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NOTÍCIAS DE BRASÍLIA

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Será que Eduardo Cunha quer ganhar tempo ? Ou quer que os testemunhos sejam comparados com os da delação ? Ou quer que a Lava Jato ouça, antecipadamente, os relatos que a Odebrecht irá forçar com suas revelações ?



O estranho grupo que Cunha quer como testemunha de defesa

Lá estão Temer, Lula, Cerveró, Delcídio... Que sentido faz? Por enquanto, só ele deve saber

Por: Reinaldo Azevedo  

Eduardo Cunha evocou como testemunhas de sua defesa ninguém menos do que o presidente Michel Temer, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador cassado Delcídio do Amaral, o ex-ministro enrolado Henrique Eduardo Alves, o delator premiado Nestor Cerveró e mais 17 pessoas. O que quer Eduardo Cunha?
Pois é… Quando se listam testemunhas de defesa, o que se espera é que façam declarações ou confirmem eventos que ajudem a inocentar o réu. Dá para supor por que Nestor Cerveró está na lista. Afinal, era diretor da área Internacional da Petrobras, e o inquérito em questão apura o recebimento, pelo ex-deputado, de US$ 1,5 milhão em propina num negócio que a estatal fez em Benin, na África. E os outros?
Por tudo o que se sabe até agora, Lula e Temer, por exemplo, não interferiram no caso. Nem mesmo Delcídio. Mais: qual é exatamente a utilidade de testemunhos de criminosos confessos como Cerveró e o ex-senador?
O juiz ainda vai decidir se as testemunhas evocadas têm ou não pertinência com o caso. Há um espaço para a arbitragem do magistrado, ainda que caiba à defesa fazer as suas escolhas. Se, entre os arrolados, houver um especialista na filosofia de Schopenhauer, que esteja lá por isso, a Justiça pode recusar seu testemunho.

"As ilusões das eleições" / José Nêumanne

quarta-feira, novembro 02, 2016

As ilusões das eleições - 

JOSÉ NÊUMANNE

ESTADÃO - 02/11

Na era cibernética, até o castigo ‘avoa’ nos ares para o PT de Lula e o chefão tucano Aécio

O principal derrotado nas eleições municipais de outubro de 2016 foi o Partido dos Trabalhadores (PT). E com ele afundaram nas urnas seus sucedâneos e tradicionais aliados de esquerda: de Rede, PSOL e PCdoB a nanicos revolucionários – os de centro-esquerda e os mais extremados.

Isso quer dizer que a centro-direita venceu a disputa, levando em conta estatísticas avassaladoras do gênero: 80% das prefeituras do País foram conquistadas por legendas, das gigantes às mínimas, todas componentes da base de apoio do governo-tampão de Michel Temer? Ou, ainda, o maior partido da oposição nos desgovernos petistas de Lula e Dilma, o PSDB, ganhou 863, ou seja, 25% dos pleitos, um recorde histórico? Nada disso!

Acreditar em tal lorota – ou na análise oportunista e apressada do advogado, empresário e político Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil do governo federal, de que os eleitores derrotaram nas urnas a hipótese estapafúrdia do “impeachment sem crime é golpe” – é dar alguma razão a quem ainda insiste nessa total tolice.
Quem rotula PSDB e PMDB de centro-direita acredita em contos de fadas e bruxas nos quais Lula, insubstituível líder do PT, é esquerdista. Os tucanos, atarantados sócios da maior legenda que se opôs aos 13 anos, 4 meses e 12 dias sob o ex-sindicalista e a ex-guerrilheira, são farinha do mesmo saco de que se nutriu o partido que foi comandado por Ulysses Guimarães. Foram produzidos na luta gloriosa contra a ditadura militar e civil, esta, sim, de direita, que promoveu o milagre econômico e a repressão brutal dos anos 60 a 80. Mas foram separados na feira em que se puseram à venda nas vicissitudes da democracia que sucedeu ao arbítrio.

