Postagem em destaque

Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

"Lula, um leão rouco, sem dentes nem garras" / José Nêumanne

Lula, um leão rouco, sem dentes nem garras - 

JOSÉ NÊUMANNE

ESTADÃO - 05/10

A maior vítima da violência do PT será o cidadão, que não terá como melhorar de vida
O profeta Lula estava particularmente inspirado quando foi votar para prefeito em São Bernardo do Campo, onde mora. “O PT vai surpreender nesta eleição”, previu com precisão instantânea. Pois seu partido surpreendeu mesmo, ao cair de terceiro em número de prefeituras em 2012 para décimo lugar neste pleito. “Quanto mais ódio se estimula, mais amor se cria a favor”, disse, em forma de oração. “Só há um jeito de eles tentarem me parar: evitar que eu ande pelo Brasil”, ameaçou o santo guerreiro contra o dragão da maldade da burguesia infame. O loroteiro está de volta, olê, olê, olá!

Não tardou para as urnas o estarrecerem. Nem precisou sair de casa: Orlando Morando (PSDB) e Alex Manente (PPS) disputam o segundo turno em São Bernardo. O companheiro Tarcísio Secoli, favorito do prefeito Luiz Marinho, seu sucessor no Sindicato dos Metalúrgicos, do qual Lula ascendeu para a glória política, ficou em terceiro, com menos de um quarto dos votos válidos: 22,6%. Em termos proporcionais, superou o poste que ele elegeu em São Paulo em 2012: Fernando Haddad protagonizou o maior vexame da história do partido ao ser massacrado pelo tucano João Doria, que o derrotou no primeiro turno por 53,3% a 16,7%. Em gíria de turfe, Haddad nem pagou placê.

E no dia em que constatou que as eleições “consolidam a democracia no Brasil”, Lula deu uma desculpa esfarrapada para o fiasco histórico: “A imprensa está em guerra com o PT há sete anos”. Para ele, “as pessoas se enganam quando (pensam que) uma TV, um jornal, pode tudo. Não pode. O povo é que pode tudo”. No caso, não lhe falta razão: numa democracia, como reza a Constituição da República, todo o poder emana do povo e para ele é exercido. As urnas não falam, mas o povo fala nelas. E a lorota de Lula tornou-se senha para a violência: mais tarde, constatada a derrota de Haddad, militantes petistas impediram que a repórter Andréia Sadi, da GloboNews, concluísse um boletim ao vivo na sede do PT, no centro de São Paulo.

Um tsunami de votos soterrou o partido que se diz da classe operária, mas passou 13 anos, 4 meses e 12 dias usando o poder federal para atuar como despachante de empreiteiros e amigos empresários emergentes que, em troca de contratos superfaturados, engordaram os cofres dos petistas e do PT em proporções nunca ousadas antes. Até recentemente, ingênuos, como o autor destas linhas, imaginavam que havia apenas uma corrente de escândalos de corrupção – Santo André, mensalão, petrolão, etc. –, conectados e consequentes um do outro. Agora é possível perceber que não é só isso. Trata-se, sim, de um assalto planejado, organizado e realizado para esvaziar todos os cofres públicos ao alcance de suas mãos.

A 53.ª (Arquivo X) e a 54.ª (Ormetà) fases da Operação Lava Jato trouxeram à tona revelações impressionantes sobre a gestão dos desgovernos Lula e Dilma. Nunca antes na História deste país um chefe da Casa Civil respondera por violações do Código Penal. José Dirceu, “capitão” do time de Lula em seu primeiro governo, está preso em Curitiba, acusado de haver delinquido quando cumpria pena na Papuda, em Brasília, condenado por corrupção e outros crimes pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no caso mensalão. Antônio Palocci Filho, primeira eminência parda de Dilma, após ter sobrevivido a 19 processos criminais no mesmo STF e ter violado o sigilo bancário de um pobre trabalhador, o caseiro Francenildo dos Santos Costa, foi recolhido ao xadrez, acusado de ter pago dívidas de campanha da chefe com dinheiro sujo.

