O avião que transportava a equipe da Chapecoense sofreu um acidente na Colômbia, por volta da 0h30min (horário de Brasília, 21h30min no horário local) desta terça-feira. O aeroporto José María Córdova, de Rionegro, confirmou a queda da aeronave. De acordo com a prefeitura de La Ceja, cidade próxima ao local do acidente, 71 pessoas morrerame outras seis sobreviveram. A lista oficial de vítimas ainda não foi confirmada oficialmente.
Eles acreditam que podem deter a Operação Lava Jato através de um golpe parlamentar. Podem aumentar a irritação popular e transformar a delação da Odebrecht num genocídio da espécie
Por: Augusto Nunes
Publicado no Globo
Gostaria de ter ido a Salvador para conhecer e mostrar a Igreja de Santo Antônio da Barra, o Forte de São Diogo e o Cemitério dos Ingleses. Na igreja, você assiste à missa e contempla a Baía de Todos os Santos. O Forte de São Diogo foi erguido para defender o flanco sul da cidade, no tempo em que Salvador era a capital do Brasil.
Só que os inimigos não chegaram pelo mar. Vieram de dentro de Salvador, capitaneados por Geddel Vieira Lima. Construiriam um prédio de 30 andares, que, segundo o Iphan, arquitetos e moradores, arruinaria a paisagem.
Felizmente, a paisagem foi salva. Geddel tentou pressionar o ministro da Cultura, mas acabou perdendo a batalha. Quase continuou no cargo. O governo Temer é feito de cumplicidades pretéritas com o objetivo de escapar da Lava Jato. Ao tentar manter Geddel no cargo, Temer queria impedir que ele caísse nas mãos de Sérgio Moro. Ele é investigado pela Lava Jato. O apartamento de Geddel no prédio La Vue custou R$ 2,5 milhões. Ou comprou ou ganhou. Em ambas as hipóteses, aumentaria a suspeição da Lava Jato.
Lembro-me de Geddel ainda na década dos 1990. Antônio Carlos Magalhães divulgou um dossiê intitulado “Geddel vai às compras”. Os líderes políticos que, inutilmente, lhe deram apoio para evitar sua queda são uma espécie de Bessias, aquele mensageiro cuja missão era evitar que Lula caísse nas mãos de Moro. Não adiantaria muito tentar salvar Geddel, esconder-se nas barras das togas dos ministros do Supremo. A grande delação da Odebrecht vai colocar todo o mundo político na roda.
Existem fortes manobras para decretar uma autoanistia. Essas manobras são conduzidas por Renan Calheiros e Rodrigo Maia, mas têm o apoio de Temer. Eles acreditam que podem deter a Operação Lava Jato através de um golpe parlamentar. Na verdade, podem aumentar a irritação popular com eles e transformar a delação da Odebrecht num genocídio da espécie.
Temer e a cúpula do PMDB, embora estejam trabalhando para estabilizar a economia, confirmam as piores suspeitas. Seu grande objetivo é desmontar a Lava Jato. Considerei o impeachment um momento importante para atenuar a crise brasileira. Achei que era preciso dar um crédito inicial de confiança para que o desastre econômico fosse reparado. Pouco se avançou nesse campo. Mas eles andam rápido no projeto de autoblindagem.
O que não faz o medo? Se Temer, Moreira, Geddel e Padilha, o quarteto do Palácio, partem para essa luta com Renan Calheiros e Rodrigo Maia, o jovem ancião da política brasileira, eles abrem uma nova frente. Quais são seus motivos? Geddel, por exemplo, já aparece em algumas delações premiadas. Seu enriquecimento é visível. Moreira Franco, também citado cobrando propinas em obras de aeroporto, e Padilha, como Geddel, são velhos sobreviventes. ACM o chamava de Eliseu Quadrilha. O próprio Temer tem dois apelidos na delação da Odebrecht.
No momento em que abrem o jogo, não deixam outro caminho a não ser o de uma oposição implacável. Contam com um grande número de deputados e senadores, mas esses estão apenas cavando mais profundamente sua sepultura. Comandados por Renan Calheiros e o quarteto do Palácio, os políticos brasileiros temem encarar a sua batalha decisiva. Ou liberam a corrupção que sempre os alimentou ou vão para o inferno.