Ao contrário do que reza a doutrina esquizofrênica da esquerda, dominante nas escolas e nos palanques, o autoritarismo não ruiu aos pés dos “heróis” da guerra suja, mas da prática democrática da sociedade e dos parlamentos liderados pela oposição civil, mesmo sob dura ameaça permanente.

Frases;;; / Roberto Damatta

Frase de Roberto Damatta


No Brasil, o problema é como acabar de vez com o “Você sabe com quem está falando?”, esse brasileirismo inventado como último recurso hierárquico e escravista contra a igualdade republicana que obriga a entrar na fila, ser parado por um guardinha qualquer, ser compelido a responsabilidade quando se ocupa um cargo público e — eis o escândalo dos escândalos — ser enjaulado por um crime porque a lei vale mesmo para todos, e a igualdade perante e lei acaba com os privilégios.

Dilma quer escrever um livro.../ Celso Arnaldo Araujo comenta o livro que não foi escrito

Celso Arnaldo Araújo: Se até hoje leu alguma coisa, Dilma certamente não absorveu nadica de nada

Por: Augusto Nunes  

O autor de 'Dilmês - O Idioma da Mulher Sapiens' analisa o livro que nunca será 



escrito

A mesma Natuza Nery que noticiou hoje o nascimento de Agatha Rousseff e seu misterioso dilmês ─ a linguagem assassina serial de ideias e raciocínios ─ revelou ao mundo, em maio de 2013, a transformação da presidenta na comandanta Dilma, quando a bordo do AeroLula. Numa matéria apoteótica publicada na Folha em maio de 2013, Natuza revelou que a presidenta comandava o Airbus da Presidência por meio de seus vastos conhecimentos de mapas aeronáuticos. Segundo a jornalista, como Dilma detesta turbulências, ela orientava o comandante da aeronave presidencial, um brigadeiro, a voar em céu de…brigadeiro. Mudava rotas e altitudes para não deslocar um milímetro do seu laquê. “Ela detesta quando o avião presidencial sacode em pleno ar”, escreveu então a repórter, num simulacro do idioma de sua personagem, sem explicar se seria possível o Airbus sacudir em pleno chão.
Pois bem, na matéria de hoje, Natuza resgata a mistificação da mídia que, um dia, fez de Dilma uma leitora voraz, uma scholar compenetrada, uma colecionadora de arte que acondicionava sua pinacoteca virtual num pendrive ─ a primeira “penacoteca” do mundo. Entrevistando a senhora em seu apartamento de Porto Alegre, a jornalista tem acesso à vasta biblioteca da mulher que criou um idioma só para si. A repórter se impressiona com duas estantes, repletas de livros ─ e então ficamos sabendo que, além da mandioca, Dilma continua saudando a literatura que finge conhecer. “Eu queria muito escrever um romance policial. Gosto muito. Li muito” – disse a ex que dizia que, quando criança, hesitava entre o Corpo de Bombeiros e o Corpo de Baile do Theatro Municipal.
A propósito de que Dilma escreveria, se soubesse escrever, um romance policial? Evidentemente, Dilma nunca o escreverá ─ como jamais escreveu nada, além de broncas iletradas em ministras cujo nome ela rebatizou a seu modo. E, se até hoje leu alguma coisa, Dilma certamente não absorveu nadica de nada ─ o que é raro num ser humano alfabetizado. A existência de uma devoradora de livros semi-analfabeta seria um enigma para os detetives Sherlock Holmes, Hercule Poirot e Maigret tentarem desvendar juntos – antes que a elementar Agatha Rousseff se torne concorrente deles.
Ainda do papo de Natuza Nery com Dilma: além da incomensurável, da chocante, da crescente pequenez existencial e mental da ex-presidente acidental, que da conversa resulta numa dona de casa assustadoramente medíocre para quem comandou o Palácio do Planalto, me chamou a atenção o trecho da matéria em que ela diz ter desenvolvido LER nos punhos por andar de bicicleta. Perdoem minha ignorância de não-ciclista (um dos únicos do país, presumo): segurar o guidão imóvel dá lesão de esforço repetitivo? O esforço repetitivo maior de um ciclista não é nas pernas? De qualquer modo, não deixa de ser uma metáfora cruel do impeachment: Dilma caiu pelas pedaladas assinadas com o punho.

