiram como deuses; ou fantasiaram o mundo como um circo de cavalinhos e pensaram que todos eram otários.
"Cães acompanhados de seus melhores amigos... outros cães, é claro!"
http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tema-livre/amenize-seu-dia-com-essas-fotos-irresistiveis-e-um-video-caes-acompanhados-de-seus-melhores-amigos-outros-caes-e-claro/
04/09/2012
às 19:16 \ Tema LivreAmenize seu dia com essas FOTOS IRRESISTÍVEIS (e um vídeo): cães acompanhados de seus melhores amigos… outros cães, é claro!
Está na ponta da língua de todo mundo: “o cachorro é o melhor amigo do homem”. Mas… sem menosprezar os laços milenares entre seres humanos e cães, fica difícil superar a empatia que pode existir entre os próprios cães.
É o que mostra uma irresistível seleção de retratos feitos por um dos maiores especialistas em fotografias de animais de estimação em atividade, o escocês Paul Walker, de 40 anos.
Nas imagens, duplas, trios ou grupos de cães correm, saltam e brincam em espaços ao ar livre inseridos na natureza – uma característica do trabalho de Walker -, dando comoventes e graciosas amostras de cumplicidade e companheirismo.
Dezenas de prêmios
Premiado com dezenas de troféus conferidos por entidades escocesas e britânicas – incluindo também outras de suas especialidades, como “casamento” e “família” – , Walker começou a clicar os bichinhos que habitavam sua casa aos cinco anos de idade.
A paixão foi crescendo e acabou se tornando a modalidade de destaque da empresa de fotografia que abriria com a esposa, Kathryn, também fotógrafa. Tornou-se referência no registro de momentos únicos vividos pelos petssozinhos, na companhia de seus donos ou cercados por seus semelhantes.
Assistam abaixo a um vídeo que mostra os bastidores de uma sessão de fotografias comandada por Walker e protagonizada pela cachorrada. Ele revela que chega a passar vários dias com os mesmos animais para captar um único retrato que valha a pena.
Desde 2008, Walker renova anualmente o título de Melhor Fotógrafo Escocês de Animais de Estimação. Mais imagens de sua autoria e informações vocês encontram no seu site oficial. Por hora, deliciem-se com mais estas fotografias:
Cotas nas universidades....
O grande erro das cotas nas universidades
Texto adaptado de reportagem de Julia Carvalho, publicada em edição impressa de VEJA
O GRANDE ERRO DAS COTAS
A partir de agora, uma em cada duas vagas nas universidades federais estará reservada para egressos do ensino público, negros, índios e pardos. É uma forma equivocada de corrigir distorções
A presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei aprovada pelo Congresso que vai mudar radicalmente o ensino público superior no Brasil – e não necessariamente para melhor. Uma em cada duas vagas nas universidades federais passará a ser preenchida por critérios que desprezam o mérito.
Alunos que cursaram o ensino médio em escolas públicas terão direito a 120 mil das 240 mil vagas disponíveis nas federais. Esse número será distribuído segundo a cor da pele ou a autodeclarada etnia do candidato. Pretos, pardos e índios, não importa o seu desempenho escolar, passam a ter lugar garantido nos bancos das universidades na proporção da população verificada pelo Censo do IBGE em cada Estado.
Metade dessa cota vai para estudantes vindos de famílias de baixa renda.
O Brasil tem hoje 2 341 instituições de ensino superior, públicas e privadas. Desse total, apenas 59 serão afetadas pela Lei de Cotas – além das federais, o projeto inclui alguns cursos técnicos de ensino médio e profissionalizantes ligados ao Ministério da Educação.
Em termos absolutos, é bem pouco. Ocorre que, juntamente com as universidades públicas estaduais, as universidades federais são a mais importante usina de descobertas científicas, conhecimento e pesquisa do Brasil. Vêm delas, por exemplo, 86% dos artigos científicos publicados internacionalmente, segundo dados recentes.
Das dez instituições que mais emitiram pedido de patente entre 2004 e 2008, quatro delas eram universidades públicas – duas federais e duas estaduais. Nenhuma particular entrou no ranking. Isso só é possível porque é para elas que conflui a elite cultural, acadêmica, intelectual – e, sim, quase sempre econômica também – do país.
Agora, a Lei de Cotas poderá desviar esse curso. Em vez de ir para os alunos mais preparados, quase sempre egressos de escolas particulares, metade das vagas caberá aos menos preparados, vindos do deficiente ensino público.