Na biografia de Renato Russo, há menções a Geddel Vieira Lima, que frequentava a mesma escola do cantor. Geddel chegava sempre num carro verde e dizia que seu sonho era ser político. Renato Russo o achava insuportável. O que diria hoje diante da bela paisagem que Geddel ameaçava em Salvador?
Não pude ir à Bahia porque a crise no Rio me levou aos presídios de Bangu. Agora que um ex-governador está lá dentro, vale a pena conhecer o que é aquilo. Passei uma noite em claro para documentar o esforço das famílias em visitar os presos. Existe uma visão geral de que as famílias também são culpadas e devem pagar um pouco pelos crimes de seus filhos, pais e maridos. É um equivoco. Com a prisão de Cabral, o sistema penitenciário tem dois caminhos: ou cria um regime de exceção para ele e sua família ou racionaliza a visita de todos os 26 mil presos no complexo. Parece mais fácil criar um regime de exceção. Mas com um bom aplicativo, o que leva horas de espera, pegar uma senha, poderia ser feito pelo telefone. Pelo menos, os problemas com Cabral em Bangu são mais fáceis de equacionar do que os da cúpula do PMDB.
Presos, ainda dão trabalho. Muito menos, no entanto, do que a Renan Calheiros e ao núcleo do Planalto, que mantêm o poder em Brasilia e trabalham, intensamente, numa blindagem de aço especial que consiga, simultaneamente, anular a Lava Jato com suas evidências e a opinião pública com sua justificada fúria.
Que país é esse? Renato Russo dizia na letra da canção: “na morte eu descanso/ mas o sangue anda solto/ manchando papéis e documentos fiéis”. Como Cabral, Geddel foi às compras. Roubar uma paisagem de nada adianta, porque, na cadeia, o que se vê é o sol nascer quadrado.
ESTADOS FALIDOS, INFLAÇÃO, VIOLÊNCIA, DROGAS E ANARQUIA: O BRASIL PÓS-LULA E SEUS SEQUAZES.
Sem lastro o dinheiro não vale nada. É um pedaço da papel.
O que já apareceu de patifarias e roubalheiras durante o reinado de Lula e seus sequazes é apenas um tico da realidade. Mas já dá para compreender porque a nossas moeda, o Real, esfarelou. Uma nota de R$ 100 reais, por exemplo, cuja circulação era mais rara passou a ser corriqueira e como já afirmei aqui pode ser trocada em qualquer birosca de esquina. Se não tivessem ocorrido o impeachment e a Operação Lava Jato o Brasil já estaria igual à Venezuela, isto é, com a população sofrendo a escassez. Supermercados estariam fechando suas portas, as prateleiras estariam vazias a violência atingiria níveis jamais imaginados. A bem da verdade não estamos livres desta desgraça, haja vista pela falência do Estado do Rio de Janeiro e a devastadora crise econômica que vive o Rio Grande do Sul, cujos cofres estatais foram pilhados durante o governo do petista Tarso Genro. Calcula-se, entretanto, que não são apenas esses dois estados que foram para o buraco. Uma matéria veiculada pelo jornal O Estado de S. Paulo é apavorante. Explica muito bem a penúria em que vivem a totalidade dos Estados brasileiros e seus municípios. E, por consequência, explica também por que Lula e seus sequazes tinham o apoio geral e irrestrito de governadores, prefeitos, deputados, senadores, empresários, enfim, falava-se até mesmo que o PT se tornaria uma espécie de partido único, a exemplo do que aconteceu no México com o PRI. Neste caso as eleições seriam pró-forma porque a oposição com viabilidade eleitoral teria sido inviabilizada. Nessa época Lula dava voltas ao mundo a bordo do Aerolula e vivia rindo à toa. Inclusive alardeava que o Brasil já tinha acumulado uma fabulosa reserva em ouro e dólares. Se esse tesouro realmente existiu está na hora de fazê-lo aparecer. Em que pese tudo isso, a realidade dos fatos explica a verdade: como todos os partidos comunistas no poder fizeram, Lula e seus petralhas faliram o Brasil. Rodaram loucamente as máquinas da Casa da Moeda para comprar apoio político. Emitiram moeda sem lastro esfarelando a economia. Mesmo assim, face a leniência e fraqueza do governo de Michel