"...Mas como lidar com a contradição que transforma um eleito pelo povo com o nosso dinheiro numa superpessoa acima da lei? "

quarta-feira, novembro 02, 2016

A igualdade é difícil 

ROBERTO DAMATTA

O GLOBO - 02/11

Temos uma aguda consciência das diferenças e dos abismos que separam e distinguem indivíduos e coletividades. Não há mais nenhum lugar inocente e sem sofrimento



Uma fábrica é uma máquina de igualdade. Seu objetivo é produzir coisas iguais, e sua reputação tem a ver com a capacidade de produzir perfeitamente o mesmo do mesmo. O problema é que, começando com o seu proprietário, a igualdade da produção em massa promove, em outros níveis, uma brutal desigualdade.

Por outro lado, é impossível não constatar a impossibilidade de produzir objetos idênticos em sociedades não industriais. Quando eu vivi com os índios apinayé, surpreendia-me o fato de todos saberem quem eram os autores dos objetos — cestas, esteiras, arcos, bordunas, flechas ou enfeites — que eu havia adquirido para o museu onde trabalhava.

O igual é o modelo do fabricado. Todos seriam iguais perante a lei e igualmente iguais perante certos bens e serviços oferecidos pelo Estado ou adquiridos por meio do dinheiro, cujo valor é — vale falar no óbvio — igual para todos. Mas não se pode esquecer do “perante”. É a lei que é igual para os diferentes entre si.

Numa sociedade cujo ideal é a igualdade, as desigualdades seriam lidas como anomalias, perversões e hóspedes não convidados. Mas nem nas sociedades tribais fundadas na família, com tecnologia produzida por seus próprios membros, existe uma igualdade concreta. Há desigualdades, mas elas são transformadas em particularidades e pertencimentos. Cada grupo interno — metades, associações, linhagens — diferencia produzindo interdependências sem as quais o sistema ficaria abalado.

Ademais, entre os apinayé os demiurgos Sol e Lua, inventaram a Humanidade atirando cabaças nas águas de um ribeirão. As cabaças afundavam e, quando voltavam à tona, estouravam, e delas saíam pessoas. Sol produziu gente sadia e bonita. Mas Lua interferiu e começou a dizer baixinho: feio, cego, surdo e assim surgiram as diferenças. Quando Sol interpelou Lua, ele replicou que um mundo sem diferenças não ia dar certo.

Eis uma concepção na qual a descontinuidade não é fruto da desobediência da criatura, mas é instituída pelos criadores. Acrescento, contudo, que antes do contato com o “civilizado”, as diferenças materiais entre os membros desta coletividade eram mínimas e que a dinâmica que os une e desune é a da filiação e da afinidade, debaixo de uma ética de reciprocidade.

No nosso caso, a questão é outra. Como diz Lévi-Strauss, nós vivemos num mundo incapaz de fidelidade a si mesmo. O vir-a-ser é o tema dominante da nossa cosmologia fundada no individualismo, no progresso e, consequentemente, num futuro no qual tudo vai (ou deveria) se resolver. Temos uma aguda consciência das diferenças e dos abismos que separam e distinguem indivíduos e coletividades. Não há mais nenhum lugar inocente e sem sofrimento. Vivemos o fim das Shangri-Lás, e ninguém sabe mais quem foi James Hilton.

A novidade de um mundo globalizado é a descoberta de que nenhuma sociedade é perfeita mais adiantada. A globalização obriga a rever utopias. As musas da modernidade — liberdade, fraternidade e igualdade — são complicadas na prática. Muita igualdade liquida a liberdade. Muita liberdade dramatiza os limites das diferenças e racionaliza a exploração humana. Se o planeta é de todos, como aceitar que alguns países tenham o poder de tudo destruir?
As musas da modernidade — liberdade, fraternidade e igualdade — são complicadas na prática. 
No Brasil, o problema é como acabar de vez com o “Você sabe com quem está falando?”, esse brasileirismo inventado como último recurso hierárquico e escravista contra a igualdade republicana que obriga a entrar na fila, ser parado por um guardinha qualquer, ser compelido a responsabilidade quando se ocupa um cargo público e — eis o escândalo dos escândalos — ser enjaulado por um crime porque a lei vale mesmo para todos, e a igualdade perante e lei acaba com os privilégios. Antes de sermos presidentes, ministros, juízes, senadores e donos de grandes empresas, somos todos cidadãos. Mas como lidar com a contradição que transforma um eleito pelo povo com o nosso dinheiro numa superpessoa acima da lei? Ontem ele pedia votos, hoje — eleito por meio de um fundo partidário! — ele acha legítimo assaltar os cofres públicos.

