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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O PT no divã....

PT por Renato Janine Ribeiro

PT. Nunca acreditei que traria o paraíso. Demorei a votar nele. Talvez por isso, minha decepção com ele seja menor do que a dos seus fiéis. Quem acreditava que ele era tão diferente dos outros caiu realmente de suas ilusões. Entendo. Mas quem não espera muito dos partidos tem menos a perder, pelo menos em termos de fantasias. Agora, mesmo assim, acho que ele deveria ter prestado contas sobre suas mudanças pós-2002, em especial a passagem da ética intransigente a uma política de resultados. Deveria ter explicado até onde iria nisso.

Renato Janine Ribeiro 

DEZ mil japoneses cantam o 4° movimento da 9ª Sinfonia de Beethoven em estádio de futebol

Dez mil japoneses lotam um estádio de futebol e cantam em coro com orquestra o 4° movimento da Nona Sinfonia de  de Beethoven.
VEJA O REGISTRO DO EPISÓDIO INCRÍVEL

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O câncer não espera na fila....


Cláudia Collucci

 

07/11/2012 - 03h00

O câncer não espera na fila


Há uma semana o Senado aprovou o projeto de lei que fixa um prazo máximo (60 dias) para início do tratamento de pacientes com câncer pelo SUS. Ainda falta a sanção da presidente Dilma Rousseff, que dificilmente vetaria um projeto dessa natureza.
Mas será que existe alguma chance de esse prazo ser respeitado pela rede pública? Tenho minhas dúvidas.
O tratamento do câncer é uma das áreas mais críticas do SUS. Segundo relatório do Tribunal de Contas da União, em 2010, só 34% dos pacientes de câncer conseguiram fazer radioterapia. Outros 53% demoraram muito para conseguir uma cirurgia.
O tempo médio de espera por uma quimioterapia foi de 76 dias. Apenas 35% dos pacientes foram atendidos em 30 dias, prazo que o próprio Ministério da Saúde recomenda e considerado o ideal pelos especialistas. Na radioterapia, são 113 dias de espera, em média.
Apenas 16% são atendidos no primeiro mês. Isso sem contar o tempo precioso perdido entre o cidadão perceber que tem algo errado, conseguir consulta com especialista e encontrar vaga em centro oncológico.
ESTÁGIO AVANÇADO
Essa espera faz com que muitos pacientes comecem o tratamento com o tumor em estágio mais avançado e, portanto, com menor chance de cura. Estudos mostram que enquanto em outros países os pacientes com câncer sobrevivem de 12 a 16 anos, em média, no Brasil esse tempo é reduzido para dois a quatro anos.
Diante desse cenário, fica difícil pensar que, num passe de mágica, as pessoas passarão a ser atendidas em até dois meses após o diagnóstico da doença --com medicamentos, quimioterapia, radioterapia e cirurgia.
O fato é que o país não se preparou para enfrentar a doença, que tem 500 mil novos casos por ano. Faltam leitos, equipamentos e profissionais qualificados. E não há solução a curto prazo. É preciso que se faça investimentos no desenvolvimento de uma infraestrutura que possa dar vazão à demanda, que só crescerá com o envelhecimento populacional.
Silva Junior-11.nov.11/Folhapress
Hospital do Câncer de Barretos
Hospital do Câncer de Barretos
O que acontece hoje no Estado de Rondônia (Norte) é um bom exemplo para entender o tamanho da complicação. Quase todos (97%) dos pacientes que têm câncer diagnosticado por lá viajam mais de 3.000 km para serem atendidos no Hospital de Câncer em Barretos, interior de SP, porque não existem centros especializados naquela região. Escrevi sobre isso em abril
O próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reconhece a desigualdade de acesso ao tratamento oncológico, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, mas diz que o SUS tem ampliado o volume de recursos para tratamento contra o câncer. No ano passado, foram R$ 2,2 bilhões de investimentos --R$ 400 milhões a mais do que em 2010.
Padilha também já anunciou a compra de 80 aceleradores nucleares (ainda em processo licitatório) para a realização de radioterapia, o principal gargalo no serviço público. Mas isso, na melhor das hipóteses, só começará a funcionar em 2015.
DISPARIDADE
Enquanto isso, milhares de brasileiros vão continuar morrendo porque não tiveram a mesma sorte de pessoas como a presidente Dilma e o ex-presidente Lula de estarem em um centro oncológico de excelência, onde puderam diagnosticar e tratar seus tumores precocemente.
Há três anos, uma pesquisa feita com mulheres que tiveram câncer de mama mostrou que a sobrevida das que são tratadas no SUS é 10% menor do que aquelas acompanhadas pelos serviços privados. Entre elas, o câncer também foi diagnosticado em estágios mais avançados (36% contra 16%).
A incorporação recente da droga trastuzumabe no SUS (usada por 25% das mulheres com câncer de mama), dez anos depois de a rede privada já oferecê-la, é outro exemplo da disparidade entre os mundos da saúde pública e da privada.
Portanto, garantir o atendimento integral aos doentes oncológicos em um menor período de tempo possível é a única chance de o país reduzir as mortes evitáveis pela doença. Não há números de quantas elas seriam, mas uma coisa é certa: o câncer não espera na fila.
Avener Prado/Folhapress
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.