Temer, continuam em ação, praticando todas as barbaridades possíveis e imagináveis, como ocupação de escolas e universidades, destruindo laboratórios e demais instalações, enquanto Lula, leve e solto, continua fazendo comícios minúsculos, é verdade, porém contando com os préstimos do jornalismo chulé e mentiroso que domina as redações da grande mídia. Basta Lula dar um traque para que o fato se transforme em notícia enquanto a economia continua esfarelando. Sem contar o fato que vivem fazendo protestos contra a PEC do teto que visa justamente estancar a sangria dos cofres públicos. Essa situação de penúria da economia brasileira que castiga os assalariados, a maioria da população, é fruto direto de mais de uma década de orgias variadas comandadas por Lula e seus sequazes. Nestas alturas é de se indagar: vai ter carnaval no Rio de Janeiro? Transcrevo a seguir a reportagem do Estadão sobre o fantasma da falência que assombra Estados e municípios brasileiros e, ao mesmo tempo, explica as razões daquele apoio total e irrestrito de governadores e prefeitos, inclusive da oposição, ao demiurgo de Garanhuns. Leiam:
A FALÊNCIA DOS ESTADOS
Mergulhados em uma crise financeira sem precedentes, Estados e municípios devem R$ 120,6 bilhões aos bancos públicos, segundo levantamento do Estado. O passivo é resultado de uma política que, nos últimos anos, irrigou esses governos com recursos federais.
Até setembro, a exposição no Banco do Brasil chegou a R$ 38 bilhões, enquanto na Caixa a dívida era de R$ 33 bilhões. No BNDES, o valor atingiu R$ 49,6 bilhões da carteira em junho – o banco ainda não divulgou dados do terceiro trimestre.
O novo está sendo gestado. Mas os primeiros sinais do seu possível nascimento bastaram para fazer o velho Brasil do compadrio e da corrupção estrebuchar na maca em desespero e desatar no choro dentro de presídios.
O mundo despediu-se de fato do século XX com a morte de Fidel Castro. Por aqui, em matéria de maus costumes políticos, o século passado ainda suspira e ameaça abortar o que se anuncia.
Há duas semanas, no programa Roda Viva da TV Cultura, perguntei ao presidente Michel Temer o que ele achava do projeto de anistia do caixa dois em discussão na Câmara dos Deputados.
Temer respondeu, sem alongar-se sobre o assunto: “Criminalização do caixa dois é decisão do Congresso e não posso interferir. Se eu disser uma coisa ou outra vão dizer que eu estou defendendo.
Os defensores do projeto – leia-se: a esmagadora maioria dos deputados – preferem chamá-lo de “criminalização do caixa dois”, como Temer chamou. Na verdade, trata-se de uma anistia em causa própria.
Porque se virar lei, anistiará todos os que doaram ou se beneficiaram de dinheiro não declarado à Receita e à Justiça Eleitoral. Dinheiro sujo, portanto.
Em São Paulo, na última sexta-feira, Temer confidenciou ao líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), que não permitirá mais qualquer anistia.
Ontem à tarde, em Brasília, na companhia dos presidentes da Câmara e do Senado, Temer afirmou: “No caso da anistia, em dado momento viria para a presidência vetá-la ou não. É impossível sancionar matéria dessa natureza”.
Ora, ora, ora... Mudou Temer ou o Natal?
Temer mudou para sobreviver à crise política desatada com a revelação do depoimento prestado à Polícia Federal pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero.
O que Temer classificara de “episódio menor”, meteu-se Palácio do Planalto adentro, subiu de elevador até o terceiro andar e arrombou a porta do gabinete presidencial. Ali, instalou-se e nem tão cedo sairá.
Calero disse à polícia que não foi só Geddel Vieira Lima, secretário do governo, que o pressionou para que recuasse no embargo à construção de um prédio de 30 andares em Salvador aonde ele comprara um apartamento.
Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, também pressionou. E, além dele, o próprio Temer. Geddel acabou perdendo o emprego. Temer tenta segurar o seu.