A Lei de Cotas, tal como foi enviada para a sanção de Dilma Rousseff, não é ruim apenas porque põe em risco a produção de conhecimento no país e atropela a meritocracia. Ela é ruim também porque mascara e força a perpetuação de um dos problemas mais graves da educação no Brasil: a péssima qualidade das escolas públicas do ensino médio e fundamental. “Se tivéssemos um ensino básico decente, esses alunos conseguiriam competir de igual para igual com os alunos das particulares. Mas é claro que é mais fácil criar cotas do que investir na base”, afirma o economista Claudio de Moura Castro, especialista em educação e articulista de VEJA.
Agora, perde-se um poderoso mecanismo para pressionar governos em prol da melhora da escola pública
Um raciocínio em favor da Lei de Cotas diz que, com essa reserva de vagas, a tendência será que muitos pais tirem seus filhos de escolas particulares para colocá-los em instituições públicas.
Isso levaria a um aumento da cobrança de qualidade por parte de uma parcela da população com maior poder de reivindicação e a uma consequente melhora do ensino. Infelizmente, é pouco provável que isso ocorra.
Na prática, o efeito da lei será acabar com a competição – e a comparação – entre as escolas públicas e privadas. A cada ano, toda vez que saem os resultados dos vestibulares evidencia-se o enorme fosso entre a rede privada e a rede gratuita.
Agora, com a vaga em uma universidade garantida para os estudantes das escolas públicas, perde-se um poderoso mecanismo de pressão sobre os governantes pela melhora do ensino público.
A ideia de conceder estímulos aos que sempre viveram em desvantagem é boa e justa. Mas, ainda que se conclua que a universidade é o melhor lugar para essa ação, o critério racial não é o mais sensato para balizá-la. Nesse caso, muito mais justo seria que se expandisse o alcance do critério econômico – que na lei atual ficou com apenas um quarto das vagas.
Negros pobres e brancos pobres, afinal, têm exatamente as mesmas dificuldades. E os alunos das escolas públicas não têm mais problemas para entrar nas universidades federais porque são pobres – ou negros, índios, brancos, amarelos -, mas sim porque não conseguem superar a barreira imposta pelo ensino deficiente que receberam.
Em vez de corrigir essa questão na base, a Lei de Cotas põe o peso da correção de distorções sociais nos ombros da universidade, numa atitude populista que traduz a visão de que a universidade, assim como o conhecimento, não tem importância.
Há estudos indicando que o desempenho dos cotistas, no fim do curso, é semelhante ao dos alunos que entraram pela via normal. O volume de dados existentes se deve ao fato de que boa parte das universidades públicas, mesmo antes da lei, já praticava um sistema particular de cotas.
Os dados, no entanto, devem ser vistos com ressalvas. “As pesquisas que aferem rendimento de cotistas são muito discutíveis, porque são feitas pelas próprias instituições interessadas em comprovar que suas políticas funcionam”, diz o sociólogo Demétrio Magnoli. Para ele, é razoável pensar que alguns poucos alunos fracos em uma sala de aula alcançariam os demais através de um esforço maior. “Mas, com metade da classe fraca, quem terá de se adaptar serão o professor e o conteúdo”, diz.
O resultado recém-divulgado do Ideb, o principal termômetro da educação básica brasileira, mostra que a nota média dos estudantes que deixam o ensino médio foi de 3,4 na rede pública, ante 5,7 nas escolas particulares – um desempenho quase 70% melhor da parte dos últimos.
O próprio governo parece reconhecer, ainda que implicitamente, o risco que a nova lei impõe ao ensino de alto padrão no país. Sob o contestável argumento de que são vinculadas ao Ministério da Defesa, e não ao da Educação, instituições de excelência, como o ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) e o IME (Instituto Militar de Engenharia), ficaram livres das cotas. O que mostra que, quando o assunto é “sério”, o que se leva em conta é mesmo o mérito e a capacidade.
Filosofia para políticos arrogantes, safos, dissimulados...e todos nós
http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2012/08/filosofia-para-todos-nos.html
Filosofia para todos nós
Com textos de autoajuda leves e eruditos, repletos de referências aos grandes pensadores, o suíço Alain de Botton quer nos ensinar a viver melhor
Ilustrações sobre uma foto do filósofo Alain de Botton. A School of Life, criada por ele, usa a obra de grandes pensadores como base para conselhos sobre a vida cotidiana (Foto: Ilustração de Alexandre Lucas sobre foto de Geraint Lewis/Alamy/Other Images) DANILO VENTICINQUE
No vocabulário de qualquer pensador que tenha a intenção de ser levado a sério por seus pares, a expressão autoajuda é um grande tabu. A enorme quantidade de livros com conselhos infalíveis para ser feliz, perder peso e ficar rico, combinada à ínfima percentagem de leitores que de fato se tornam milionários, magros e felizes depois de terminar a leitura, fez com que o gênero caísse em descrédito nas últimas décadas e seus autores fossem considerados como meros aproveitadores pelos círculos acadêmicos e literários. Por isso, muitos dos que formam nesse exército renegam a bandeira. O americano Tim Ferriss, que oferece a seus leitores conselhos para fazer fortuna trabalhando apenas quatro horas por semana, define seus livros como textos de lifestyle design (design de estilo de vida). No Brasil, o best-seller Augusto Cury se irrita quando o chamam de autor de autoajuda. Seus livros, segundo ele, são obras de “psicologia aplicada”. Para compensar a atitude desses desertores envergonhados, o gênero conseguiu um forte reforço em suas fileiras. Aos 42 anos, com livros publicados em mais de 30 países, o filósofo suíço Alain de Botton é um dos poucos intelectuais capazes de assumir, sem medo do desdém alheio, que seus livros são obras de autoajuda. O que o separa de outros autores é a proeza de agradar a milhões de leitores com seus conselhos sem perder o respeito da crítica.