O Pavão /// Crônica de Rubem Braga // 1958


Rubem Braga

O Pavão
Rubem Braga

Eu considerei a glória de um pavão ostentando o esplendor de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d'água em que a luz se fragmenta, como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.
Rio, novembro, 1958

Simples e ternas. Assim são as lindas crônicas de Rubem Braga.

Texto extraído do livro "Ai de ti, Copacabana", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 149.  Agradeço ao Antônio pela lembrança.
Saiba tudo sobre o autor e sua obra em "Biografias"

Martha Medeiros /// Frase

"Gente" - 'Qual é o hormônio que dá a uma mulher o gosto de engomar, tão alvamente, a sua toalha para a bandeja de café? /// Elsie Lessa


Elsie Lessa: Gente

Elsie Lessa: Gente
De Elsie Lessa
De repente, escolhemos a vida de alguém. Era essa que a gente queria. Naquela casa grande e branca, na rua quieta, na cidade pequena. Sim, estamos trocando tudo. Era ela que a gente queria ser, aquela serenidade atrás dos olhos claros, aquela bondade que se estende aos bichos e às coisas, tão simplesmente. E aquela mansa alegria de viver, aquele risonho voto de confiança na vida, aquela promissória em branco contra o futuro, descontada cada dia, miudamente, a plantar flores, a brunir a casa, a aconchegar os bichos. Era naquele porto que a gente gostaria de colher as velas, trocar a ansiedade, a inquietação, a angústia latente e sem remédio, o medo múltiplo e cósmico, todas as interrogações, por aquela paz. Acordar de manhã, depois de dormir de noite, achando que vale a pena, que paga, que compensa botar dois pés entusiasmados no chão. Abrir as bandeiras das venezianas para que o sol entre, com o gesto de quem abre o coração. Qual é o hormônio, e destilado por que glândula, que dá a uma mulher o gosto de engomar, tão alvamente, a sua toalha bordada para a bandeja do café? Há uma batalha bem ganha, cotidianamente renovada, contra o pó e a traça e a ferrugem, que tudo consomem. Dentro dos muros da sua cidadela, as flores viçam, a poeira foge, nada vence o alvo imaculado das cortinas, os cães vadios acham lar e dono. E é esse um modo singelo mais difícil de ter fé. Cada bibelô tem uma história, diante de cada retrato há um vaso de flor, para cada bicho há um gesto de carinho. “Mulher virtuosa, quem a achará? Porque o seu valo excede ao de muitos rubis” – cansei eu de ouvir, na escola dominical, e olho em torno a indagar quantos e que orientais rubis pagarão aquele miúdo, enternecido carinho, que pôs flores nos vasos e cera no chão e transparência nos vidros e outro liquido no chá. Oh, a perdida paz fazendeira deste chá no meio da tarde, que as mulheres do meu tempo já não sabem o que seja, misturado a esse morno cheiro de bolo e torradas que vem da cozinha! Somos uma geração que come de pé, que trocou os doces ritos que cercavam o nobre ato de alimentar-se, por uma apressada ingestão de calorias. Já não comemos, abastecemo-nos como um veículo, como um automóvel encostado à sua bomba. Trocamos as velhas salas de jantar por mesas de abas, que se improvisam, às pressas, de um consolo exíguo encostado a uma parede. E o que sabe de um lar uma criança que não foi chamada, na doçura da tarde, do fundo de um quintal, para interromper as correrias, lavar mal-e-mal as mãos e vir sentar-se à mesa posta para o lanche, com mansas senhoras gordas que vieram visitar a mamãe? É a hora dos quitutes, das ingênuas vaidades doceiras, da exibição das velhas receitas, copiadas em letra bonita de um caderno ornado de cromos. Somos uma geração que perdeu o privilégio de não fazer nada, aquele doce não-fazer-nada que é a mansa hora de repouso, o embalo da rede na frescura de uma varanda, a quietude ensolarada de um pomar em que o sono da tarde nos pegou de repente, a hora de armar brinquedos para as crianças, das visitas que chegam sem se fazer anunciar, pois na certa estaremos em casa para uma conversa despreocupada e sem objetivo. Somos uma geração de mulheres que saem demais de casa, para trabalhar ou para se divertir, e perde metade da vida indo ou vindo para não se sabe onde, fazendo fila para comprar, tomar condução ou assistir a um cinema. Perdemos o abençoado tempo de perder tempo, de não fazer nada, a única hora em que a gente se sente viver. O mais é canseira e aflição de espírito. E foi tudo isso que reencontrei, de repente, na casa grande e branca da rua quieta.

