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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O Mensalão sob julgamento... Existiu, não existiu ou é um zumbi?



31/07/2012
 às 18:06 \ Direto ao Ponto

O gerente da usina de habeas corpus bancada por Cachoeira reassumiu a chefia do exército de bacharéis do mensalão

Tão loquaz quando deveria calar-se, Márcio Thomaz Bastos não deu um pio sobre as ameaças de morte que afastaram do caso o juiz Paulo Augusto Moreira Lima, que autorizou as escutas telefônicas feitas pela Operação Monte Carlo e, depois, determinou a prisão de Carlinhos Cachoeira e seus asseclas mais graduados. Sempre caprichando na cara de paisagem, o doutor preferido da bandidagem dolarizada fingiu nem ter notado o incidente. E prosseguiu na ofensiva destinada a tirar da cadeia o cliente de R$ 15 milhões ─  e permitir que use a liberdade para intimidar magistrados pessoalmente.
Nesta terça-feira, ao informar que deixou de ser advogado do quadrilheiro goiano, Márcio estimulou a difusão de rumores segundo os quais abandonou o caso por não admitir o que fez com o juiz Alderico Rocha Santos a chantagista aprendiz Andressa Mendonça, mulher e comparsa do chefão. A versão não combina com a folha corrida. Se contemplou com obscena indiferença as pressões criminosas exercidas sobre Moreira Lima, por que haveria de espantar-se com a tentativa de compra da boa vontade de Rocha Santos dando em pagamento um dossiê imaginário?
A conversa fiada tropeça na evidência de que Márcio caiu fora do caso Cachoeira para voltar a dedicar-se em tempo integral ao comando do exército de bacharéis a serviço dos mensaleiros. Ele assumiu o posto em junho de 2005, quando começou a drenagem do pântano que ocultava os delinquentes federais. Para cumprir a missão que Lula lhe confiara ─ montar uma linha de defesa para os bandidos de estimação ─, Márcio suspendeu as atividades de ministro da Justiça e reincorporou o criminalista especializado na absolvição de culpados.
Na Esplanada dos Ministérios desde janeiro de 2003, ele era apenas o mais bem vestido na multidão de ineptos aglomerada no primeiro escalão. Não concluíra nenhum dos presídios prometidos mais de dois anos antes. Não conseguira sequer esboçar uma política de segurança pública capaz de reduzir a insônia dos moradores das grandes cidades. Pouco fizera para neutralizar o crime organizado ou o avanço do narcotráfico. Freguês do doutor e chefe do ministro, o presidente sabia que o primeiro era bem melhor que o segundo.
O doutor precisou de algumas horas para mostrar que tinha de sobra a inventividade que faltava ao ministro. Foi ele quem tentou reduzir a “crimes eleitorais” as gatunagens dos delúbios, valérios, genoinos, silvinhos e dirceus. Foi ele quem debitou na conta do caixa dois dinheiro tungado dos cofres públicos. Foi ele quem procurou rebaixar a maior roubalheira da história do Brasil a uma pequena farra com “recursos não contabilizados”. No momento, faz o que pode para interditar, obstruir ou, se possível, dinamitar os caminhos por onde o processo tenta avançar há cinco anos.
Como lembra o post reproduzido na seção Vale Reprise, o ex-ministro que apostou na lentidão da Justiça e na amnésia nacional agora aposta na “falta de provas” e na gratidão dos ministros cuja indicação chancelou. A sabatina no Senado sempre foi um chá de senhoras. O que valia era a conversa a dois com MTB, e ele vive lembrando aos indicados que espera ver retribuído o parecer favorável. Tomara que os ministros ensinem ao advogado que ainda há juízes no Brasil.
A maioria deles parece saber que, se o Supremo engolir a intragável teoria de que o mensalão não existiu, terá optado pelo suicídio. Se os figurões do bando acabarem absolvidos “por falta de provas”, o Judiciário deixará de existir como poder independente. Para Márcio, tanto faz. O importante é ganhar o jogo.
Liberado da gerência da fábrica de habeas corpus financiada por Carlinhos Cachoeira, o general da tropa de doutores agora mantém em funcionamento, 24 horas por dia, a usina de recursos espertos e chicanas em geral, forjadas para adiar o desfecho do processo até o fim dos tempos. Como é improvável que as sessões se estendam além de setembro, já em outubro ─ seja qual for o resultado do julgamento ─ Márcio Thomaz Bastos estará à disposição de qualquer meliante capaz de desembolsar os honorários que cobra.
Se Cachoeira continuar interessados, ele estudará com muito carinho um segundo convite para juntar-se a um canalha que ameaça e chantageia juízes. Com Andressa incluída, a conta vai subir para 30 milhões.

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