Para Botton, o problema não é a autoajuda em si, mas a quantidade de autores ruins que se dedicam ao gênero. “A maioria dos livros de autoajuda é escrita por americanos sentimentais e moralistas, que prometem a seus leitores a vida eterna e riquezas incontáveis”, disse Botton, em entrevista a ÉPOCA. “É por isso que a elite cultural presume que apenas pessoas estúpidas leem esses livros.” Para ele, quando se examina a rica tradição dos escritores que ensinam a viver, que vem pelo menos desde Roma, o panorama muda. “A maior parte de nós admite secretamente que atravessar a vida não é uma tarefa tão fácil, e pode ser útil tirar lições de algum lugar. Por mais de 2 mil anos, grandes filósofos se dedicaram a obras que podem ser lidas como textos de autoajuda. O filósofo estoico Sêneca dava conselhos aos romanos para lidar com a raiva. As Meditações, do filósofo romano Marco Aurélio, estão entre os melhores textos de autoajuda já escritos. Em uma cultura que dá valor a obras como essas, as pessoas cometerão menos erros.” Inspirado em Sêneca e Marco Aurélio, pensadores que usaram sua sabedoria para iluminar questões mundanas do cotidiano e melhorar a vida de seus leitores, Botton construiu sua carreira de filósofo pop.
Seus textos leves e eruditos usam a filosofia e a literatura para abordar temas como a felicidade no trabalho, a preocupação com o dinheiro e a satisfação sexual. Ele faz sucesso desde o primeiro livro, Ensaios de amor, lançado quando tinha apenas 23 anos. A obra seguinte, Como Proust pode mudar sua vida, que usa a vida e a obra do escritor francês Marcel Proust como base para uma série de conselhos para viver melhor, transformou-o numa celebridade mundial. Os livros de Botton receberam elogios de publicações de prestígio, como o jornal The New York Times e a revista The New Yorker, que raramente levam esse tipo de literatura a sério. A repercussão positiva rendeu convites para palestras ao redor do mundo, em eventos incensados como o TED, um seminário americano que convida especialistas em diversos campos do conhecimento a dar palestras curtas veiculadas pela internet.
O lançamento da coleção The school of life (A escola da vida), que chega às livrarias brasileiras na próxima semana, pela editora Objetiva, é o projeto literário mais ousado de Botton. Com a ambição de atender às necessidades de “uma época confusa, em que o livro de autoajuda implora para ser repensado e adaptado”, a coleção reúne seis obras. A intenção de cada uma delas fica clara nos títulos: Como se preocupar menos com o dinheiro, Como viver na era digital, Como manter a mente sã, Como encontrar o trabalho da sua vida, Como mudar o mundo e Como pensar mais sobre sexo. Apenas o último é escrito por Botton. Os outros cinco foram elaborados por outros autores, escolhidos por ele após a definição dos temas. Todos trabalharam sob sua supervisão (...)
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"A gente se apaixona com tanta facilidade..."
Afinidades essenciais
Você não quer um olhar de incompreensão cada vez que um filme levá-la às lágrimas
IVAN MARTINS
Quem acompanha esta coluna sabe que eu sou obcecado pela questão das afinidades. Vira e mexe, com desculpas diferentes, eu volto a esse tema. É que me parece, cada vez mais, que a forma como a gente escolhe os parceiros, ou como cada um de nós estabelece vínculos com eles, define a nossa vida. Ao menos a nossa vida afetiva, que é parte enorme de todo o resto.