"Até muito pouco tempo não tinha coragem de escrever -escritora - em ficha de hotel"...


Crônicas

Sempre que preencho a ficha de um hotel e escrevo, no espaço destinado à profissão, a palavra “escritora”, sinto um estremecimento. Até muito
Por Por Heloisa Seixas
Sempre que preencho a ficha de um hotel e escrevo, no espaço destinado à profissão, a palavra “escritora”, sinto um estremecimento. Até muito pouco tempo, não tinha coragem de fazer isso. 
Botava “jornalista”. Até que um dia, tomando coragem, escrevi. 
A palavra ficou ecoando dentro de mim: ES-CRI-TO-RA. É algo que até hoje me surpreende. 
E por quê? Primeiro, porque comecei a escrever tardiamente (com quase 40 anos) e no início achei que estava tendo uma espécie de surto, coisa passageira. Demorei algum tempo até me acostumar à ideia. Lembro de um dia em que caminhava ao lado de minha filha, Julia, pelo calçadão da Praia de Ipanema, e encontrei o escritor Carlos Heitor Cony, que havia lido e gostado muito de meu primeiro livro: Pente de Vênus. Ele ia ao lado da mulher, Bia, e levava a passear uma linda cadela de pelo lustroso, cor de mel, chamada Mila. Na época, ninguém poderia supor que dali a algum tempo a cachorrinha cairia doente e Cony escreveria um livro dedicado a ela: "Quase memória". Ao me ver, Cony sorriu e, sem mais nem menos, virou-se para minha filha e disse: “Sabe de uma coisa? Sua mãe é uma escritora.”
Ouvi aquilo e fiquei muda, tomada por uma emoção fortíssima. Até então, nem me passava pela cabeça uma definição assim tão crua, afiada como uma sentença. E se Cony dizia é porque era verdade. Foi a partir desse dia que comecei, aos poucos, a acreditar. Mas daí a me definir como escritora nas fichas dos hotéis ainda foi uma longa estrada.
A outra razão para meu estremecimento é que não sou apenas uma escritora – mas uma escritora brasileira. Isso não é fácil. Lê-se muito pouco no Brasil. O que talvez explique nossa tradição tão forte de cronistas. O acesso mais fácil a jornais e revistas por parte dos leitores, inclusive nas mais remotas localidades do país – onde não há livrarias –, pode ter sido determinante para criar tal tradição. Um de nossos grandes cronistas atuais, Luiz Fernando Verissimo, já comentou que um caso como o de Rubem Braga, que tem reputação literária sólida sem jamais ter escrito outra coisa que não crônica, é talvez único no mundo. 
Desde Machado de Assis, João do Rio, Lima Barreto, Ribeiro Couto, Luiz Edmundo e Olavo Bilac, a crônica brasileira tem mostrado sua força. Mas, a partir dos anos 1950, nomes como Antonio Maria, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues, Sergio Porto, Elsie Lessa e Clarice Lispector, além do próprio Cony, ajudaram a modernizar a imprensa brasileira, mudando o estilo antes tão formal dos nossos jornais.    
A força dos cronistas brasileiros é algo que pude sentir na pele. Tenho mais de dez livros editados, mas foi por meio da crônica, publicada em revistas ou jornais, que tive acesso maior e mais imediato aos leitores, muitas vezes em contatos comoventes. Lembro bem de uma dessas ocasiões, quando, durante uma palestra minha, uma senhora se levantou no fundo da sala e perguntou se podia fazer uma pergunta. E fez: “Queria saber se os escritores têm ideia do quanto podem transformar a vida de uma pessoa e de como isso é uma grande responsabilidade.” E acrescentou: “É que um texto que você escreveu me tirou de uma depressão.” Fiquei espantada. E antes que eu pudesse tartamudear alguma coisa, ela começou a recitar a crônica que lhe tocara tão fundo, palavra por palavra, linha por linha. Sabia tudo de cor. De coração. 
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No más octubre con crisis // Yoani Sánchez