Gleisi Hoffmann, ex-chefa da Casa Civil e senadora (PT-PR), é acusada de ter recebido R$ 1 milhão de propina da Petrobrás para comprar votos. Acusação igual é feita ao marido dela, Paulo Bernardo, suspeito de haver furtado R$ 7 milhões em prestações mensais de funcionários do Ministério do Planejamento que requeriam empréstimos consignados.

Guido Mantega, preso e solto pelo juiz Sergio Moro, foi outro ex-ministro do Planejamento a protagonizar processo criminal, em que foi delatado por Eike Batista, “bom burguês” escalado por Lula entre “campeões mundiais” do socialismo de compadrio, de havê-lo achacado no gabinete do Ministério da Fazenda. Palocci também foi ministro da Fazenda de Lula, que se diz o mais “honesto dos seres humanos”. Enquanto Dilma se põe acima de suspeitas por não ter contas bancárias no exterior.

No palanque, a esquerda insistiu que Dilma foi usurpada por Michel Temer, o vice duas vezes eleito com ela, no impeachment, cujo rito legal foi cumprido à exaustão. Em São Paulo, Luiza Erundina, do PSOL, e, no Rio, Jandira Feghali, do PCdoB, pediram votos repetindo essa patranha de consolar devoto. A ex-prefeita teve 3,2% dos votos e a carioca, 3,3%.
Fernando Haddad, contrariando o comportamento belicoso de seus apoiadores, cumprimentou João Doria pela vitória. No entanto, a agressão à repórter de televisão não foi, como devia ter sido, evitada por seu candidato a vice, Gabriel Chalita, nem por seu antigo colega de Ministério de Lula, Alexandre Padilha, que, conforme depoimento do colunista do Globo Jorge Bastos Moreno, se mantiveram impassíveis diante do lamentável fato. Assim, deram o sinal de que a oposição do PT e aliados de esquerda não se limitará à irresponsável tentativa de impedir que sejam feitos os ajustes sem os quais o Brasil não conseguirá recuperar-se da crise provocada pela longa duração do próprio reinado na República.

O governo de Temer, também cúmplice no desmantelamento do Estado brasileiro nas gestões petistas, sofrerá boicote impiedoso. Mas a maior vítima será, como sempre, o cidadão, que amarga desemprego, inflação e quebradeira. E se verá às voltas com vândalos nas ruas queimando carros e quebrando vidraças. O PT não é cachorro morto e seu chefão, Lula, ainda será o leão rouco que ruge mesmo tendo perdido dentes e garras.

*Jornalista, poeta e escritor

Uma eleição para um eleitorado desconfiado, sem motivação / Zuenir Ventura

Como reverter o desencanto?