Por isso, deu o dito pelo não dito quanto à anistia do caixa dois e procura um novo secretário de governo com biografia impecável, à prova de futuras delações da Lava-Jato.
Certamente não o encontrará em suas vizinhanças. Temer está condenado a perder em breve para a Lava-Jato alguns dos seus auxiliares de maior confiança. Já perdeu quatro em seis meses. Continua impopular.
Este é o paradoxo Temer: a “ponte para o futuro”, pretensioso nome dado a documento do PMDB que saudou o povo e pediu passagem a uma nova ordem de coisas, é uma frágil pinguela.
Por enquanto, a nova ordem só tem a ver com uma gestão mais racional da economia em pandarecos. Em tudo o mais, é o antigo que ferido de morte esperneia para não sair de cena.
Qual é a saída? Fora da lei não há saída, não pode haver. Ela manda que Temer governe até 2018 quando se elegerá o novo presidente.
Faltam 33 dias para o fim do ano. No próximo, caberia ao Congresso escolher um substituto de Temer caso ele fosse impedido de completar o mandato.
Logo ao Congresso, depósito de todas as mazelas nacionais que se deseja varrer... E aí? Vai encarar?
Penso que nada prova melhor a extensão da encrenca em que estamos metidos do que o assíduo comparecimento da expressão "só isso não resolve" em todos os discursos e análises de conjuntura. E não importa se estamos falando de problemas sociais, políticos ou econômicos. Não faz diferença, tampouco, se o que está em discussão é projeto singelo ou pacote de espectro mais amplo, como o anunciado na última segunda-feira pelo governador Sartori. Tudo que se proponha no Brasil peca pela insuficiência.
O Estado é um ente gastador. Dotado de apetite voraz, consome todo o dinheiro que lhe seja proporcionado. Se, milagrosamente, revertêssemos o quadro atual e dona Receita se tornasse superior à dona Despesa, esta imediatamente dispararia em busca daquela, puxando-a pelos cabelos. São duas irmãs que não se dão bem, como a gente sabe, mas Despesa, em definitivo, não gosta de se sentir menor do que Receita. O Rio de Janeiro faz prova disso. Durante anos, foi um Estado privilegiado por acrescentar robustos royalties de petróleo às suas receitas tributárias. Resultado: o Rio nivelou sua despesa corrente num patamar ainda mais elevado. E agora soma às perdas advindas da recessão uma grande redução dos royalties que recebe. Quebrou mais do que os outros.
Em fins de 2005, Antonio Palocci estava alinhavando um plano para atingir e manter elevado superávit nos anos por vir. Jornais da época ajudam a lembrar o fato. O superávit primário já fora 4,5%, beirava os 5%, e o ministro queria manter a pressão sobre o gasto público. Dilma Rousseff, porém, como chefe da Casa Civil, fuzilou as intenções de longo prazo com uma frase que entrou para a história: "... despesa corrente é vida: ou você proíbe o povo de nascer, de morrer, de comer ou de adoecer ou vai ter despesas correntes". Em dose errada, essa receita mata. A partir de então, o Brasil traçou seu rumo para um lugar de destaque no quadro de fracassos keynesianos e desenvolvimentistas. A economia afundou e o superávit virou déficit de 2,8% do PIB neste já histórico 2016.
O PIB real brasileiro está 7% abaixo do que era em 2013! Se somarmos a isso o que deveríamos ter crescido, caso mantivéssemos a média das últimas décadas (parcos 2,5% ao ano), constataremos que a perda efetiva se eleva a algo como 15% nesses três anos. Mas as despesas correntes, aquela peculiar "forma de vida", continuaram crescendo. É o número que falta hoje, a grosso modo, no caixa de todos os governantes. Buraco dessa fundura não se preenche sequer em médio prazo. Precisaríamos prover condições que não temos para um crescimento padrão chinês.
Governos perdulários atendem demandas, colhem afetos e sorrisos. São vistos como benevolentes e amorosos. Mas é um amor bandido. Dá com uma das mãos o que, ali adiante, tomará com as duas, levando empregos, destroçando esperanças, comprometendo o futuro e incapacitando o Estado para o cumprimento de funções essenciais. Aprender dos próprios erros, pela pedagogia do desastre, é a mais sofrida aprendizagem. Mas sinto que está sendo bem-sucedida. Se Sartori dispusesse de tempo e submetesse seu pacote a um referendo, receberia amplo respaldo popular. A sociedade entendeu a lição na sala de aula da realidade.