No más octubres con crisis

Imagen tomada de: http://www.radiomiami.us
Imagen tomada de: http://www.radiomiami.us
Mi madre era sólo una niña de cinco años viviendo en una cuartería de Centro Habana y yo apenas un óvulo de los tantos que dormitaban en su vientre. En medio del ajetreo cotidiano y de los primeros síntomas del desabastecimiento que ya se notaba en la sociedad cubana, mi abuela no se percató de cuán cerca estábamos del holocausto en aquel octubre de 1962. La familia percibía la crispación, el triunfalismo y el nerviosismo colectivo de que algo delicado  ocurría, pero jamás llegó a imaginar la gravedad de la situación. Quienes vivieron ese mes tan cruel, lo mismo se comportaban ajenos que cómplices; desinformados que dispuestos  al sacrificio; entusiastas que adocenados.
La llamada Crisis de los Misiles, conocida hacia el interior de Cuba como Crisis de Octubre, tocó de diversas maneras a varias generaciones de cubanos. Si unos recuerdan el terror del momento,  a otros les quedó la constante crispación de la trinchera, la máscara antigás, el susto de la alarma que podía sonar en medio de la noche, la Isla hundiéndose en el mar como metáfora de discursos y de temas musicales. Nada volvió a la normalidad después de aquel octubre. Quienes no lo vivimos en carne propia aún así heredamos su desazón, la fragilidad de estar parados justo en el borde que puede terminar en el abismo.
Quizás lo que más nos llame la atención en estos tiempos es la enorme capacidad de decisión que tuvieron algunos individuos sobre asuntos de tanta trascendencia. Si en un momento de debilidad los soviéticos hubieran cedido a la tentación de dejar el botón rojo cerca del dedo de Fidel Castro, como él hubiera deseado, probablemente nadie pudiera estar leyendo este texto. Es más, este texto ni siquiera existiría. Por suerte, hacer despegar y colocar en el blanco un cohete con carga nuclear es una operación mucho más compleja de lo que nos han hecho creer algunas películas catastrofistas. Sobre todo en 1962, cuando los controles electrónicos necesitaban distribuirse en enormes y laberínticos armarios metálicos acomodados en cabinas herméticas.
Las consignas que se gritaron en las plazas cubanas por aquellos días serían mal vistas por el sentido común que trata de prevalecer en estos comienzos del siglo XXI. Sonarían demasiado irracionales, absurdamente desmedidas… en contra de la vida. Porque cuando las madres europeas acostaban a sus hijos con el temor de que no hubiera un amanecer, en el malecón habanero había comparsas repitiendo el estribillo “Si vienen quedan” y mientras en todo el mundo se calculaba con pesimista exactitud lo que se iba a perder y lo que quedaría en pie, en esta Isla se repetía hasta el cansancio que estábamos dispuestos a desaparecer “antes que consentir en ser esclavos de nadie”. Cuando la URSS decidió retirar los cohetes, la gente irresponsablemente tarareó en las calles: “Nikita, mariquita, lo que se da no se quita”.
Hace apenas unos días,  el propio Fidel Castro retomó algo de esa altanería pueril cuando afirmó en un texto que “nunca pediremos excusa a nadie por lo que hicimos”. Sus palabras intentaron rodear de gloria la actitud intransigente del gobierno cubano durante aquellos días que sacudieron al mundo. Ahora, nos queda al menos como alivio el que este anciano testarudo de 86 años está cada vez  más lejos del botón rojo que desataría el desastre. Cada día se queda más imposibilitado de influir en el derrotero mundial. La crisis de los misiles no volverá a repetirse en esta Isla, por muchos octubres que nos queden por delante.