Não será recorrendo ao evangelho ou ao ‘Fora Temer’ que Crivella e Freixo resolverão nossas mazelas
Marcelo Crivella e Marcelo Freixo (Foto: Arquivo Google)
Zuenir Ventura, O Globo
Serão quatro semanas decisivas para os próximos quatro anos de uma cidade cujos problemas dois Marcelos dirão como pretendem resolver, um pela direita e o outro pela esquerda. Mas como não se governa com bandeiras — nem evangélica nem ideológica — e sim com programas, o novo prefeito terá que ter a humildade e a competência administrativa de um síndico, não a retórica de um parlamentar.
Crivella, com 27,7%, e Freixo, com 18,2%, devem estar cheios de si com a vitória que obtiveram sobre nove adversários cada um. Só que a soma de seus votos por pouco não é suplantada pelos não votos, ou seja, por 42,4% dos eleitores que não votaram ou votaram em branco e nulo. Como reverter isso?
Entre os dois há em comum a declarada recusa ao PMDB, pelo menos por enquanto, já que o eleito terá que se relacionar com o presidente e com o governador, ambos do partido. No discurso da vitória, Freixo chegou a classificar a agremiação de “golpista”. Mas não sei se muitos dos que votaram nele não teriam preferido ouvi-lo falar do seu plano de governo, em vez de ficar repetindo que é contra o “golpe” e que sua vitória é “representativa” de sua posição. Será?
Como se explica então o desempenho de Crivella, que foi ministro de Dilma e votou a favor do impeachment? E o que isso tem a ver com o Rio? Não será recorrendo ao evangelho ou ao “Fora Temer” que resolverão nossas mazelas. É verdade que já no dia seguinte eles amanheceram mais realistas e voltados para o campo da centro-direita.
Crivella, mesmo mantendo “imensas restrições” às lideranças do PMDB, vai procurar vereadores do partido como Rosa Fernandes e Jairinho. E, claro, pretende conquistar os eleitores de Osorio, Indio e Bolsonaro, que ele acredita terem mais afinidade com suas ideias. Freixo, por sua vez, mostrou-se disposto a conversar com o candidato do PSDB, Carlos Osorio, e com Indio, do PSD.
“Segundo turno não é alianças”, disse, “é apoio”. Ele acredita que pode conquistar até parte dos votos de Flávio Bolsonaro, que se situa no lado oposto. O candidato da esquerda acha que há um voto do candidato mais à direita “também ético, não só ideológico”. Além disso, os dois Marcelos vão tentar reciclar aspectos negativos de suas imagens — Crivella, descolando-a da igreja do bispo Macedo; e Freixo, de um certo anarquismo black bloc.
Em suma, vai ser uma campanha polarizada e cheia de contradições, e uma “nova eleição”, como se diz do segundo turno. As estratégias serão diferentes, mas o alvo é o mesmo: 2,4 milhões de eleitores, dos quais mais de 1 milhão não compareceram às urnas ou desperdiçaram seu voto no primeiro turno, expressando de uma maneira ou de outra seu desinteresse ou desencanto pela política.
Marcelo Crivella e Marcelo Freixo (Foto: Arquivo Google)
Zuenir Ventura é jornalista

Charge de Sponholz no blog de Aluizio Amorim

Sponhoz: Brasil de olho no STF!


MPB na ABL: Leila Pinheiro | voz e piano

Leila Pinheiro canta na ABL

Notícias terríveis de Brasília... / coluna de Cláudio Humberto

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“O que o Brasil prefere? Controle de gastos ou recriação da CPMF?”
Rodrigo Maia, presidente da Câmara, ao defender a PEC do limite de gastos públicos


CERCA DE 66,8 MILHÕES VOTARAM EM ‘GOLPISTAS’


A alegação de “golpe”, adotada pelo PT, foi desmoralizada pela própria realização de eleições livres no País, e pela vontade das urnas: a votação de candidatos do PT representou apenas cerca de 10% dos mais de 67 milhões de brasileiros que votaram em candidatos “golpistas”, claramente favoráveis ao impeachment de Dilma. O PT teve 6,8 milhões de votos, um terço do seu desempenho eleitoral de 2012.

GOLEADA HUMILHANTE


Partidos que os petistas acusam de “golpistas”, PSDB e PMDB elegeram juntos 1.821 prefeitos, contra apenas 256 do PT.

VOTOS DE DILMA

Em 2014, a chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) obteve 54,5 milhões de votos. Aécio Neves (PSDB), 51 milhões.

CAIU DE PATAMAR

O PT perdeu mais de 400 prefeituras, dois terços do que havia conquistado há 4 anos, incluindo seus maiores redutos em São Paulo. 

NA PONTA DO LÁPIS

O PT perdeu 11,4 milhões de votos em relação a 2012, quando foi o mais votado. Ficou atrás do PSB e até do PSD, em 2016.

GILMAR ESPERA QUE NÃO VINGUE ELEIÇÃO DE BANDIDO

A esperança do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, como a de qualquer cidadão, é que se torne definitiva a prisão ainda preventiva do bandido Ubiraci Rocha, vulgo “Bira”. É a única maneira de enquadrar na Lei Ficha Limpa o bandido que responde por homicídios e tráfico de drogas. Ele saiu da cadeia, algemado, para votar e ser eleito vereador em Catolé do Rocha (PB).

É UMA VERGONHA

Envergonha os brasileiros e constrange a Justiça Eleitoral a eleição de “Bira”, que além de traficante, integra um grupo de extermínio.