O amor bandido faz da irresponsabilidade fiscal instrumento de sedução. Pulsa coraçõezinhos com ambas as mãos. Coleciona gratidões passageiras. E semeia tempestades cujos maiores danos incidem sobre os mais miseráveis dentre os pagadores de impostos. Quando um avião entra em zona de turbulência não podem os passageiros da 1ª classe pretender que sua cabine não sacoleje. (A íntegra do artigo deve ser lida em http://zh.clicrbs.com.br/rs/opiniao/ultimas-noticias/tag/percival-puggina/)
Lewandowski, do STF, protege deputado petista acusado de comprar, com dinheiro sujo, apartamento em Miami
Durante sua atuação como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski foi acusado por seus adversários de se alinhar demais ao PT. No impeachment de Dilma Rousseff, permitiu a separação entre a cassação e a perda dos direitos políticos. Agora, de volta ao trabalho como magistrado em um primeiro inquérito desdobrado da Lava Jato, documentos obtidos por ISTOÉ mostram que ele protege um deputado petista de uma investigação aprofundada.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, solicitou abertura de um inquérito para apurar a compra de um apartamento em Miami pelo deputado Marco Maia (PT-RS), acusação feita na delação premiada do ex-vereador petista Alexandre Romano. A hipótese é de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O processo caiu nas mãos de Lewandowski. O ministro até autorizou a abertura do inquérito, mas barrou as duas principais diligências solicitadas por Janot para avançar as investigações: acesso ao conteúdo dos celulares de Marco Maia e cooperação internacional com autoridades dos EUA para obter documentos do imóvel. Em despacho de 4 de outubro, Lewandowski autorizou somente a tomada de depoimentos no Brasil, o levantamento de doações eleitorais de uma empresa suspeita de bancar o apartamento e a juntada de provas já produzidas. O ministro nem chega a explicar porque barrou as principais diligências. Advogado e ex-vereador em Americana, Alexandre Romano foi preso pela Lava Jato no ano passado e firmou delação premiada, na qual também relata um esquema de desvios ligado ao ex-ministro Paulo Bernardo. A ideia de Maia ao comprar o apartamento em Miami, segundo o delator, surgiu durante uma viagem de ambos àquela cidade, em 2013. Romano possuía apartamento nessa cidade. “O deputado confidenciou-lhe ter um ‘sonho’ de ter um apartamento lá”, relatou a petição de Janot. A defesa do deputado nega que ele seja o dono do imóvel. A assessoria de Lewandowski disse que ele não poderia comentar porque o processo é sigiloso. A delação de Romano envolve nas irregularidades a empresa Ímpar/Hospital 9 de Julho. Segundo o ex-vereador, foi por meio de um acerto com a empresa que o apartamento em Miami foi bancado: Maia lhe relatou que tinha um crédito de R$ 1 milhão a cobrar da Ímpar e que poderia ser destinado ao financiamento do imóvel. O apartamento custou US$ 630 mil. ISTOÉ entrou em contato com a assessoria do grupo Ímpar, mas não houve resposta. Romano contou ter ido à sede da empresa e acertado que firmariam contratos simulados, sem real prestação dos serviços, para realizar a transferência dos valores.
Nesse momento abandono por um breve período a neutralidade exigida para atuar como editor da Revista Sociedade Militar, que publica textos de tantos renomados articulistas, para escrever algumas linhas como pessoa comum, pai de três filhos, militar da reserva, assalariado e que, além da formação militar, nas horas que restaram entre inúmeros plantões, se graduou e pós-graduou numa universidade pública recheada de militantes, que já naquela época se achavam donos do recinto.
Falo aqui como o amigo que troca idéias com todos aqueles que não só nos enviam textos, mas também participam sugerindo, elogiando ou criticando nos comentários, emails e whatsapp (21 98106-2723).
Temos acompanhado o cenário político e a voz das ruas faz algum tempo. Fui a várias manifestações e conheço muitas lideranças de movimentos populares, alguns intervencionistas e alguns radicalmente outros anti-intervenção. Também, obviamente, conheço muito bem a mente militar. Passei mais tempo de minha vida na caserna do que fora dela.