Roberto Dammata // Fantasmas e eleitos

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,fantasmas-e-eleitos-,956783,0.htm

Fantasmas e eleitos

07 de novembro de 2012 | 2h 10


Roberto DaMatta - O Estado de S.Paulo

"Durante o curso ginasial, pelos idos de 1936, ouvi dois aforismos que marcaram minha vida. O primeiro dizia: 'Não se pode comer todas as mulheres do mundo, mas deve-se tentar' e expressava um impossível ideal varonil que muitos falavam entre sorrisos, mas poucos seguiam. O segundo sugeria o inverso, mas, no fundo, dava no mesmo porque rezava: 'Não se pode ler todos os livros do mundo, mas deve-se tentar'. Todos os chamados 'maus alunos' sabiam o primeiro e todos os 'bons alunos', aspirantes à castidade, fechavam por muitos motivos com o segundo ideal, o principal deles sendo a ausência absoluta de conhecimento concreto com o objeto do primeiro adágio. Como quase todo mundo, eu fui simultaneamente um bom e um mau aluno, de modo que persegui sem fé os dois ideais, como, acredito, é o destino de todos que vão atrás de causas perdidas."
Ouvi essas palavras de um dos meus parentes. Acho que foi de tio Silvio, quando logo que me casei e comecei a tomar parte na sua roda de botequim, que incluíam a cerveja (carinhosamente chamada de "lourinha - a edificante") e as histórias de conquistas amorosas, que corriam naquela roda de homens maduros e que iam ficando cada vez mais apimentadas (e impossíveis), na medida em que as garrafas vazias de sonhos se acumulavam num canto esquecido da mesa.
Seriam o gozo e o saber ideais paralelos cujo encontro ocorreria apenas no infinito? Penso que não, porque quanto mais se lê, mais se deseja; e quanto mais se deseja, mais aumenta o consumo dos livros. Conheci muitas pessoas que viveram nesse campo minado entre dois ideais aparentemente contraditórios. Se você é mulher ou de outro gênero, não se ofenda: inverta como quiser os termos do primeiro aforismo.
* * * *
Não se pode ler todos os livros e, em paralelo, "ler" todas as mulheres, sem pensar num outro trilho decisivo. O da memória e do esquecimento. Não ser esquecido soa como terrível no nosso mundo de personalismos egoístas (rotineiros na política) e altruístas (raros em todos os campos, sobretudo no intelectual). E ser esquecido, como na frase "vê se me esquece..." é um ato de brutal rompimento. Everardo Rocha, meu querido colega e amigo, lembra a carta testamento de Vargas demandando sua entrada na história e esculpindo em bronze uma eterna lembrança; e o pedido sarcástico - "eu quero que me esqueçam" - do último ditador militar, o general Figueiredo.
A luta entre o lembrar e o querer esquecer é imensa e ela é - sem exageros - a fonte do sofrimento. Não há fundo do poço para as lesões do esquecimento, exceto o aceitar ser esquecido. Não são os mortos que nos esquecem; somos nós que não queremos esquecer que eles nos esqueceram. Num mundo sem memória, todos seriam capazes de realizar tudo aquilo que a lembrança proíbe. Seria um lugar desumano, porque lembrar e deixar de lembrar é o que torna possível a compreensão.
Eu não fiz porque me lembrei de você, diz o menino para a mãe ou a amada para o amado. Ou: eu fui capaz de fazer porque não me esqueci de você. Foi sua presença dentro de mim que me forçou a realizar aquele ato heroico. Ou: trouxe uma "lembrancinha" para você - ou seja: eu te amo, meu irmão e meu amigo. Minha culpa é a minha lembrança. A memória tem um lado persecutório e o seu nome é passado. Quanto mais lembrança, mais peso. Ou mais saudade: essa lembrança que enternece o esquecimento.
Um dos maiores sofrimentos é ter a ilusão de que não se foi esquecido. O esquecimento absoluto, aprendi com os gregos antigos, via Jean-Pierre Vernant, é a morte. A paz é não ser mais torturado pelas obrigações ou deveres que chegam como dardos pela lembrança e pela perseguição do que não pode ser esquecido. Todos os bandidos aguardam o esquecimento e sabem que o crime pode virar piada de salão porque eles sequer pensam na lembrança que se possa ter dos seus atos. A punição e a vingança têm muito a ver com uma lembrança obrigatória e o perdão e a expiação fazem parte da regalia de poder esquecer - de suspender ou apagar as sequelas da lembrança que nos infligiu consternação.
É impossível controlar a memória porque todos somos feitos de uma infindável dialética de esquecimentos lembrados e esquecidos e de lembranças esquecidas e lembradas. Se isso deixa de acontecer, a pessoa vira um morto sem, como dizia Mark Twain, os privilégios da morte.
* * * *