É desprezível essa batalha judicial (mistificada como política) para manter privilégios. Estou convencido de que o discurso quase sempre vazio que enquadra as pessoas no velho dualismo de direita e esquerda dissimula muito mal o cerne da questão: somos uma sociedade dividida entre aristocratas (ancorados no Estado) e babacas — as pessoas comuns. Os que conhecem os limites dos seus papéis sociais e, com o seu trabalho, sustentam um palacianismo kafkiano de direita e de esquerda, duro de eliminar. Somos os últimos escravos...

Roberto DaMatta é antropólogo

terça-feira, 1 de novembro de 2016

"Amigos hoje, inimigos amanhã..." / Eliane Cantanhêde


Amigos hoje, inimigos amanhã...

PSDB é o grande vitorioso, mas, se Temer
 der certo, PMDB terá candidato próprio em
 2018

Eliane Cantanhêde


O poder primeiro aglutina, depois corrói e a história é recheada de aliados que viraram inimigos, como PT e PSDB, unidos no combate à ditadura militar e adversários viscerais ao longo das muitas campanhas eleitorais e dos muitos governos pós-redemocratização. A pergunta que não quer calar é até quando vai o pacto de governabilidade entre o PMDB, que tem o governo federal, ramificação e ambição, e o PSDB, que foi o maior vitorioso das eleições municipais e é a única presença garantida na eleição para a Presidência em 2018. Esse pacto vai ou não durar até 2018?
O PSDB nasceu em 1988 de uma dissidência do PMDB de Orestes Quércia e nunca deixou de disputar as eleições presidenciais (1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014) com candidato próprio – e competitivo. O PMDB virou uma confederação estadual de partidos, sem protagonismo no Planalto e um fiel da balança entre tucanos e petistas. Ora se tornava importante para os governos do PSDB, ora para os do PT. Para onde ia o PMDB, ia o poder. Ou ao contrário: para onde ia o poder, ia o PMDB.
O Plano Real elegeu Fernando Henrique Cardoso em 1994 e garantiu ao PSDB um peso que nenhuma outra sigla teve antes, nem depois, em tempos de normalidade democrática: de 1995 a 1999, o partido acumulou a Presidência da República e os governos de São Paulo (Mário Covas), do Rio de Janeiro (Marcello Alencar) e de Minas Gerais (Eduardo Azeredo). Um verdadeiro “strike”, que nunca mais se repetiu. Enquanto o PSDB crescia “para cima”, o PMDB crescia “para os lados”, tornando-se o partido mais ramificado no País.
Por uma dessas coisas da política, o PMDB só chegou ao poder, sem intermediários, surfando na guerra entre PSDB e PT, na crise política e econômica do desastre Dilma e na implosão da imagem ética do PT, inclusive de Lula. Não há vácuo de poder. Abriu espaço, alguém entrou. E quem entrou foi o PMDB, resguardado pela Constituição e pela posição de vice de Michel Temer.
Apesar de decisivo para parir o impeachment de Fernando Collor, o PT foi o único partido que não embalou o governo Itamar Franco, mas é aquela velha história: “Quem pariu Matheus que o embale”. A alternativa do PSDB com o impeachment de Dilma foi embalar ou embalar o governo Michel Temer. Mas isso não significa um casamento perfeito, nem mesmo harmonioso. E, quanto mais próximo de 2018, mais a tensão entre tucanos e pemedebistas tende a piorar.
Há uma diferença crucial, porém, entre os dois parceiros: o PMDB não tem nenhum nome evidente para a sucessão de Temer e o PSDB tem pelo menos dois. Como se sabe, o de Geraldo Alckmin, o maior vitorioso das eleições municipais, e o de Aécio Neves, que acumula três grandes derrotas desde 2014, mas tem munição e tropa: presidente do partido, controla a máquina tucana e a maioria das bancadas no Congresso.
Nas eleições municipais, o PMDB venceu em número de prefeituras, com 1.038 em todo o País, incluindo quatro capitais, e o PSDB ganhou em 803, mas 28 estão entre as 92 com mais de 200 mil eleitores e sete delas são capitais. Vai governar 23,7% da população (um em quatro eleitores), com orçamento de R$ 158,5 bilhões. Conclusão: o PMDB pode ter vencido quantitativamente, mas o PSDB venceu qualitativamente e é hoje o partido mais forte para 2018.
O casamento é de conveniência e, com ou sem amor, nenhum dos dois tem para onde correr. O PMDB precisa do PSDB, dos seus votos no Congresso e de um certo lustre de seus quadros. E o PSDB não pode, simplesmente, bater a porta na cara do PMDB e largar Estados, empresas e desempregados na mão – ou na amargura da crise. Logo, os dois estão no mesmo barco, mas isso não é para sempre e dificilmente irá até 2018. Se Temer naufragar, o PMDB estará fora. Se navegar bem, terá candidato próprio, contra o PSDB.