Ainda que os comandantes militares insistam em dizer que as ações das Forças Armadas sejam delimitadas por parâmetros como legalidade e estabilidade, crescem em meio à sociedade e até na reserva, os apelos pela chamada intervenção militar. E os comandantes sabem disso. Frequento pessoalmente vários fóruns e grupos de inteligência, militares, segurança pública e policia militar e percebo claramente que o clamor por uma medida saneadora mais drástica cresce na mente de muitos do nosso meio.
São antidemocratas? Não, jamais. Contudo, quem melhor do que nós, detentores de algumas informações privilegiadas, para saber o que se passa por trás dos panos? Se os militares e comunidade de segurança pública estão no seu limite, se decepcionam com a democracia, pode-se crer que as coisas estão muito piores do que já pôde perceber o cidadão comum.
Alguns economistas e políticos, assim como o próprio Comandante do Exército deixam explicito em suas falas que qualquer sinal de possível instabilidade pode prejudicar a retomada do país em busca de crescimento e progresso. É uma verdade, estão certos e isso em parte explica sua sobriedade nas declarações públicas.
O mundo, os investidores em potencial, aqueles que realmente decidem os destinos da economia, acreditam que uma “higienização da classe política” pode acontecer pelo menos em médio prazo no Brasil? Sim, AINDA acreditam, tanto que os indicadores chegaram a melhorar nos últimos meses.
Contudo, fatores como o tempo que o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL leva para julgar autoridades com foro privilegiado, como é o caso de Renan Calheiros, envolvido como acusado em processos que já duram mais de 5 anos, e a luta de parlamentares por corromper a proposta de iniciativa popular anti-corrupção, endossada por mais de 2 milhões de brasileiros, fazem crescer os apelos para que os militares tomem partido e realizem de alguma forma a moralização necessária.
Além das centenas de grupos intervencionistas nas redes sociais, alguns com mais de 200 mil participantes que se comunicam diariamente, pudemos identificar duas grandes rádios online 24 horas por dia divulgando debates, discursos e conversas em apologia à intervenção militar. O movimento não para de crescer e, embora seja um assunto tabu, é acompanhado de perto.
A ocupação realizada no Congresso por militantes de direita acendeu uma luz vermelha. A imprensa e classe política mais atenta percebeu que a sociedade aos poucos deixa de vislumbrar possibilidades de se resolver “a coisa” de forma menos impactante.
Cada vez maior número de pessoas têm se desiludido com a velocidade do “saneamento político” e aumentam a pressão para que as forças armadas assumam o controle e inclusive enquadrem e julguem rapidamente todos os políticos envolvidos em falcatruas por crimes contra a segurança nacional, realizando em seguida eleições livres e sem a participação de qualquer político já condenado por corrupção ou envolvimento em qualquer crime. Eles se autodenominam intervencionistas e foi uma parte mais radical desse grupo acabou ocupando o congresso nacional há cerca de uma semana.
Grande parte dos oficiais generais na reserva declaram sem pudor que a ação militar não pode ser descartada como uma das formas de resolver a crise de moralidade atualmente vivida.
Recentemente o deputado Jair Bolsonaro declarou no plenário do Congresso Nacional que se na calada da noite o congresso nacional corromper a proposta popular e implantar ali dentro uma forma de anistiar parlamentares corruptos há possibilidade de o povo ir para as ruas pedir o fechamento do parlamento.
O filósofo Olavo de Carvalho, que de sua residência nos EUA orienta alguns personagens anti-esquerda, como Lobão, e que no início do movimento anti-Dilma chegou a declarar que o Impeachment não adiantaria muito para o país essa semana fez postagens em redes sociais incentivando a sociedade para que ocupe de forma DEFINITIVA o parlamento.
A verdade é que a corrupção no Brasil a cada dia se mostra mais entranhada na política e já poucos de nós acreditam que a médio prazo conseguiremos mudar isso. Com isso entendemos que a instabilidade não é causada por um grupo de intervencionistas que de forma precipitada – mas de boa vontade e com propostas em sua esmagadora maioria, corretas – entrou no Congresso Nacional; por um deputado que insinue a possibilidade de fechamento do congresso ou por recados de um filósofo que reside nos EUA.
