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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

"Para o Daniel Piza. De uma leitora" - 16/1/2012 - Digestivo Cultural - Eugenia Zerbini - Ensaios

"Para o Daniel Piza. De uma leitora" - 16/1/2012 - Digestivo Cultural - Eugenia Zerbini - Ensaios

O dia 7 de janeiro foi escolhido para ser o dia do leitor. Também nesse dia, os católicos celebraram missa festejando o “Dia de Reis” (que, na verdade, foi na véspera, durante a semana). A Epifania, nome de origem grega pelo qual a data é igualmente chamada, significa revelação. Até a chegada dos Reis Magos ― Baltazar, Gaspar e Melchior ― o nascimento de Cristo era um assunto circunscrito à família. Serão eles que, após a visita, irão espalhar a notícia. No mundo do jornalismo e da cultura, ao lado dessas comemorações, houve infelizmente uma manifestação de pesar, marcada pela missa de sétimo dia de Daniel Piza (1970-2011).

Será na qualidade de sua leitora que irei escrever. Sinto-me autorizada por todas as sincronicidades mencionadas que, em um único ponto no tempo e no espaço, uniram, de um lado, as lágrimas de saudades despertadas pelo falecimento precoce do talentoso escritor e jornalista, e, de outro, os festejos tanto da manifestação do divino como da identidade que mais satisfação me trouxe na vida: a de leitora. 

Escrever pode até ser bom, mas ler é melhor ainda. Ler o Daniel era maravilhoso. Recordo-me do prazer em abrir a Gazeta Mercantil, às sextas-feiras, lá pelos meados de 1990, e ler de cabo a rabo o “Fim de Semana”. Esse caderno era uma maravilha, com textos de nomes do calibre de Ivan Lessa e Sonia Nolasco. Além deles, havia indicações de restaurantes, de roteiros de viagens e de exposições. Contudo, uma das partes que mais me encantava era a coluna de Piza. À primeira vista, inspirada no Diário da Corte, do sempre saudoso Paulo Francis (1930-1997); aos poucos, expressão de temperamento próprio. 

Lembrar traz para perto pessoas e coisas que se foram. E, nas palavras de Santo Agostinho, o coração é a sede da memória. Eu trabalhava em um banco de investimento, na Avenida Paulista. Não saía para o almoço para poder ler em paz. Finda a leitura do “Fim de Semana”, recortava a coluna do Daniel e a guardava. Maravilhada com que havia lido, eu via um mundo que afinal podia ser bom e dar certo; a possibilidade de uma natureza acolhedora; a esperança da humanidade salvar-se um dia. Meu coração não batia mais só. >>>
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