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"Bandidos bancados por nós ? /

Bandidos bancados por nós?

O chamado Congresso Nacional se converteu num tremendo pau de galinheiro. E custa caríssimo aos cofres públicos.
Congresso Nacional com a Praça dos Três Poderes (Foto: Bento Viana)
Aproveito, aliás, para dar uma sugestão ao governo: se é para economizar, por que continuar mantendo o Senado e a Câmara? Basta um deles. Um pode muito bem fazer o que o outro faz – e, além disso, a roubalheira seria reduzida.
Bastava ter o Senado, que é numericamente menor e, portanto, deve ter um número menor de ladrões.
O problema é que, em vez de economizar, essa turma quer enfiar mais grana em suas contas. Nossos políticos profissionais são insaciáveis. Não foi por acaso que elegeram o meliante Cunha presidente deles.
Agora mesmo circula na Câmara projeto de um tal de Marcus Pestana, do PSDB de Minas, destinado a encher a burra dos partidos políticos. Quem pagaria? Nós, os eternos otários.
A ideia é passar anualmente três bilhões aos partidos (ou clubes de gatunos): 2% da arrecadação do imposto de renda de pessoa física.
Isto é: querem nos obrigar, por lei, a financiar um bando de vigaristas, que já vivem de meter a mão no bolso dos outros. A bancar uma corja de canalhas para que eles continuem agindo contra os reais interesses e as reais necessidades da população.
O nome do projeto é uma pérola de cinismo: Fundo de Financiamento da Democracia. Mais uma vez, é a retórica cafajeste dos políticos profissionais para tentar engabelar a sociedade brasileira.
Anteontem, aliás, também Renan Calheiros, o Réu, abriu a boca para falar de democracia. Não dá.
Renan e seus pestanas deveriam ser proibidos de pronunciar a palavra “democracia”. Toda vez que o fazem, desmoralizam a expressão. Mas, para se proibirem de falar de democracia, eles precisariam de uma ética da linguagem. E como a teriam, se não fazem questão de ética para nada?
Para ser levado a sério, o Congresso terá de acabar com o escândalo da sociedade jurídica de castas (vale dizer: dar um fim ao foro privilegiado) e com a aposentadoria especialíssima dos políticos, além de não anistiar o crime do caixa 2. No mínimo.
Outro dia, por sinal, o mesmo Renan elogiou o caráter de Cármen Lúcia. Ou seja: ele sabe o que é caráter. Se não tem, é porque não quer.
Na verdade, se o Congresso tivesse caráter, as coisas estariam andando de outro modo no Brasil.
Mas também o STF tem de apressar o passo. Mandar para a cadeia, com os bens confiscados, essa legião de larápios que suja o nome do país.
Até lá, os bandidos que financiem suas bandidagens. Não queiram nos obrigar a fazer isso.
Congresso Nacional com a Praça dos Três Poderes (Foto: Bento Viana)

Humor sério...