SÓ NO BRASIL

A eleição do bandido “Bira” chama atenção para a legislação demagógica que assegura o direito de voto no sistema prisional.

PALANQUE NA CADEIA

Com o direito de voto dos presos, a campanha eleitoral leva candidatos a assumir “compromissos” com bandidos. 

A OFENSA ESTAVA NA FOTO

Não foi a cândida frase da atriz Mônica Iozzi criticando o habeas corpus ao médico Roger Abdelmassih que a condenou. O juiz Giordano Costa concluiu que a dignidade, a honra e a imagem de Gilmar Mendes foram violadas pela foto que ela publicou do ministro com a tarja “cúmplice”.

COMEMORAÇÃO DISCRETA

A derrota de candidatos apoiados por Renan Calheiros em Alagoas, no último domingo, foi recebida com incontida satisfação pelo Palácio do Planalto. “O presidente sorriu por dentro”, fofoca um ministro da casa.

DEU CERTO

Foram bem-sucedidas as manobras protelatórias da defesa de Renan Calheiros: somente 9 anos depois, ele será julgado no caso da propina da empreiteira Mendes Júnior, mas várias acusações prescreveram. O caso Eduardo Cunha se arrastou por “apenas”, vê-se agora, 9 meses.

CORAÇÃO VALENTE

Após se colocar contra o impeachment de Dilma, o PDT faz doce, mas está louco para aderir ao governo Michel Temer. O partido já não se habitua a permanecer distante das boquinhas da era petista.

NA ATIVA

O ex-presidente José Sarney continua com prestígio no meio político. Ele realiza reuniões diárias em escritório, em Brasília. Uma servidora anda impressionada: “Tem dia que ele atende a 25 pessoas”.

FRACASSO

Os diplomatas não participaram da tentativa de greve de funcionários do Itamaraty, produto de autêntica “forçação de barra” de sindicalistas ligados ao PT. O fracasso do movimento foi quase vexatório.

QUEDA ACENTUADA

O polo de Manaus faturou R$40,4 bilhões de janeiro a julho, numa queda de 8,4% em relação ao faturamento no mesmo período de 2015. Em dólares, a retração foi de 22,7%, segundo dados da Suframa. 

OVO DA SERPENTE

A conselheira do Tribunal de Contas do Tocantins, Doris de Miranda Coutinho, lança o livro O Ovo da Serpente (Ed. Fórum), que trata da corrupção no Brasil e a relevância e frustração dos órgãos de controle.

PERGUNTA LÁ DO FUNDÃO

Se o Brasil parece estar saindo do fundo do poço, conforme observou o FMI, quer dizer então que o governo Dilma era a lama?

SÓ REZANDO

Nomeado ministro da Fazenda de Itamar Franco, o pernambucano Gustavo Krause encontrou Miguel Arraes (PSB-PE) no dia da posse, no Palácio do Planalto:

- Vamos precisar de todo o apoio do partido... - cochichou Krause.

Arraes puxou uma baforada do seu cachimbo, olhou fixamente para o ex-prefeito do Recife, pefelista histórico, e devolveu:

- Gustavo, o que posso fazer é rezar por você...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Não reclame do Big Brother... Já existe o banheiro transparente ! / João Pereira Coutinho

terça-feira, outubro 04, 2016

A civilização só existe pela recusa da transparência totalitária - 

JOÃO PEREIRA COUTINHOResultado de imagem para imagem de banheiro transparente

FOLHA DE SP - 04/10

Li há tempos que já existem banheiros transparentes na via pública. Não brinco. Seria na Ásia? Na China? Talvez, talvez. Mas o meu ponto é outro: qual é o problema de termos um vaso sanitário para uso (nosso) e contemplação (dos outros)?
Os moralistas dirão: é falta de pudor. Ou, melhor ainda, é uma redução da nossa humanidade ao estado mais animalesco. Concordo. Mas os moralistas não entendem que vivemos na "sociedade da transparência"?