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Agência do Estado de SP e do Governo Federal vai lutar contra o crime organizado em São Paulo


Criminalidade

Alckmin e Cardozo anunciam agência para combater crime organizado em SP

Outra ação conjunta do estado com a União é a transferência de presos envolvidos na morte de agentes públicos para presídios federais

Carolina Freitas
Polícia ocupa favela de Paraisópolis, na zona sul de SP
Polícia ocupa favela de Paraisópolis, na zona sul de SP - Yasuyoshi Chiba/AFP
















O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciaram nesta terça-feira um conjunto de ações para frear a onda de criminalidade no estado. Bandidos presos por matarem policiais e agentes penitenciários serão transferidos para prisões federais fora de São Paulo e será criada uma agência para integrar o trabalho dos órgãos de inteligência das duas esferas de governo. Na próxima segunda-feira, os chefes da segurança paulista e federal farão uma nova reunião para assinar o acordo para criação da agência, acertar os detalhes de um plano integrado para combate ao crack e bater o martelo sobre a estratégia de policiamento em pontos críticos do estado. O envio da Força Nacional ao estado foi descartada.
A Agência de Atuação Integrada terá o comando compartilhado entre o superintendente da Polícia Federal em São Paulo, Roberto Troncon Filho, e o secretário-adjunto da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), Jair Manzano. O órgão unirá representantes da PF, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria Nacional de Segurança Pública, Departamento Penitenciário Nacional, Receita Federal, SSP, Secretaria de Administração Penitenciária, polícias militar, civil e científica do estado, Secretaria da Fazenda, Ministério Público e Tribunal de Justiça. 
“Não se combate o crime organizado sem serviço de inteligência eficiente. Somando esforços da inteligência estadual e federal teremos relatórios precisos que orientarão as nossas políticas”, disse Cardozo, depois de uma reunião de uma hora que uniu 29 integrantes da cúpula da segurança do estado e do governo federal, no Palácio dos Bandeirantes, na capital paulista. “Governo estadual e federal são muito mais fortes do que o crime organizado. Seguramente, somando esforços, nós vamos derrotá-los.”
Só neste ano já foram executados 90 policiais. O governo reconheceu que traficantes da favela de Paraisópolis ordenaram os ataques aos PMs. A favela está ocupada pela polícia desde o dia 29 e a operação deve durar um mês. Paraisópolis é importante do ponto de vista criminal por ter virado uma espécie de esconderijo de traficantes do PCC e ladrões que agem no Morumbi.
Alckmin afirmou que os ataques dos criminosos são uma reação ao trabalho das autoridades no combate ao crime. “As organizações criminosas não têm fronteiras, por isso é fundamental trabalharmos unidos”, disse o governador. “Quanto mais se age, mais reação tem, mas não é possível retroceder um milímetro. É evidente que há reação. Nós não devemos temer as reações. Devemos perseverar nesse trabalho.”
Depois de um desentendimento nos bastidores entre o secretário de Segurança Pública paulista, Antonio Ferreira Pinto, e o ministro da Justiça, os dois participaram da entrevista coletiva na tarde desta terça-feira lado a lado e sopraram, um para o outro, complementos de respostas a questionamentos dos jornalistas. “Política de segurança pública de enfrentamento ao crime organizado tem de ser tratada em conjunto. Não são políticas de governo, são políticas de estado”, afirmou Cardozo. 