Sponholz: O Brasil no bolso da Odebrecht.


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

"..nem a escola é dos alunos, dado que pertence à comunidade, nem pode, qualquer fração ou facção dispor dela como bem quiser. Pretender que assim seja, para usar uma palavra da qual a oradora usa e abusa, insulta a Constituição e a inteligência de quem a ouve."


ANA JÚLIA, A MENINA SAÍDA DE UM MOLDE

por Percival Puggina. Artigo publicado em 

 Assisti ao vídeo em que essa menina, falando aos deputados estaduais do Paraná, discorre sobre os motivos das atuais invasões. Seu discurso é a síntese do que ensinam os fazedores de cabeça. Obviamente, ela não acessa o meu ou qualquer dos blogs que defendem ideias conservadoras ou liberais. Sua relação com o contraditório se exerce pela mera aplicação de rótulos. Os adjetivos que dispara - golpista, fascista, machista, homofóbico, racista - abastecem seu vocabulário como os únicos cabíveis a quem diverge do que lhe foi ensinado.
 Ela diz que não a doutrinaram e que essa acusação é um "insulto". De fato, ela não foi doutrinada, mas não pelas razões que afirma. O que fizeram com ela foi ocultação do contraditório e escamoteação de outros pontos de vista, como observou Olavo de Carvalho ao discorrer sobre o muito conhecimento e tempo necessários a uma efetiva doutrinação. Isso fica claro quando Ana Júlia fala emocionada sobre o quanto aprende a respeito do Brasil e da política nos dias de invasão. Ora, durante esse período supostamente pedagógico ela convive somente com outros invasores e com os professores que os pastoreiam. Participa, pois, de um desses eventos dos quais companheiros e camaradas emergem com fulgores de profetas que ouviram a voz do Senhor. Mas é apenas a própria voz que escutam.
 A luz dessa sabedoria não remove escamas dos olhos. Por isso, a mocinha afirma que a "escola pertence aos estudantes" e daí deduz, sem esclarecer a relação entre causa e efeito, que o grupo ao qual pertence pode destituir dessa alegada posse todos os que pensam diferente e querem aula. E quem não entendeu algo tão obscuro é homofóbico, machista, fascista, bobo e feio. Ora, nem a escola é dos alunos, dado que pertence à comunidade, nem pode, qualquer fração ou facção dispor dela como bem quiser. Pretender que assim seja, para usar uma palavra da qual a oradora usa e abusa, insulta a Constituição e a inteligência de quem a ouve.
Li que o pai da adolescente seria vinculado ao PT. Ele tem todo direito de orientar sua filha como quiser, embora esse direito não prescinda de uma conduta respeitosa em relação à liberdade dela. Já à sua escola e aos seus professores não é dado esse direito! Vem daí a Escola sem Partido. O discurso da mocinha reforça a necessidade do projeto. Ela quer escola com partido, para reproduzir o que aprendeu. Essa é uma escola que permite ser capturada, que fecha suas portas aos demais alunos, professores e famílias, em nome dos objetivos políticos que lhe prescreveram. Nem mesmo uma eleição de segundo turno para prefeito será mais relevante e democrática que a tomada do prédio por seu aparelhinho pedagógico.
O jornalista Alexandre Garcia, em recente comentário, sugeriu que cada invasor de escola indicasse, em redação de 20 linhas, suas reivindicações. Pois é, seria bom mesmo ler esses textos. Sucessivos exames do ENEM e indicadores internacionais têm mostrado o rés do chão por onde se arrastam as redações de nossos estudantes. Dezenas de milhares de professores têm testemunhos a dar sobre o desinteresse e a indisciplina dos alunos, mais dedicados a gozar o presente do que a construir o futuro. Empenhados em bagunçar a escola e a aula para, supostamente, dar um jeito o mundo. Ademais, tais redações iriam revelar o caráter orquestrado e unitário dessas invasões.
O discurso, que já conta 400 mil acessos no YouTube, é a voz de todos os invasores. A menina parece, como tantos outros, saída de um molde. Crê que a discordância autoriza a grosseria e a causa justifica a desonestidade intelectual. Permite-se - suprema desfaçatez - jogar no colo dos deputados o cadáver do estudante morto a facadas por um colega, após uso de drogas, no interior de uma escola ocupada! "Suas mãos estão sujas de sangue", esguichou ela sobre os parlamentares, como se fizesse acusação plausível e não promovesse evidente transferência de responsabilidades.
A simpatia pela militantezinha e sua causa, expressa em veículos de comunicação, é - para falar como ela - um insulto ao público. Quem disse que a tolerância é sempre virtuosa?