Uso essa expressão porque ela é o título de um ensaio –mais um, primoroso– do filósofo Byung-Chul Han. E, a páginas tantas, o professor Han cita Jean-Jacques Rousseau (quem mais?). Escrevia Rousseau as palavras que se seguem: "Só um mandamento da moral pode suplantar todos os outros, a saber, este: nunca faças nem digas seja o que for que o mundo inteiro não possa escutar."

E conclui o genebrino, em antecipação do banheiro transparente: "Eu, pelo meu lado, sempre considerei como sendo o mais digno de apreço de entre os homens esse romano cujo desejo era que a sua casa estivesse construída de maneira a poder ver-se tudo o que nela se passava."

As palavras de Rousseau fazem parte do seu particular programa filosófico: uma crítica radical às mentiras da "civilização" –e uma apologia da vida "autêntica" que existiria no estado da natureza.

Sim, eu sei: Rousseau nunca defendeu um regresso à selva. Mas as suas propostas transportam ainda o aroma selvático de um tempo em que o homem não precisava de "artifícios" (como portas opacas ou papel higiênico, imagino eu) para conhecer a felicidade pura.

Como relembra Byung-Chul Han, Rousseau tinha uma preferência por cidades pequenas, onde "cada um está sempre sob os olhos do público, o censor nato dos costumes dos outros" e onde "a polícia exerce uma vigilância fácil sobre todos".
Arrepiado, leitor? Não esteja. Se o banheiro transparente ainda é um exclusivo asiático, o Ocidente já cultiva há muito os seus próprios banheiros transparentes. Basta olhar para as "redes sociais", onde a maioria gosta de expor a intimidade com a mesma naturalidade com que um animal defeca no mato.

A esse respeito, recordo sempre um amigo que me dizia ter cortado relações com um cunhado porque ele publicara as fotos do filho bebê no Facebook. Fotos do bebê vestido, despido; brincando, dormindo, tomando banho; não sei se havia um penico no portfólio, mas você entende a ideia. O meu amigo considerava o gesto aberrante; o familiar discordava e, mais, nem percebia onde estava o erro.

O nosso mundo é o mundo sonhado por Rousseau. "A polícia exerce uma vigilância oficial sobre todos?" Afirmativo. Vivemos em democracia. Mas o Estado, pelos usos e abusos da tecnologia, sabe mais sobre os cidadãos do que em qualquer outra era histórica. Sabe quanto você ganha ou gasta; com quem vive, com quem fala; para onde viaja, onde fica; e, nas matérias mais íntimas, não é preciso uma polícia política. O cidadão revela voluntariamente o que sobra da sua existência.
Imagino um ex-agente da Pide portuguesa ou da KGB soviética a suspirar de nostalgia: "Tivemos tanto trabalho com vigilâncias, grampos, torturas –e agora tudo isso é grátis!"

Mas não é apenas o Estado que vive dentro do nosso banheiro transparente. "Cada um está sempre sob os olhos do público, o censor nato dos costumes dos outros"?
Afirmativo novamente. Como escreve Byung-Chul Han, a "sociedade da transparência" consegue a proeza de nos transformar em seres vigiados e vigilantes ao mesmo tempo. Não apenas por uma autoridade externa –um Big Brother clássico. Mas porque esse Big Brother, agora, somos nós.

"E qual é o problema?", pergunta o leitor que gosta de publicar fotos dos filhos no Facebook.
O problema é que a nossa civilização só existe pela recusa da transparência totalitária. "A arte é a natureza do homem", dizia Burke.

Traduzindo: aquilo que nos separa dos animais é o artifício, as convenções, até as repressões. É desse artifício que brota a arte, o conhecimento, a sedução, a paz possível.

E é também por causa dessa "cortina" que nos podemos retirar do mundo para dar descanso à vida: a vida que pensa, sente, imagina, planifica.

Rousseau escrevia que o luxo da civilização corrompia o homem.

A "sociedade da transparência" considera que a civilização já é um luxo. O futuro dos banheiros transparentes não terá nem civilização, nem luxo, nem homens.

Exemplo de desrespeito a vulneráveis...



