Amigos hoje, inimigos amanhã...
PSDB é o grande vitorioso, mas, se Temer
der certo, PMDB terá candidato próprio em
2018
Eliane Cantanhêde
O poder primeiro
aglutina, depois corrói e a história é recheada de aliados que viraram
inimigos, como PT e PSDB, unidos no combate à ditadura militar e adversários
viscerais ao longo das muitas campanhas eleitorais e dos muitos governos
pós-redemocratização. A pergunta que não quer calar é até quando vai o pacto de
governabilidade entre o PMDB, que tem o governo federal, ramificação e ambição,
e o PSDB, que foi o maior vitorioso das eleições municipais e é a única
presença garantida na eleição para a Presidência em 2018. Esse pacto vai ou não
durar até 2018?
O PSDB nasceu em 1988
de uma dissidência do PMDB de Orestes Quércia e nunca deixou de disputar as
eleições presidenciais (1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014) com
candidato próprio – e competitivo. O PMDB virou uma confederação estadual de
partidos, sem protagonismo no Planalto e um fiel da balança entre tucanos e
petistas. Ora se tornava importante para os governos do PSDB, ora para os do
PT. Para onde ia o PMDB, ia o poder. Ou ao contrário: para onde ia o poder, ia
o PMDB.
O Plano Real elegeu
Fernando Henrique Cardoso em 1994 e garantiu ao PSDB um peso que nenhuma outra
sigla teve antes, nem depois, em tempos de normalidade democrática: de 1995 a
1999, o partido acumulou a Presidência da República e os governos de São Paulo
(Mário Covas), do Rio de Janeiro (Marcello Alencar) e de Minas Gerais (Eduardo
Azeredo). Um verdadeiro “strike”, que nunca mais se repetiu. Enquanto o PSDB
crescia “para cima”, o PMDB crescia “para os lados”, tornando-se o partido mais
ramificado no País.
Por uma dessas coisas
da política, o PMDB só chegou ao poder, sem intermediários, surfando na guerra
entre PSDB e PT, na crise política e econômica do desastre Dilma e na implosão
da imagem ética do PT, inclusive de Lula. Não há vácuo de poder. Abriu espaço,
alguém entrou. E quem entrou foi o PMDB, resguardado pela Constituição e pela
posição de vice de Michel Temer.
Apesar de decisivo
para parir o impeachment de Fernando Collor, o PT foi o único partido que não
embalou o governo Itamar Franco, mas é aquela velha história: “Quem pariu
Matheus que o embale”. A alternativa do PSDB com o impeachment de Dilma foi
embalar ou embalar o governo Michel Temer. Mas isso não significa um casamento
perfeito, nem mesmo harmonioso. E, quanto mais próximo de 2018, mais a tensão
entre tucanos e pemedebistas tende a piorar.
Há uma diferença
crucial, porém, entre os dois parceiros: o PMDB não tem nenhum nome evidente
para a sucessão de Temer e o PSDB tem pelo menos dois. Como se sabe, o de
Geraldo Alckmin, o maior vitorioso das eleições municipais, e o de Aécio Neves,
que acumula três grandes derrotas desde 2014, mas tem munição e tropa: presidente
do partido, controla a máquina tucana e a maioria das bancadas no Congresso.
Nas eleições
municipais, o PMDB venceu em número de prefeituras, com 1.038 em todo o País,
incluindo quatro capitais, e o PSDB ganhou em 803, mas 28 estão entre as 92 com
mais de 200 mil eleitores e sete delas são capitais. Vai governar 23,7% da
população (um em quatro eleitores), com orçamento de R$
158,5 bilhões. Conclusão: o PMDB pode ter vencido quantitativamente, mas o PSDB
venceu qualitativamente e é hoje o partido mais forte para 2018.
O casamento é de
conveniência e, com ou sem amor, nenhum dos dois tem para onde correr. O PMDB
precisa do PSDB, dos seus votos no Congresso e de um certo lustre de seus
quadros. E o PSDB não pode, simplesmente, bater a porta na cara do PMDB e
largar Estados, empresas e desempregados na mão – ou na amargura da crise.
Logo, os dois estão no mesmo barco, mas isso não é para sempre e dificilmente
irá até 2018. Se Temer naufragar, o PMDB estará fora. Se navegar bem, terá
candidato próprio, contra o PSDB.
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