Conselho gourmet de Pondé : seja simples ...arroz com feijão, ovos estrelados e farofa... e talvez uma galinha empanada e pronto !

Gente 'cult' tende a ser chata e afetada em suas opiniões

 LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 31/10

O mundo pós-moderno em que vivemos é um prato cheio para frescuras. A palavra "frescura" pode soar um pouco estranha para quem não possui um repertório um pouco mais sofisticado em filosofia. Se isso acontece com "frescura", quanto mais com a palavra "desconstruído", que tem em sua história gente chiquérrima, como o filósofo francês Jacques Derrida (1930-2004). Quanto a "pós-moderno", então, nem me fale. Nada é mais chique do que algo ser pós-moderno. Voltaremos já ao que seria "pós-moderno".

Vamos por partes. Dizer que algo é uma "frescura" implica dizer que ela tem um frescor que lhe é peculiar, um certo tom de "novo", "avantgardiste", diria alguém versado em teoria da arte moderna. Portanto, sua raiz está no âmbito da natureza e da arte, ao mesmo tempo! Talvez, lá atrás, encontremos algum fenômeno a ver com mudança de estação do ano. Tal conceito também afeta qualquer teoria da moda.

Um detalhe: "frescura" sempre carrega alguma nuance de afetação. Quando algo ou alguém é "fresco", quer dizer que ele ou ela é um tanto exagerado (afetado) nas suas ações. Os mais velhos diriam: uma nota acima do necessário.


Na sua evolução semântica ("evolução semântica" quer dizer mudança de significado de uma palavra ao longo do tempo), a palavra "frescura" acabou assumindo um sentido próximo a "wannabe". O que quer dizer isso? Simples: "(to) want to be", em inglês, significa "querer ser algo","wannabe" significa "querer ser algo chique que não se é de verdade". Tipo gente que queria ser culta e por isso frequenta lugares "cult" para todo mundo pensar que é culta. Sacou? Conhece alguém assim? Aposto que sim. Gente "cult" tende a ser chata e afetada em suas opiniões.

E "descontruída"? Essa tem a ver com nossa época pós-moderna. Filósofos franceses chiques do final do século 20 se puseram a dizer (Jean-François Lyotard entre eles) que nossa época havia se cansado de "grandes narrativas". Em língua dos mortais, isso quer dizer ficar de saco cheio de muita teoria complicada e que é preciso ler muito para entender e, por isso mesmo, gastar o cérebro demais. Para os pós-modernos tudo é relativo e Shakespeare é igual a alguém batendo tambor repetidas vezes em algum recanto perdido do mundo.

Os pós-modernos começam então a misturar coisas que normalmente não iriam juntas, como bolsa Prada com pijamas no Iguatemi, paletós caros com sandálias Havaianas no Copacabana Palace e, assim, desconstruir tudo o que foi tomado como evidência antes deles. Daí chegamos a "frescuras desconstruídas" de nossa conversa de hoje.

Uma coisa que se adora desconstruir hoje em dia é a comida. Quando todo mundo acha que pode fazer comida gourmet, é melhor você se ater à comida da sua avó. Vou dar um exemplo real que me foi contado por uma amiga, recentemente. Olha só que primor de frescura (comida fresca que quer parecer inteligente e chique).