A tal “instabilidade” é causada pelas próprias ações desesperadas da classe política no afã de escapar do expurgo que, de uma forma ou de outra vai acontecer.
Esperamos e desejamos realmente que o judiciário brasileiro consiga vencer a oposição e terminar o que começou a fazer.
É evidente que os comandantes militares não desejam assumir o controle do país. É obvio que se busca a todo custo a “solução democrática”. Por isso a declaração padrão é “nossa sociedade não precisa ser tutelada“. Quem em sã consciência desejaria suportar o peso de tomar o controle de um país continental como o nosso, tendo que enfrentar não só as centenas de grupelhos de esquerda que se levantariam em vários locais, mas também a pressão da comunidade internacional em peso?
Muita coisa poderia acontecer, a complexidade é enorme, nenhum ensaio, prospecção, pode prever tudo, muita gente inocente pode sofrer, morrer.
Com toda certeza esse é o último recurso e deve sim ser protelado ao máximo.
Tomo a liberdade de terminar essa conversa citando excerto de ótimo texto de um conhecido oficial: “Empregar as FFAA enquanto estamos progredindo bem com outras peças de manobra é, de fato, um grande equívoco, assim como também é por em dúvida o seu comprometimento constitucional, a sua subordinação ao interesse da Pátria e a sua competência para acompanhar e interpretar a conjuntura, imaginando-as incapazes de, por si próprias, conhecer o momento oportuno para agir e prevenir danos maiores à democracia … (General de Brigada Paulo Chagas)”
Alçado ao cargo maior da República depois dos escândalos de corrupção que destroçaram o PT, do acirramento das crises política e econômica - aprofundadas pela incompetência e soberba de Dilma Rousseff -, e pela pressão das ruas, o presidente Michel Temer só tinha duas alternativas: acertar ou acertar. Nos rumos da economia e na moralidade com a coisa pública. Mas não se cansa de errar: ainda patina no ajuste das contas e esborrachou-se de vez no plano ético.
Para a economia, Temer chamou Henrique Meirelles, aplaudido pelo mercado, mas já um tanto incapaz de, só na lábia, manter a animação do setor produtivo. Um público angustiado com a ausência de liderança política para acelerar a aprovação de medidas emergenciais no Congresso. Menos cuidadoso, Temer correu riscos ao nomear Romero Jucá (PMDB-RR) para o Planejamento, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para o Turismo, ambos enrolados com a Lava-Jato. Teve de despachá-los antes mesmo de eles esquentarem as cadeiras.
No Senado, o ex-ministro Jucá continuou líder do Governo, tendo sido o maestro da inclusão, na vigésima-quinta hora, de parentes de políticos na nova versão da repatriação de dinheiro não declarado depositado e mantido no exterior. Algo que deveria ser vetado por Temer se algum juízo ainda lhe restar.
Na sexta-feira, quem saiu foi Geddel Vieira Lima, que se autoimolou tarde demais para poupar o chefe da imoralidade de ter protegido o amigo em algo indefensável: o uso do Estado em benefício próprio.
Geddel, então ministro de Governo, um dos mais próximos do presidente, teria feito pressão para que o ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, interviesse na liberação da obra do La Vue, embargada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Empreendimento de luxo, localizado na Ladeira da Barra de Salvador, o prédio teve autorização para no máximo 13 andares. Antes do embargo, Geddel teria comprado um apartamento 10 andares acima, hoje, um pedaço de ar ou brisa.
O caso, tão corriqueiro na política dos tempos pré Lava-Jato - a ponto de Geddel, políticos aliados e o próprio Temer considerarem que morreria com o tempo -, ganhou corpo quando Calero denunciou a pressão de Geddel, logo depois se demitir. E mais ainda quando se revelou que Calero tinha ido à Polícia Federal para uma denúncia formal, na qual teria incluído o presidente Temer e até, supostamente, uma conversa gravada. Algo que não combina com o relato anterior do ex-ministro, feito no sábado, 19, de que o presidente teria desautorizado Geddel ao dizer a ele, durante a conversa no Planalto: “O presidente sou eu, não o Geddel”.
