Postagem em destaque

Uma crônica que tem perdão, indulto, desafio, crítica, poder...

Mostrando postagens com marcador Ricardo Gallupo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ricardo Gallupo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

"Uma no cravo outro na ferradura" e vida que segue


Os royalties, a conta de luz e a dúvida de Garrincha

7 de dezembro de 2012 
Autor: Ricardo Galuppo
pequeno normal grande
Ricardo Galuppo
Às vezes é difícil entender o raciocínio do governo. Veja, por exemplo, o que está acontecendo neste momento com dois assuntos especialmente sensíveis. O primeiro deles é o da novela em torno dos royalties do petróleo.
O outro é o esforço de redução das tarifas de energia elétrica – que não terá a extensão que Brasília imaginava porque três empresas de energia, a Cesp, a Cemig e a Copel, se recusaram a aceitar o modelo proposto.
O que esses casos têm em comum? Observe: o veto da presidente Dilma Rousseff à decisão do Congresso de distribuir entre todos os estados os royalties do petróleo extraído no mar territorial brasileiro foi justificado pelo risco da quebra de contratos, que poderia levar o caso ao STF e provocar um nó judicial forte e duradouro.
Nunca ficou claro que contratos seriam quebrados. Mas esse foi o argumento utilizado para Dilma baixar uma medida que agradou não mais do que cinco e desagradou as outras 21 unidades da federação.
No caso das hidrelétricas, o raciocínio é o inverso: há contratos em vigor e eles garantem não só a exploração das usinas, mas, também, a renovação das concessões. Se no caso dos royalties o governo diz zelar pelos contratos, no caso da eletricidade, não vê problema em quebrá-los.
A redução das tarifas de eletricidade é fundamental para o Brasil e deve ser perseguida a qualquer preço
Sem querer atribuir a incoerência ao fato de o Rio de Janeiro ser governado por um aliado do Planalto, enquanto São Paulo (dono da Cesp), Minas Gerais (Cemig) e Paraná (Copel) estão nas mãos do oposicionista PSDB, é bom deixar claro que se trata de um caso nítido de pesos, medidas e valores diferentes.
Quando anunciou a intenção de baixar a conta de luz, o governo marcou para janeiro a entrada da medida em vigor. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a afirmar que a providência vinha sendo estudada desde o tempo em que a presidente Dilma Rousseff era a titular da pasta, nos primeiros meses do primeiro governo Lula.
Ocorre que, para uma medida que consumiu tanto tempo de estudos, faltavam providências elementares: perguntar às partes envolvidas se elas concordavam com a nova regra do jogo.
Ou, para lembrar a pergunta ingênua do craque Garrincha ao treinador Vicente Feola, que explicava o que os jogadores da seleção brasileira deveriam fazer para bater o temido time da União Soviética na Copa do Mundo de 1958, faltou “combinar com os russos” se eles permitiriam que tudo saísse conforme o planejado.
O governo precisa aprender a negociar. A redução das tarifas de eletricidade é fundamental para o Brasil e deve ser perseguida a qualquer preço. Destinar parte dos royalties do petróleo aos estados que sairão perdendo com a revisão das concessões talvez fosse uma medida interessante.
Até porque o petróleo e a eletricidade estão sob o guarda-chuva do mesmo ministério. Mas isso só teria chance de o sucesso se a medida fosse proposta antes do problema ganhar a dimensão que ganhou. Agora é tarde.
Fonte: Brasil Econômico, 06/12/2012