Um restaurante "top" na França. Num dado momento, é servido a ela uma "espuminha" com uma coisa escura e dura no meio do prato, completamente indecifrável. Mulher educada e com trânsito no mundo sofisticado, fica perplexa diante da dificuldade de identificar tamanha "desconstrução" do que seria muito banal, como carne, peixe, salada ou algo semelhante. Na sua modéstia típica de quem é de fato elegante, pergunta para o inteligente chef o que viria a ser aquilo.

Surpresa! Você não imaginaria a resposta, assumindo que você não seja uma dessas pessoas frescas que acham que comida deve ser inteligente.

A revelação máxima: a coisa escura era uma pedra. Pedra com espuminha. A desconstrução máxima do que seria comida: uma pedra. Nenhum animal come pedra. Mas humanos desconstruídos, sim. Hoje em dia está na moda fazer espuminha de tudo na comida. De todas as cores: vermelho, amarelo, azul, verde, marrom...

A ideia dessa comida desconstruída é que você chupe a pedra molhando ela na espuminha até secar o prato e a pedra. Alguém poderia se perguntar qual o limite da desconstrução gourmet. Que tal baratas africanas com espuminha de fezes seca?

O Eleitor desencantado... / Veja

Eleição 2016 escancara desgosto do brasileiro com classe política | VEJA.com



Eleição 2016 escancara desgosto do brasileiro com classe política

Número de votos brancos, nulos e abstenções deixa claro que o eleitor se desencantou. No Rio, não-voto superou eleitores de Freix

Por Da redação

No Rio de Janeiro, o candidato do Psol, Marcelo Freixo, obteve menos votos do que a soma de brancos, nulos e abstenções: 40,6% ante 46,93%. Em Fortaleza, os eleitores que não optaram por nenhum dos dois candidatos poderiam também ter alterado o resultado da disputa: o atual prefeito, Roberto Cláudio (PDT), foi reeleito com 53,57% dos votos, contra 46,43% do deputado estadual Capitão Wagner (PR) – uma diferença de 90.396 dos votos. Já brancos (26.453) e nulos (83.991) somaram 110.444 votos. Em Cuiabá (MT), o número também chamou atenção: 41,03% dos eleitores não votaram. O quadro se repetiu pelo país, fazendo desta a eleição com número recorde de votos nulos, em branco e abstenções. Em 2016, o eleitor deixou clara como nunca sua insatisfação com a classe política.
Ao todo, 21,55% dos eleitores se abstiveram em todo o país, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), uma alta de 2 pontos porcentuais em relação a 2012. Em todo o país, 25,8 milhões de eleitores (78,45%) compareceram às urnas, de um total de 32,9 milhões que estavam aptos a votar. Ou seja, cerca de 7 milhões não votaram. Já a somatória de brancos e nulos até as 21h35 chegava a 16,52%. Em seis dos oito municípios do Rio de Janeiro onde houve segundo turno, os votos brancos, nulos e abstenções somaram mais eleitores do que os candidatos vitoriosos. A situação ocorreu na capital e em Niterói, São Gonçalo, Belford Roxo, Duque de Caxias e Petrópolis. As exceções foram Volta Redonda e Nova Iguaçu.
Mais cedo, o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes disse que índice enfraquece o processo eleitoral. “Se por um lado ele pode refletir a insatisfação da população contra a classe política, por outro enfraquece e debilita as pessoas que recebem os mandatos, especialmente na hora da tomada de decisão em um momento delicado como o atual”. E completou:  “Claro que não quero desprezar o índice de abstenção. Ele é significativo e não é difícil atribuí-lo a um certo desencanto, uma certa relutância de se ver representado no quadro político que aí está. E isto a gente houve até nos discurso dos jovens”.
No primeiro turno, em nove capitais, o número de votos brancos, nulos e de eleitores que não compareceram foi maior do que do candidato que ficou em primeiro lugar. A situação aconteceu nos dois maiores colégios eleitorais do país: São Paulo e Rio de Janeiro.

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