Ainda que existam pontos que não se ligam nas versões dos ex-ministros Geddel e Calero, nada justifica a participação de um presidente da República nessa história. Temer nem poderia se permitir discuti-la. Trata-se de uma obra privada, na qual um de seus auxiliares tinha interesse pessoal – queria desembaraçá-la, mesmo que ao arrepio da legalidade. Algo fora do escopo da coisa pública, fora dos interesses do país. Portanto, pecado difícil de purgar.
Além de complicar Temer, o episódio Geddel espalhou veneno em alvos inesperados. No afã de mais uma vez criticar a mídia, o ex Lula se entregou à Lava-Jato: “Vocês percebem que não dão destaque ao apartamento do Geddel como deram ao meu tríplex”, disse, inflamado, em discurso para uma plateia fiel na Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Um ato falho. Uma confissão.
Iguaria para a oposição, o episódio Geddel vai subsidiar pedidos de impeachment de Temer, acareações, desconfianças entre aliados, brigas sem fim no cotidiano das pessoas, já expressas nas redes sociais.
Em suma, mais pimenta em um caldeirão de instabilidades que ninguém mais aguenta.Indigesto, Geddel, quem o apoia, coisa que cheire ou com ele se pareça, é tudo que o país não quer mais ter de engolir.
Pense em um deputado, senador, ministro, ex-ministro, presidente, ex-presidente, e ele pode estar nessa ‘blacklist’. A sensação é de que quase ninguém está a salvo
Zuenir Ventura, O Globo
Está no seu DNA, é crônico. Brasília não consegue viver sem crise. Mal se livra de uma, surge outra. O alívio às vezes é temporário, como aconteceu esta semana, quando parecia superado o episódio que envolveu o ministro Geddel Vieira, responsável pela renúncia de seu colega da Cultura, que o acusou de pressioná-lo para atender a interesses escusos.
Apesar da grave denúncia, Geddel continuou merecendo a confiança do presidente e ainda recebeu um manifesto de apoio de líderes da base aliada no Congresso. Um final feliz, até que se tornou público o depoimento de Marcelo Calero à PF acusando o presidente Temer e o ministro Eliseu Padilha de o terem pressionado e “enquadrado” em favor do amigo e auxiliar de confiança.
Para piorar, desconfiado de que Calero tenha gravado a conversa, o presidente teria pedido a Geddel sua saída, o que acabou acontecendo ontem. Na carta de demissão, ele afirma que tomou a decisão “diante da dimensão das interpretações dadas e do sofrimento dos meus familiares”. Antes de conhecer o desfecho, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, se precipitara: “Esse Calero enlouqueceu”.
Agora, a melhor maneira de saber quem de fato enlouqueceu é descobrir o que contém a suposta gravação. Por algum tempo, o governo e a classe política puderam dormir mais tranquilos ao saber que ficou suspensa até segunda-feira a assinatura do acordo de colaboração dos 76 executivos da Odebrecht com a Operação Lava-Jato.
Chamada de “mãe de todas as delações” ou de “operação do fim do mundo”, essa delação citaria mais de cem políticos como tendo recebido algum agrado em forma de propina da “mãe de todas as empreiteiras”. Pense em um deputado, senador, ministro, ex-ministro, presidente, expresidente, e ele pode estar nessa blacklist.
A sensação é de que ninguém, ou quase ninguém, está a salvo. Daí a mobilização dessa espécie de frente ampla parlamentar para combater os que combatem a corrupção, comandada no Senado por seu presidente, Renan Calheiros (12 inquéritos no STF), e pelo líder do governo, Romero Jucá (oito inquéritos no STF), o tal que já defendeu um “pacto para estancar a sangria”.
A ofensiva se esconde atrás de vários disfarces, como a emenda que, na prática, segundo o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima, visa a “anistiar a corrupção”, atingindo diretamente a Lava-Jato. Ele afirma que essas e outras iniciativas têm como objetivo criar um “salvo-conduto geral para corruptos de todo o país”.
Em poucas palavras, o alvo dessa escandalosa articulação tem um símbolo de quatro letras: Moro. Um atentado ao seu trabalho pode deixar não apenas Brasília, mas o Brasil em transe