Artigos do Puggina

Voltar para listagem

JÁ QUE FALARAM EM BESTAS

por Percival Puggina. Artigo publicado em 
"Pro grego, o pai de família, esse que cuida de tudo, da economia, ele chama despotes. Ele é o déspota. É por isso que quando os gregos inventam a política, a primeira coisa que eles fazem é seguir o espaço privado da família despótica. O pai de família e a mãe é a mesma coisa. Isso que nós entendemos que é o pai, a mãe e os filhos, e que tem que acrescentar avô e avó, tio e tia, primo e prima, isso é uma invenção do capitalismo, no final do século XVIII, durante o século XIX. Então tem data esse tipo de família, chamada família conjugal. Como a família restrita tem quase menos de dois séculos, um século e pouco. É recentíssimo. É por isso que é um assunto divertido os caras fazem barulho defendendo a família como uma instituição natural, eterna. Sabe, são umas bestas". ( Esse trecho da palestra da socióloga Marilena Chauí a estudantes do Colégio Oswald de Andrade, em SP, pode ser assistido aqui).

É tão descosturada a fala da socióloga petista que fica difícil entender várias coisas: 1ª) como uma escola convida uma pessoa tão leviana e enredada em conceitos para fazer palestras a adolescentes; 2ª) como a academia brasileira chegou a nível tão ínfimo na capacidade de expressão; 3ª) que diabo, mesmo, foi isso que ela disse?
No entanto, assim como não sei exatamente o que ela disse nesse português inepto, eu sei onde ela quer chegar. Chauí repetiu, muito mal, um discurso marxista concebido para abalar os fundamentos da instituição familiar, condição indispensável para construir a prevalência do Estado sobre tudo e todos. Os países comunistas debilitam a família a ponto de estimular os filhos a denunciarem os pais por conduta antirrevolucionária. (Na Coreia do Norte ainda hoje é assim, conforme descrito por Shin Dong-hyuk no impressionante best-seller mundial "Fuga do Campo 14").

No meu livro "Cuba, a tragédia da utopia" há bons relatos, também, sobre os esforços publicitários da revolução cubana no sentido de superar essa restrição das famílias ao comunismo. Como muitas estavam cientes e informadas sobre o que acontecia a esse respeito na URSS, o governo se obrigou a uma insistente campanha para afirmar que não faria exatamente aquilo que estava fazendo ao separar os filhos dos pais em "projetos educacionais".
Assim, quando se considera a relação umbilical entre o PT e sua socióloga, quando se tem presente o verdadeiro baião de dois que ela e o partido dançam na mesma cadência ideológica, percebe-se a coerência entre o discurso da uspiana e a prática dos companheiros alçados a posições de influência na nomenclatura do Estado. Afinal, em que momento se pôde observar sinal de valorização da instituição familiar nas práticas pedagógicas dos sucessivos governos petistas? Onde a família conjugal mereceu zelo e teve respeito a responsabilidade dos pais na formação moral dos filhos?

Na cabeça dos que se habituaram a manejar as peças no tabuleiro da educação brasileira, os pais de família são déspotas. Quem, como eu, defende a instituição familiar é uma besta. E quem protege os filhos do suposto despotismo paterno é um libertador. Em tal delírio, caberia ao Estado a generosa e democrática tarefa de prover liberdade e justiça. Quando os aparelhos instalados no sistema de ensino perderam parte de seu poder de mando, os agentes da revolução surtaram de vez. Só alguém muito besta dirá que não precisa acautelar-se em relação a essas ideias, indivíduos e organizações.

"A descoberta de petróleo no pré-sal do Albacora reforça a hipótese de que ela é a bacia original,,," / no blog de Roberto Moraes

terça-feira, outubro 04, 2016/ no 


A descoberta de petróleo no pré-sal do Albacora reforça a hipótese de que ela é a bacia original

A descoberta do pré-sal no campo de Albacora, depois de já ter ocorrido no campo de Marlim, ambos na Bacia de Campos, reforça a hipótese de que ela seria, na verdade, a bacia original e não o inverso.

Sobre esta nova descoberta estima-se que o petróleo anterior seria aquele que teria vazado e atravessado o selante de sal para chegar à camada de pós-sal que é aquele mais próximo à linha d´água - e de menor profundidade e mais próximo ao continente - como se havia descoberto há 42 anos (1984) na bacia que na ocasião ganhou o nome de Campos, apesar de ser mais próximo de Macaé.