O ministro disse que os custos da ação serão compartilhados, mas não precisou valores. Cardozo moderou o discurso, até então crítico em relação ao governo de São Paulo, e disse que a reunião de hoje não se devia à gravidade da situação no estado, mas a uma “ação nacional” para firmar parcerias com vários estados. 
Asfixia - O governador e o ministro usaram o termo “asfixia” para se referir ao método de combate ao crime. A preocupação deles é secar as fontes de financiamento das organizações, por isso haverá participação da Secretaria Estadual da Fazenda e da Receita Federal nos trabalhos. “É uma ação conjunta para asfixiar o crime organizado”, dizia uma anotação feita a lápis em uma folha que servia de apoio à fala de Alckmin durante o pronunciamento. A frase, no entanto, não foi proferida pela governador, que falou apenas em “asfixia financeira” dos grupos.
O envio da Força Nacional de Segurança para São Paulo foi descartada. “São Paulo tem 130.000 homens na polícia militar e 30.000 homens na polícia civil. Não há a necessidade de, nesse momento, utilizar as Forças Armadas”, disse Cardozo. Ainda assim, haverá um plano de reforço no policiamento para controlar os acessos ao estado, chamado de “contenção”.
Os detalhes dessa ação serão definidos na reunião da próxima segunda-feira. Participarão da operação homens das polícias rodoviárias federal e estadual, da PF, da Segurança Pública, da Secretaria da Fazenda paulista e da Receita Federal. Será dada uma atenção especial ao Porto de Santos.
O ministro da Justiça afirmou que não serão informados detalhes, como nomes e datas, da transferência de presos, por razões de segurança. A prioridade será levar para fora do estado presos que tenham participado do assassinato de agentes de segurança nos últimos meses. 
Combate ao tráfico de drogas - Alckmin assinou um acordo com o ministério da Justiça para implantar no estado o programa federal de combate ao crack. Entre as ações previstas está a compra de trailers para servir de unidades móveis, com equipamentos de vídeo-monitoramento, para investigar e controlar as ações de tráfico. O ministro informou que será usada uma estrutura semelhantes a das bases comunitárias móveis da PM paulista. 
Foi assinado ainda um protocolo de cooperação do governo federal com a Polícia Científica paulista para identificar a origem da droga apreendida nas operações federais. Existe a possibilidade de criar um centro integrado de perícias, para que os especialistas de São Paulo colaborem com outros estados. 
Reunião - O encontro foi adiado em uma hora e começou às 14h, com a presença de 29 autoridades. Alckmin, que inicialmente informou que não participaria da reunião, resolveu se juntar aos convidados. Antes de seguir para o encontro, Alckmin recebeu Cardozo para um café em seu gabinete.
Quem comandou a mesa foi o secretário-chefe da Casa Civil, Sidney Beraldo. Participam, pelo governo de São Paulo, os secretários da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, da Administração Penitenciária, Lourival Gomes, o delegado-geral do estado, Marcos Carneiro, e o comandante da Polícia Militar, Roberval França.
Pelo governo federal, compareceram a secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, e o diretor do Departamento Penitenciário Nacional, Augusto Rossini. Está na sala ainda o procurador-geral de Justiça do estado, Márcio Elias Rosa, e Fábio Bechara, coordenador do Gaeco, do Ministério Público estadual.
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a capital paulista registrou aumento de 27% nos homicídios dolosos em setembro, na comparação com agosto. Em setembro, 135 pessoas foram assassinadas.

Nelson Freire toca Rachmaninoff, piano concerto n° 2 3° movimento /

Nelson Freire e Rachmaninoff e a Sinfônica de São Petersburgo 
Maestro Dimitriev