Quando a gente é muito jovem, ser amado parece ser o problema essencial da nossa existência. A gente se apaixona com tanta facilidade, e com tanta frequência, que encontrar alguém que retribua na mesma intensidade parece a parte mais difícil da vida. À medida que o tempo passa, se você for honesto com você mesmo, vai perceber que a parte difícil da vida é gostar por muito tempo de alguém. Vai notar que as pessoas passam, algumas mais legais do que as outras, mas que apenas algumas delas, muito poucas, estabelecem com você um vínculo essencial. Essas pessoas que ficam são especiais – e a grande pergunta é por quê?
Quando a gente é muito jovem, ser amado parece ser o problema essencial da nossa existência. A gente se apaixona com tanta facilidade, e com tanta frequência, que encontrar alguém que retribua na mesma intensidade parece a parte mais difícil da vida. À medida que o tempo passa, se você for honesto com você mesmo, vai perceber que a parte difícil da vida é gostar por muito tempo de alguém. Vai notar que as pessoas passam, algumas mais legais do que as outras, mas que apenas algumas delas, muito poucas, estabelecem com você um vínculo essencial. Essas pessoas que ficam são especiais – e a grande pergunta é por quê?
Os cientistas e os filósofos dizem que há perguntas boas e perguntas ruins. As ruins são aquelas cujas respostas não levam muito longe no caminho do entendimento. As perguntas boas, ou certas, são aquelas que abrem horizontes e direcionam a nossa curiosidade em direção ao que realmente importa. Por que algumas pessoas ficam na nossa vida, e outras, não, é, para mim, uma dessas perguntas que fazem a diferença.
Na semana passada eu voltei a pensar nisso por causa do futebol.
Me desculpem os que não têm qualquer interesse pelo assunto ou se irritam à simples menção da palavra time. Eu, sem ser fanático, me envolvo emocionalmente com esse negócio de bola e camisa, e já descobri, a contragosto, que posso ter uma semana pior ou melhor a depender do resultado do meu time. A semana que passou, por exemplo, foi maravilhosa. Desde quarta-feira anda difícil tirar do rosto um sorriso de profundo e injustificado contentamento. O sentimento não resiste a nenhuma análise lógica, mas está aqui, e, de alguma forma subjetiva, e ao mesmo tempo muito concreta, melhora substancialmente a minha vida. Como eu, milhões de outros.
outras colunas de Ivan Martins
- Dormir de conchinha
- Quem é o pai?
- Alma de corno
- Os traficantes do amor
- Surra de cama
- Casos inacabados
- A fila anda
- As alegrias do corpo
- O estranho ao lado
- Buracos negros humanos
- Segunda chance
- Aquele maldito silêncio
- A musa de cabelos brancos
- Canibalismo emocional
- Palavras são inúteis
- Uma paixão de ônibus
Como seria viver com uma mulher que não tivesse qualquer empatia com esse sentimento? Se ela odiasse o meu time, mas gostasse de futebol, poderia achar dentro dela entendimento e respeito pela minha comoção. Funcionaria, como já funcionou. Sendo corintiana, como é, foi o melhor dos mundos: voltar para casa, embriagado de alegria, e achar alguém feliz como eu, de braços abertos. Mas poderia também ser ruim. Poderia ser alguém – existem muitas – que genuinamente desdenha esse tipo de coisa e me tratasse como idiota. Nesse caso, minha semana de alegria grátis talvez se resumisse a um espasmo constrangido de contentamento, ou virasse irritação e discussão. Quando não há afinidade e compreensão, qualquer coisa é motivo de briga. Até alegria.
O importante dessa história boba, eu acho, é perceber que na nossa vida tem de haver gente que nos entenda e que tenha conosco um grau elevado de empatia. Sim, podemos conviver com diferenças. Claro, personalidades diferentes nos desafiam. Mas isso tudo fica melhor na escola, no trabalho e na vida social. Na intimidade a coisa é outra. Você não quer um olhar de total incompreensão cada vez que certo tipo de filme levá-la às lágrimas. Nem quer ter de dar explicações quando tiver vontade de deitar no colo do sujeito no sofá da sala e ficar quieta, preferencialmente recebendo um cafuné. Se você é esse tipo de pessoa, ele tem de ser o tipo de cara que entende e participa. Ou então não rola.
Minha impressão, pelo acúmulo de experiências, é que nossos parceiros duradouros tendem a sair de um espectro estreito de personalidades, valores e visão de mundo. Para mim é um sinal saudável – e uma pista importante – que a gente repita a preferência por certos traços na hora de escolher pessoas. É que por trás dessas coisas que a gente vê há outras coisas, mais profundas, que nem sempre se percebem, como família e história pessoal. Elas definem quem cada um de nós é, e qual a nossa capacidade de viver juntos. Esse tipo de coisa não se improvisa e nem se ignora. É como um time de futebol: para nos dar prazer de verdade, tem de ser parte da nossa história. Ou então não tem graça nenhuma.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)
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