Esta hipótese (desconfiança) é antiga entre os geólogos que trabalharam e trabalham nas equipes de sondagem e estimativas sobre reservas de poços de petróleo no mar.

Se a hipótese se confirmar como tese, a ideia em relação à Bacia de Campos e às reservas de petróleo brasileira ganham ainda e muito mais relevância e podem reforçar também as interpretações geopolíticas que envolvem o Brasil, como temos insistido aqui no blog e em outros espaços de debates.

Hoje, a Bacia de Campos produz 1,6 milhão de barris por dia, ou 55% do total de 2,9 milhões de barris diários produzido no Brasil, pela Petrobras – cerca de 90% - e 10% somado da produção das demais empresas petroleiras.

No pré-sal de Albacora, a Petrobras já teria perfurado 5 poços. Foi nesta última perfuração que a estatal chegou a 4.600 metros de profundidade - concluída em junho último – e encontrou uma coluna de 45 metros de extensão e cerca de 500 metros de espessura, com "óleo leve de boa qualidade e com estimativa de vazão média de 15 mil barris".

A Petrobras está se organizando para fazer o primeiro Teste de Longa Duração (TLD) que é aquele que confirmam o volume das reservas que passam a ser denominadas de "provadas".
Assim, a Petrobras obedecendo a legislação já comunicou o feito à Agência Nacional de Petróleo (ANP). E empresa atesta que está é a maior das descobertas já feitas no pré-sal na Bacia de Campos tradicional reserva no pós-sal.

Outra grande notícia é que a descoberta no pré-sal do Albacora permitirá uma rápida preparação para a produção de petróleo, considerando que o campo já opera no pós-sal com duas plataformas.

A notícia ruim para os municípios da região, mas boa para todos os demais municípios brasileiros é que os royalties e as participações espaciais (PE) deste reservatório - no pré-sal do campo de Albacora - não reverterão em receitas - para estes municípios, antes chamados de produtores por estarem no litoral, na direção das projeções das paralelas e ortogonais dos extremos do continente rebatido sobre o mar, o ambiente offshore.

A maior comemoração deve estar sendo feita pelos controladores do Porto do Açu. Esta descoberta que deve orientar outras aumentam a potencialidade deste terminal portuário, já com base de apoio às explorações offshore montadas e com aumento paulatino de atuação.

Assim, o fato também expande o que tenho denominado em meus estudos do Circuito Espacial de Produção do Petróleo na direção de Macaé para SJB até o Açu. Veja mapa abaixo.> (acima)

Resta saber se a nova direção da Petrobras se interessará em produzir e alocar este novo ativo ao seu rol, ou se poderá entrega-los como fez com o campo de Carcará, também na reserva do Pré-sal, só que da Bacia de Santos, vendido recentemente à norueguesa estatal, Statoil. 

Assim, volto a insistir como fiz na postagem, ontem, sobre o assunto aqui no blog: a descoberta do pré-sal no litoral brasileiro já é a maior fronteira de petróleo da última década no mundo e deverá permanecer e ampliar por mais uma ou duas décadas. Entregar esta joia da coroa é mais que crime de lesa-pátria!


"As eleições provaram que o Brasil quer se arejar " // Valenitina de Botas

Valentina de Botas: 

Como cerzir um país?

As eleições provaram que o Brasil quer se arejar 

Por: Augusto Nunes  
Tenho parentes que trabalham na rede municipal de ensino de São Paulo que me contam que a administração do PT questiona a separação dos banheiros entre meninos e meninas nas escolas públicas da cidade. Uma divisão que, no mundo cretino dessa gente, direciona a sexualidade das crianças – dos meninos para serem meninos, e das meninas para serem meninas. Outra das brutalidades burguesas, patriarcais, capitalistas, blablabla. O fim absurdo da separação é apoiada por grande parte dos professores e por toda a burocracia da Secretaria Municipal de viés ainda mais à esquerda do PT.
São Paulo tem 466 anos, Fernando Haddad, o poste que Lula conseguiu instalar em São Paulo com financiamento do Petrolão segundo a Lava Jato, degradou a cidade por 4 anos, com a mais brutal má gestão e equívocos celebrados pelo eixo PUC-USP-Vila Madalena e adjacências socioideológicas. Mas o que são 4 anos em 466? Muita coisa, pois não moramos num país, mas numa cidade. É onde se opera o cotidiano, onde tudo se particulariza e se encontra. É nela que nossos filhos começam a frequentar a escola e fazem os primeiros amigos, é nela que vamos ao cinema, ao restaurante preferido, àquela mostra de brinquedos antigos, ao mecânico de confiança. Ficam na cidade aquele prédio histórico, aquele parque com uma espécie rara de flor, o bar da moda e aquela livraria charmosa que queremos mostrar a amigos e parentes vindos de fora para nos visitar: a cidade é real como o “imaginário daquilo que imaginamos que somos”; o país é quase abstração; e, se ambos se transformam no tempo como tudo o mais, é na cidade que o tempo se revela a cada instante.
Publicidade
Desafio os artistas; os humoristas-a-favor de ladrão; as castas privilegiadas e ideologicamente dogmáticas encasteladas nas universidades e protegidas da crise por integrarem os grupos privilegiados do funcionalismo público do Estado patrimonial; os descolados-tipo-bacanas que ainda acham chique ser de esquerda, enfim, desafio toda essa gente que ainda cacareja o “fora, Temer” a encontrar apenas um pai e uma mãe com filhos até 14 anos (para ficar no limite de idade da alçada da prefeitura), habitantes do mundo exterior ao da pose-tipo-assim-descolada-esquerda-chique, favoráveis ao fim da separação dos banheiros nas escolas públicas.
Não só a Lava Jato e a crise econômica inédita levaram o eleitor a praticamente abolir o PT das prefeituras do país nestas eleições inesquecíveis de 2016 que o partido desejará esquecer, mas sobretudo o fato de a súcia e simpatizantes desconhecerem o país e insistirem em ignorar as necessidades desesperadoras dele para ver nele bandeiras que ainda lhe são estranhas, enquanto também desconhecem a gente de carne, osso, costumes e valores próprios que o habita além das envelhecidas cercas ideológicas e dos manuais vigaristas e embolorados. Entre as prioridades da educação brasileira – em qualquer nível – não está o uso do banheiro das meninas pelos meninos e vice-versa, e forçar a questão a ser uma questão dá a medida do autoritarismo do PT e do desprezo que o partido tem por nossos interesses legítimos e nossos problemas reais que deseja substituir pela própria agenda.
Entre outras considerações aparentemente sensatas, todos os analistas estão dizendo que Alckmin é o grande vencedor destas eleições e que se habilita para disputar a presidência em 2018, que ACM Neto será o próximo governador da Bahia e que o PT é o grande pequeno derrotado. Mas eu diria que perdeu o PT, digamos, expandido, aquele que aglutina os blocos do “fora, Temer” e que acusam o impeachment de tropeço da democracia brasileira – esta mesma que conseguiu ficar de pé apesar de o ministro Ricardo Lewandoski ter chutado seu pilar, a Constituição, na presidência do julgamento que a protegeu, ao contrário do que ele diz.
Perdeu estas eleições quem olha para o Brasil de 2016 que anseia pelo futuro e vê um país coagulado no mundo extinto da guerra fria e da ditadura militar. A nação quer se arejar, a população mostrou isso hoje ao repelir o PT da gestão de onde a vida acontece – as cidades. Quando sai derrotado das eleições um partido que não a percebe como ela é, o grande vencedor é ela. Como cerzir um país? Não sei ao certo, mas desconfio que só é possível começar quando ele se livra daquilo que o impedia de começar.

Humor de Chico de Caruso no blog de Ricardo Noblat

A charge de Chico Caruso

Charge (Foto: Chico Caruso)

Humor de Miguel no blog de Ricardo Noblat

HUMOR

A charge de Miguel

Charge (Foto: Miguel)